domingo, janeiro 30, 2011

1 guerra, 2 livros

Uma das páginas mais negras na história da humanidade - a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. Dois livros: The Book Thief e The Boy in the Striped Pyjamas (traduzidos no Brasil respectivamente como A Menina que Roubava Livros O Menino do Pijama Listrado). Uma guerra, duas crianças, que por acaso ainda tem a mesma idade. Uma menina (Liesel) e um menino (Bruno). Após ler A Menina que Roubava Livros, me lembrei de outro livro que tinha visto por toda parte tempos atrás. E claro, fui logo procurar (e achei) no meu sebo.  Já aviso que AMBOS são bestsellers, um mais merecidamente do que outro. De qualquer forma, devorei ambos em menos de uma semana.

The Book Thief é uma história sobre a humanidade em suas duas facetas: a bondade (aqui representada por alguns moradores de um subúrbio pobre de Munique) e a crueldade (a Guerra propriamente dita e todos aqueles que a apoiaram). Ele conta a história de Liesel, uma menina de 9 anos que adora livros (e cedo descobre o poder das palavras). A história de Max, o judeu que encontra refúgio na casa de Liesel durante a guerra. A história dos pais que a adotaram e de muitos outros personagens. O narrador do livro é nada menos do que A Morte. Uma senhora de respeito. Sim, ela mesma.

O que mais admirei neste livro é como ele consegue combinar humanidade com crueldade. E você (quase) chega a acreditar na bondade dos homens, apesar de tudo. Uma história de amizade inesquecível, num período da história que não podemos (nem devemos) esquecer. Enfim, o autor consegue contar uma estória cativante, em que atos de bondade contrastam com a caça aos judeus e o Holocausto. Um contraste que certamente ficará na memória dos leitores por muito tempo. Em suma, leitura obrigatória.


O Menino do Pijama Listrado também conta a estória de uma amizade inesquecível, mas já vou avisando que as semelhanças param aí! Dessa vez os protagonistas são dois meninos: um alemão e um judeu polonês. O pano de fundo é o campo de concentração em Auschwitz (acho que não precisa dizer mais nada, né?). Cada um vive de um lado da cerca: Bruno é filho de um alto-comandante nazista, Shmuel é uma das inúmeras vítimas do Holocausto.

A estória é contada através dos olhos de Bruno em uma linguagem simples. O que mais impressiona (e incomoda) é a sua total ingenuidade, que acaba levando a um confronto extremamente doloroso - como não podia deixar de ser - com a realidade dos fatos. Esta mesma ingenuidade é também a minha maior crítica ao livro. Porque eu não consigo imaginar um menino de 9 anos na Alemanha nazista de 1943 que nunca tinha ouvido falar de judeus e que não tem a menor idéia do que está acontecendo à sua volta...achei simplesmente inverossímel (e eu tenho um menino de 10 anos em casa então sei do que estou falando). Porque uma coisa é a inocência da infância, outra coisa é a ignorância. Ou pior, a alienação.



Bem verdade que como ainda não assisti ao filme, o impacto da leitura foi bem maior.  De qualquer forma, uma estória que tinha tudo pra dar certo mas cujo personagem principal lamentavelmente não convence.


Em suma, leiam A Menina que Roubava Livros. Vale muito mais a pena!

sexta-feira, janeiro 28, 2011

A Árvore dos Desejos

A essas alturas, todo mundo já sabe que scrapbooking é o meu hobby favorito. Só que eu não me restrinjo apenas ao scrapbooking tradicional com álbuns de fotos. Pelo contrário, ando cada dia mais interessada em outros tipos de projetos. Minha primeira paixão foram os mini-albuns. Depois comecei a fazer scrapcards e nunca mais parei...Lembram da troca natalina? Pois muitas das minhas leitoras fiéis receberam meus cartões. Entre elas a Lily e a Pri, que comentaram em seus respectivos blogs (cartão aqui).

Nos últimos tempos, tenho me interessado cada vez mais por projetos que reclicam materiais de scrapbooking (e material é o que não falta aqui em casa, acreditem). As possibilidades são infinitas, outro dia mesmo achei esta dica de fazer colagem em uma tela branca. A tela em si nem precisa ser de qualidade já que será usada como base do projeto - onde os papéis serão colados. Você encontra dessas telas nas dollar stores (aqui na Holanda tem a Euroland, a Big Bazaar, a Xenos, etc). A minha custou menos de 3 euros!

O método usado é a técnica antiga de decoupage (colagem). Que hoje em dia tem sido reinventada e chamada de mixed media. A tela abaixo foi a minha primeira então ainda há muito o que aprender! De qualquer forma, adorei a experiência e o resultado. O projeto estava há tempos na minha cabeça, mas depois de juntar os materiais, só precisei de uma horinha pra montar a tela! Produtos usados: papel de scrapbooking, folhinhas cortadas por mim mesma e um dos principais segredos: Mod Podge. Pra quem não tem a menor idéia do que estou falando, dê uma olhada aqui. Pressinto que este seja o primeiro de muitos projetos.



Detalhe

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Norwegian Wood



Ontem assisti no cinema o belo Norwegian Wood. Pra início de conversa, sou suspeita pra falar porque amei o livro do escritor japonês Murakami (comentei anteriormente aqui). Pra quem não conhece, trata-se de um dos maiores nomes da literatura japonesa contemporânea. Sem exageros. Eu li alguns livros mas felizmente ainda falta ler outros! Norwegian Wood é um dos meus favoritos, embora seja também o que mais foge ao estilo narrativo típico do autor.

Como se não bastasse, o diretor que transformou este livro cult em filme é ninguém menos que Tran Anh Hung (diretor francês de origem vietnamesa). O mesmo que fez um dos filmes mais inesquecíveis que assisti em toda minha vida: O Cheiro da Papaya Verde. Diga-se de passagem, seu filme de estréia e que ganhou o prêmio Camera d''Or no Festival de Cannes de 1993. Bela cinematografia.

Voltando ao filme em questão, os protagonistas são três jovens: Watanabe, Naoko e Midori. Norwegian Wood é acima de tudo uma estória de amor, recheada de escolhas difíceis, perdas e sofrimento. No mais, as imagens são simplesmente maravilhosas (veja mais fotos aqui). Recomendo especialmente pra quem gosta de filmes com alto teor melancólico e personagens complicados e cheios de questionamentos. Qualquer semelhança com esta que vos escreve (não) é mera coincidência.

Não vou contar mais nada pra não estragar. ASSISTAM!

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Mais cartões

Agora vamos mudar radicalmente de assunto, porque não quero ter um daqueles blogs só de desabafos. Desabafar é bom - desabafar é preciso - mas a verdade é que as pessoas enchem o saco de ouvir a mesma estória, né? Sem falar que eu mesma preciso de outras distrações nesta vida. E felizmente, tenho muitos interesses que tornam minha vida mais leve. Meus livros, antes de mais nada (estou lendo e amando A Menina que Roubava Livros, aguardem post). Filmes, sempre. Séries de tv que descobri recentemente e me fazem rir (estou viciada em Frasier, pode?). E last but not least, scrapbooking.

Este post é só pra mostrar os cartões que criei recentemente. Porque não se iludam: scrapbooking é mais do que um simples hobby, é uma terapia fantástica! Muitos sabem da qualidade terapêutica de trabalhos manuais em geral: seja tricô, costura, pintura, scrapbooking, o que for. E eu depois de velha posso dizer que finalmente encontrei o MEU hobby. Aquele que é a MINHA cara. Nunca é tarde para aprender.

Mas agora chega de papo furado e vamos às fotos. Espero que gostem!

Meu favorito
Série Fofuras de feltro
Série Sweet and Girly

Meu (grande) consolo



Meu consolo é saber que não estou sozinha. Meu consolo é saber que muitos outros também sofreram as mudanças que estou sofrendo hoje na minha vida (porque mudar dói, não se iludam) . O mundo não pára, os mercados mudam, as profissões se adaptam. Alguns correm atrás na hora certa, outros esperam as oportunidades baterem à sua porta (hoje em dia não dá mais pra ficar esperando). Alguns conseguem acompanhar as mudanças, enquanto outros se tornam obsoletos.

Ao menos pra uma coisa tem servido este trajeto no Job Center. Pra ver que não estou sozinha, que existem muitas pessoas em posição semelhante - embora nunca igual porque cada um tem a sua estória pra contar. Por exemplo, no meu grupo ninguém tem formação universitária, alguns mal completaram o ensino secundário aqui na Holanda. Ironia das ironias, esses conseguem emprego relativamente rápido em funções de limpeza de escritórios, segurança de aeroporto, cozinheiro, telefonista, vendedor de loja, etc.

Aí tem uma parcela pequena de pessoas como eu, com algum tipo de formação superior (e o meu diploma ainda por cima é estrangeiro, né?) mas não necessariamente os diplomas necessários para preencher os requisitos do mercado atual. Enfim, tem aqueles que nunca quiseram estudar, os que não tiveram a oportunidade de estudar, e os que estudaram. Entre esses últimos (eu me incluo aí), tem aqueles que tiveram alguma sorte na escolha profissional. E aqueles cujas profissões simplesmente deixaram de existir (ou quase isso).

Mas estou ciente de que este é um problema de ordem mundial. Que nos EUA e Brasil, muitos são obrigados a mudar de profissão. Isso nunca foi novidade mas percebo que com a crise (ano passado tiveram aqui o número recorde de pedidos de seguro-desemprego) a situação agravou. E claro, a questão do imigrante é ainda mais complicada. Porque você já começa com um handicap.

Enfim, a gente sobrevive. Mas tem dias que não é nada fácil.



PS. Ilustração do talentoso Alex Noriega. Confira mais no blog Stuff No One Told Me.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Plano C

Amanhã completo minha terceira semana de Job Center (trajeto em que fui inscrita pelo orgão do governo que paga meu seguro-desemprego). E a cabeça já deu muitas e muitas voltas por esses dias. Vou fazer a equivalência do meu diploma estrangeiro (Faculdade de Letras) mas mesmo assim terei de procurar um curso profissionalizante qualquer (12 a 18 meses) pra ter chances mínimas de um emprego decente (que não seja de faxineira). A cada dia fica mais óbvio que na Holanda sem papel você não consegue emprego e ponto final. Pensando bem, nunca vi um país onde é preciso papel pra tudo! Pra ser padeiro, jardineiro, motorista de caminhão, mecânico, eletricista, cabelereiro. Pra trabalhar em hotéis, creches, asilos de idosos, centros culturais, abrigos para refugiados, etc. Me pergunto se nos EUA e em outros países europeus também é assim. Porque aqui na Holanda, não basta falar a língua holandesa (eu sou fluente). É preciso obter qualificações em praticamente todos os setores. Caso contrário, não há acesso ao mercado (eu tenho diploma universitário então sei do que estou falando). Então quem pensa em sair do Brasil e vir pra cá, pense duas vezes!


Quem não conhece a minha trajetória talvez pense que estou reclamando de barriga cheia, que em vez de reclamar eu devia era me inscrever logo num desses cursos de especialização . Mas nem tudo é o que parece...Porque estes estudos custam dinheiro que eu não tenho, pra início de conversa. F. ofereceu financiar meus estudos como um investimento a médio e longo prazo. Mas a escolha é muito difícil quando se tem 45 anos e não 25 ou 30 anos! E numa situação ideal, eu queria poder pagar isso sozinha, odeio depender de quem quer que seja, como tem sido nos últimos anos. Não nasci pra ser dependente de homem nem de ninguém. Mas a vida prega peças...

Quanto aos estudos propriamente ditos, F. é da opinião que nunca é tarde para aprender (mais). Eu até concordo, em partes (e eu gosto de estudar e me aperfeiçoar, só não fiz isso porque tinha outras urgências pra resolver na vida pessoal). Chega 2011 e eu não tenho mais todo o tempo do mundo pra me dedicar aos estudos. Eu preciso de algo que me tire da situação que me encontro e já está ótimo!  Não tenho mais tempo para investir em uma carreira de sonhos...Porque fiquem avisados: carreira a gente faz até os 30 e poucos anos, depois a gente só tem arrependimentos de escolhas mal-feitas, oportunidades desperdiçadas, etc. Carreira a gente faz quando ainda não tem filhos, quando não tem de se preocupar com divórcio, pensão alimentícia, educação dos filhos, contas a pagar, etc.

Em suma: muitas dúvidas e preocupações. Cansaço mental. Meu plano B, que era trabalhar com a educação de imigrantes aqui na Holanda (inburgering) também foi abortado pois o estágio não deu em nada - não só pra mim, ninguém é contratado depois do período de estágio, descobri que as fundações e escolas simplesmente pegam novos estagiários pra trabalhar de graça de novo. Agora estou tentando visualizar um plano C, coletando informações de cursos e possibilidades no mercado de trabalho. O salário em si nem precisa ser lá essas coisas mas eu preciso fazer algo que goste, sempre fui assim. E ao menos já sei a área em que quero trabalhar: o setor social. O setor financeiro e comercial nunca me atraiu (o que explica muita coisa). Quem manda ser gauche na vida.

To be continued... torçam por mim!

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Minha biblioteca favorita



Pra quem gosta de ler como eu, a Biblioteca Central de Amsterdã é o paraíso na Terra! Oito andares, um restaurante italiano no térreo e um café no último andar. O café fica na cobertura, e no verão tem um terraço com mesas e ótima vista da cidade (onde tive a honra de tomar um café com a querida Tânia). Como toda biblioteca moderna que se preze, ela tem ainda vários computadores (muitos Macs) onde se pode surfar de graça pela net. E livros, muito livros. De tudo para todos os gostos, interesses e idades. Aberto diariamente de 10 da manhã às 10 da noite. O paraíso, caros leitores!

Uma das minhas seções favoritas é a de livros em inglês (não esquecer que estamos na Holanda, né? eu leio sem problemas em holandês mas sempre tive o hábito de ler em inglês, há mais de 20 anos). Também tem uma seção enorme de DVDs e CDs para empréstimo por tarifas módicas para os sócios da biblioteca. Todo tipo de filme, documentário e até séries de tv...Na seção de CDs, muita música clássica, ópera, jazz, world music, etc.

As fotos acima (com exceção da primeira) são da seção infantil. Ali também encontra-se um atelier de artes para as crianças. E por falar em livros infantis...cada livro é mais lindo do que o outro! Uma pena que meu filho não seja tão empolgado quanto eu. Eu posso dizer com toda certeza que tenho muito mais prazer em procurar um livro bacana pra ele do que ele tem em ler!Certamente porque ele já nasceu com tudo isso à sua volta e não conhece de outro jeito! Eu cresci no Brasil dos anos 70, e naquela época os livros nem se comparavam ao que as crianças tem hoje. Me refiro ao tipo e espessura do papel, das capas belíssimas, da qualidade da impressão e por ai vai...Quem tem mais de 40 anos sabe do que estou falando, rsrsrsrs.

Diga-se de passagem, desde que virei mãe, ilustração tornou-se uma das minha grandes paixões (eu que já adorava livros pra início de conversa). Nem vou falar na quantidade de ilustradores que adoro. Aqui na Holanda, por exemplo, eu recomendo TODOS os livros do Kikker (O Sapo), do escritor holandês Max Velthuijs. Muitos já foram até traduzidos no Brasil, então fica o recado pras mamães de plantão.

Liam lê, mas não tanto como eu lia. Ele prefere enciclopédias sobre o mundo animal e outros livros sobre bichos e natureza (meu filho vai ser biólogo, hehehe). De preferência com muitas fotos e ilustrações. Eu na idade dele já devorava livros sem figuras. Hoje em dia seria o equivalente a devorar a série Harry Potter...ele ADORA os filmes do bruxinho mas nunca se animou a ler porque os livros não são ilustrados (ao menos os que tenho aqui na prateleira, tem ainda uma versão para crianças). Em compensação, o menino desenha que é uma beleza!!!

PS. Clique nas fotos para aumentar.



Kikker is Kikker!

terça-feira, janeiro 11, 2011

Um menino e sua mãe, uma estória de horror e amor materno

Conforme comentei no último post, acabei de ler um livro muito instigante. O livro se chamado Room, da autora irlandesa Emma Donoghue e narra a estória de um menino e de sua mãe que vivem em cativeiro. O menino tem 5 anos e nunca viu o mundo lá fora (nunca respirou o ar puro, nunca pisou na grama fresca, nunca foi à praia ou ao parquinho, nunca brincou de LEGO..Enfim, o quarto é o único mundo que ele conhece. A mãe é o único ser humano com que ele conviveu em toda a sua breve existência. Uma infância roubada, pra dizer o mínimo.

A estória muita se assemelha ao famoso escândalo de Joseph Fritzl e sua filha Elizabeth (o pai que manteve sua filha aprisionada no porão de sua casa durante mais de 20 anos, onde ela foi repetidamente estuprada e deu a luz a sete filhos).  E mais recentemente, ao caso de Natascha Kampusch, ambos ocorridos na Áustria.


Só sei dizer que apesar da temática forte, Room é uma pérola literária. Uma estória fascinante porque ao mesmo tempo em que é um relato horripilante, ela é também uma estória cativante de amor materno em sua mais pura forma. A narração é feita pelo menino, em uma linguagem tipicamente infantil - e muitas vezes engraçada por retratar as idéias de uma criança pequena.

A primeira parte do livro é basicamente um diário dos dias em cativeiro. O pesadelo começa num belo dia de verão, em que a mãe (então uma jovem de 19 anos cursando a faculdade) é sequestrada. Durante esse período, ela engravida e tem seu filho no cativeiro, onde eles são obrigados a dividir um espaço mínimo.

E eles conseguem fazer isso da melhor maneira possível, inventando todo tipo de brincadeira pra passar o tempo, construindo brinquedos com embalagens de cereais, rolos de papel higiêncio e outros materiais reciclados que tem em suas mãos. O que mais comove na estória toda é presenciarmos esta mãe que cuida de seu filho da melhor forma possível em circunstâncias adversas. E que tenta protegê-lo apesar de tudo e de todos. Para quem é mãe como eu, garanto que este livro fará você rir e chorar. Não necessariamente ao mesmo tempo.

Não vou contar mais pra não estragar a leitura. Recomendo fortemente este livro, uma grande lição de sobrevivência e de amor materno que ficará na memória do leitor por muito tempo.





PS. Room foi comparado por alguns críticos e leitores com o bestseller The Lovely Bones. Eu acho que existe uma certa semelhança no estilo da narrativa sim, mas as coincidências param aí. De qualquer forma, ambas as leituras são recomendadas!

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Não é brincadeira



Fui na minha médica hoje à tarde e a conversa transcorreu exatamente como eu tinha imaginado. Em menos de 10 minutos ela não apenas confirmou o diagnóstico (que eu mesma já sabia) como aumentou minha dosagem de antidepressivos. E como medicamento só não funciona (funciona em partes), ela entrou logo em contato com uma psicóloga pra eu iniciar em breve sessões de terapia cognitiva.

Confesso que pensei muito se queria escrever sobre isso aqui no blog porque não quero ser repetitiva nem matar meus leitores de tédio - ainda mais num mundo em que as pessoas parecem estar sempre bem e vivem sorrindo o tempo todo. Mas não posso ficar calada e fingir que está tudo maravilhoso porque estaria traindo a mim mesma. No mais, a gente não pode nem deve sofrer sozinho (já basta o preconceito). É preciso buscar ajuda, é preciso lutar com todas as armas disponíveis contra esta doença da alma. Quem já teve ou tem depressão, sabe do que estou falando. Quem não sabe, recomendo que leia este post. No mais, não falta informação na internet.

Só vou dizer que há luz no fim do túnel porque eu já tive três depressões e sobrevivi. A melhor parte (se é que ela existe) é que com o tempo a gente fica esperto e aprende a identificar logo os sintomas. Porque uma vez no buraco, é muito difícil sair dele. E juro que não é má vontade, nem falta de disposição nem muito menos preguiça. É falta de serotonina. Desequilíbrio químico. Anotem aí direitinho, caros leitores.

O importante é que continuo viva e acabei de devorar mais um livro. Porque a única coisa que tenho vontade de fazer além de dormir (tá bom, dormir e comer) é ler...Ler é a maior diversão (ou seria melhor dizer: distração). No próximo post eu falo do livro que acabei de ler. Uma estória horripilante e ao mesmo tempo cativante.

Aguardem cenas dos próximos capítulos.

terça-feira, janeiro 04, 2011

Saúde mental é tudo

Circulando pela blogosfera ontem e hoje, inevitavelmente esbarrei com muitas listas de resoluções, planos e metas para o novo ano que acaba de iniciar. E eu queria sinceramente ter uma dessas listas mas no momento não vejo o menor sentido. Pensando bem, no momento pouca coisa faz sentido.


Eu juro que queria que meu primeiro post do ano fosse uma mensagem positiva. Mas está difícil pra caramba. Eu acho que é muito fácil ser positivo quando tudo está dando certo na vida da gente, quando tudo acontece de acordo com nossos planos (planos, que planos?).

Quanto a mim, estou passando por uma fase muito delicada na minha vida aqui na Holanda e a única coisa que eu desejo este ano é saúde mental. Parece pouco mas pra mim é tudo - tudo mesmo! E eu pressinto que este será o fator que fará toda a diferença este ano. Então não se assustem se eu disser que meu único plano para 2011 é manter meu equilíbrio mental - apesar de mim mesma. Seguir em frente em vez de desistir. Continuar lutando e tentando sair do buraco em que me enfiei. Quando a gente chega aos 45 anos e percebe que não conquistou grande coisa (tá, tô exagerando mas deixa pra lá), não tem emprego nem perspectivas de arrumar algo decente (trabalho sempre tem, mas encontrar algo no meu nível é que são elas), é difícil manter o otimismo. 16 anos na Holanda e até hoje não tirei meu passaporte holandês, nunca trabalhei em nenhuma empresa daqui (mas trabalhei anos como freelance, é bem verdade) e nunca fiz a equivalência do meu diploma universitário do Brasil. Ontem comecei um trajeto de reintegração ao mercado de trabalho, o que significa que nas próximas semanas irei diariamente a um jobcenter (tentar) arrumar emprego. Mas com a crise econômica, a escolha é bastante limitada. Assim como as chances de encontrar algo no meu nível - que aqui é nenhum até eu fazer a tal equivalência que deveria ter feito anos atrás.



Enfim, queria que tudo fosse diferente, porque se o presente é um resultado das escolhas do passado, então eu fiz tudo (ou quase tudo) errado. Mas na vida não dá pra apagar e começar de novo...Se eu soubesse há 15 anos atrás tudo que eu sei hoje, teria feito muita coisa diferente (ou talvez não porque a vida é uma incógnita).

Agora chega de auto-comiseração. Desculpem aí...dias melhores virão.
Tecnologia do Blogger.

1 guerra, 2 livros

Uma das páginas mais negras na história da humanidade - a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. Dois livros: The Book Thief e The Boy in the Striped Pyjamas (traduzidos no Brasil respectivamente como A Menina que Roubava Livros O Menino do Pijama Listrado). Uma guerra, duas crianças, que por acaso ainda tem a mesma idade. Uma menina (Liesel) e um menino (Bruno). Após ler A Menina que Roubava Livros, me lembrei de outro livro que tinha visto por toda parte tempos atrás. E claro, fui logo procurar (e achei) no meu sebo.  Já aviso que AMBOS são bestsellers, um mais merecidamente do que outro. De qualquer forma, devorei ambos em menos de uma semana.

The Book Thief é uma história sobre a humanidade em suas duas facetas: a bondade (aqui representada por alguns moradores de um subúrbio pobre de Munique) e a crueldade (a Guerra propriamente dita e todos aqueles que a apoiaram). Ele conta a história de Liesel, uma menina de 9 anos que adora livros (e cedo descobre o poder das palavras). A história de Max, o judeu que encontra refúgio na casa de Liesel durante a guerra. A história dos pais que a adotaram e de muitos outros personagens. O narrador do livro é nada menos do que A Morte. Uma senhora de respeito. Sim, ela mesma.

O que mais admirei neste livro é como ele consegue combinar humanidade com crueldade. E você (quase) chega a acreditar na bondade dos homens, apesar de tudo. Uma história de amizade inesquecível, num período da história que não podemos (nem devemos) esquecer. Enfim, o autor consegue contar uma estória cativante, em que atos de bondade contrastam com a caça aos judeus e o Holocausto. Um contraste que certamente ficará na memória dos leitores por muito tempo. Em suma, leitura obrigatória.


O Menino do Pijama Listrado também conta a estória de uma amizade inesquecível, mas já vou avisando que as semelhanças param aí! Dessa vez os protagonistas são dois meninos: um alemão e um judeu polonês. O pano de fundo é o campo de concentração em Auschwitz (acho que não precisa dizer mais nada, né?). Cada um vive de um lado da cerca: Bruno é filho de um alto-comandante nazista, Shmuel é uma das inúmeras vítimas do Holocausto.

A estória é contada através dos olhos de Bruno em uma linguagem simples. O que mais impressiona (e incomoda) é a sua total ingenuidade, que acaba levando a um confronto extremamente doloroso - como não podia deixar de ser - com a realidade dos fatos. Esta mesma ingenuidade é também a minha maior crítica ao livro. Porque eu não consigo imaginar um menino de 9 anos na Alemanha nazista de 1943 que nunca tinha ouvido falar de judeus e que não tem a menor idéia do que está acontecendo à sua volta...achei simplesmente inverossímel (e eu tenho um menino de 10 anos em casa então sei do que estou falando). Porque uma coisa é a inocência da infância, outra coisa é a ignorância. Ou pior, a alienação.



Bem verdade que como ainda não assisti ao filme, o impacto da leitura foi bem maior.  De qualquer forma, uma estória que tinha tudo pra dar certo mas cujo personagem principal lamentavelmente não convence.


Em suma, leiam A Menina que Roubava Livros. Vale muito mais a pena!

A Árvore dos Desejos

A essas alturas, todo mundo já sabe que scrapbooking é o meu hobby favorito. Só que eu não me restrinjo apenas ao scrapbooking tradicional com álbuns de fotos. Pelo contrário, ando cada dia mais interessada em outros tipos de projetos. Minha primeira paixão foram os mini-albuns. Depois comecei a fazer scrapcards e nunca mais parei...Lembram da troca natalina? Pois muitas das minhas leitoras fiéis receberam meus cartões. Entre elas a Lily e a Pri, que comentaram em seus respectivos blogs (cartão aqui).

Nos últimos tempos, tenho me interessado cada vez mais por projetos que reclicam materiais de scrapbooking (e material é o que não falta aqui em casa, acreditem). As possibilidades são infinitas, outro dia mesmo achei esta dica de fazer colagem em uma tela branca. A tela em si nem precisa ser de qualidade já que será usada como base do projeto - onde os papéis serão colados. Você encontra dessas telas nas dollar stores (aqui na Holanda tem a Euroland, a Big Bazaar, a Xenos, etc). A minha custou menos de 3 euros!

O método usado é a técnica antiga de decoupage (colagem). Que hoje em dia tem sido reinventada e chamada de mixed media. A tela abaixo foi a minha primeira então ainda há muito o que aprender! De qualquer forma, adorei a experiência e o resultado. O projeto estava há tempos na minha cabeça, mas depois de juntar os materiais, só precisei de uma horinha pra montar a tela! Produtos usados: papel de scrapbooking, folhinhas cortadas por mim mesma e um dos principais segredos: Mod Podge. Pra quem não tem a menor idéia do que estou falando, dê uma olhada aqui. Pressinto que este seja o primeiro de muitos projetos.



Detalhe

Norwegian Wood



Ontem assisti no cinema o belo Norwegian Wood. Pra início de conversa, sou suspeita pra falar porque amei o livro do escritor japonês Murakami (comentei anteriormente aqui). Pra quem não conhece, trata-se de um dos maiores nomes da literatura japonesa contemporânea. Sem exageros. Eu li alguns livros mas felizmente ainda falta ler outros! Norwegian Wood é um dos meus favoritos, embora seja também o que mais foge ao estilo narrativo típico do autor.

Como se não bastasse, o diretor que transformou este livro cult em filme é ninguém menos que Tran Anh Hung (diretor francês de origem vietnamesa). O mesmo que fez um dos filmes mais inesquecíveis que assisti em toda minha vida: O Cheiro da Papaya Verde. Diga-se de passagem, seu filme de estréia e que ganhou o prêmio Camera d''Or no Festival de Cannes de 1993. Bela cinematografia.

Voltando ao filme em questão, os protagonistas são três jovens: Watanabe, Naoko e Midori. Norwegian Wood é acima de tudo uma estória de amor, recheada de escolhas difíceis, perdas e sofrimento. No mais, as imagens são simplesmente maravilhosas (veja mais fotos aqui). Recomendo especialmente pra quem gosta de filmes com alto teor melancólico e personagens complicados e cheios de questionamentos. Qualquer semelhança com esta que vos escreve (não) é mera coincidência.

Não vou contar mais nada pra não estragar. ASSISTAM!

Mais cartões

Agora vamos mudar radicalmente de assunto, porque não quero ter um daqueles blogs só de desabafos. Desabafar é bom - desabafar é preciso - mas a verdade é que as pessoas enchem o saco de ouvir a mesma estória, né? Sem falar que eu mesma preciso de outras distrações nesta vida. E felizmente, tenho muitos interesses que tornam minha vida mais leve. Meus livros, antes de mais nada (estou lendo e amando A Menina que Roubava Livros, aguardem post). Filmes, sempre. Séries de tv que descobri recentemente e me fazem rir (estou viciada em Frasier, pode?). E last but not least, scrapbooking.

Este post é só pra mostrar os cartões que criei recentemente. Porque não se iludam: scrapbooking é mais do que um simples hobby, é uma terapia fantástica! Muitos sabem da qualidade terapêutica de trabalhos manuais em geral: seja tricô, costura, pintura, scrapbooking, o que for. E eu depois de velha posso dizer que finalmente encontrei o MEU hobby. Aquele que é a MINHA cara. Nunca é tarde para aprender.

Mas agora chega de papo furado e vamos às fotos. Espero que gostem!

Meu favorito
Série Fofuras de feltro
Série Sweet and Girly

Meu (grande) consolo



Meu consolo é saber que não estou sozinha. Meu consolo é saber que muitos outros também sofreram as mudanças que estou sofrendo hoje na minha vida (porque mudar dói, não se iludam) . O mundo não pára, os mercados mudam, as profissões se adaptam. Alguns correm atrás na hora certa, outros esperam as oportunidades baterem à sua porta (hoje em dia não dá mais pra ficar esperando). Alguns conseguem acompanhar as mudanças, enquanto outros se tornam obsoletos.

Ao menos pra uma coisa tem servido este trajeto no Job Center. Pra ver que não estou sozinha, que existem muitas pessoas em posição semelhante - embora nunca igual porque cada um tem a sua estória pra contar. Por exemplo, no meu grupo ninguém tem formação universitária, alguns mal completaram o ensino secundário aqui na Holanda. Ironia das ironias, esses conseguem emprego relativamente rápido em funções de limpeza de escritórios, segurança de aeroporto, cozinheiro, telefonista, vendedor de loja, etc.

Aí tem uma parcela pequena de pessoas como eu, com algum tipo de formação superior (e o meu diploma ainda por cima é estrangeiro, né?) mas não necessariamente os diplomas necessários para preencher os requisitos do mercado atual. Enfim, tem aqueles que nunca quiseram estudar, os que não tiveram a oportunidade de estudar, e os que estudaram. Entre esses últimos (eu me incluo aí), tem aqueles que tiveram alguma sorte na escolha profissional. E aqueles cujas profissões simplesmente deixaram de existir (ou quase isso).

Mas estou ciente de que este é um problema de ordem mundial. Que nos EUA e Brasil, muitos são obrigados a mudar de profissão. Isso nunca foi novidade mas percebo que com a crise (ano passado tiveram aqui o número recorde de pedidos de seguro-desemprego) a situação agravou. E claro, a questão do imigrante é ainda mais complicada. Porque você já começa com um handicap.

Enfim, a gente sobrevive. Mas tem dias que não é nada fácil.



PS. Ilustração do talentoso Alex Noriega. Confira mais no blog Stuff No One Told Me.

Plano C

Amanhã completo minha terceira semana de Job Center (trajeto em que fui inscrita pelo orgão do governo que paga meu seguro-desemprego). E a cabeça já deu muitas e muitas voltas por esses dias. Vou fazer a equivalência do meu diploma estrangeiro (Faculdade de Letras) mas mesmo assim terei de procurar um curso profissionalizante qualquer (12 a 18 meses) pra ter chances mínimas de um emprego decente (que não seja de faxineira). A cada dia fica mais óbvio que na Holanda sem papel você não consegue emprego e ponto final. Pensando bem, nunca vi um país onde é preciso papel pra tudo! Pra ser padeiro, jardineiro, motorista de caminhão, mecânico, eletricista, cabelereiro. Pra trabalhar em hotéis, creches, asilos de idosos, centros culturais, abrigos para refugiados, etc. Me pergunto se nos EUA e em outros países europeus também é assim. Porque aqui na Holanda, não basta falar a língua holandesa (eu sou fluente). É preciso obter qualificações em praticamente todos os setores. Caso contrário, não há acesso ao mercado (eu tenho diploma universitário então sei do que estou falando). Então quem pensa em sair do Brasil e vir pra cá, pense duas vezes!


Quem não conhece a minha trajetória talvez pense que estou reclamando de barriga cheia, que em vez de reclamar eu devia era me inscrever logo num desses cursos de especialização . Mas nem tudo é o que parece...Porque estes estudos custam dinheiro que eu não tenho, pra início de conversa. F. ofereceu financiar meus estudos como um investimento a médio e longo prazo. Mas a escolha é muito difícil quando se tem 45 anos e não 25 ou 30 anos! E numa situação ideal, eu queria poder pagar isso sozinha, odeio depender de quem quer que seja, como tem sido nos últimos anos. Não nasci pra ser dependente de homem nem de ninguém. Mas a vida prega peças...

Quanto aos estudos propriamente ditos, F. é da opinião que nunca é tarde para aprender (mais). Eu até concordo, em partes (e eu gosto de estudar e me aperfeiçoar, só não fiz isso porque tinha outras urgências pra resolver na vida pessoal). Chega 2011 e eu não tenho mais todo o tempo do mundo pra me dedicar aos estudos. Eu preciso de algo que me tire da situação que me encontro e já está ótimo!  Não tenho mais tempo para investir em uma carreira de sonhos...Porque fiquem avisados: carreira a gente faz até os 30 e poucos anos, depois a gente só tem arrependimentos de escolhas mal-feitas, oportunidades desperdiçadas, etc. Carreira a gente faz quando ainda não tem filhos, quando não tem de se preocupar com divórcio, pensão alimentícia, educação dos filhos, contas a pagar, etc.

Em suma: muitas dúvidas e preocupações. Cansaço mental. Meu plano B, que era trabalhar com a educação de imigrantes aqui na Holanda (inburgering) também foi abortado pois o estágio não deu em nada - não só pra mim, ninguém é contratado depois do período de estágio, descobri que as fundações e escolas simplesmente pegam novos estagiários pra trabalhar de graça de novo. Agora estou tentando visualizar um plano C, coletando informações de cursos e possibilidades no mercado de trabalho. O salário em si nem precisa ser lá essas coisas mas eu preciso fazer algo que goste, sempre fui assim. E ao menos já sei a área em que quero trabalhar: o setor social. O setor financeiro e comercial nunca me atraiu (o que explica muita coisa). Quem manda ser gauche na vida.

To be continued... torçam por mim!

Minha biblioteca favorita



Pra quem gosta de ler como eu, a Biblioteca Central de Amsterdã é o paraíso na Terra! Oito andares, um restaurante italiano no térreo e um café no último andar. O café fica na cobertura, e no verão tem um terraço com mesas e ótima vista da cidade (onde tive a honra de tomar um café com a querida Tânia). Como toda biblioteca moderna que se preze, ela tem ainda vários computadores (muitos Macs) onde se pode surfar de graça pela net. E livros, muito livros. De tudo para todos os gostos, interesses e idades. Aberto diariamente de 10 da manhã às 10 da noite. O paraíso, caros leitores!

Uma das minhas seções favoritas é a de livros em inglês (não esquecer que estamos na Holanda, né? eu leio sem problemas em holandês mas sempre tive o hábito de ler em inglês, há mais de 20 anos). Também tem uma seção enorme de DVDs e CDs para empréstimo por tarifas módicas para os sócios da biblioteca. Todo tipo de filme, documentário e até séries de tv...Na seção de CDs, muita música clássica, ópera, jazz, world music, etc.

As fotos acima (com exceção da primeira) são da seção infantil. Ali também encontra-se um atelier de artes para as crianças. E por falar em livros infantis...cada livro é mais lindo do que o outro! Uma pena que meu filho não seja tão empolgado quanto eu. Eu posso dizer com toda certeza que tenho muito mais prazer em procurar um livro bacana pra ele do que ele tem em ler!Certamente porque ele já nasceu com tudo isso à sua volta e não conhece de outro jeito! Eu cresci no Brasil dos anos 70, e naquela época os livros nem se comparavam ao que as crianças tem hoje. Me refiro ao tipo e espessura do papel, das capas belíssimas, da qualidade da impressão e por ai vai...Quem tem mais de 40 anos sabe do que estou falando, rsrsrsrs.

Diga-se de passagem, desde que virei mãe, ilustração tornou-se uma das minha grandes paixões (eu que já adorava livros pra início de conversa). Nem vou falar na quantidade de ilustradores que adoro. Aqui na Holanda, por exemplo, eu recomendo TODOS os livros do Kikker (O Sapo), do escritor holandês Max Velthuijs. Muitos já foram até traduzidos no Brasil, então fica o recado pras mamães de plantão.

Liam lê, mas não tanto como eu lia. Ele prefere enciclopédias sobre o mundo animal e outros livros sobre bichos e natureza (meu filho vai ser biólogo, hehehe). De preferência com muitas fotos e ilustrações. Eu na idade dele já devorava livros sem figuras. Hoje em dia seria o equivalente a devorar a série Harry Potter...ele ADORA os filmes do bruxinho mas nunca se animou a ler porque os livros não são ilustrados (ao menos os que tenho aqui na prateleira, tem ainda uma versão para crianças). Em compensação, o menino desenha que é uma beleza!!!

PS. Clique nas fotos para aumentar.



Kikker is Kikker!

Um menino e sua mãe, uma estória de horror e amor materno

Conforme comentei no último post, acabei de ler um livro muito instigante. O livro se chamado Room, da autora irlandesa Emma Donoghue e narra a estória de um menino e de sua mãe que vivem em cativeiro. O menino tem 5 anos e nunca viu o mundo lá fora (nunca respirou o ar puro, nunca pisou na grama fresca, nunca foi à praia ou ao parquinho, nunca brincou de LEGO..Enfim, o quarto é o único mundo que ele conhece. A mãe é o único ser humano com que ele conviveu em toda a sua breve existência. Uma infância roubada, pra dizer o mínimo.

A estória muita se assemelha ao famoso escândalo de Joseph Fritzl e sua filha Elizabeth (o pai que manteve sua filha aprisionada no porão de sua casa durante mais de 20 anos, onde ela foi repetidamente estuprada e deu a luz a sete filhos).  E mais recentemente, ao caso de Natascha Kampusch, ambos ocorridos na Áustria.


Só sei dizer que apesar da temática forte, Room é uma pérola literária. Uma estória fascinante porque ao mesmo tempo em que é um relato horripilante, ela é também uma estória cativante de amor materno em sua mais pura forma. A narração é feita pelo menino, em uma linguagem tipicamente infantil - e muitas vezes engraçada por retratar as idéias de uma criança pequena.

A primeira parte do livro é basicamente um diário dos dias em cativeiro. O pesadelo começa num belo dia de verão, em que a mãe (então uma jovem de 19 anos cursando a faculdade) é sequestrada. Durante esse período, ela engravida e tem seu filho no cativeiro, onde eles são obrigados a dividir um espaço mínimo.

E eles conseguem fazer isso da melhor maneira possível, inventando todo tipo de brincadeira pra passar o tempo, construindo brinquedos com embalagens de cereais, rolos de papel higiêncio e outros materiais reciclados que tem em suas mãos. O que mais comove na estória toda é presenciarmos esta mãe que cuida de seu filho da melhor forma possível em circunstâncias adversas. E que tenta protegê-lo apesar de tudo e de todos. Para quem é mãe como eu, garanto que este livro fará você rir e chorar. Não necessariamente ao mesmo tempo.

Não vou contar mais pra não estragar a leitura. Recomendo fortemente este livro, uma grande lição de sobrevivência e de amor materno que ficará na memória do leitor por muito tempo.





PS. Room foi comparado por alguns críticos e leitores com o bestseller The Lovely Bones. Eu acho que existe uma certa semelhança no estilo da narrativa sim, mas as coincidências param aí. De qualquer forma, ambas as leituras são recomendadas!

Não é brincadeira



Fui na minha médica hoje à tarde e a conversa transcorreu exatamente como eu tinha imaginado. Em menos de 10 minutos ela não apenas confirmou o diagnóstico (que eu mesma já sabia) como aumentou minha dosagem de antidepressivos. E como medicamento só não funciona (funciona em partes), ela entrou logo em contato com uma psicóloga pra eu iniciar em breve sessões de terapia cognitiva.

Confesso que pensei muito se queria escrever sobre isso aqui no blog porque não quero ser repetitiva nem matar meus leitores de tédio - ainda mais num mundo em que as pessoas parecem estar sempre bem e vivem sorrindo o tempo todo. Mas não posso ficar calada e fingir que está tudo maravilhoso porque estaria traindo a mim mesma. No mais, a gente não pode nem deve sofrer sozinho (já basta o preconceito). É preciso buscar ajuda, é preciso lutar com todas as armas disponíveis contra esta doença da alma. Quem já teve ou tem depressão, sabe do que estou falando. Quem não sabe, recomendo que leia este post. No mais, não falta informação na internet.

Só vou dizer que há luz no fim do túnel porque eu já tive três depressões e sobrevivi. A melhor parte (se é que ela existe) é que com o tempo a gente fica esperto e aprende a identificar logo os sintomas. Porque uma vez no buraco, é muito difícil sair dele. E juro que não é má vontade, nem falta de disposição nem muito menos preguiça. É falta de serotonina. Desequilíbrio químico. Anotem aí direitinho, caros leitores.

O importante é que continuo viva e acabei de devorar mais um livro. Porque a única coisa que tenho vontade de fazer além de dormir (tá bom, dormir e comer) é ler...Ler é a maior diversão (ou seria melhor dizer: distração). No próximo post eu falo do livro que acabei de ler. Uma estória horripilante e ao mesmo tempo cativante.

Aguardem cenas dos próximos capítulos.

Saúde mental é tudo

Circulando pela blogosfera ontem e hoje, inevitavelmente esbarrei com muitas listas de resoluções, planos e metas para o novo ano que acaba de iniciar. E eu queria sinceramente ter uma dessas listas mas no momento não vejo o menor sentido. Pensando bem, no momento pouca coisa faz sentido.


Eu juro que queria que meu primeiro post do ano fosse uma mensagem positiva. Mas está difícil pra caramba. Eu acho que é muito fácil ser positivo quando tudo está dando certo na vida da gente, quando tudo acontece de acordo com nossos planos (planos, que planos?).

Quanto a mim, estou passando por uma fase muito delicada na minha vida aqui na Holanda e a única coisa que eu desejo este ano é saúde mental. Parece pouco mas pra mim é tudo - tudo mesmo! E eu pressinto que este será o fator que fará toda a diferença este ano. Então não se assustem se eu disser que meu único plano para 2011 é manter meu equilíbrio mental - apesar de mim mesma. Seguir em frente em vez de desistir. Continuar lutando e tentando sair do buraco em que me enfiei. Quando a gente chega aos 45 anos e percebe que não conquistou grande coisa (tá, tô exagerando mas deixa pra lá), não tem emprego nem perspectivas de arrumar algo decente (trabalho sempre tem, mas encontrar algo no meu nível é que são elas), é difícil manter o otimismo. 16 anos na Holanda e até hoje não tirei meu passaporte holandês, nunca trabalhei em nenhuma empresa daqui (mas trabalhei anos como freelance, é bem verdade) e nunca fiz a equivalência do meu diploma universitário do Brasil. Ontem comecei um trajeto de reintegração ao mercado de trabalho, o que significa que nas próximas semanas irei diariamente a um jobcenter (tentar) arrumar emprego. Mas com a crise econômica, a escolha é bastante limitada. Assim como as chances de encontrar algo no meu nível - que aqui é nenhum até eu fazer a tal equivalência que deveria ter feito anos atrás.



Enfim, queria que tudo fosse diferente, porque se o presente é um resultado das escolhas do passado, então eu fiz tudo (ou quase tudo) errado. Mas na vida não dá pra apagar e começar de novo...Se eu soubesse há 15 anos atrás tudo que eu sei hoje, teria feito muita coisa diferente (ou talvez não porque a vida é uma incógnita).

Agora chega de auto-comiseração. Desculpem aí...dias melhores virão.