sexta-feira, janeiro 21, 2011

Meu (grande) consolo



Meu consolo é saber que não estou sozinha. Meu consolo é saber que muitos outros também sofreram as mudanças que estou sofrendo hoje na minha vida (porque mudar dói, não se iludam) . O mundo não pára, os mercados mudam, as profissões se adaptam. Alguns correm atrás na hora certa, outros esperam as oportunidades baterem à sua porta (hoje em dia não dá mais pra ficar esperando). Alguns conseguem acompanhar as mudanças, enquanto outros se tornam obsoletos.

Ao menos pra uma coisa tem servido este trajeto no Job Center. Pra ver que não estou sozinha, que existem muitas pessoas em posição semelhante - embora nunca igual porque cada um tem a sua estória pra contar. Por exemplo, no meu grupo ninguém tem formação universitária, alguns mal completaram o ensino secundário aqui na Holanda. Ironia das ironias, esses conseguem emprego relativamente rápido em funções de limpeza de escritórios, segurança de aeroporto, cozinheiro, telefonista, vendedor de loja, etc.

Aí tem uma parcela pequena de pessoas como eu, com algum tipo de formação superior (e o meu diploma ainda por cima é estrangeiro, né?) mas não necessariamente os diplomas necessários para preencher os requisitos do mercado atual. Enfim, tem aqueles que nunca quiseram estudar, os que não tiveram a oportunidade de estudar, e os que estudaram. Entre esses últimos (eu me incluo aí), tem aqueles que tiveram alguma sorte na escolha profissional. E aqueles cujas profissões simplesmente deixaram de existir (ou quase isso).

Mas estou ciente de que este é um problema de ordem mundial. Que nos EUA e Brasil, muitos são obrigados a mudar de profissão. Isso nunca foi novidade mas percebo que com a crise (ano passado tiveram aqui o número recorde de pedidos de seguro-desemprego) a situação agravou. E claro, a questão do imigrante é ainda mais complicada. Porque você já começa com um handicap.

Enfim, a gente sobrevive. Mas tem dias que não é nada fácil.



PS. Ilustração do talentoso Alex Noriega. Confira mais no blog Stuff No One Told Me.

3 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Beth,

todos os dias penso nas minhas escolhas, penso se estou fazendo certo ou errado, porque o mercado engole as pessoas e eu ainda não me firmei profissionalmente. As vezes me sinto frustada por não ter ainda uma profissão X que possa dizer "é minha". Entendo você! bjs

Gisley Scott disse...

Beth,

Creio que a crise está feia para todo mundo...Tinha um colega de trabalho do meu esposo que estava cursando faculdade de Direito mas trabalhava em 2 empregos para custear os estudos. Ele era vendedor e à noite trabalhava como garçom.Esse menino foi muito humilhado onde trabalhou, prometido várias promoções que nunca aconteceram.

Foi duro, mas perto de terminar a faculdade, a CIA e o FBI já ofereceram um estágio pra ele. A sua hora vai chegar, tenha certeza!Não desista!

Bjos!

Anita disse...

Beth, concordo com o que vc falou. A gente como estrangeira tem um "beperking" mesmo, do sotaque, dos estereotipos negativos sobre o que e' ser brasileira, do diploma universitario que eles desprezam... Alias, isso so e' visto como "beperkingen pelos holandeses, pois eu nao me limito.

Ontem fui a uma festinha. Um casal divorciado amigo nosso estava contando alternadamente sobre os empregos e a vida. Ele tem um problema de concentracao serio, a ponto de vc ficar irritada quando conversa com ele. Ele nao responde a perguntas que vc faz (sai andando ou faz uma pergunta pra alguem do outro lado da sala, ou vai ao banheiro, ou do nada decide contar uma piada, etc.). O trabalho exigiu dele tomar medicamentos, pra vc ver a que ponto e' a gravidade da falta de concentracao do sujeito. Ja ela... volta e meia se irrita com algo, recusa a responder coisas inocentes, nao escuta direito o que a gente diz... Nao batem bem do raciocinio mesmo, nem durante a hora do lazer. Esquecem tuuuuudo. E tem empregos Beth, sempre tiveram. Nao tem os "beperkingen" que a gente tem !

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Meu (grande) consolo



Meu consolo é saber que não estou sozinha. Meu consolo é saber que muitos outros também sofreram as mudanças que estou sofrendo hoje na minha vida (porque mudar dói, não se iludam) . O mundo não pára, os mercados mudam, as profissões se adaptam. Alguns correm atrás na hora certa, outros esperam as oportunidades baterem à sua porta (hoje em dia não dá mais pra ficar esperando). Alguns conseguem acompanhar as mudanças, enquanto outros se tornam obsoletos.

Ao menos pra uma coisa tem servido este trajeto no Job Center. Pra ver que não estou sozinha, que existem muitas pessoas em posição semelhante - embora nunca igual porque cada um tem a sua estória pra contar. Por exemplo, no meu grupo ninguém tem formação universitária, alguns mal completaram o ensino secundário aqui na Holanda. Ironia das ironias, esses conseguem emprego relativamente rápido em funções de limpeza de escritórios, segurança de aeroporto, cozinheiro, telefonista, vendedor de loja, etc.

Aí tem uma parcela pequena de pessoas como eu, com algum tipo de formação superior (e o meu diploma ainda por cima é estrangeiro, né?) mas não necessariamente os diplomas necessários para preencher os requisitos do mercado atual. Enfim, tem aqueles que nunca quiseram estudar, os que não tiveram a oportunidade de estudar, e os que estudaram. Entre esses últimos (eu me incluo aí), tem aqueles que tiveram alguma sorte na escolha profissional. E aqueles cujas profissões simplesmente deixaram de existir (ou quase isso).

Mas estou ciente de que este é um problema de ordem mundial. Que nos EUA e Brasil, muitos são obrigados a mudar de profissão. Isso nunca foi novidade mas percebo que com a crise (ano passado tiveram aqui o número recorde de pedidos de seguro-desemprego) a situação agravou. E claro, a questão do imigrante é ainda mais complicada. Porque você já começa com um handicap.

Enfim, a gente sobrevive. Mas tem dias que não é nada fácil.



PS. Ilustração do talentoso Alex Noriega. Confira mais no blog Stuff No One Told Me.

3 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Beth,

todos os dias penso nas minhas escolhas, penso se estou fazendo certo ou errado, porque o mercado engole as pessoas e eu ainda não me firmei profissionalmente. As vezes me sinto frustada por não ter ainda uma profissão X que possa dizer "é minha". Entendo você! bjs

Gisley Scott disse...

Beth,

Creio que a crise está feia para todo mundo...Tinha um colega de trabalho do meu esposo que estava cursando faculdade de Direito mas trabalhava em 2 empregos para custear os estudos. Ele era vendedor e à noite trabalhava como garçom.Esse menino foi muito humilhado onde trabalhou, prometido várias promoções que nunca aconteceram.

Foi duro, mas perto de terminar a faculdade, a CIA e o FBI já ofereceram um estágio pra ele. A sua hora vai chegar, tenha certeza!Não desista!

Bjos!

Anita disse...

Beth, concordo com o que vc falou. A gente como estrangeira tem um "beperking" mesmo, do sotaque, dos estereotipos negativos sobre o que e' ser brasileira, do diploma universitario que eles desprezam... Alias, isso so e' visto como "beperkingen pelos holandeses, pois eu nao me limito.

Ontem fui a uma festinha. Um casal divorciado amigo nosso estava contando alternadamente sobre os empregos e a vida. Ele tem um problema de concentracao serio, a ponto de vc ficar irritada quando conversa com ele. Ele nao responde a perguntas que vc faz (sai andando ou faz uma pergunta pra alguem do outro lado da sala, ou vai ao banheiro, ou do nada decide contar uma piada, etc.). O trabalho exigiu dele tomar medicamentos, pra vc ver a que ponto e' a gravidade da falta de concentracao do sujeito. Ja ela... volta e meia se irrita com algo, recusa a responder coisas inocentes, nao escuta direito o que a gente diz... Nao batem bem do raciocinio mesmo, nem durante a hora do lazer. Esquecem tuuuuudo. E tem empregos Beth, sempre tiveram. Nao tem os "beperkingen" que a gente tem !