quinta-feira, maio 31, 2007

Sessão de cinema: O Labirinto do Fauno

Finalmente assisti hoje à tarde o comentado Labirinto do Fauno, do diretor mexicano Guillermo del Toro. O filme é realmente muito bom, embora assombroso seja o adjetivo mais apropriado (assombroso no sentido original da palavra). Eu que pensei estar diante de um filme de fantasia, logo nos primeiros minutos percebi minha ingenuidade. E pensando bem, não podia mesmo ser diferente pois o tema do filme é o regime fascista na Espanha.

Basicamente, o filme é narrado em dois níveis: o real e o surreal. Os horrores da guerra civil espanhola são intercalados na tela com o universo de sonhos da menina Ofélia. Cenas fortes retratando a crueldade do fascismo se contrapõem a um reino habitado por seres mitológicos, fadas, elfos, faunos e outras criaturas...um universo subterrâneo onde reina a harmonia, a esperança e onde os seres são eternos (e não meros mortais). Um labirinto secreto, um livro misterioso, um mundo escondido atrás de uma porta desenhada a giz. A fotografia de conto de fadas (em que o clima macabro lembra uma tela de Hieronymus Bosch) é um dos pontos fortes do filme. Mas assista no cinema: o impacto das imagens na tela grande é sempre maior. E tenha bons sonhos, se conseguir...

Ainda sobre o pecado da gula














No post anterior, esqueci de deixar a dica de alguns dos melhores livros de receitas de muffins e cookies que já vi por aí (e que tive a sorte ou o azar de achar nos sebos da cidade). Não sei se estes títulos foram traduzidos aí, mas vale (muito) a pena procurar.

250 Best Muffin Recipes
autora: Ester Brody

Chocolate Baking
autora: Linda Collister

Cookies, Biscuits and Biscotti
autora: Linda Collister

PS: Este foi o post mais calórico que já publiquei neste blog...

O pecado da gula

Pois hoje não resisti o (velho e conhecido) pecado da gula e decidi fazer uns muffins de chocolate...o pior de tudo é que meu filho nem está em casa pra me ajudar a comê-los, ai meu Deus do céu! Vou guardar uns pra ele, que chega da casa do pai amanhã..e é bom que chegue logo mesmo. Pra quem ficou curioso - ou simplesmente com água na boca, o que é mais provável - coloquei a receita aqui. Diga-se de passagem, um dos principais segredos de um bom muffin é não misturar demais, apenas o suficiente para misturar os ingredientes secos e molhados. Mais um post da série Desperate Housewifes.


Muffin de Chocolate
Ingredientes:
2 xic. farinha
1 xic. açúcar
fermento em pó
chocolate em pó (3 C)
2 ovos
50 ml óleo vegetal
250 ml leite
100g de chocolate picado (ao leite ou meio-amargo)

Preparo:
1. E
m uma tigela grande, misture os ingredientes secos (farinha, açúcar, fermento, chocolate em pó).
2. Em uma tigela média, misture os ingredientes molhados (ovos, leite e óleo vegetal).
3. Despeje os ingredientes molhados na tigela grande e mexa levemente com uma colher-de-pau (não misture demais) até que todos os ingredientes estejam misturados

4. Acrescente o chocolate picado à misture, despeje em formas de muffin (dá 12 muffins) e asse em forno pré-aquecido (190 graus) por cerca de 20-25 minutos.

Pra finalizar, deixo ainda a dica de um site delicioso: Joy of Baking.

segunda-feira, maio 28, 2007

Verde e amarelo

Depois de divagar sobre identidade, samba e futebol venho aqui confessar que meu fim-de-semana não podia ter sido mais verde e amarelo. Mas que foi muito divertido, isso foi - nem poderia ter sido de outra forma. Teve conversa fiada, teve papo furado e papo-cabeça. Teve casal 20 (os mineiros Eliane e Sandro), teve Anna e Arnild, duas amigas especiais e muito antenadas (nós três falamos de tudo e o assunto nunca acaba, uma sintonia impressionante). Teve o amigo brasileiro da Anna que mora em NY, teve a mineiríssima Adriane que mora por aqui mesmo. Teve cerveja belga e samba na casa da Eliane, cerveja espanhola no Tapas Bar português. Teve até acarajé, abará e vatapá, minha gente!

Enfim, teve um pouco de tudo. Sorrisos e gargalhadas soltas, afeto e amizade. Caras novas, velhas caras conhecidas, novos contatos. Depois de um fim-de-semana desses, a gente já começa a semana mais leve. Um fim-de-semana desses e a gente vai pra casa com um sorriso no coração. E lembra que apesar dos pesares, viver ainda é muito bom!

sábado, maio 26, 2007

De repente

De repente, não mais que de repente...meu filho cresceu. Assim mesmo, da noite pro dia. Ou vai ver eu é que não estava preparada para tanta mudança em tão pouco tempo. Criança é assim: da noite pro dia, quando você menos espera, ela aprende algo de novo. O menininho inseguro e assustado que aprendeu a andar aos 18 meses (eu já quase morta de preocupação), que mal conseguia correr sem trocar as pernas e cair (e teve o azar de cair dum balanço aos dois anos e ficar com a perna engessada três semanas), que aprendeu ano passado a andar de bicicleta sem rodinhas (numa bicicleta pequenininha porque tinha medo), mês passado ganhou uma bicicleta maior e está se achando gente grande. E agora vai com o pai pra escola de bicicleta e já começa a se aventurar de bicicleta no centro de Amsterdam...Não se iludam, não é tarefa das mais fáceis: eu mesma até hoje não me sinto 100% à vontade no meio de carros, ônibus, trams, taxis, pedestres...e outras bicicletas. Juro que não é pouca coisa pra quem no Brasil aprendeu que lugar pra andar de bicicleta é no parque (e no máximo, na ciclovia da orla).

O menino também aprendeu a ler, quando há pouco tempo só olhava as figuras. E está cada vez melhor com os números, quando há pouco tempo contar até 10 já era motivo de muito orgulho. E descobriu os games no computador de um dia pro outro (achou o jogo 2 Fast 2 Furious esta semana e nunca mais largou, em 2 dias bateu todos os recordes, rsrsrs). Eu nunca estimulei os games aqui em casa (contrariamente a muitas mães modernas) porque preferi estimular outro tipo de atividades (físicas, leitura, etc). De qualquer forma, já percebi que esta é uma batalha perdida: as crianças de hoje parece que já vieram programadas pra gostar de games! Eu, que no meu tempo só brincava de ATARI e o game mais emocionante na minha lista era Pac-man. É minha gente, os tempos mudaram!

E além da bicicleta, dos livros e dos números...o menino hoje já assiste sem problemas - e sem reclamar - filmes em inglês. E não os filmes dublados em holandês, que a maioria das crianças daqui assiste. E claro, sai orgulhoso do cinema. Em breve iremos juntos assistir Bridge to Terabithia (porque a mãe é uma criança grande e também adora filmes de fantasia). O filme, que é legendado e não dublado para os pequenos (como a maioria dos filmes da Disney) recebeu classificação para 9 anos por aqui. E ele está todo animado dizendo que vai assim mesmo (mal completou 7 anos mês passado). O momento de glória, vejam bem, é na bilheteria do cinema. Quando o funcionário educadamente avisa mãe e filho que o filme não é dublado e sim no original (inglês) com legendas. E Liam se dá conta que fala dois idiomas (sim senhor, está pensando o quê) e senta na poltrona de cinema se sentindo gente grande.

E quanto à mãe do menino...esta continua cada dia mais coruja!

sexta-feira, maio 25, 2007

Sobre (bons) vinhos

Volta e meia não resisto e faço uma visita ao blog Caderno de Vidro. Dessa vez gostei tanto de um texto sobre a arte de beber e reconhecer bons vinhos (e outros menos) que decidi colá-lo aqui! Assim compartilho um pouco com vocês essas palavras tão bem escritas (porque convenhamos: não é todo dia que se encontra gente que escreva tão bem).



UVAS AMARGAS
Há quem goste de vinho. E há quem goste de gostar de vinho. Sou do primeiro tipo, graças a Deus.

Não vai aqui nenhum preconceito contra quem olha o vinho na contraluz ou assobia para dentro enquanto toma um pequeno gole. Em lugar de preconceito, talvez seja coisa mais grave. Mas isso veremos adiante, caso o leitor tenha paciência (paciência, hoje em dia, é mais raro que um Romanée-Conti 66).

Quem gosta de vinho, como eu, geralmente não é iniciado. Fica feliz com um chileno de trinta reais, figurinha fácil em qualquer carta. Mas quem gosta de gostar de vinho já viu a luz. E não se contenta com qualquer lamparina. Quando digo isto, logo eles argumentam que o bom vinho não é necessariamente o mais caro. Concordo. Mas, para quem já sabe reconhecer uma Gisele Bundchen em forma de uva, é difícil se contentar com a gostosinha do bairro. Mesmo quando dizem que a gostosinha é — afinal — gostosinha, eles sentem no paladar muito mais o INHA do que o restante do sabor.

Eu, ao contrário, acho que Bordeaux fica no Chile. E, pelo amor de Deus, não me convençam do contrário. Não é preciso: sei que estou errado. Mas sei apenas na teoria. No dia em que eu conhecer a diferença na prática, ai de mim: tomarei meus vinhos baratos sabendo que não passam muito disso. E parte do prazer que sinto hoje será coisa do passado. Deus conserve meu paladar inocente.

Sei que um bom vinho merece os adjetivos floreados (reticente, audacioso, loquaz). Sei que existem uvas com sabor de abacaxi ou suor de cavalo. Sei que vinho tem unha, nariz e corpo. Só não quero muita intimidade com isto. Deixem que meus trinta reais valham mil dólares de Robert Parker.

Se a paciência do leitor o trouxe até aqui, ficou claro que não tenho preconceito. E, por isto mesmo, acho que é algo mais grave. Talvez seja uma grosseira apologia à ignorância, à preguiça, ao animal rude e pobre de espírito. Se for, é uma apologia a mim mesmo.

Eu, que me esforço para cima, devo pertencer de fato ao andar de baixo. O vinho será a única hora em que esta verdade é consciente. No mais das vezes, nem percebo os meus enganos, e confundo meus limites com minha opinião.

O que me resta é apenas a franqueza de confessar. E ouso mesmo dizer que — não fosse certo alarido que me causa a poesia — eu era caso dos mais perdidos.

Ou será tudo o contrário, que não vamos terminar assim tão tristes e derrotistas. Minha única esperança, neste final de coisas, é haver dado o braço a torcer — e saborear o quanto de nós mesmos é possível descobrir simplesmente ao se falar de vinhos. Mesmo que daqueles mais baratos.

by André Laurentino. Publicado no Guia em O Estado de S. Paulo.

quinta-feira, maio 24, 2007

Um estranho no ninho

Meu amigo Antônio - que por incrível que pareça, se tornou ainda mais íntimo com essa estória de blogs - escreveu um texto fantástico sobre a questão do estrangeiro. Não o do Camus, veja bem, embora este também seja digno de nota - e como!

Ler o texto dele me fez refletir novamente sobre a minha (eterna) condição de estrangeira, que é muito mais do que uma mera questão geográfica e de fronteiras delimitadas em um mapa. O que eu quero dizer é que sempre fui estrangeira, à minha maneira (como o Antônio tão bem definiu no texto dele). Nasci em Porto Alegre mas fui pro Rio de Janeiro com 5 anos de idade. No Rio cresci, estudei, me formei na faculdade...mas nunca cheguei a me sentir carioca da gema (simplesmente não estava no meu sangue, que me desculpem os cariocas). Nos primeiros anos de escola, eu era a menina gaúcha...o tempo foi passando, eu deixei de ser a gaúcha pra me tornar simplesmente eu mesma. Prestes a completar 28 anos (olha aí o famoso ciclo de Saturno), arrumei as malas, cruzei os mares e fui trabalhar em Dublin. Lá eu era a tradutora brasileira, embora não andasse com os outros brasileiros e sim com um alemão gay (que o Antônio conheceu, coisas do destino) e um holandês (o fantasma do post anterior, hehehe).

Nos primeiros anos de Holanda, foi a mesma coisa...eu e Jeff tínhamos um círculo de amigos internacional (depois do divórcio, sumiram todos, muitos também se separaram e alguns se mudaram para outros países). Mas nos últimos 5 anos eu diria que meu círculo de amizades tem se tornado cada vez mais verde e amarelo. Mas não se iludam: a maioria desses brasileiros é diferente como eu e está longe de se encaixar no estereótipo de brasileiro no exterior...Pra início de conversa, a maioria não gosta de samba nem de futebol (a não ser na Copa do Mundo, quando a comunidade brasileira no exterior enlouquece de vez, fiquem avisados)...Alguns são cidadãos do mundo, como eu (pra esses eu não preciso ficar me explicando, o que é um grande alívio).

Mas isso tudo é só a ponta do iceberg, obviamente...porque eu sempre me senti estrangeira no mundo. Nunca aprendi a jogar os jogos que as pessoas tanto prezam, sempre me recusei a me enquadrar em classificações e rótulos predefinidos. E nas poucas vezes que tentei me enquadrar, as consequências foram desastrosas. Meus sonhos não eram os mesmos das pessoas à minha volta, muito menos meus planos para o futuro. Sempre fui gauche na vida. E no final das contas, prefiro a liberdade de ser eu mesma. Nem gaúcha nem carioca, nem brasileira nem holandesa - e ao mesmo tempo, um pouco de tudo isso!

terça-feira, maio 22, 2007

Os fantasmas do passado

Meudeusdocéu...É irônico como a vida nos prega peças quando menos esperamos. Outro dia, sem mais nem menos, esbarrei com um ex-namorado no meio da rua. Não o via há 13 anos (muitas águas passaram por este rio). Namoramos uns poucos meses - a intensidade foi maior do que a duração, daquelas coisas que não se explica e pronto - quando eu ainda morava em Dublin. Isso antes de eu me atirar de mala e cuia pra Amsterdam. Sim, porque naquela época eu me atirei mesmo, hoje em dia não teria mais esta coragem (ou inocência). Na época ele ficou trabalhando por lá mesmo (é tradutor como eu), apesar de ser holandês e ter voltado a morar aqui uns anos depois, não sei exatamente quando. Perdemos contato durante muitos e muitos anos, não fosse um amigo comum (que aliás, sempre o mantia informado). Ele também foi casado 10 anos e tem uma experiência vagamente semelhante (porque cada experiência é única e a minha sem dúvida o foi...não que eu me orgulhe disso, muito pelo contrário). E hoje somos ambos happy single, fiéis à linha single but not looking...or at least, that is what I thought, hehehe.

Pois bem, depois de nos esbarrarmos prometemos manter contato e ele me mandou um e-mail no mesmo dia. Desde então assunto é o que não falta e temos trocado muitas idéias (algumas coisas nunca mudam). E ele quer marcar pra gente sair pra um bar, conversar e beber algo mas...sei lá. E eu só sei dizer que o passado às vezes nos pega de surpresa, quando já havíamos esquecido totalmente...eu que nem o reconheci na rua, ele é que me reconheceu (logo eu que engordei mais de 30kg desde então...cruz credo).

To cut a long story short, talvez ainda possamos ser amigos...Porque a verdade é que depois de 10 anos de casamento, eu pensei que tinha saído definitivamente do circuito e não tenho (ou não tinha) o menor plano de retornar a ele tão cedo...e provavelmente não irei ainda mas é sempre bom sacudir a poeira (nem que seja pra rever as idéias de tempos em tempos). No mais, nem sei porque escrevi isso aqui mas é que, digamos assim, essa estória me tirou do marasmo emocional em que escolhi viver nos últimos tempos (pós-divórcio, vejam bem). Basicamente, ainda não me sinto em condições emocionais de encarar um novo relacionamento - embora, ou talvez por isso mesmo, saiba exatamente o que quero e o que não quero em uma relação (um dia a gente aprende). E o que eu não quero é muito simples: casamento e filhos...Been there, done that.

De qualquer forma, este encontro inesperado com o passado me fez (re)pensar algumas atitudes básicas e estou até desconfiada que é cedo demais pra pendurar as chuteiras (sim, eu que já tinha me aposentado). Então fica combinado assim: estou fechada para balanço por tempo indeterminado - até prova em contrário, é claro.

PS. A foto é do Temple Bar, em Dublin.

segunda-feira, maio 21, 2007

Só de passagem...

Só de passagem rápida pelo blog porque continuo trabalhando igual a um burro de carga (mas nem tanto assim, não exageremos). É que li pelos blogs afora algo tão profundo, mas tão profundo, que decidi deixar registrado aqui antes que eu me esqueça:

As grandes coisas ficam para os grandes, os abismos para os profundos, as branduras e os tremores para os sutis e, em resumo, as coisas raras para os raros.
Nietzsche

Não sei se essas palavras são mesmo do Nietzsche (e a Arnild certamente me corrigirá se eu estiver errada) mas de qualquer forma, são de uma grande sabedoria. E viva a profundidade do abismo - e viva quem nos transformamos depois dele. O resto, quem (sobre)viver, verá.

PS. A foto é da bela e pacata cidadezinha inglesa Whitby, em Yorkshire. Mais um dos lugares mágicos que tive a sorte de conhecer neste mundo.

quinta-feira, maio 17, 2007

Sessão de cinema: The Namesake

Ontem assisti ao belo filme The Namesake (2006) da diretora indiana Mira Nair, que também dirigiu Monsoon Wedding (2001), entre outros. O filme narra a história de um casal de emigrantes recém-casados que deixa Calcutá, Índia para tentar uma nova vida nos EUA. Apesar da enorme dificuldade de adaptação - principalmente da jovem que fica sozinha em casa enquanto o marido vai estudar e mais tarde lecionar na universidade - o casal está decidido a permanecer nos EUA para oferecer aos filhos o mundo de oportunidades que não teriam se ficassem na Índia.

E como toda saga de imigrantes, o filme está repleto de cenas e diálogos comoventes - com os quais quem mora fora muito irá se identificar. Fatos marcantes são o nascimento do primeiro filho do casal (Gogol Ganguli), a morte do avô materno e o retorno à Índia para as cerimônias de cremação (as cinzas são jogadas no Ganges, como manda a tradição). A viagem da família à Índia ilustra claramente na tela as tradições que o casal luta por preservar em meio à cultura americana. Enquanto isso, os filhos contam os dias para retornar aos EUA, reclamam do calor sufocante (sem o ar-condicionado com que estão acostumados) e sentem falta de suas vidas confortáveis nos EUA. Uma das cenas mais fascinantes é a visita ao Taj Mahal, cuja beleza deixa pais e filhos igualmente assoberbados e faz com que o filho decida cursar Arquitetura ao retornar aos EUA.

Acompanhamos assim a vida do imigrante nos EUA, os laços de família, o choque cultural e o inevitável choque de gerações. Nesse caso, o choque é agravado: os pais tentando a todo custo preservar as tradições de seu país e os filhos nascidos e criados nos EUA, com uma visão de mundo americanizada e cada vez menos ligados às raízes familiares (como era de se esperar, diga-se de passagem). Em suma, a luta pela preservação dos valores da família (representada pelos pais) e a quebra de valores, a busca do novo e o anseio pela liberdade (representado pelos filhos). Acima de tudo, um hino à vida, à morte e a tudo que há entre elas.

segunda-feira, maio 14, 2007

A ordem e o caos

Ultimamente tenho percebido que existe uma ordem dentro do caos em que vivo (ou escolhi viver porque a gente faz escolhas na vida). Da mesma forma que consigo encontrar exatamente o que preciso no meio da bagunça da minha escrivaninha, também costumo sobreviver meus dias com alguma ordem no aparente caos. Não me perguntem como, mas eu consigo. O que me faz lembrar que a filosofia oriental afirma que existe ordem dentro do caos - e existe mesmo.

O que provavelmente faz de mim uma pessoa excêntrica e talvez fora dos padrões...é que a rotina que faz parte da vida de milhões de pessoas me asfixia, me deixa sem ar. Porque eu não sou uma criatura de hábitos (o único hábito que tenho é o de pensar demais). E eu sempre fui assim: do contra. Nunca gostei de seguir as normas estabelecidas pelos outros, sempre questionei as verdades absolutas (inclusive as minhas) e sempre busquei minhas próprias normas e verdades. Desnecessário dizer, também já sofri muito por isso.

Pensando bem, talvez por isso a maternidade tenha sido um susto do qual estou me recuperando até hoje (tenho meus dias bons e ruins, como toda mãe que se preze). Porque ser mãe obriga a gente a cumprir uma rotina rígida - senão por nós, pelos nossos filhos. As crianças precisam de estrutura, em outras palavras: elas precisam de rotina. Elas têm hora de dormir e acordar, tomar café e ir pra escola, tomar banho e fazer o dever de casa - todo santo dia. Eu posso até viver sem rotina, mas como mãe sou obrigada a criar o mínimo de rotina na vida do meu filho. E não é fácil porque não é a minha natureza. Eu me sinto à vontade no caos e consigo viver bem com ele.

E nesses dias de trabalho intenso, comprovo mais uma vez que não apenas gosto do caos como até consigo funcionar bem dentro dele. E quanto mais coisas tenho a fazer, mais produtiva eu sou. Porque eu não gosto da rotina, mas gosto menos ainda do ócio. Não, eu não gosto de trabalhar sob pressão ou com prazos apertados, mas o caos me empurra para a frente - enquanto que a rotina me paralisa.

E não, eu não sei viver de outra forma. E sinceramente, nem quero.

sábado, maio 12, 2007

Dia das Mães

Dia das Mães na verdade é todo dia: 365 dias por ano, 24 horas por dia (só sendo mãe pra saber). E no segundo domingo de maio, mais do que em qualquer outro dia do ano, as mães são homenageadas em várias partes do mundo. E eu aproveito para parabenizar todas as mamães que estiverem lendo este blog, assim como nossas mães - tanto aquelas que ainda estão vivas como aquelas que já partiram pra continuar cuidando da gente lá no céu (como a minha). Porque amor igual a amor de mãe não tem e ponto final.

Ser mãe é uma arte que a gente aprimora a cada dia, a cada ano. No início as noites em claro e o cansaço crônico, depois cada idade traz consigo alegrias e preocupações (a primeira papinha, o primeiro dentinho, o primeiro dia na escola, a briga com o melhor amigo, etc). Dias de diversão e riso solto e dias de muita pirraça, choro e ranger de dentes. Dias em que temos vontade de dar um abraço apertado em nossos filhos e dias em que gostaríamos de mandá-los passear na casa de um amigo...Porque mãe também é gente e ser mãe cansa - vale a pena mas cansa! E ser mãe todos os dias não é brincadeira (pensando bem, ninguém nunca me disse que seria tão difícil).

De qualquer forma, quero ainda homenagear aqueles que são o principal motivo deste dia ser tão especial. Aqueles que são a razão de nossas vidas: nossos filhos. Porque antes deles, não sabíamos o real significado da palavra amor. E porque depois deles, nunca mais seremos as mesmas.

Para meu filho

Aproveitando que é Dia das Mães - e porque eu não seria mãe se não fosse por ele - deixo aqui um poema para meu filho. Ele não vai poder ler este texto porque está sendo alfabetizado em holandês e não fala português...mas o importante é o sentimento.

O Menino Azul (por Cecília Meireles)
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

Vida de louco

Antes de mais nada, vamos deixar uma coisa bem clara: não, não estou reclamando. É que de quinta-feira pra cá subitamente apareceram tantas traduções (depois de 3 semanas pra lá de tranquilas...) que eu cheguei a ficar assustada. E com os prazos apertados, até uma enxaqueca arrumei na quinta à noite (vida de louco).

O lado ruim é que vou trabalhar o fim-de-semana inteiro (inclusive Dia das Mães porque no final das contas, Dia das Mães é todo dia) e até terça à noite o esquema está bem apertado. Só não chega a ser tão ruim porque gosto do que faço, 90% das vezes. O lado bom é que em seis dias consigo fazer o equivalente a um mês de salário básico aqui na Holanda (38hrs. por semana, sem contar tempo gasto em trajeto). Claro que nem tudo são flores porque ainda estou com algumas contas atrasadas (vida de freelance é um malabarismo só, vou poupá-los dos detalhes), mas só a perspectiva de colocar as contas em dia já é ótima notícia! E em julho tem férias....(depois eu conto).

E tem dias que me sinto uma pessoa de sorte porque gosto do meu trabalho (requisito fundamental na minha agenda) e trabalho sem precisar sair de casa, do conforto do meu lar (e tem chovido horrores esta semana por aqui). No mais, acho que mais importante do que a grana é a gente gostar do que faz (mas toda grana é sempre bem-vinda, claro). E agora chega de enrolação e vamos ao trabalho!

quinta-feira, maio 10, 2007

Lição de moral (vale a pena ler)


Durante debate em uma universidade nos Estados Unidos, o ex-governador do DF, ex-ministro da educação e atual senador Cristóvam Buarque, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro. Esta foi a resposta do Sr.Cristóvam Buarque:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade".

"Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço".

"Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação".

"Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado".

"Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como
Paris,Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro".

"Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil".

"Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de comer e ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"

PS. DIZEM QUE ESTA MATÉRIA NÃO FOI PUBLICADA, POR RAZÕES ÓBVIAS... AJUDE A DIVULGÁ-LA.

terça-feira, maio 08, 2007

Percepção Interior (O Sol)

Uma das vantagens da maturidade (ou idade avançada, se preferir) é que aprendemos cada vez melhor a distinguir entre o que é importante, o que é importante mas nem tanto assim e o que não tem importância alguma. É como bem descreve a frase popular: um dia a ficha cai e acordamos com uma certeza onde antes existiam apenas dúvidas. Da noite para o dia, o que era complicado passa a ser simples, o que era importante passa a não ter mais importância. Da noite para o dia, completamos o quebra-cabeça que vínhamos tentando completar sem resultado há anos. Tudo isso quando menos esperamos, que fique bem claro. E o que antes nos intrigava e nos tirava o sono passa a ser óbvio - assim sem mais nem menos. Essa percepção interior é coisa rara e uma das melhores experiências que uma pessoa pode ter na vida, mesmo que passageira. Desnecessário dizer, não é algo que aconteça todo dia...

Parece bobagem mas se as pessoas soubessem o que realmente importa em suas vidas, não gastariam tanto tempo e energia com coisas pequenas. Não gastariam tanto tempo e energia com falsas amizades e amores infelizes, com planos (presumidamente) infalíveis, sonhos inalcançáveis e missões impossíveis. Mas como o ser humano tem o hábito de só aprender através do sofrimento, são necessários anos de aprendizado. Muitas estradas são percorridas, muitas feridas são abertas (infelizmente algumas delas deixam cicatrizes indeléveis), muitas lágrimas são derramadas. Acima de tudo: muitas decepções e muitas ilusões perdidas (e sim, depois de um certo tempo o coração fica mais leve e a vida segue seu rumo). No final, uma clareza inacreditável, uma lucidez indescritível. Nesses momentos entendemos intuitivamente a vida e as pessoas ao nosso redor. Entendemos a nós mesmos, conseguimos vislumbrar quem realmente somos por trás de nossas máscaras. No mais, não há palavras para descrever esse sentimento.

segunda-feira, maio 07, 2007

Rir para não chorar

Humpft...e porque não tenho rotina nem emprego fixo (leia post anterior), não pude me dar ao luxo de me despencar de última hora pra Bruxelas e perdi a reunião de aniversário do Antônio...Preciso me redimir o quanto antes deste ato falho - ainda mais considerando-se que ano passado também não estive presente na comemoração de aniversário de tão adorável figura, e olha que foi aqui mesmo em Amsterdã (shame on Me). Ao menos consegui mandar meu presente através de uma (grande) amiga em comum, então deixo aqui registrados meus sinceros votos. Antônio, você é uma figura muito especial. Te desejo muitos e muitos anos de vida, muita paz e amor (hippie eu?), saúde, dinheiro e tudo mais que possa desejar...Acima de tudo seja sempre você mesmo e seja feliz, onde quer que a vida te leve. Ah, e o muffin da foto é pra você!

sábado, maio 05, 2007

Os dias e as noites

Vou pegar carona no post do meu amigo taurino e falar um pouco sobre a vida moderna - ou o que fizemos de nossas vidas. A vida da maioria das pessoas, na verdade, é vivida no piloto-automático. Acorda, toma banho, toma café, vai trabalhar. Pausa pro almoço, trabalha mais um pouco até o relógio dizer que agora sim, você pode ir pra casa - ou pra academia, supermercado, cinema, ou simplesmente pra cama...fica à critério do leitor.

Pois eu fico até com vergonha de dizer mas minha vida nunca foi assim - e sagitariana dupla que sou, acho que nem poderia (por outro lado, minhas contas volta e meia estão atrasadas, a liberdade tem seu preço). Sempre odiei rotina, chefe e tudo o que se relaciona ao ambiente de trabalho moderno com toda sua maquinaria e colegas mesquinhos e invejosos (sempre tentando te passar a perna quando você está distraído). Em toda a minha vida só tive emprego com carteira assinada por pouco mais de 1 ano (sem contar os dois anos de estágio obrigatório antes de concluir a faculdade, que até que foram bons). O resto da minha vida profissional foi sempre um filme de suspense...sempre trabalhei como freelance, vim para a Europa (Dublin) com um contrato de trabalho de 6 meses, fiquei 7 meses, não quis renovar o contrato e segui rumo à mais uma aventura: Amsterdam (e a aventura continua até hoje, com os altos e baixos de uma montanha-russa).

Há 13 anos que moro aqui e nunca tive um emprego, sempre trabalhei como freelance (parece loucura mas juro que é verdade). Quando era casada era mais fácil, obviamente. O marido pagava as contas básicas e eu ajudava com o resto, compras de supermercado, móveis, tv, viagens, aluguel de carro, etc. Hoje em dia, todo centavo conta, a grana raramente sobra mas eu me viro (e confesso que me orgulho disso, e por quê não?).

Como tudo na vida, a opção de não ter emprego (e sim trabalho) tem seu lado positivo e negativo. E para mim, apesar de tudo, o lado positivo sempre pesou mais do que o negativo (até prova em contrário). Embora tenha tido um momento da minha vida em que se eu tivesse um emprego de 9 às 5 provavelmente teria (sobre)vivido melhor. É que a rotina mata...mas também pode salvar. Quando tive depressão e fui tratada por psiquiatra e psicólogo, eles insistiam justamente que eu devia buscar uma vida mais estruturada, criar alguma rotina (segundo os especialistas de saúde mental, o ser humano não vive sem rotina). Tudo isso pra não pirar...uma das ironias da vida. Quem tem emprego quase morre afogado na rotina dos dias sempre iguais, quem não tem emprego pode um dia surtar pra não voltar nunca mais (quase aconteceu comigo). Posso estar errada, posso um dia surtar de novo...mas sinceramente, ainda prefiro minha liberdade (mesmo com algumas contas atrasadas, dinheiro entra, dinheiro sai). Ou isso, ou tenho mesmo alma de artista, hehehe.

quinta-feira, maio 03, 2007

(A Very) Inconvenient Truth

Ontem finalmente assisti ao filme An Inconvenient Truth e quase tive pesadelos à noite! Sem dúvida, o mais assustador (e constrangedor) é ver quanta destruição o homem foi capaz de fazer em nosso planeta em meros 100 anos. Nunca foi registrada tamanha destruição em um período tão curto de tempo na história da humanidade. Definitely not something to be proud of. Os sinais alarmantes estão por toda a parte (e são cada vez mais difíceis de serem ignorados), a começar pelo discutido aquecimento global. Não é à toa que o verão chegou 2 meses mais cedo aqui na Europa, este mês de abril foi o mais quente na Holanda desde 1962 ou algo assim - e a frente de calor tem registrado recordes em vários países europeus. Furacões, tsunamis, vendavais, geleiras derretendo no Ártico e na Antártica com consequências aterrorizantes. Dito isso, quem ainda tiver coragem, assista ao trailer aqui.

A boa notícia é que, apesar dos fatos assustadores (e comprovados por cientistas e estudiosos de todo o mundo), a mensagem de otimismo no final do filme nos dá a esperança de que ainda há tempo de salvar nosso planeta azul - se começarmos agora. Em suma, a mensagem está dada, e se os líderes governamentais, cidadãos e indústrias pelo mundo afora não tomarem uma atitude ainda hoje, a coisa realmente ficará complicada para nossos filhos...Sinceramente, me dá arrepios só de pensar.

terça-feira, maio 01, 2007

Data histórica

Embora 1 de Maio seja sempre comemorado em várias partes do mundo como Dia do Trabalho, este 1 de Maio vai entrar para a história da Europa. Hoje as portas da Comunidade Européia foram finalmente abertas para os países do leste europeu (Polônia, Estônia, Letônia, Lituânia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Eslovênia). Esses países já haviam entrado para o seleto clube da CE, mas até ontem ainda precisavam de um visto oficial de trabalho para tentar a sorte por aqui. Com a abertura das fronteiras, estima-se a migração em massa para os países mais abastados como Inglaterra, Holanda e Alemanha. As manchetes de alguns jornais holandeses já falam de muitos pais e mães que esta semana fazem suas malas e partem rumo à terra prometida, deixando seus filhos pequenos para trás. A maioria parte porque acredita ser o melhor para a família e deverá mandar quantias regulares de dinheiro para os que ficaram...Dinheiro, entre outras coisas, para ajudar na educação dos filhos, como disse uma polonesa entrevistada (livros escolares, excursões da escola, etc.). Qualquer semelhança não é mera coincidência.

E como não podia deixar de ser, muitos europeus estão preocupados se irão perder seus empregos para esta mão-de-obra barata. E sim, os especialistas já afirmam que haverá alguma queda nos salários em alguns setores da economia. Mas a maioria não chega a ter com que se preocupar pois os novos migrantes irão trabalhar em setores que eles costumam recusar - como na agricultura, fábricas, indústria pesada, etc...Ou seja, a concorrência será mesmo no setor de mão-de-obra braçal e pouco qualificada (conheço muitas faxineiras brasileiras que já estão perdendo suas noites de sono, é que as polonesas trabalham por quase nada...).

Para os que chegam, só tenho uma coisa a dizer: Boa Sorte!

Ladrãozinho de aspirinas

Antes que eu me esqueça: outro dia tive a oportunidade de pegar Cinema, Aspirinas e Urubus na locadora aqui perto de casa. O filme acaba de ser lançado aqui, mas apenas porque foi selecionado no Festival de Cannes...infelizmente são raros os filmes brasileiros que chegam na Holanda (um que eu morro de vontade de assistir é O Céu de Sueli).

E o filme é mesmo muito interessante, ainda mais se visto por uma brasileira morando aqui do lado da Alemanha. É que assistir o filme a partir deste ângulo (no hemisfério norte) é uma experiência única, pois nos permite entender melhor ambos os personagens - ambos os lados da estória. O filme mostra acima de tudo a relação de amizade entre duas pessoas de mundos distintos. Johann, um alemão que foge da guerra em 1942 com a desculpa de vender aspirinas no sertão do Brasil (e se apaixona por tudo que vê). E Ranulpho, um flagelado do sertão rumo ao Rio de Janeiro, tentando a todo custo fugir da miséria.... Enquanto para o alemão o Brasil é o paraíso (aqui pelo menos não cai bomba do céu), Ranulpho é o típico brasileiro que acredita que lá fora tudo é melhor (e que lugar ruim não acaba nunca). Um típico brasileiro que se acha melhor do que os outros brasileiros e não quer saber de nada daquilo - pobres e sujos são os outros, ele é um sujeito honrado! Engraçado é que aqui na Europa volta e meia chegam alguns Ranulphos...eles se deslumbram com tudo o que vêem (primeiro mundo) e negam de pés juntos qualquer relação que possam ter com o Brasil (terceiro mundo). Com o tempo, os mais espertos inevitavelmente vão caindo na real, o sonho acaba e é substituído por uma visão mais realista de ambos os mundos (o primeiro e o terceiro, ambos com suas contradições).

Outro filme que peguei pra assistir esta semana é An Inconvenient Truth - A Global Warning, provavelmente o filme mais comentado ano passado (eu como sempre atrasada, né Anna?). Depois venho aqui contar o que achei...se é que estarei em condições de escrever alguma coisa depois de assistir ao filme (dizem as más línguas que aquilo ali tudo é verdade).
Tecnologia do Blogger.

Sessão de cinema: O Labirinto do Fauno

Finalmente assisti hoje à tarde o comentado Labirinto do Fauno, do diretor mexicano Guillermo del Toro. O filme é realmente muito bom, embora assombroso seja o adjetivo mais apropriado (assombroso no sentido original da palavra). Eu que pensei estar diante de um filme de fantasia, logo nos primeiros minutos percebi minha ingenuidade. E pensando bem, não podia mesmo ser diferente pois o tema do filme é o regime fascista na Espanha.

Basicamente, o filme é narrado em dois níveis: o real e o surreal. Os horrores da guerra civil espanhola são intercalados na tela com o universo de sonhos da menina Ofélia. Cenas fortes retratando a crueldade do fascismo se contrapõem a um reino habitado por seres mitológicos, fadas, elfos, faunos e outras criaturas...um universo subterrâneo onde reina a harmonia, a esperança e onde os seres são eternos (e não meros mortais). Um labirinto secreto, um livro misterioso, um mundo escondido atrás de uma porta desenhada a giz. A fotografia de conto de fadas (em que o clima macabro lembra uma tela de Hieronymus Bosch) é um dos pontos fortes do filme. Mas assista no cinema: o impacto das imagens na tela grande é sempre maior. E tenha bons sonhos, se conseguir...

Ainda sobre o pecado da gula














No post anterior, esqueci de deixar a dica de alguns dos melhores livros de receitas de muffins e cookies que já vi por aí (e que tive a sorte ou o azar de achar nos sebos da cidade). Não sei se estes títulos foram traduzidos aí, mas vale (muito) a pena procurar.

250 Best Muffin Recipes
autora: Ester Brody

Chocolate Baking
autora: Linda Collister

Cookies, Biscuits and Biscotti
autora: Linda Collister

PS: Este foi o post mais calórico que já publiquei neste blog...

O pecado da gula

Pois hoje não resisti o (velho e conhecido) pecado da gula e decidi fazer uns muffins de chocolate...o pior de tudo é que meu filho nem está em casa pra me ajudar a comê-los, ai meu Deus do céu! Vou guardar uns pra ele, que chega da casa do pai amanhã..e é bom que chegue logo mesmo. Pra quem ficou curioso - ou simplesmente com água na boca, o que é mais provável - coloquei a receita aqui. Diga-se de passagem, um dos principais segredos de um bom muffin é não misturar demais, apenas o suficiente para misturar os ingredientes secos e molhados. Mais um post da série Desperate Housewifes.


Muffin de Chocolate
Ingredientes:
2 xic. farinha
1 xic. açúcar
fermento em pó
chocolate em pó (3 C)
2 ovos
50 ml óleo vegetal
250 ml leite
100g de chocolate picado (ao leite ou meio-amargo)

Preparo:
1. E
m uma tigela grande, misture os ingredientes secos (farinha, açúcar, fermento, chocolate em pó).
2. Em uma tigela média, misture os ingredientes molhados (ovos, leite e óleo vegetal).
3. Despeje os ingredientes molhados na tigela grande e mexa levemente com uma colher-de-pau (não misture demais) até que todos os ingredientes estejam misturados

4. Acrescente o chocolate picado à misture, despeje em formas de muffin (dá 12 muffins) e asse em forno pré-aquecido (190 graus) por cerca de 20-25 minutos.

Pra finalizar, deixo ainda a dica de um site delicioso: Joy of Baking.

Verde e amarelo

Depois de divagar sobre identidade, samba e futebol venho aqui confessar que meu fim-de-semana não podia ter sido mais verde e amarelo. Mas que foi muito divertido, isso foi - nem poderia ter sido de outra forma. Teve conversa fiada, teve papo furado e papo-cabeça. Teve casal 20 (os mineiros Eliane e Sandro), teve Anna e Arnild, duas amigas especiais e muito antenadas (nós três falamos de tudo e o assunto nunca acaba, uma sintonia impressionante). Teve o amigo brasileiro da Anna que mora em NY, teve a mineiríssima Adriane que mora por aqui mesmo. Teve cerveja belga e samba na casa da Eliane, cerveja espanhola no Tapas Bar português. Teve até acarajé, abará e vatapá, minha gente!

Enfim, teve um pouco de tudo. Sorrisos e gargalhadas soltas, afeto e amizade. Caras novas, velhas caras conhecidas, novos contatos. Depois de um fim-de-semana desses, a gente já começa a semana mais leve. Um fim-de-semana desses e a gente vai pra casa com um sorriso no coração. E lembra que apesar dos pesares, viver ainda é muito bom!

De repente

De repente, não mais que de repente...meu filho cresceu. Assim mesmo, da noite pro dia. Ou vai ver eu é que não estava preparada para tanta mudança em tão pouco tempo. Criança é assim: da noite pro dia, quando você menos espera, ela aprende algo de novo. O menininho inseguro e assustado que aprendeu a andar aos 18 meses (eu já quase morta de preocupação), que mal conseguia correr sem trocar as pernas e cair (e teve o azar de cair dum balanço aos dois anos e ficar com a perna engessada três semanas), que aprendeu ano passado a andar de bicicleta sem rodinhas (numa bicicleta pequenininha porque tinha medo), mês passado ganhou uma bicicleta maior e está se achando gente grande. E agora vai com o pai pra escola de bicicleta e já começa a se aventurar de bicicleta no centro de Amsterdam...Não se iludam, não é tarefa das mais fáceis: eu mesma até hoje não me sinto 100% à vontade no meio de carros, ônibus, trams, taxis, pedestres...e outras bicicletas. Juro que não é pouca coisa pra quem no Brasil aprendeu que lugar pra andar de bicicleta é no parque (e no máximo, na ciclovia da orla).

O menino também aprendeu a ler, quando há pouco tempo só olhava as figuras. E está cada vez melhor com os números, quando há pouco tempo contar até 10 já era motivo de muito orgulho. E descobriu os games no computador de um dia pro outro (achou o jogo 2 Fast 2 Furious esta semana e nunca mais largou, em 2 dias bateu todos os recordes, rsrsrs). Eu nunca estimulei os games aqui em casa (contrariamente a muitas mães modernas) porque preferi estimular outro tipo de atividades (físicas, leitura, etc). De qualquer forma, já percebi que esta é uma batalha perdida: as crianças de hoje parece que já vieram programadas pra gostar de games! Eu, que no meu tempo só brincava de ATARI e o game mais emocionante na minha lista era Pac-man. É minha gente, os tempos mudaram!

E além da bicicleta, dos livros e dos números...o menino hoje já assiste sem problemas - e sem reclamar - filmes em inglês. E não os filmes dublados em holandês, que a maioria das crianças daqui assiste. E claro, sai orgulhoso do cinema. Em breve iremos juntos assistir Bridge to Terabithia (porque a mãe é uma criança grande e também adora filmes de fantasia). O filme, que é legendado e não dublado para os pequenos (como a maioria dos filmes da Disney) recebeu classificação para 9 anos por aqui. E ele está todo animado dizendo que vai assim mesmo (mal completou 7 anos mês passado). O momento de glória, vejam bem, é na bilheteria do cinema. Quando o funcionário educadamente avisa mãe e filho que o filme não é dublado e sim no original (inglês) com legendas. E Liam se dá conta que fala dois idiomas (sim senhor, está pensando o quê) e senta na poltrona de cinema se sentindo gente grande.

E quanto à mãe do menino...esta continua cada dia mais coruja!

Sobre (bons) vinhos

Volta e meia não resisto e faço uma visita ao blog Caderno de Vidro. Dessa vez gostei tanto de um texto sobre a arte de beber e reconhecer bons vinhos (e outros menos) que decidi colá-lo aqui! Assim compartilho um pouco com vocês essas palavras tão bem escritas (porque convenhamos: não é todo dia que se encontra gente que escreva tão bem).



UVAS AMARGAS
Há quem goste de vinho. E há quem goste de gostar de vinho. Sou do primeiro tipo, graças a Deus.

Não vai aqui nenhum preconceito contra quem olha o vinho na contraluz ou assobia para dentro enquanto toma um pequeno gole. Em lugar de preconceito, talvez seja coisa mais grave. Mas isso veremos adiante, caso o leitor tenha paciência (paciência, hoje em dia, é mais raro que um Romanée-Conti 66).

Quem gosta de vinho, como eu, geralmente não é iniciado. Fica feliz com um chileno de trinta reais, figurinha fácil em qualquer carta. Mas quem gosta de gostar de vinho já viu a luz. E não se contenta com qualquer lamparina. Quando digo isto, logo eles argumentam que o bom vinho não é necessariamente o mais caro. Concordo. Mas, para quem já sabe reconhecer uma Gisele Bundchen em forma de uva, é difícil se contentar com a gostosinha do bairro. Mesmo quando dizem que a gostosinha é — afinal — gostosinha, eles sentem no paladar muito mais o INHA do que o restante do sabor.

Eu, ao contrário, acho que Bordeaux fica no Chile. E, pelo amor de Deus, não me convençam do contrário. Não é preciso: sei que estou errado. Mas sei apenas na teoria. No dia em que eu conhecer a diferença na prática, ai de mim: tomarei meus vinhos baratos sabendo que não passam muito disso. E parte do prazer que sinto hoje será coisa do passado. Deus conserve meu paladar inocente.

Sei que um bom vinho merece os adjetivos floreados (reticente, audacioso, loquaz). Sei que existem uvas com sabor de abacaxi ou suor de cavalo. Sei que vinho tem unha, nariz e corpo. Só não quero muita intimidade com isto. Deixem que meus trinta reais valham mil dólares de Robert Parker.

Se a paciência do leitor o trouxe até aqui, ficou claro que não tenho preconceito. E, por isto mesmo, acho que é algo mais grave. Talvez seja uma grosseira apologia à ignorância, à preguiça, ao animal rude e pobre de espírito. Se for, é uma apologia a mim mesmo.

Eu, que me esforço para cima, devo pertencer de fato ao andar de baixo. O vinho será a única hora em que esta verdade é consciente. No mais das vezes, nem percebo os meus enganos, e confundo meus limites com minha opinião.

O que me resta é apenas a franqueza de confessar. E ouso mesmo dizer que — não fosse certo alarido que me causa a poesia — eu era caso dos mais perdidos.

Ou será tudo o contrário, que não vamos terminar assim tão tristes e derrotistas. Minha única esperança, neste final de coisas, é haver dado o braço a torcer — e saborear o quanto de nós mesmos é possível descobrir simplesmente ao se falar de vinhos. Mesmo que daqueles mais baratos.

by André Laurentino. Publicado no Guia em O Estado de S. Paulo.

Um estranho no ninho

Meu amigo Antônio - que por incrível que pareça, se tornou ainda mais íntimo com essa estória de blogs - escreveu um texto fantástico sobre a questão do estrangeiro. Não o do Camus, veja bem, embora este também seja digno de nota - e como!

Ler o texto dele me fez refletir novamente sobre a minha (eterna) condição de estrangeira, que é muito mais do que uma mera questão geográfica e de fronteiras delimitadas em um mapa. O que eu quero dizer é que sempre fui estrangeira, à minha maneira (como o Antônio tão bem definiu no texto dele). Nasci em Porto Alegre mas fui pro Rio de Janeiro com 5 anos de idade. No Rio cresci, estudei, me formei na faculdade...mas nunca cheguei a me sentir carioca da gema (simplesmente não estava no meu sangue, que me desculpem os cariocas). Nos primeiros anos de escola, eu era a menina gaúcha...o tempo foi passando, eu deixei de ser a gaúcha pra me tornar simplesmente eu mesma. Prestes a completar 28 anos (olha aí o famoso ciclo de Saturno), arrumei as malas, cruzei os mares e fui trabalhar em Dublin. Lá eu era a tradutora brasileira, embora não andasse com os outros brasileiros e sim com um alemão gay (que o Antônio conheceu, coisas do destino) e um holandês (o fantasma do post anterior, hehehe).

Nos primeiros anos de Holanda, foi a mesma coisa...eu e Jeff tínhamos um círculo de amigos internacional (depois do divórcio, sumiram todos, muitos também se separaram e alguns se mudaram para outros países). Mas nos últimos 5 anos eu diria que meu círculo de amizades tem se tornado cada vez mais verde e amarelo. Mas não se iludam: a maioria desses brasileiros é diferente como eu e está longe de se encaixar no estereótipo de brasileiro no exterior...Pra início de conversa, a maioria não gosta de samba nem de futebol (a não ser na Copa do Mundo, quando a comunidade brasileira no exterior enlouquece de vez, fiquem avisados)...Alguns são cidadãos do mundo, como eu (pra esses eu não preciso ficar me explicando, o que é um grande alívio).

Mas isso tudo é só a ponta do iceberg, obviamente...porque eu sempre me senti estrangeira no mundo. Nunca aprendi a jogar os jogos que as pessoas tanto prezam, sempre me recusei a me enquadrar em classificações e rótulos predefinidos. E nas poucas vezes que tentei me enquadrar, as consequências foram desastrosas. Meus sonhos não eram os mesmos das pessoas à minha volta, muito menos meus planos para o futuro. Sempre fui gauche na vida. E no final das contas, prefiro a liberdade de ser eu mesma. Nem gaúcha nem carioca, nem brasileira nem holandesa - e ao mesmo tempo, um pouco de tudo isso!

Os fantasmas do passado

Meudeusdocéu...É irônico como a vida nos prega peças quando menos esperamos. Outro dia, sem mais nem menos, esbarrei com um ex-namorado no meio da rua. Não o via há 13 anos (muitas águas passaram por este rio). Namoramos uns poucos meses - a intensidade foi maior do que a duração, daquelas coisas que não se explica e pronto - quando eu ainda morava em Dublin. Isso antes de eu me atirar de mala e cuia pra Amsterdam. Sim, porque naquela época eu me atirei mesmo, hoje em dia não teria mais esta coragem (ou inocência). Na época ele ficou trabalhando por lá mesmo (é tradutor como eu), apesar de ser holandês e ter voltado a morar aqui uns anos depois, não sei exatamente quando. Perdemos contato durante muitos e muitos anos, não fosse um amigo comum (que aliás, sempre o mantia informado). Ele também foi casado 10 anos e tem uma experiência vagamente semelhante (porque cada experiência é única e a minha sem dúvida o foi...não que eu me orgulhe disso, muito pelo contrário). E hoje somos ambos happy single, fiéis à linha single but not looking...or at least, that is what I thought, hehehe.

Pois bem, depois de nos esbarrarmos prometemos manter contato e ele me mandou um e-mail no mesmo dia. Desde então assunto é o que não falta e temos trocado muitas idéias (algumas coisas nunca mudam). E ele quer marcar pra gente sair pra um bar, conversar e beber algo mas...sei lá. E eu só sei dizer que o passado às vezes nos pega de surpresa, quando já havíamos esquecido totalmente...eu que nem o reconheci na rua, ele é que me reconheceu (logo eu que engordei mais de 30kg desde então...cruz credo).

To cut a long story short, talvez ainda possamos ser amigos...Porque a verdade é que depois de 10 anos de casamento, eu pensei que tinha saído definitivamente do circuito e não tenho (ou não tinha) o menor plano de retornar a ele tão cedo...e provavelmente não irei ainda mas é sempre bom sacudir a poeira (nem que seja pra rever as idéias de tempos em tempos). No mais, nem sei porque escrevi isso aqui mas é que, digamos assim, essa estória me tirou do marasmo emocional em que escolhi viver nos últimos tempos (pós-divórcio, vejam bem). Basicamente, ainda não me sinto em condições emocionais de encarar um novo relacionamento - embora, ou talvez por isso mesmo, saiba exatamente o que quero e o que não quero em uma relação (um dia a gente aprende). E o que eu não quero é muito simples: casamento e filhos...Been there, done that.

De qualquer forma, este encontro inesperado com o passado me fez (re)pensar algumas atitudes básicas e estou até desconfiada que é cedo demais pra pendurar as chuteiras (sim, eu que já tinha me aposentado). Então fica combinado assim: estou fechada para balanço por tempo indeterminado - até prova em contrário, é claro.

PS. A foto é do Temple Bar, em Dublin.

Só de passagem...

Só de passagem rápida pelo blog porque continuo trabalhando igual a um burro de carga (mas nem tanto assim, não exageremos). É que li pelos blogs afora algo tão profundo, mas tão profundo, que decidi deixar registrado aqui antes que eu me esqueça:

As grandes coisas ficam para os grandes, os abismos para os profundos, as branduras e os tremores para os sutis e, em resumo, as coisas raras para os raros.
Nietzsche

Não sei se essas palavras são mesmo do Nietzsche (e a Arnild certamente me corrigirá se eu estiver errada) mas de qualquer forma, são de uma grande sabedoria. E viva a profundidade do abismo - e viva quem nos transformamos depois dele. O resto, quem (sobre)viver, verá.

PS. A foto é da bela e pacata cidadezinha inglesa Whitby, em Yorkshire. Mais um dos lugares mágicos que tive a sorte de conhecer neste mundo.

Sessão de cinema: The Namesake

Ontem assisti ao belo filme The Namesake (2006) da diretora indiana Mira Nair, que também dirigiu Monsoon Wedding (2001), entre outros. O filme narra a história de um casal de emigrantes recém-casados que deixa Calcutá, Índia para tentar uma nova vida nos EUA. Apesar da enorme dificuldade de adaptação - principalmente da jovem que fica sozinha em casa enquanto o marido vai estudar e mais tarde lecionar na universidade - o casal está decidido a permanecer nos EUA para oferecer aos filhos o mundo de oportunidades que não teriam se ficassem na Índia.

E como toda saga de imigrantes, o filme está repleto de cenas e diálogos comoventes - com os quais quem mora fora muito irá se identificar. Fatos marcantes são o nascimento do primeiro filho do casal (Gogol Ganguli), a morte do avô materno e o retorno à Índia para as cerimônias de cremação (as cinzas são jogadas no Ganges, como manda a tradição). A viagem da família à Índia ilustra claramente na tela as tradições que o casal luta por preservar em meio à cultura americana. Enquanto isso, os filhos contam os dias para retornar aos EUA, reclamam do calor sufocante (sem o ar-condicionado com que estão acostumados) e sentem falta de suas vidas confortáveis nos EUA. Uma das cenas mais fascinantes é a visita ao Taj Mahal, cuja beleza deixa pais e filhos igualmente assoberbados e faz com que o filho decida cursar Arquitetura ao retornar aos EUA.

Acompanhamos assim a vida do imigrante nos EUA, os laços de família, o choque cultural e o inevitável choque de gerações. Nesse caso, o choque é agravado: os pais tentando a todo custo preservar as tradições de seu país e os filhos nascidos e criados nos EUA, com uma visão de mundo americanizada e cada vez menos ligados às raízes familiares (como era de se esperar, diga-se de passagem). Em suma, a luta pela preservação dos valores da família (representada pelos pais) e a quebra de valores, a busca do novo e o anseio pela liberdade (representado pelos filhos). Acima de tudo, um hino à vida, à morte e a tudo que há entre elas.

A ordem e o caos

Ultimamente tenho percebido que existe uma ordem dentro do caos em que vivo (ou escolhi viver porque a gente faz escolhas na vida). Da mesma forma que consigo encontrar exatamente o que preciso no meio da bagunça da minha escrivaninha, também costumo sobreviver meus dias com alguma ordem no aparente caos. Não me perguntem como, mas eu consigo. O que me faz lembrar que a filosofia oriental afirma que existe ordem dentro do caos - e existe mesmo.

O que provavelmente faz de mim uma pessoa excêntrica e talvez fora dos padrões...é que a rotina que faz parte da vida de milhões de pessoas me asfixia, me deixa sem ar. Porque eu não sou uma criatura de hábitos (o único hábito que tenho é o de pensar demais). E eu sempre fui assim: do contra. Nunca gostei de seguir as normas estabelecidas pelos outros, sempre questionei as verdades absolutas (inclusive as minhas) e sempre busquei minhas próprias normas e verdades. Desnecessário dizer, também já sofri muito por isso.

Pensando bem, talvez por isso a maternidade tenha sido um susto do qual estou me recuperando até hoje (tenho meus dias bons e ruins, como toda mãe que se preze). Porque ser mãe obriga a gente a cumprir uma rotina rígida - senão por nós, pelos nossos filhos. As crianças precisam de estrutura, em outras palavras: elas precisam de rotina. Elas têm hora de dormir e acordar, tomar café e ir pra escola, tomar banho e fazer o dever de casa - todo santo dia. Eu posso até viver sem rotina, mas como mãe sou obrigada a criar o mínimo de rotina na vida do meu filho. E não é fácil porque não é a minha natureza. Eu me sinto à vontade no caos e consigo viver bem com ele.

E nesses dias de trabalho intenso, comprovo mais uma vez que não apenas gosto do caos como até consigo funcionar bem dentro dele. E quanto mais coisas tenho a fazer, mais produtiva eu sou. Porque eu não gosto da rotina, mas gosto menos ainda do ócio. Não, eu não gosto de trabalhar sob pressão ou com prazos apertados, mas o caos me empurra para a frente - enquanto que a rotina me paralisa.

E não, eu não sei viver de outra forma. E sinceramente, nem quero.

Dia das Mães

Dia das Mães na verdade é todo dia: 365 dias por ano, 24 horas por dia (só sendo mãe pra saber). E no segundo domingo de maio, mais do que em qualquer outro dia do ano, as mães são homenageadas em várias partes do mundo. E eu aproveito para parabenizar todas as mamães que estiverem lendo este blog, assim como nossas mães - tanto aquelas que ainda estão vivas como aquelas que já partiram pra continuar cuidando da gente lá no céu (como a minha). Porque amor igual a amor de mãe não tem e ponto final.

Ser mãe é uma arte que a gente aprimora a cada dia, a cada ano. No início as noites em claro e o cansaço crônico, depois cada idade traz consigo alegrias e preocupações (a primeira papinha, o primeiro dentinho, o primeiro dia na escola, a briga com o melhor amigo, etc). Dias de diversão e riso solto e dias de muita pirraça, choro e ranger de dentes. Dias em que temos vontade de dar um abraço apertado em nossos filhos e dias em que gostaríamos de mandá-los passear na casa de um amigo...Porque mãe também é gente e ser mãe cansa - vale a pena mas cansa! E ser mãe todos os dias não é brincadeira (pensando bem, ninguém nunca me disse que seria tão difícil).

De qualquer forma, quero ainda homenagear aqueles que são o principal motivo deste dia ser tão especial. Aqueles que são a razão de nossas vidas: nossos filhos. Porque antes deles, não sabíamos o real significado da palavra amor. E porque depois deles, nunca mais seremos as mesmas.

Para meu filho

Aproveitando que é Dia das Mães - e porque eu não seria mãe se não fosse por ele - deixo aqui um poema para meu filho. Ele não vai poder ler este texto porque está sendo alfabetizado em holandês e não fala português...mas o importante é o sentimento.

O Menino Azul (por Cecília Meireles)
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)

Vida de louco

Antes de mais nada, vamos deixar uma coisa bem clara: não, não estou reclamando. É que de quinta-feira pra cá subitamente apareceram tantas traduções (depois de 3 semanas pra lá de tranquilas...) que eu cheguei a ficar assustada. E com os prazos apertados, até uma enxaqueca arrumei na quinta à noite (vida de louco).

O lado ruim é que vou trabalhar o fim-de-semana inteiro (inclusive Dia das Mães porque no final das contas, Dia das Mães é todo dia) e até terça à noite o esquema está bem apertado. Só não chega a ser tão ruim porque gosto do que faço, 90% das vezes. O lado bom é que em seis dias consigo fazer o equivalente a um mês de salário básico aqui na Holanda (38hrs. por semana, sem contar tempo gasto em trajeto). Claro que nem tudo são flores porque ainda estou com algumas contas atrasadas (vida de freelance é um malabarismo só, vou poupá-los dos detalhes), mas só a perspectiva de colocar as contas em dia já é ótima notícia! E em julho tem férias....(depois eu conto).

E tem dias que me sinto uma pessoa de sorte porque gosto do meu trabalho (requisito fundamental na minha agenda) e trabalho sem precisar sair de casa, do conforto do meu lar (e tem chovido horrores esta semana por aqui). No mais, acho que mais importante do que a grana é a gente gostar do que faz (mas toda grana é sempre bem-vinda, claro). E agora chega de enrolação e vamos ao trabalho!

Lição de moral (vale a pena ler)


Durante debate em uma universidade nos Estados Unidos, o ex-governador do DF, ex-ministro da educação e atual senador Cristóvam Buarque, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro. Esta foi a resposta do Sr.Cristóvam Buarque:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade".

"Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço".

"Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação".

"Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado".

"Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como
Paris,Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro".

"Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil".

"Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de comer e ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"

PS. DIZEM QUE ESTA MATÉRIA NÃO FOI PUBLICADA, POR RAZÕES ÓBVIAS... AJUDE A DIVULGÁ-LA.

Percepção Interior (O Sol)

Uma das vantagens da maturidade (ou idade avançada, se preferir) é que aprendemos cada vez melhor a distinguir entre o que é importante, o que é importante mas nem tanto assim e o que não tem importância alguma. É como bem descreve a frase popular: um dia a ficha cai e acordamos com uma certeza onde antes existiam apenas dúvidas. Da noite para o dia, o que era complicado passa a ser simples, o que era importante passa a não ter mais importância. Da noite para o dia, completamos o quebra-cabeça que vínhamos tentando completar sem resultado há anos. Tudo isso quando menos esperamos, que fique bem claro. E o que antes nos intrigava e nos tirava o sono passa a ser óbvio - assim sem mais nem menos. Essa percepção interior é coisa rara e uma das melhores experiências que uma pessoa pode ter na vida, mesmo que passageira. Desnecessário dizer, não é algo que aconteça todo dia...

Parece bobagem mas se as pessoas soubessem o que realmente importa em suas vidas, não gastariam tanto tempo e energia com coisas pequenas. Não gastariam tanto tempo e energia com falsas amizades e amores infelizes, com planos (presumidamente) infalíveis, sonhos inalcançáveis e missões impossíveis. Mas como o ser humano tem o hábito de só aprender através do sofrimento, são necessários anos de aprendizado. Muitas estradas são percorridas, muitas feridas são abertas (infelizmente algumas delas deixam cicatrizes indeléveis), muitas lágrimas são derramadas. Acima de tudo: muitas decepções e muitas ilusões perdidas (e sim, depois de um certo tempo o coração fica mais leve e a vida segue seu rumo). No final, uma clareza inacreditável, uma lucidez indescritível. Nesses momentos entendemos intuitivamente a vida e as pessoas ao nosso redor. Entendemos a nós mesmos, conseguimos vislumbrar quem realmente somos por trás de nossas máscaras. No mais, não há palavras para descrever esse sentimento.

Rir para não chorar

Humpft...e porque não tenho rotina nem emprego fixo (leia post anterior), não pude me dar ao luxo de me despencar de última hora pra Bruxelas e perdi a reunião de aniversário do Antônio...Preciso me redimir o quanto antes deste ato falho - ainda mais considerando-se que ano passado também não estive presente na comemoração de aniversário de tão adorável figura, e olha que foi aqui mesmo em Amsterdã (shame on Me). Ao menos consegui mandar meu presente através de uma (grande) amiga em comum, então deixo aqui registrados meus sinceros votos. Antônio, você é uma figura muito especial. Te desejo muitos e muitos anos de vida, muita paz e amor (hippie eu?), saúde, dinheiro e tudo mais que possa desejar...Acima de tudo seja sempre você mesmo e seja feliz, onde quer que a vida te leve. Ah, e o muffin da foto é pra você!

Os dias e as noites

Vou pegar carona no post do meu amigo taurino e falar um pouco sobre a vida moderna - ou o que fizemos de nossas vidas. A vida da maioria das pessoas, na verdade, é vivida no piloto-automático. Acorda, toma banho, toma café, vai trabalhar. Pausa pro almoço, trabalha mais um pouco até o relógio dizer que agora sim, você pode ir pra casa - ou pra academia, supermercado, cinema, ou simplesmente pra cama...fica à critério do leitor.

Pois eu fico até com vergonha de dizer mas minha vida nunca foi assim - e sagitariana dupla que sou, acho que nem poderia (por outro lado, minhas contas volta e meia estão atrasadas, a liberdade tem seu preço). Sempre odiei rotina, chefe e tudo o que se relaciona ao ambiente de trabalho moderno com toda sua maquinaria e colegas mesquinhos e invejosos (sempre tentando te passar a perna quando você está distraído). Em toda a minha vida só tive emprego com carteira assinada por pouco mais de 1 ano (sem contar os dois anos de estágio obrigatório antes de concluir a faculdade, que até que foram bons). O resto da minha vida profissional foi sempre um filme de suspense...sempre trabalhei como freelance, vim para a Europa (Dublin) com um contrato de trabalho de 6 meses, fiquei 7 meses, não quis renovar o contrato e segui rumo à mais uma aventura: Amsterdam (e a aventura continua até hoje, com os altos e baixos de uma montanha-russa).

Há 13 anos que moro aqui e nunca tive um emprego, sempre trabalhei como freelance (parece loucura mas juro que é verdade). Quando era casada era mais fácil, obviamente. O marido pagava as contas básicas e eu ajudava com o resto, compras de supermercado, móveis, tv, viagens, aluguel de carro, etc. Hoje em dia, todo centavo conta, a grana raramente sobra mas eu me viro (e confesso que me orgulho disso, e por quê não?).

Como tudo na vida, a opção de não ter emprego (e sim trabalho) tem seu lado positivo e negativo. E para mim, apesar de tudo, o lado positivo sempre pesou mais do que o negativo (até prova em contrário). Embora tenha tido um momento da minha vida em que se eu tivesse um emprego de 9 às 5 provavelmente teria (sobre)vivido melhor. É que a rotina mata...mas também pode salvar. Quando tive depressão e fui tratada por psiquiatra e psicólogo, eles insistiam justamente que eu devia buscar uma vida mais estruturada, criar alguma rotina (segundo os especialistas de saúde mental, o ser humano não vive sem rotina). Tudo isso pra não pirar...uma das ironias da vida. Quem tem emprego quase morre afogado na rotina dos dias sempre iguais, quem não tem emprego pode um dia surtar pra não voltar nunca mais (quase aconteceu comigo). Posso estar errada, posso um dia surtar de novo...mas sinceramente, ainda prefiro minha liberdade (mesmo com algumas contas atrasadas, dinheiro entra, dinheiro sai). Ou isso, ou tenho mesmo alma de artista, hehehe.

(A Very) Inconvenient Truth

Ontem finalmente assisti ao filme An Inconvenient Truth e quase tive pesadelos à noite! Sem dúvida, o mais assustador (e constrangedor) é ver quanta destruição o homem foi capaz de fazer em nosso planeta em meros 100 anos. Nunca foi registrada tamanha destruição em um período tão curto de tempo na história da humanidade. Definitely not something to be proud of. Os sinais alarmantes estão por toda a parte (e são cada vez mais difíceis de serem ignorados), a começar pelo discutido aquecimento global. Não é à toa que o verão chegou 2 meses mais cedo aqui na Europa, este mês de abril foi o mais quente na Holanda desde 1962 ou algo assim - e a frente de calor tem registrado recordes em vários países europeus. Furacões, tsunamis, vendavais, geleiras derretendo no Ártico e na Antártica com consequências aterrorizantes. Dito isso, quem ainda tiver coragem, assista ao trailer aqui.

A boa notícia é que, apesar dos fatos assustadores (e comprovados por cientistas e estudiosos de todo o mundo), a mensagem de otimismo no final do filme nos dá a esperança de que ainda há tempo de salvar nosso planeta azul - se começarmos agora. Em suma, a mensagem está dada, e se os líderes governamentais, cidadãos e indústrias pelo mundo afora não tomarem uma atitude ainda hoje, a coisa realmente ficará complicada para nossos filhos...Sinceramente, me dá arrepios só de pensar.

Data histórica

Embora 1 de Maio seja sempre comemorado em várias partes do mundo como Dia do Trabalho, este 1 de Maio vai entrar para a história da Europa. Hoje as portas da Comunidade Européia foram finalmente abertas para os países do leste europeu (Polônia, Estônia, Letônia, Lituânia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Eslovênia). Esses países já haviam entrado para o seleto clube da CE, mas até ontem ainda precisavam de um visto oficial de trabalho para tentar a sorte por aqui. Com a abertura das fronteiras, estima-se a migração em massa para os países mais abastados como Inglaterra, Holanda e Alemanha. As manchetes de alguns jornais holandeses já falam de muitos pais e mães que esta semana fazem suas malas e partem rumo à terra prometida, deixando seus filhos pequenos para trás. A maioria parte porque acredita ser o melhor para a família e deverá mandar quantias regulares de dinheiro para os que ficaram...Dinheiro, entre outras coisas, para ajudar na educação dos filhos, como disse uma polonesa entrevistada (livros escolares, excursões da escola, etc.). Qualquer semelhança não é mera coincidência.

E como não podia deixar de ser, muitos europeus estão preocupados se irão perder seus empregos para esta mão-de-obra barata. E sim, os especialistas já afirmam que haverá alguma queda nos salários em alguns setores da economia. Mas a maioria não chega a ter com que se preocupar pois os novos migrantes irão trabalhar em setores que eles costumam recusar - como na agricultura, fábricas, indústria pesada, etc...Ou seja, a concorrência será mesmo no setor de mão-de-obra braçal e pouco qualificada (conheço muitas faxineiras brasileiras que já estão perdendo suas noites de sono, é que as polonesas trabalham por quase nada...).

Para os que chegam, só tenho uma coisa a dizer: Boa Sorte!

Ladrãozinho de aspirinas

Antes que eu me esqueça: outro dia tive a oportunidade de pegar Cinema, Aspirinas e Urubus na locadora aqui perto de casa. O filme acaba de ser lançado aqui, mas apenas porque foi selecionado no Festival de Cannes...infelizmente são raros os filmes brasileiros que chegam na Holanda (um que eu morro de vontade de assistir é O Céu de Sueli).

E o filme é mesmo muito interessante, ainda mais se visto por uma brasileira morando aqui do lado da Alemanha. É que assistir o filme a partir deste ângulo (no hemisfério norte) é uma experiência única, pois nos permite entender melhor ambos os personagens - ambos os lados da estória. O filme mostra acima de tudo a relação de amizade entre duas pessoas de mundos distintos. Johann, um alemão que foge da guerra em 1942 com a desculpa de vender aspirinas no sertão do Brasil (e se apaixona por tudo que vê). E Ranulpho, um flagelado do sertão rumo ao Rio de Janeiro, tentando a todo custo fugir da miséria.... Enquanto para o alemão o Brasil é o paraíso (aqui pelo menos não cai bomba do céu), Ranulpho é o típico brasileiro que acredita que lá fora tudo é melhor (e que lugar ruim não acaba nunca). Um típico brasileiro que se acha melhor do que os outros brasileiros e não quer saber de nada daquilo - pobres e sujos são os outros, ele é um sujeito honrado! Engraçado é que aqui na Europa volta e meia chegam alguns Ranulphos...eles se deslumbram com tudo o que vêem (primeiro mundo) e negam de pés juntos qualquer relação que possam ter com o Brasil (terceiro mundo). Com o tempo, os mais espertos inevitavelmente vão caindo na real, o sonho acaba e é substituído por uma visão mais realista de ambos os mundos (o primeiro e o terceiro, ambos com suas contradições).

Outro filme que peguei pra assistir esta semana é An Inconvenient Truth - A Global Warning, provavelmente o filme mais comentado ano passado (eu como sempre atrasada, né Anna?). Depois venho aqui contar o que achei...se é que estarei em condições de escrever alguma coisa depois de assistir ao filme (dizem as más línguas que aquilo ali tudo é verdade).