Aproveitando que pago meros 18euros por mês e tenho passe-livre para 13 salas de cinema em Amsterdam (melhor ainda, do circuito alternativo em vez de blockbusters), tenho conseguido ver muitos filmes. E como eu sempre tive uma queda pelo cinema francês, tenho visto alguns bons filmes franceses também! A seguir uma seleção com os três melhores que assisti por estas semanas.
Tous Ensemble
Ótimo filme, com cenas ao mesmo tempo comoventes e divertidas (eu ri e chorei quase ao mesmo tempo). Além de um elenco excepcional, a começar pelas famosas
Geraldine Chaplin e
Jane Fonda, e o jovem ator
Les neiges du Kilimandjaro
O filme acompanha a vida de uma família de classe operária em Marseille, em que o patriarca construiu com muito trabalho uma vida agradável para os seus. O pai além de trabalhar muito, é um daqueles caras politicamente engajados que trabalha com sindicados de operários pra tentar melhorar a vida de todos - e não só a dele! Pois um dia a empresa precisou fazer demissões e decidiu-se por um "sorteio". Quem fosse sorteado, seria demitidos...O pai, embora não precisasse pois era da diretoria decidiu - por questões de valores - colocar também seu nome no sorteio e adivinhem vocês? Sim, ele perdeu assim o emprego de anos! Felizmente eles já tinham algumas economias e ele estava mesmo perto da aposentadoria.
Mas esta é apenas uma pequena parte da estória, porque o principal ainda está por vir...Na festa de Bodas de Casamento, o simpático casal ganha de amigos e parentes uma quantia de dinheiro e passagens para visitar um país da África que sempre sonharam conhecer. Tudo maravilhoso até que eles são roubados dentro de sua própria casa! Ai começa realmente a trama, porque eles tentam a todo custo entender porque uma pessoa escolhe roubar, o que justifica (ou não) este crime e outros questionamentos morais. Enfim, um roteiro original e muito interessante, baseado em um poema de nada vez do que o famoso escritor francês Victor Hugo!
Le fils de l'autre
Mais um filme excelente, este nos conta a estória de dois jovens da mesma idade, nascidos no mesmo dia e no mesmo hospital e que vivem em mundos totalmente diferentes: um em Tel Aviv (Israel) e o outro na Palestina. O que acontece é que por obra do destino, suas vidas (e de suas famílias) acabam se cruzando. Isso porque um dia o rapaz judeu que mora em Tel Aviv, vai se alistar para o exército e a mãe descobre por acaso que há algo muito errado com o tipo sanguíneo dele: por leis da genética, ele não poderia nunca ser filho do casal porque tem sangue A- enquanto que ambos os pais são A+...A mãe decide fazer algumas investigações com a ajuda de um amigo e acaba se deparando com a verdade. Os bebês foram trocados no berçário, na correria da fuga em uma noite de ataques de guerra!
O filme mostra a vida dos dois rapazes que, embora tenham a mesma idade, tiveram uma criação bem diferente. Um foi criado na tradição judaica, outro na tradição muçulmana. Famílias diferentes, valores diferentes mas também valores semelhantes. E é ai que está a graça deste filme, na minha singela opinião. Ambos foram criados com muito amor por seus pais, que amam seus filhos da melhor maneira que para eles é possível (e eu que sou mãe entendo bem isso). E quando eles (os pais) descobrem da troca, todos ficam chocados. As famílias acabam se aproximando, os dois rapazes se tornam amigos e assim vão criando um vínculo especial.
No final, nenhum dos pais abre mão de seu filho de criação em prol do filho biológico e isso prova, entre outras coisas, que pai (mãe) é aquele que cria, que educa, que convive no dia-a-dia. Porque ser mãe ou pai biológico é fácil - em princípio todos podem ser, fora problemas de infertilidade. Difícil mesmo é criar os filhos todo dia, orientar, ouvir, consolar, estabelecer rotinas e regras (ainda mais quando são pequenos mas também na adolescência).
Mas já estou saindo do assunto porque este é apenas um aspecto do filme que me tocou. Há ainda o aspecto político, do eterno conflito entre Israel e Palestina. E há ainda o conflito existencial, quando os rapazes descobrem que não são o que pensavam e tentar aceitar a nova identidade.
Enfim, ótimo filme, e não apenas para quem curte filmes franceses como eu...não percam!