quarta-feira, julho 24, 2013

Duas biografias imperdíveis

Tenho lido bastante, mas confesso que ando com uma preguiça danada de escrever aqui no blog (deve ser o calor...). Mas agora resolvi vencer a preguiça de uma vez por todas e escrever um post sobre dois livros que me impressionaram muito este ano. Eu não costumo ler biografias mas estas duas biografias me marcaram tanto que decidi compartilhar com vocês aqui no blog. São duas estórias distintas, de famílias de origens diferentes em países diferentes mas ambas excepcionais. Cada uma à sua maneira. Acima de tudo, dois belos exemplos de sobrevivência.


A primeira delas é The Glass Castle (traduzido no Brasil como O Castelo de Vidro), da jornalista e escritora americana Jeannette Walls. Um relato bigráfico impressionante que fica na memória do leitor por muito tempo (eu que o diga).

Jeannette é filha de um pai alcóolatra e uma mãe artista, ambos pobres e que vivem em uma miséria inacreditável (de passar fome), principalmente considerando-se que moram nos EUA. Jeannette tem um irmão mais velho e duas irmãs, que praticamente são obrigados a cuidar uns dos outros porque nem o pai nem a mãe tem a menor condição de criar seus filhos. Durante a infância, eles chegam a morar como nômades no deserto, depois mudam várias vezes de cidade e de escola, sendo literamente entregues aos seus próprios destinos. Na verdade, ao ler alguns trechos do livro, o simples fato de terem sobrevivido a criação que receberam é (quase) inacreditável! Um pai alcóolatra e uma mãe negligente (mais preocupada com sua "arte" do que com o que está acontecendo à sua volta), uma vida miserável em que não apenas as crianças iam pra escola sem café da manhã como eram literalmente obrigadas a "catar" algo para levar para o lanche escolar! O resto eu não conto pra não estragar a estória mas que é um relato impressionante, isso é - e muito bem escrito!

Então fiquem avisados: o livro é daqueles em que você ri e chora, alternadamente. Um relato humano e comovente de uma mulher que consegue criar para si uma vida, apesar de seu passado desastroso. Depois de completar seus estudos, Jeannette decide tomar o maior risco de sua vida e se mudar sozinha para Nova Iorque. Lá ela começa a trabalhar na editoria de um pequeno jornal até conseguir estabelecer uma carreira de jornalista (e depois escritora) num jornal prestigioso. Tudo sem ajuda de ninguém e com uma coragem e determinação de dar inveja a muita gente. Enfim, leitura obrigatória!


A segunda biografia, que me impressionou tanto quanto a primeira (mas por motivos muito diferentes) é The Three of Us (não encontrei tradução brasileira), da inglesa Julia Blackburn. Julia é criada por um pai poeta e alcóolatra (talvez a única semelhança entre as duas biografias mas, não obstante, um detalhe importante) e por uma mãe pintora, emocionalmente instável e acima de tudo, ninfomaníaca (sem brincadeira). Julia tem uma criação extremamente liberal, principalmente depois que a mãe se separa do pai e decide alugar quartos para rapazes (!). Aí começam os relatos de como Julia sobrevive no dia-a-dia com uma mãe egocêntrica, instável e sempre em busca de novas aventuras amorosas (em vários momentos tive a impressão de que a adolescente da estória era a mãe). Quando Julia entra na adolescência, sua mãe passa a vê-la como rival, o que cria situações desastrosas (e constrangedoras) para a filha. Anos depois, já mais velha, Julia decide entrar no jogo da mãe e "roubar" seu amante favorito (entre tantos outros), um homem quase 30 anos mais velho do que a própria Julia. Considerando-se a forma como Julia é tratada durante anos pela mãe, este "desfecho" é quase inevitável, digamos assim. Enfim, uma relação mãe-filha muito complexa e destrutiva, da qual Julia consegue se desvencilhar depois de muitos anos - e inúmeras sessões de terapia - mas não sem cicatrizes.

Um dos aspectos mais interessantes da biografia é o pano de fundo histórico, mais especificamente a boemia inglesa dos anos 60, com seu idealismo, o movimento hippie, a famosa (e controvertida) liberação sexual das mulheres ("Women's lib") etc. Nos relatos de Julia, você tem a oportunidade de acompanhar de perto como é crescer nesta década conturbada, no seio de uma família artística e boêmia. Enfim, uma criação nada convencional.

Duas leituras altamente recomendadas para quem gosta de uma biografia bem escrita!


5 comentários:

Palavras Vagabundas disse...

Anotei direitinho o nome dos livros, gosto de biografias. Por aí um calorão com 25°C e aqui os cariocas tremem de frio com 17°C, risos
bjs
Jussara

Sandra disse...

Oi Beth! Sempre leio o seu blog, mas pouco comento (vergonha!), mas adoro as suas dicas de livros. Por causa da sua resenha comecei a ler o livro Me Before You (em alemão Ein Ganzes Halbes Jahr, que é o que estou lendo, afinal preciso treinar a leitura neste idioma):-).
Agora fiquei interessadíssima na Biografia "O Castelo de Vidro", mas este vou pedir para uma amiga que virá me visitar, trazer a versão em português, rs... Suas dicas são ótimas! Keep writting :-)

Luana disse...

Nao me falta vontade de ler, mas me falta tempo... tenho tantos outros livros na lista de espera que terei que passar esses dois, por enquanto...

Eu queria era poder trabalhar em algo que so me pedisse ter que ler e escrever.. e apenas coisas que eu gosto... eh pedir muito? =)

Day disse...

Oi Beth, faz tempo que não comento por aqui, mas adoro seus textos.
Eu gosto pra caramba de biografias, mas ultimamente não tenho lido muito. Essas duas que vc citou parecem bem interessantes, vou deixar anotadinho aqui pra assim que tiver oportunidade comprá-las.
Abraço

Cecilia Nery disse...

Muito bacana seu post, Beth, a gente sente vontade de ler as duas biografias. Só conhecia "O Castelo de Vidro", a outra ainda não li nada a respeito. Bom pra se atualizar, e escreva mais vezes. Beijos.

Tecnologia do Blogger.

Duas biografias imperdíveis

Tenho lido bastante, mas confesso que ando com uma preguiça danada de escrever aqui no blog (deve ser o calor...). Mas agora resolvi vencer a preguiça de uma vez por todas e escrever um post sobre dois livros que me impressionaram muito este ano. Eu não costumo ler biografias mas estas duas biografias me marcaram tanto que decidi compartilhar com vocês aqui no blog. São duas estórias distintas, de famílias de origens diferentes em países diferentes mas ambas excepcionais. Cada uma à sua maneira. Acima de tudo, dois belos exemplos de sobrevivência.


A primeira delas é The Glass Castle (traduzido no Brasil como O Castelo de Vidro), da jornalista e escritora americana Jeannette Walls. Um relato bigráfico impressionante que fica na memória do leitor por muito tempo (eu que o diga).

Jeannette é filha de um pai alcóolatra e uma mãe artista, ambos pobres e que vivem em uma miséria inacreditável (de passar fome), principalmente considerando-se que moram nos EUA. Jeannette tem um irmão mais velho e duas irmãs, que praticamente são obrigados a cuidar uns dos outros porque nem o pai nem a mãe tem a menor condição de criar seus filhos. Durante a infância, eles chegam a morar como nômades no deserto, depois mudam várias vezes de cidade e de escola, sendo literamente entregues aos seus próprios destinos. Na verdade, ao ler alguns trechos do livro, o simples fato de terem sobrevivido a criação que receberam é (quase) inacreditável! Um pai alcóolatra e uma mãe negligente (mais preocupada com sua "arte" do que com o que está acontecendo à sua volta), uma vida miserável em que não apenas as crianças iam pra escola sem café da manhã como eram literalmente obrigadas a "catar" algo para levar para o lanche escolar! O resto eu não conto pra não estragar a estória mas que é um relato impressionante, isso é - e muito bem escrito!

Então fiquem avisados: o livro é daqueles em que você ri e chora, alternadamente. Um relato humano e comovente de uma mulher que consegue criar para si uma vida, apesar de seu passado desastroso. Depois de completar seus estudos, Jeannette decide tomar o maior risco de sua vida e se mudar sozinha para Nova Iorque. Lá ela começa a trabalhar na editoria de um pequeno jornal até conseguir estabelecer uma carreira de jornalista (e depois escritora) num jornal prestigioso. Tudo sem ajuda de ninguém e com uma coragem e determinação de dar inveja a muita gente. Enfim, leitura obrigatória!


A segunda biografia, que me impressionou tanto quanto a primeira (mas por motivos muito diferentes) é The Three of Us (não encontrei tradução brasileira), da inglesa Julia Blackburn. Julia é criada por um pai poeta e alcóolatra (talvez a única semelhança entre as duas biografias mas, não obstante, um detalhe importante) e por uma mãe pintora, emocionalmente instável e acima de tudo, ninfomaníaca (sem brincadeira). Julia tem uma criação extremamente liberal, principalmente depois que a mãe se separa do pai e decide alugar quartos para rapazes (!). Aí começam os relatos de como Julia sobrevive no dia-a-dia com uma mãe egocêntrica, instável e sempre em busca de novas aventuras amorosas (em vários momentos tive a impressão de que a adolescente da estória era a mãe). Quando Julia entra na adolescência, sua mãe passa a vê-la como rival, o que cria situações desastrosas (e constrangedoras) para a filha. Anos depois, já mais velha, Julia decide entrar no jogo da mãe e "roubar" seu amante favorito (entre tantos outros), um homem quase 30 anos mais velho do que a própria Julia. Considerando-se a forma como Julia é tratada durante anos pela mãe, este "desfecho" é quase inevitável, digamos assim. Enfim, uma relação mãe-filha muito complexa e destrutiva, da qual Julia consegue se desvencilhar depois de muitos anos - e inúmeras sessões de terapia - mas não sem cicatrizes.

Um dos aspectos mais interessantes da biografia é o pano de fundo histórico, mais especificamente a boemia inglesa dos anos 60, com seu idealismo, o movimento hippie, a famosa (e controvertida) liberação sexual das mulheres ("Women's lib") etc. Nos relatos de Julia, você tem a oportunidade de acompanhar de perto como é crescer nesta década conturbada, no seio de uma família artística e boêmia. Enfim, uma criação nada convencional.

Duas leituras altamente recomendadas para quem gosta de uma biografia bem escrita!


5 comentários:

Palavras Vagabundas disse...

Anotei direitinho o nome dos livros, gosto de biografias. Por aí um calorão com 25°C e aqui os cariocas tremem de frio com 17°C, risos
bjs
Jussara

Sandra disse...

Oi Beth! Sempre leio o seu blog, mas pouco comento (vergonha!), mas adoro as suas dicas de livros. Por causa da sua resenha comecei a ler o livro Me Before You (em alemão Ein Ganzes Halbes Jahr, que é o que estou lendo, afinal preciso treinar a leitura neste idioma):-).
Agora fiquei interessadíssima na Biografia "O Castelo de Vidro", mas este vou pedir para uma amiga que virá me visitar, trazer a versão em português, rs... Suas dicas são ótimas! Keep writting :-)

Luana disse...

Nao me falta vontade de ler, mas me falta tempo... tenho tantos outros livros na lista de espera que terei que passar esses dois, por enquanto...

Eu queria era poder trabalhar em algo que so me pedisse ter que ler e escrever.. e apenas coisas que eu gosto... eh pedir muito? =)

Day disse...

Oi Beth, faz tempo que não comento por aqui, mas adoro seus textos.
Eu gosto pra caramba de biografias, mas ultimamente não tenho lido muito. Essas duas que vc citou parecem bem interessantes, vou deixar anotadinho aqui pra assim que tiver oportunidade comprá-las.
Abraço

Cecilia Nery disse...

Muito bacana seu post, Beth, a gente sente vontade de ler as duas biografias. Só conhecia "O Castelo de Vidro", a outra ainda não li nada a respeito. Bom pra se atualizar, e escreva mais vezes. Beijos.