sexta-feira, dezembro 16, 2011

Estabilidade.





Taí uma coisa que nunca tive nesta vida. Estabilidade. Nem aqui na Holanda, nem no Brasil. Em 17 anos de Holanda, posso afimar que nunca tive estabilidade emocional nem financeira. E sim, claro que a vida de imigrante é difícil mas é aquela velha estória: para uns é mais difícil do que para outros. Eu conheço gente que mora há menos tempo aqui, que nem fala holandês direito e tem emprego fixo e passaporte holandês. Gente que vem pra cá casada, acerta a papelada, compra casa, arruma emprego e segue em frente. E sim, também conheço gente ilegal que está batalhando a vida até hoje e que não teve essa sorte. Pra mim nada foi simples, nem era no Brasil...(sabe aquela estória que a gente leva os problemas com a gente? Pois é, levei os de lá e arrumei novos aqui).

E antes que você mude de página. Não, este post não é pra reclamar. Não é pra me fazer de vítima nem pedir piedade. É apenas uma constatação minha, depois de uma longa e produtiva conversa que tive hoje com uma colega holandesa que como eu, também sempre teve de lutar pelas coisas. É que para algumas pessoas, a vida é uma eterna batalha. Termina uma batalha, começa outra. Pra mim nada me foi dado -  a não ser um coração enorme e uma inteligência acima da média (pra que mentir se ouvi e ainda ouço isso a vida inteira?).

E por falar em inteligência, é óbvio que inteligência não é tudo na vida (se fosse, eu "estaria feita" e não precisaria escrever este post). A começar porque existem vários tipos de inteligência...Em retrospectiva, o que me faltou em alguns momentos estratégicos foi inteligência emocional. Bom senso. Ou talvez seria melhor dizer estabilidade emocional pra fazer as escolhas certas. Eu nunca escondi de ninguém que tive não apenas uma mas duas depressões horríveis aqui na Holanda. Sobrevivi as duas com muita dificuldade e até hoje lido com as consequências disso. Muitos se afastaram, eu me afastei de outros. Porque a verdade é que ninguém sabe lidar com uma pessoa deprimida (felizmente existem os psicólogos e psiquiatras). Sofri com a doença e sofro até hoje com a ignorância dos outros. E tem dias que eu solto mesmo o verbo porque não vou mais sofrer calada. Sim, decidi fazer isso por mim mesma porque cansei de querer agradar os outros.

Eu acho que esta foi uma das principais "causas" dos meus problemas aqui. Um dos principais fatores que afetaram a minha vida na Holanda. E também não sou ingênua ao ponto de achar que tudo seria mais fácil no Brasil (a grama do vizinho sempre é mais verde). Aí sempre vem um e diz que não posso usar isso como desculpa por "não ter realizado nada" - mentira, também tive minhas realizações pessoais. Vem outro e diz que não devia ser tão "determinista". Que devia deixar pra lá e ser otimista. Mais uma vez, não é determinismo, é constatação. Constatação não apenas de 17 anos vivendo na Holanda como constatação de vida inteira. Eu não falo porque li aqui ou ali. Eu falo por experiência própria.

Quando as pessoas vem com este papo de que eu "devia ser mais positiva" eu até concordo em partes. O que não significa que eu possa mudar da noite pro dia e parar de sofrer agora. O que para alguns é um talento natural (predisposição genética) para ser feliz, para outros é um aprendizado de vida inteira. Achar que tudo depende da gente é uma visão muito restrita de mundo. Depende em partes. Depende dos nossos esforços, mas também depende de alguma sorte.

No final das contas, meu mundo é muito mais complexo...e também mais rico. Não existe só preto e branco, existem várias tonalidades...O que me torna uma pessoa complexa mas também rica em experiências. E isso ninguém pode tirar de mim!

12 comentários:

Pat Ferret disse...

Pois é, ultimamente eu ando com uma tremenda impressão de que NADA na vida, vem fácil e até as coisas que dão certo só chegam depois de muito esforço, paciência, tolerância.

Vai dando um cansaço... Mas o quê a gente pode fazer? Sentir inveja dos que têm tudo "de mão beijada" nunca foi uma opção pra mim, pq inveja só faz mal ao invejoso.

O que eu faço é perseverar, tentar não me preocupar com o fútil e ficar feliz com cada sucesso, mesmo que pequeno. Acho que é aí que se encontra a minha estabilidade!

Pri S. disse...

Acho que essa coisa de "vc deveria ser mais otimista" ou "tudo depende apenas da gente e da nossa força de vontade" é um pouco de ilusão de gente novinha ou então de quem ainda é alienado demais... hahahaha

Não estou falando que ser positivo, ter metas, procurar manter um bom padrão energético e equilíbrio emocional não ajude. Claro que ajuda muito! Mas cada um tem sua caminhada, seu aprendizado - como vc bem disse.

E a tal "estabilidade" é mais uma conquista interna do que externa. Porque vamos falar sério: a vida tem vários altos e baixos pra todo mundo. E uma suposta estabilidade financeira e profissional pode não querer dizer nada em alguns momentos. Esse tipo de estabilidade não é sinônimo de sucesso.

Sucesso é vc encarar a vida de frente, sem romantizar ou idealizar, sem viver sempre de acordo com os padrões, buscando o auto-desenvolvimento. E, quem sabe um dia, chegar perto do que se chama de "estabilidade emocional" que, pra mim, apenas é uma maneira mais bonita de dizer que existe auto-aceitação e não nos descabelamos mais pelos problemas corriqueiros como antigamente. Maturidade emocional. Que não depende de idade, conta bancária ou cargo ocupado. Mas do quanto a pessoa avançou na sua própria caminhada e do quanto se dispôs a sofrer as dores de desidealização.

Um dia a gente chega lá, Beth! Pelo menos estamos no caminho! ;-)

Sandra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Line disse...

Eu não falo holandês, consegui emprego na minha área em 5 meses, me casei e comprei minha casa.

Entrei pela Bélgica porque não tínhamos condições de fazer o procedimento aqui. Sofri 3 depressões, uma no Brasil e duas aqui, ainda sofro de insônia até hoje. Perdi meu pai de forma trágica e não pude vê-lo porque senão perderia meu visto, optei por ficar. Perdi minha sogra, a pessoa mais doce que tinha aqui, a minha referência de família - ela morreu no dia do meu casamento (hoje faz3 anos).

Eu mudei muito depois de todos esses acontecimentos, mas aprendi na marra que o mais importante é ter saúde. Nada nunca foi fácil pra mim, meu irmão teve muito mais possibilidades na vida, por exemplo, mas desperdiçou todas.

Um dia ouvi dele que "para algumas pessoas a vida é mais difícil mesmo", querendo indiretamente dizer que pra mim tinha sido muito fácil. Conversa fiada de quem se conformou com a própria situação e que não assume o peso das próprias escolhas. Eu estudei sozinha durante 3 anos até conseguir passar no vestibular, e escolhi não desistir. Ele por 3 vezes pôde fazer faculdade particular, mas desistiu em todas. Escolhas.

Concordo 100% com a Pri S. Sucesso é algo muito relativo, que tem a ver com auto aceitação, com coisas de dentro e não de fora. Cada um com as suas dificuldades.

Although I'm going through a lot, I chose to be happy.

Beth Blue disse...

Line, eu não estava me referindo a você mas de qualquer forma, serve pra ver que por trás de um sorisso existe às vezes muita dor e sofrimento. Vale pra mim e vale pra você. Não podemos julgar as pessoas pelas aparências, vejo isso diariamente no meu trabalho com imigrantes (inburgering). Gente que sofreu em guerras, exilados que abandonaram a família pra vir pra cá porque não puderam trazer a família junto e agora aguardam o visto da esposa, dos filhos, etc.

Mas sinceramente, arrumar emprego na Holanda hoje em dia está muito difícil, sinta-se uma pessoa de sorte...Eu tenho 46 anos e é muito mais difícil, só o pessoal na sua idade tem conseguido emprego. Eu também fiz faculdade, trabalhei, corri atrás...só não fiz um curso de profissionalização aqui (e isso é cada dia mais necessário na Holanda, experiência não conta, só o papel certo) porque a vida pessoal não permitiu. Enfim, nunca tive nada fácil aqui na Holanda.

Mas é um consolo saber que muitas pessoas também passam pelo mesmo, me sinto menos sozinha neste mundo cão.

Eve disse...

Ninguém tira de vc, fato!
engraçado, tb fiz uma reflexao semelhante dia desses...

Bjs!

Anônimo disse...

Olá Beth,

já lia seu blog em silêncio e resolvi retribuir a visita!
Quanto ao assunto do post, eu te entendo. Sou um pouco mais nova e moro há bem menos tempo do que você no exterior, mas também tive um baque ao chegar aqui e ver que meu estudo e todo o esforco que fiz por ele quase nao sao reconhecidos. O meu primeiro outono aqui também nao foi nada fácil: a mistura pouca luz + saudades da família + falta de reconhecimento profissional me deram um baque brabo. Mas mesmo nós que temos essa tendência crítica e caímos às vezes em depressao conseguimos dar a volta por cima. Nao é fácil, nao é só querer, mas o retorno às boas é um processo certamente muito enriquecedor. Espero que você esteja passando por uma boa fase!
Beijos,

Marina.

Anônimo disse...

nem me fale... esse ano foi tremendamente ' instável'... deus me livre, que venha o próximo..hehe.
mas,. entendo quando vc diz que essas coisas nos tornam mais ricos de experiências... me lembrou aquela frase do filme paciente inglês: "morremos ricos de amores e tribos"...
;))
beijos!!

Bebete Indarte disse...

Beth, gostei como a Pri S.se colocou. E tirando depressão a parte, que é um assunto muito delicado ao meu ver pra comentar aqui, eu concordo com você em partes. Cada pessoa possui uma experiência diferente, quando se compara pessoas, a gente sempre sai ou perdendo ou ganhando, ou pra cima (ego inflado), ou pra baixo. Veja o meu exemplo, eu era a rainha da Cocada Preta em SP, já tinha feito de tudo e mais um pouco (nada de mão beijada)e escolhi vir pra Holanda, às vezes penso que botei os pés pelas mãos, não que me arrependa, pois eu queria ser muito ser mãe, muito mesmo, nada daquele meu mundo tinha graça, nem meus clubs, fãs, meu big apartamento no Jardins, nem meu carro, uma certa fama... Acho aqui tudo muito difícil pra mim também, porque NASCI NOVAMENTE (tenho 15 anos), e sempre me parece bem difícil por aqui,vivo num certo isolamento, mas todo esse tempo de solidão, luta, funcionou e funciona pra focar pra dentro de mim, me conhecer melhor, aprender a ter paciência, a saber que os planos não são lineares, a vida não é linear, nem perfeita, nem livre de problemas pra ninguém. Aqui na Holanda eu deixei de ser católica, entrei no budismo, sai, tive depressão, hipomania, síndrome do pânico, namorado doido, ex marido dominante, e já estou com 51 anos, mas uma coisa ninguém me tira, meu amor pela música, meus dias ALEGRES, meus sonhos, minha lista de 1000 ex-namorados, tudo que já realizei, meu jeito de ser, a vontade que tenho de viver 100 anos pra realizar tudo o que ainda sonho nessa vida (escrever livro (memórias), aprender idiomas, viajar mais, ter próprio negócio, fazer curso de professora de yoga, aprender piano, etc. Siga em frente! Leia sobre "Wabisabi" maneira de viver, não existe fórmulas, e procure sempre pensar que nunca é tarde pra ter estabilidade financeira, emocional, as coisas que você diz que não tem (falta). Eu leio muito sobre, e rezo (a minha maneira), agradecendo todos os dias, o que já tenho,comida, teto, filhos, amigos, internet, visão (péssima) mas tenho! Cada vez que você se comparar com alguém que você acha que tem mais que vc (emprego/casa comprada/passaporte, etc), dê um STOP no ato, isso eu aprendi no budismo...pense no que você tem, e você verá que você tem muita coisa: casa, seus hobbies, suas leituras, seu blog, seus amigos, um filho maravilhoso e LINDO, um ex marido bacana, um namorado legal, parentes no Brasil, pernas pra ir e vir,seu raciocínio lógico e mais uma lista infinita de coisas boas. Beijocas mil.

Labelle® Paz disse...

Os dois últimos anos foram bem complicados pra mim, e agora, estou retomando minha rotina, tentando me readaptar ao meu mundo que perdi em meio à tantas coisas que aconteceram... Não cheguei a ter depressão, mas fiquei com um pé dentro e o outro fora, me puxando para não cair. Agora, é bola pra frente, sem muitos planos, e deixando a vida acontecer. Estou me permitindo viver o que não vivi, e tenho fé de que dias melhores virão! Beijo grande, Bethinha.

Milena F. disse...

Beth, acho que entendo...
Néao vivo no mesmo país que vc, mas acho que posso estabelecer algumas relações... aqui na França tb não é nada fácil, ver que o meu estudo e tudo que batalhei no Brasil não vale quase nada... Mesmo falando e escrevendo francês muito bem, fica difícil encontrar um emprego exatamente na MINHA AREA. Lembro que uma vez saí chorando de um grupo que "ajuda" desempregados a buscar emprego pois o facilitador estava tentando me convencer que eu tinha que aceitar que não seria gerente de RH aqui na França sem uma formação francesa e que isso era normal pois 90% dos franceses exercem atividades abaixo de seus níveis de estudo! Que a vida era assim e pronto!!!
Felizmente consegui um emprego que me agrada, no qual tenho muitas vantagens, mas que não exige nem um décimo do que eu estudei... Mas que tem me ajudado a adquirir outras competências, é verdade.
Não quis ainda fazer uma formação profissionalizante aqui, quando cheguei não aguentava mais estudar, tinham sido 10 anos de estudos superiores no Brasil, não queria voltar para um banco de universidade com um bando de adolescentes. Talvez um dia eu volte, mas não creio...
Tenho a "sorte" de estar casada em uma relação que está dando certo. Se com os 2 salários podemos ter uma vida correta, já calculei muitas vezes que se estivesse sozinha (ainda mais com um filho!) com o salário que eu ganho, não teria como pagar um aluguel e viver!!!
Meu marido diz que eu sou "pessimista", mas ele me irrita com seu otimisto "exagerado". Ele nunca vê problema em nada, para ele tudo vai dar certo no final e nada é tão grave.

alineaimee disse...

Beth, penso demais nisso.
Primeiro porque minha mãe, uma mulher extremamente inteligente e safa tem depressão.
E segundo porque eu, que também não sou nada burra, vivo angustiada e ansiosa. Não chego a ter depressão, mas equilíbrio emocional, cadê?
Tenho tentado viver bem cada dia e reflito muito sempre, na tentativa de medir a real gravidade das coisas.
Espero que vc fique bem.

Beijinhso!

Tecnologia do Blogger.

Estabilidade.





Taí uma coisa que nunca tive nesta vida. Estabilidade. Nem aqui na Holanda, nem no Brasil. Em 17 anos de Holanda, posso afimar que nunca tive estabilidade emocional nem financeira. E sim, claro que a vida de imigrante é difícil mas é aquela velha estória: para uns é mais difícil do que para outros. Eu conheço gente que mora há menos tempo aqui, que nem fala holandês direito e tem emprego fixo e passaporte holandês. Gente que vem pra cá casada, acerta a papelada, compra casa, arruma emprego e segue em frente. E sim, também conheço gente ilegal que está batalhando a vida até hoje e que não teve essa sorte. Pra mim nada foi simples, nem era no Brasil...(sabe aquela estória que a gente leva os problemas com a gente? Pois é, levei os de lá e arrumei novos aqui).

E antes que você mude de página. Não, este post não é pra reclamar. Não é pra me fazer de vítima nem pedir piedade. É apenas uma constatação minha, depois de uma longa e produtiva conversa que tive hoje com uma colega holandesa que como eu, também sempre teve de lutar pelas coisas. É que para algumas pessoas, a vida é uma eterna batalha. Termina uma batalha, começa outra. Pra mim nada me foi dado -  a não ser um coração enorme e uma inteligência acima da média (pra que mentir se ouvi e ainda ouço isso a vida inteira?).

E por falar em inteligência, é óbvio que inteligência não é tudo na vida (se fosse, eu "estaria feita" e não precisaria escrever este post). A começar porque existem vários tipos de inteligência...Em retrospectiva, o que me faltou em alguns momentos estratégicos foi inteligência emocional. Bom senso. Ou talvez seria melhor dizer estabilidade emocional pra fazer as escolhas certas. Eu nunca escondi de ninguém que tive não apenas uma mas duas depressões horríveis aqui na Holanda. Sobrevivi as duas com muita dificuldade e até hoje lido com as consequências disso. Muitos se afastaram, eu me afastei de outros. Porque a verdade é que ninguém sabe lidar com uma pessoa deprimida (felizmente existem os psicólogos e psiquiatras). Sofri com a doença e sofro até hoje com a ignorância dos outros. E tem dias que eu solto mesmo o verbo porque não vou mais sofrer calada. Sim, decidi fazer isso por mim mesma porque cansei de querer agradar os outros.

Eu acho que esta foi uma das principais "causas" dos meus problemas aqui. Um dos principais fatores que afetaram a minha vida na Holanda. E também não sou ingênua ao ponto de achar que tudo seria mais fácil no Brasil (a grama do vizinho sempre é mais verde). Aí sempre vem um e diz que não posso usar isso como desculpa por "não ter realizado nada" - mentira, também tive minhas realizações pessoais. Vem outro e diz que não devia ser tão "determinista". Que devia deixar pra lá e ser otimista. Mais uma vez, não é determinismo, é constatação. Constatação não apenas de 17 anos vivendo na Holanda como constatação de vida inteira. Eu não falo porque li aqui ou ali. Eu falo por experiência própria.

Quando as pessoas vem com este papo de que eu "devia ser mais positiva" eu até concordo em partes. O que não significa que eu possa mudar da noite pro dia e parar de sofrer agora. O que para alguns é um talento natural (predisposição genética) para ser feliz, para outros é um aprendizado de vida inteira. Achar que tudo depende da gente é uma visão muito restrita de mundo. Depende em partes. Depende dos nossos esforços, mas também depende de alguma sorte.

No final das contas, meu mundo é muito mais complexo...e também mais rico. Não existe só preto e branco, existem várias tonalidades...O que me torna uma pessoa complexa mas também rica em experiências. E isso ninguém pode tirar de mim!

12 comentários:

Pat Ferret disse...

Pois é, ultimamente eu ando com uma tremenda impressão de que NADA na vida, vem fácil e até as coisas que dão certo só chegam depois de muito esforço, paciência, tolerância.

Vai dando um cansaço... Mas o quê a gente pode fazer? Sentir inveja dos que têm tudo "de mão beijada" nunca foi uma opção pra mim, pq inveja só faz mal ao invejoso.

O que eu faço é perseverar, tentar não me preocupar com o fútil e ficar feliz com cada sucesso, mesmo que pequeno. Acho que é aí que se encontra a minha estabilidade!

Pri S. disse...

Acho que essa coisa de "vc deveria ser mais otimista" ou "tudo depende apenas da gente e da nossa força de vontade" é um pouco de ilusão de gente novinha ou então de quem ainda é alienado demais... hahahaha

Não estou falando que ser positivo, ter metas, procurar manter um bom padrão energético e equilíbrio emocional não ajude. Claro que ajuda muito! Mas cada um tem sua caminhada, seu aprendizado - como vc bem disse.

E a tal "estabilidade" é mais uma conquista interna do que externa. Porque vamos falar sério: a vida tem vários altos e baixos pra todo mundo. E uma suposta estabilidade financeira e profissional pode não querer dizer nada em alguns momentos. Esse tipo de estabilidade não é sinônimo de sucesso.

Sucesso é vc encarar a vida de frente, sem romantizar ou idealizar, sem viver sempre de acordo com os padrões, buscando o auto-desenvolvimento. E, quem sabe um dia, chegar perto do que se chama de "estabilidade emocional" que, pra mim, apenas é uma maneira mais bonita de dizer que existe auto-aceitação e não nos descabelamos mais pelos problemas corriqueiros como antigamente. Maturidade emocional. Que não depende de idade, conta bancária ou cargo ocupado. Mas do quanto a pessoa avançou na sua própria caminhada e do quanto se dispôs a sofrer as dores de desidealização.

Um dia a gente chega lá, Beth! Pelo menos estamos no caminho! ;-)

Sandra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Line disse...

Eu não falo holandês, consegui emprego na minha área em 5 meses, me casei e comprei minha casa.

Entrei pela Bélgica porque não tínhamos condições de fazer o procedimento aqui. Sofri 3 depressões, uma no Brasil e duas aqui, ainda sofro de insônia até hoje. Perdi meu pai de forma trágica e não pude vê-lo porque senão perderia meu visto, optei por ficar. Perdi minha sogra, a pessoa mais doce que tinha aqui, a minha referência de família - ela morreu no dia do meu casamento (hoje faz3 anos).

Eu mudei muito depois de todos esses acontecimentos, mas aprendi na marra que o mais importante é ter saúde. Nada nunca foi fácil pra mim, meu irmão teve muito mais possibilidades na vida, por exemplo, mas desperdiçou todas.

Um dia ouvi dele que "para algumas pessoas a vida é mais difícil mesmo", querendo indiretamente dizer que pra mim tinha sido muito fácil. Conversa fiada de quem se conformou com a própria situação e que não assume o peso das próprias escolhas. Eu estudei sozinha durante 3 anos até conseguir passar no vestibular, e escolhi não desistir. Ele por 3 vezes pôde fazer faculdade particular, mas desistiu em todas. Escolhas.

Concordo 100% com a Pri S. Sucesso é algo muito relativo, que tem a ver com auto aceitação, com coisas de dentro e não de fora. Cada um com as suas dificuldades.

Although I'm going through a lot, I chose to be happy.

Beth Blue disse...

Line, eu não estava me referindo a você mas de qualquer forma, serve pra ver que por trás de um sorisso existe às vezes muita dor e sofrimento. Vale pra mim e vale pra você. Não podemos julgar as pessoas pelas aparências, vejo isso diariamente no meu trabalho com imigrantes (inburgering). Gente que sofreu em guerras, exilados que abandonaram a família pra vir pra cá porque não puderam trazer a família junto e agora aguardam o visto da esposa, dos filhos, etc.

Mas sinceramente, arrumar emprego na Holanda hoje em dia está muito difícil, sinta-se uma pessoa de sorte...Eu tenho 46 anos e é muito mais difícil, só o pessoal na sua idade tem conseguido emprego. Eu também fiz faculdade, trabalhei, corri atrás...só não fiz um curso de profissionalização aqui (e isso é cada dia mais necessário na Holanda, experiência não conta, só o papel certo) porque a vida pessoal não permitiu. Enfim, nunca tive nada fácil aqui na Holanda.

Mas é um consolo saber que muitas pessoas também passam pelo mesmo, me sinto menos sozinha neste mundo cão.

Eve disse...

Ninguém tira de vc, fato!
engraçado, tb fiz uma reflexao semelhante dia desses...

Bjs!

Anônimo disse...

Olá Beth,

já lia seu blog em silêncio e resolvi retribuir a visita!
Quanto ao assunto do post, eu te entendo. Sou um pouco mais nova e moro há bem menos tempo do que você no exterior, mas também tive um baque ao chegar aqui e ver que meu estudo e todo o esforco que fiz por ele quase nao sao reconhecidos. O meu primeiro outono aqui também nao foi nada fácil: a mistura pouca luz + saudades da família + falta de reconhecimento profissional me deram um baque brabo. Mas mesmo nós que temos essa tendência crítica e caímos às vezes em depressao conseguimos dar a volta por cima. Nao é fácil, nao é só querer, mas o retorno às boas é um processo certamente muito enriquecedor. Espero que você esteja passando por uma boa fase!
Beijos,

Marina.

Anônimo disse...

nem me fale... esse ano foi tremendamente ' instável'... deus me livre, que venha o próximo..hehe.
mas,. entendo quando vc diz que essas coisas nos tornam mais ricos de experiências... me lembrou aquela frase do filme paciente inglês: "morremos ricos de amores e tribos"...
;))
beijos!!

Bebete Indarte disse...

Beth, gostei como a Pri S.se colocou. E tirando depressão a parte, que é um assunto muito delicado ao meu ver pra comentar aqui, eu concordo com você em partes. Cada pessoa possui uma experiência diferente, quando se compara pessoas, a gente sempre sai ou perdendo ou ganhando, ou pra cima (ego inflado), ou pra baixo. Veja o meu exemplo, eu era a rainha da Cocada Preta em SP, já tinha feito de tudo e mais um pouco (nada de mão beijada)e escolhi vir pra Holanda, às vezes penso que botei os pés pelas mãos, não que me arrependa, pois eu queria ser muito ser mãe, muito mesmo, nada daquele meu mundo tinha graça, nem meus clubs, fãs, meu big apartamento no Jardins, nem meu carro, uma certa fama... Acho aqui tudo muito difícil pra mim também, porque NASCI NOVAMENTE (tenho 15 anos), e sempre me parece bem difícil por aqui,vivo num certo isolamento, mas todo esse tempo de solidão, luta, funcionou e funciona pra focar pra dentro de mim, me conhecer melhor, aprender a ter paciência, a saber que os planos não são lineares, a vida não é linear, nem perfeita, nem livre de problemas pra ninguém. Aqui na Holanda eu deixei de ser católica, entrei no budismo, sai, tive depressão, hipomania, síndrome do pânico, namorado doido, ex marido dominante, e já estou com 51 anos, mas uma coisa ninguém me tira, meu amor pela música, meus dias ALEGRES, meus sonhos, minha lista de 1000 ex-namorados, tudo que já realizei, meu jeito de ser, a vontade que tenho de viver 100 anos pra realizar tudo o que ainda sonho nessa vida (escrever livro (memórias), aprender idiomas, viajar mais, ter próprio negócio, fazer curso de professora de yoga, aprender piano, etc. Siga em frente! Leia sobre "Wabisabi" maneira de viver, não existe fórmulas, e procure sempre pensar que nunca é tarde pra ter estabilidade financeira, emocional, as coisas que você diz que não tem (falta). Eu leio muito sobre, e rezo (a minha maneira), agradecendo todos os dias, o que já tenho,comida, teto, filhos, amigos, internet, visão (péssima) mas tenho! Cada vez que você se comparar com alguém que você acha que tem mais que vc (emprego/casa comprada/passaporte, etc), dê um STOP no ato, isso eu aprendi no budismo...pense no que você tem, e você verá que você tem muita coisa: casa, seus hobbies, suas leituras, seu blog, seus amigos, um filho maravilhoso e LINDO, um ex marido bacana, um namorado legal, parentes no Brasil, pernas pra ir e vir,seu raciocínio lógico e mais uma lista infinita de coisas boas. Beijocas mil.

Labelle® Paz disse...

Os dois últimos anos foram bem complicados pra mim, e agora, estou retomando minha rotina, tentando me readaptar ao meu mundo que perdi em meio à tantas coisas que aconteceram... Não cheguei a ter depressão, mas fiquei com um pé dentro e o outro fora, me puxando para não cair. Agora, é bola pra frente, sem muitos planos, e deixando a vida acontecer. Estou me permitindo viver o que não vivi, e tenho fé de que dias melhores virão! Beijo grande, Bethinha.

Milena F. disse...

Beth, acho que entendo...
Néao vivo no mesmo país que vc, mas acho que posso estabelecer algumas relações... aqui na França tb não é nada fácil, ver que o meu estudo e tudo que batalhei no Brasil não vale quase nada... Mesmo falando e escrevendo francês muito bem, fica difícil encontrar um emprego exatamente na MINHA AREA. Lembro que uma vez saí chorando de um grupo que "ajuda" desempregados a buscar emprego pois o facilitador estava tentando me convencer que eu tinha que aceitar que não seria gerente de RH aqui na França sem uma formação francesa e que isso era normal pois 90% dos franceses exercem atividades abaixo de seus níveis de estudo! Que a vida era assim e pronto!!!
Felizmente consegui um emprego que me agrada, no qual tenho muitas vantagens, mas que não exige nem um décimo do que eu estudei... Mas que tem me ajudado a adquirir outras competências, é verdade.
Não quis ainda fazer uma formação profissionalizante aqui, quando cheguei não aguentava mais estudar, tinham sido 10 anos de estudos superiores no Brasil, não queria voltar para um banco de universidade com um bando de adolescentes. Talvez um dia eu volte, mas não creio...
Tenho a "sorte" de estar casada em uma relação que está dando certo. Se com os 2 salários podemos ter uma vida correta, já calculei muitas vezes que se estivesse sozinha (ainda mais com um filho!) com o salário que eu ganho, não teria como pagar um aluguel e viver!!!
Meu marido diz que eu sou "pessimista", mas ele me irrita com seu otimisto "exagerado". Ele nunca vê problema em nada, para ele tudo vai dar certo no final e nada é tão grave.

alineaimee disse...

Beth, penso demais nisso.
Primeiro porque minha mãe, uma mulher extremamente inteligente e safa tem depressão.
E segundo porque eu, que também não sou nada burra, vivo angustiada e ansiosa. Não chego a ter depressão, mas equilíbrio emocional, cadê?
Tenho tentado viver bem cada dia e reflito muito sempre, na tentativa de medir a real gravidade das coisas.
Espero que vc fique bem.

Beijinhso!