domingo, abril 29, 2007

Happy Birthday Liam

Ontem foi aniversário da pessoa mais importante da minha vida: o Liam! Ele completou 7 anos num lindo dia de primavera. Aproveitamos os dias maravilhosos que têm feito por aqui para comemorar ao ar livre, num parque perto da casa do pai dele (que mora no mesmo bairro que eu aqui em Amsterdam). A festa até que começou na casa do pai, mas com 8 meninos bagunceiros correndo pra lá e pra cá, logo fomos pro parque brincar...

A foto aqui do lado foi tirada exatamente há 1 ano por um grande amigo em Paris (Liam comemorou seus 6 anos na Torre Eiffel!). Escolhi essa foto porque ela retrata muito bem o temperamento sapeca do Liam: um menino alegre, falante (pra não dizer tagarela) e cheio de caras e bocas! O aniversário pode até ser dele - mas o maior presente quem ganhou neste dia fui eu!

sábado, abril 28, 2007

Coisas de Holanda

Ando pensando, lendo jornais, e pensando mais um pouco. E cheguei à conclusão que no dia em que começar a escrever sobre o que realmente acontece aqui na Holanda, não vou parar de escrever nunca mais! Ou vou escrever tanto, mas tanto, que vou acabar criando outro blog: Coisas de Holanda (não deixa de ser uma idéia). É que vivo em um país de contradições cada vez maiores e cuja imagem lá fora pouco ou nada corresponde à realidade daqueles que vivem aqui. Inevitavelmente, têm dias em que eu acordo e penso: hora de desmistificar o país - depois de 13 anos morando aqui, a gente adquire um pouco este direito.

Pra começar, queria deixar bem claro que a Holanda não é o paraíso (embora também não seja o pior lugar do mundo pra se viver). E se alguém por aí tiver descoberto onde o paraíso fica, favor me avisar!!! Moro na Holanda há 13 anos mas já morei nos EUA, Irlanda, Escócia, fui casada com inglês e carrego em mim um pouco de 3 culturas: a brasileira, a inglesa (tempos atrás uma amiga até me apelidou de Dona Inglesa, rsrsrs) e a holandesa. Nem mais, nem menos. Uma posição de certa forma privilegiada, porque tenho o distanciamento necessário para ver os problemas do Brasil (por não estar mais inserida naquela luta diária). E ao mesmo tempo uma posição bastante delicada, porque sempre continuarei sendo estrangeira...aqui sou a brasileira e na minha última visita ao Brasil há 8 anos - nem ouso imaginar como seria agora - meus amigos disseram que eu estava virando européia (e com certeza virei mesmo, em alguns aspectos). Em suma, quem mora fora sabe muito bem do que estou falando.

Só sei dizer que desde que moro na Holanda as coisas mudaram...e muito. E com as mudanças, foram-se grande parte das ilusões que eu tinha quando cheguei por aqui. Claro que não vou cometer o erro de querer comparar os problemas daqui com os do Brasil - teria de ser muito tola (ou burra) para isso! Mas bem ou mal, não deixam de ser problemas, e eles estão cada vez mais fora de controle dos líderes governamentais. Tanto na Holanda, como em países vizinhos como Alemanha e França. E você não precisa ser muito inteligente pra ver que um dia a bomba explode...não, não estou falando do terrorismo (assunto número 1 nos EUA) e sim do maior problema que a Comunidade Européia é obrigada a enfrentar todos os dias em suas cidades. Estou falando da questão da imigração, que já rendeu (e ainda irá render) inúmeros livros, teses e filmes (entre eles, Babel).

Um assunto complexo mas, por mais irônico que possa parecer, quem começou essa estória foram os próprios europeus, que não pensaram duas vezes ao importar mão-de-obra barata (e analfabeta) da Turquia e do Marrocos nos anos 60 e 70. Esses imigrantes (chamados de gastarbeiders aqui na Holanda) foram fundamentais na reconstrução dos países após a Segunda Guerra Mundial e mais tarde, na indústria pesada. Mas a idéia original (santa ingenuidade) do governo holandês (francês, alemão) era que retornassem a seus países para continuar vivendo suas vidas miseráveis...Lêdo engano: três gerações e mais de 40 anos depois, a Europa ainda está lidando com as consequências dessa escolha. A cada dia, em cada centro urbano.

Uma das consequências imediatas é o aumento da xenofobia (principalmente depois de 9-11, needless to say). A Holanda, que era um dos países com leis de imigração mais liberais na Europa hoje tem algumas das legislações mais rígidas. E um partido de extrema-direita que não fica devendo nada a partidos como o Front Nationale (França) e o Vlaams Belang, antigo Vlaams Blok (Bélgica). Um dos primores dessa nova legislação é que, quem quiser vir morar aqui deverá antes passar em um exame da língua holandesa no seu país de origem. Ou seja, nada de chegar aqui sem falar holandês (e olha que a língua não é das mais fáceis).

Mas o ser humano é assim e no final das contas, alguém tem de levar a culpa pelos problemas socioeconômicos do país. E a história mostrou várias vezes (basta lembrar do Holocausto) que o bode expiatório sempre foi e continuará sendo o mais fraco - neste caso, os imigrantes em particular e os estrangeiros em geral. Mas eu continuo o assunto em outro post porque só de pensar fiquei cansada! Aguardem cenas dos próximos capítulos...

quinta-feira, abril 26, 2007

Que mais há a dizer?



Dizes-me: tu és mais alguma coisa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas:
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra»,
Digo da planta, «é uma planta»,
Digo de mim «sou eu».
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
(Alberto Caeiro)

PS. Vista de Buttermere, Lake District...amo este lugar de paixão!

segunda-feira, abril 23, 2007

Mais bicharada!

Sei que isso aqui está ficando meio repetitivo, mas não tenho culpa se tenho em casa um menino de 6 anos fissurado em bichos! Sábado fomos eu e Liam pela primeira vez ao Dierenpark Amersfoort, um zoológico muito bacana a cerca de 45 minutos de trem de Amsterdam. O parque é maior do que eu imaginava e com animais que não estamos acostumados a ver aqui no Artis, como os ursos e as (antipáticas) hienas. Muitos espaços abertos e cercado por bosques, áreas de recreação enormes e até uma área devotada à Antiguidade (com direito a ruínas e arena romana). E um trenzinho irresistível que faz a alegria da garotada em um tour de 5 minutos por uma parte do parque...Liam foi duas vezes e ainda queria ir de novo (como se não bastasse ter ido e voltado de trem, hehehe).

Liam amou o passeio e já estamos planejando voltar lá em junho para a abertura do Dinobos (Bosque dos Dinossauros). O bosque terá mais de 40 réplicas enormes e promete levar o público de volta à Era Jurássica, para delírio da criançada - delírio mesmo, acreditem! Quanto a mim, confesso que um passeio como estes num lindo dia de primavera - temperaturas de acordo com a estação, cerca de 18 graus e muito sol - melhora o humor de qualquer um.

Pena que um programa deste tipo costuma custar caro...mas que vale a pena, isso vale! O jeito é economizar, né? Até porque, estou planejando uma visita ao Dolfinarium, que sonho conhecer desde antes de ter tido meu filho...Uma das atrações mais caras da Holanda, mas como EU sou apaixonada por golfinhos vou dar um jeito de visitá-los (ainda) neste verão. E como filho de peixe peixinho é, Liam também gosta de golfinhos - embora a grande paixão dele sejam as baleias e os tubarões!

quarta-feira, abril 18, 2007

Columbine, mais uma vez...

Mais uma vez, os EUA foram ontem manchete dos principais jornais em todo o mundo. Foi o maior massacre ocorrido dentro de uma instituição de ensino americana, com o total de mortos chegando a 33, entre estudantes e professores (incluindo o rapaz que atirou várias vezes e depois se matou). Até o momento, pouco se sabe sobre os motivos do rapaz de origem asiática (Coréia do Sul) que havia se mudado para os EUA com 8 anos de idade. Tinha 23 anos e cursava Inglês na faculdade, um rapaz calado e reservado, de quem pouco se sabia...Não obstante, alguns professores de redação já haviam comentado sobre os textos nebulosos do estudante e haviam até mesmo aconselhado atendimento psicológico. Atendimento psicológico ou não, um dia o rapaz compra uma arma de fogo - nos EUA existem mais lojas vendendo armas do que postos de gasolina - e sabe-se lá porque cargas d´água, decide sair atirando no campus de uma universidade - desta vez a Virginia Tech, no estado de Washington.

O que inevitavelmente nos remete a filmes recentes como Bowling for Columbine (Michael Moore, 2002) e Elephant (Gus van Sant, 2003). Pensando bem, em um país que não apenas autoriza como incentiva a posse de armas - e consequentemente a justiça pelas próprias mãos - não chega a surpreender quando o feitiço vira contra o feiticeiro. Aconteceu uma vez, duas vezes e ontem mais uma vez. Como bem disse uma amiga no blog dela: pára o mundo que eu quero descer!

Bicharada

Dessa vez vou falar dos filmes do meu filho. Como filho de cinéfila que é, do alto de seus quase 7 anos Liam já assistiu uma quantidade razoável de filmes infantis. E eu aproveitei pra rever alguns favoritos da minha infância, a começar pelos Clássicos da Disney - parada obrigatória ao apresentar uma criança ao mundo do cinema (o guri sabia o nome de todos os personagens quando fomos ano passado à Disneyland). Juntos assistimos também praticamente todos os filmes da Pixar como Monster and Co., Toy Story 1 e 2, Finding Nemo e o mais recente e favorito, Cars. Outros que fizeram um sucesso estrondoso aqui em casa foram Madagascar, Over the Edge e Ice Age 1 e 2 - filmes que, diga-se de passagem, são diversão garantida para crianças e adultos. No cinema ainda: Brother Bear, Chicken Little, The Wild, Flushed Away, Happy Feet e seus adoráveis pinguins dançantes.

E isso que nem falei dos filmes de aventura que assistimos repetidas vezes em casa, como Beethoven (o cão São Bernardo mais família que já apareceu nas telas do cinema), The Incredible Journey (com dois cachorros e a gata Sissi) e Free Willy (Liam ama baleias e desnecessário dizer, adora este filme). E só não assistimos Lassie porque eu não deixei: chorava aos baldes quando criança ao assistir as aventuras e desventuras da pobre cadelinha...Haja coração!

Em suma: é bicharada que não acaba mais! O que não chega a surpreender se juntarmos minha paixão pelo cinema e a paixão do menino pelos bichos! Mas fala sério...tem coisa melhor do que um bom filme infantil? Só mesmo um bom filme infantil com um balde de pipoca caseira, feita na hora!

PS. As mamães do Brasil me desculpem mas não tenho a menor idéia de como traduziram os títulos destes filmes por aí...Juro que não é esnobismo, é ignorância mesmo!

segunda-feira, abril 16, 2007

Lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

por Clarice Lispector

domingo, abril 15, 2007

Cidade maravilhosa

Não, não estou falando do Rio de Janeiro, me desculpem os cariocas! Mas Amsterdam se transforma em uma das cidades mais belas da Europa em um dia de sol como hoje - juro que não fica devendo quase nada a Paris (e olha que eu amo Paris). Se ontem fomos agraciados com 25 graus, hoje as temperaturas na cidade chegaram a 30 graus - mais verão do que primavera, diga-se de passagem.

É claro que quem mora no Brasil não faz idéia do que um dia como o de hoje faz com as pessoas. Movimento nas ruas e canais da cidade, Mercado das Flores repleto de flores e mais ainda de turistas - acima de tudo franceses, ingleses e espanhóis. Ciclovias entupidas, canais lotados de barcos lotados de gente. Muita cerveja e refrigerantes servidos ininterruptamente em terraços ao ar livre. Filas de gente nas principais sorveterias da cidade: Haagen Dazs, Ben&Jerry e Australian Ice Cream sem dúvida tiveram recordes de vendas hoje à tarde - confesso que eu mesma não resisti à tentação gelada!

Muita mini-saia, vestidos leves, shorts e camisetas de alça fininha. Sandálias, chinelos de dedo - nossas Havaianas reinando soberanas nas calçadas ensolaradas. Sol, calor e a cidade se transforma diante dos seus olhos. Seres antes taciturnos e introvertidos se transmutam em seres solares e extrovertidos, deixando de lado a timidez que os acompanhou nos meses de inverno e sorriem subitamente na rua. Deus pode até ser brasileiro...mas hoje ele abençoou os holandeses!

PS. Segundo as previsões meteorológicas para a semana, as temperaturas caem nos próximos dias...De qualquer forma, a primavera está no ar e o verão promete!

Cafeína

Confesso que peguei o hábito de fuxicar os blogs alheios...e outro dia me deparei com mais um blog interessante, o Cafeína. Pra variar, não resisti e decidi colocar um texto dele aqui. O melhor de tudo foi descobrir mais uma vez que, como ele, existem outros por aí assegurando a qualidade deste universo tão amplo e surpreendente que é o universo dos blogs (eu, que peguei o bonde andando e nem sabia que a coisa era tão séria). Agora confiram a ironia do rapaz (achei o texto muito perspicaz):

É tão bonito a gente ser feliz. Viver no escuro às vezes também não é má idéia. Pode se passar a vida inteira sem se ter noção das incapacidades, limitações e defeitos e, ainda assim e especialmente por isso, ser incondicionalmente feliz. Que fácil olhar para o outro e dizer "é culpa sua, agora te vira". Pronto. Mãos lavadinhas, alma tranqüila, sono bom. Dá até tempo de pensar na roupa esperando por ser estendida no varal, no bar aquele que você ainda não foi porque estava com a cabeça cheia de preocupações (que, obviamente, eram responsabilidade do outro e não sua, porque você não tem problemas), por que não?

Então tudo bem. Tudo são escolhas, simples assim. A pessoa que escolhe se envolver com um traste que lhe bate na cara, judia, tortura, estava procurando um pouco de drama na vida, uma justificativa para sair de vítima, ó, coitadinha. Que dó. Viu só? Até ela, com o roxão no olho e mancando de uma perna, se deu bem. Estão os amigos, família, vizinhos, prestando solidariedade e atenção à sua volta. "Tia, conta de novo do dia em que ele tentou te esgoelar, eu adoro aquela parte!" "Tá bom, mas depois desta você vai dormir, que já é tarde."

Ah, como a gente escolhe, né não? A gente escolhe se envolver quando tem vontade e, quando não tem, sai bem feliz com os amigos, bebe, brinca e come nos lugares da moda, vestindo a última. A gente só ouve música que os pobres mortais vão conhecer pela FM daqui a um ano, a gente já viu tudo, faz cara de blasé para tendências da hora, a gente não liga no dia seguinte, se assim nos apetecer, porque o problema está nos outros, esqueceu? A gente não tem tempo para a carência dos outros. A gente quer mesmo é academia 24 horas, porque pra ficar lindo não tem hora, e malhar com nossos ipod, porque quem ipod, pode. Pode tudo. Tríceps, bíceps, coxa e panturrilha. Ai, meus Nike Shox! Aquilo na sola não é amortecedor, minha gente, é a catapulta que vai nos arremessar além. 600 reais por um tênis-catapulta é uma barganha!

Que bom, leitor amigo, se você sabe das coisas. Fica tudo mais fácil. Sabe onde é o norte e onde é sul, não se perde nunca. A bússola é você. Os outros? Ah, sigam-me os bons, pros mais ou menos eu não tenho paciência. Porque saber mais ou menos não adianta, né? Aliás, fazer nada mais ou menos adianta. A gente recicla (latinhas, plástico, papel), assiste documentários nos espaços culturais, toma café com publicitários, advogados, jornalistas, pula de pára-quedas. A gente, nós modernos, os filhos da nova república, com nossos segundos cadernos, não estamos aí para brincadeira. Somos de esquerda, mesmo a esquerda sendo direita. A gente lê Maiakovski e assiste ao Big Brother. Em pay-per-view, que a gente pode!

Mas, um belo dia, resolvem acender a luz e a gente vê quê. Daí não tem mais volta.

E não se fala mais nisso

O texto a seguir - que achei em andança recente pelo universo dos blogs - descreve muito bem a bipolaridade, uma das doenças mais faladas da atualidade e que infelizmente virou moda em alguns círculos (como se a bipolaridade fosse opção ou estilo de vida pessoal e não herança genética). Dito isso, quem não quiser ler este post, é só sair! Blog afinal é isso: a gente escreve, lê quem quer. Segue o texto da menina:


Decidi, algum tempo atrás, que evitaria escrever sobre o transtorno afetivo bipolar (TAB, a.k.a. psicose maníaco-depressiva), sobre as crises alternadas de depressão e euforia, efeitos colaterais do tratamento, yada yada yada.

Porém, o comentário de um leitor sobre meu post que trata de sobrevivência (sem nenhum cunho sociológico ou pretensões variadas), me fez pensar que seria necessário esclarecer alguns aspectos do tal transtorno. Reproduzo, a seguir, o trecho do comentário de 03.03.2007 que deu origem a este post.

"(...) Gosto da sua coragem de admitir seu transtorno bipolar, embora acredite que mais coragem é viver sem medicação, afinal se todo mundo vivesse chapado nunca teríamos Faulkner, Hemingway(tudo bem que eles bebiam bastante, mas existe uma certa nobreza na embriaguez, na medicação apenas um indivíduo abrindo mão da sua autonomia, mas esse papo fica para uma outra oportunidade) (...)."

Vamos lá. O transtorno bipolar é uma doença que, como qualquer outra, precisa ser corretamente diagnosticada e tratada com medicamentos. É uma doença mental? É. O cérebro produz de forma atípica alguns neurotransmissores fundamentais para nossa saúde mental. O motivo? Ainda não se sabe com precisão. É genético? Os estudiosos entendem que sim. Pode incapacitar a pessoa de exercer suas atividades rotineiras? Quem sofre de TAB é retardado? Não.

Mas o pior de tudo é: não há cura para o TAB, apenas controle. Tal qual uma diabete, que precisa ser controlada com injeções de insulina.

Existe ainda um grande preconceito ou uma total ignorância sobre o que é o TAB e seus efeitos e sintomas, que podem ser devastadores. O paciente de TAB, se mal diagnosticado ou submetido a tratamentos incorretos, pode torrar todo o seu patrimônio em incríveis três semanas, trabalhar por 48 horas seguidas sem se cansar, emprestar as cuecas para o pior dos amigos ou, no outro extremo, ficar impossibilitado de trabalhar, parar de comer por dias e dias, não tomar banho por semanas, não falar com absolutamente ninguém, chorar até cansar e, falando um português bem claro, o paciente de TAB pode cometer suicídio.

Dito isso tudo aí em cima, posso dizer que eu sofro de um tipo de transtorno bipolar mais ou menos incomum: sou TAB com ciclagens ultra rápidas (ou seja, meu humor oscila muito mais vezes em um certo intervalo de tempo, se comparado ao humor dos bipolares “clássicos”). Isso quer dizer que o tratamento convencional, à base de lítio, não funcionou comigo. Tentei algumas combinações de medicamentos, fiquei internada dois meses em uma clínica psiquiátrica, fui submetida a várias sessões de ECT (eletroconvulsoterapia - eletrochoques, para ser mais clara), tudo para evitar o tratamento mais indicado para o meu tipo de TAB. Por quê? Apesar de eficaz, possui muitos efeitos colaterais.

O resultado disso tudo é que tenho que fazer hemogramas mensais, dormir pelo menos 9 horas por dia e controlar o apetite, já que engordei uns 20 quilos (ainda bem que eu era magérrima antes de iniciar o tratamento). Sem falar na grana que gasto todo mês com remédios (caríssimos) e sessões de terapia.

Então... o meu leitor sugere em seu comentário que: (a) dependo dos remédios, (b) falta-me coragem para viver sem eles, (c) eu vivo chapada por conta do tratamento. Sem falar da sugestão de que o mundo não teria mais Faulkners ou Hemingways se todos os talentos resolvessem viver “chapados” com medicamentos indicados para os mais variados tipos de transtornos da mente.

Pois esclareço, e perdoem-me os leitores pelo o que será um desabafo, que o comentário transcrito acima foi inadequado, típico das pessoas que desconhecem, infelizmente, o que é o TAB, a depressão crônica, a esquizofrenia, a síndrome do pânico, TOC – transtorno obsessivo compulsivo ou que enxergam uma certa beleza na afirmação de que "viver é sofrer", de Arthur Schopenhauer.

Eu busquei coragem para admitir que tinha um problema mental e precisava de ajuda médica. O segundo passo da via crucis em “busca da minha coragem” (isso poderia ser título de um filme melodramático, não?) foi não desistir de procurar um médico decente que me diagnosticasse de modo preciso e correto. Isto levou uns 4 anos, já que fui tratada por quatro (!) psiquiatras diferentes e todos erraram no diagnóstico. O terceiro passo foi aceitar a internação numa clínica psiquiátrica, monitorada 24 horas por uma acompanhante (eufemismo para enfermeira fiscal), sem falar nas sessões ECT no Hospital da Clínicas. O quarto passo foi encarar meu tratamento atual, mesmo com todos os efeitos colaterais. E continuo aqui. Matando um leão por dia, porque é FODA tomar clozapina, sentir-se cansada e gorda, fazer terapia, bancar tudo isso que custa tão caro, não ter a compreensão de vários amigos e familiares que acham que o transtorno bipolar inexiste, que o TAB não passa de mera frescura ou um capricho meu.

É FODA também sentir a solidão diária de quem precisa acordar forte todos os dias, porque uma crise pode me tirar o emprego. É FODA o desalento de perceber que só eu, e mais ninguém, realmente sabe o que é uma crise de depressão severa, quando a dor de um corte profundo não é nada comparada ao desespero de querer sair daquela crise, da desesperança e da vontade de pular do 10º andar.

Será isso tudo condição para escrever como Faulkners, Hemingways, sem falar de Virginia Woolf, Tolstoy, Graham Greene, Ana Cristina Cesar? Não, definitivamente não. Todos eles e gênios como Van Gogh e Mozart sofriam de TAB. Não é necessário sentir uma profunda angústia por estar vivo para escrever sobre as dores de viver. Não é absolutamente necessário viver escrava das minhas oscilações bruscas de humor ou da minha estranha produção de neurotransmissores, para ver beleza no que é incerto e querer, sempre, dias mais densos.

Prefiro escrever posts medíocres e não publicar um conto genial ou um romance digno de nota. Prefiro não perder minha identidade recém recuperada, prefiro tomar mais aulas de otimismo. Prefiro trabalhar no que eu gosto com a regularidade que o mercado exige. Prefiro sim, ser parte do establishment. Prefiro, mil vezes, amar as pessoas sem chocá-las com idas ao pronto socorro, com palavras mordazes e injustas típicas da fase maníaca. Prefiro não morrer como Faulkner (morreu bêbado) ou Hemingway (cometeu suicídio). Prefiro escrever tudo isso aqui, saudável, em casa, na companhia de minhas duas golden retrievers. Prefiro ter capacidade de cuidar de minhas duas golden retrievers e de todas as pessoas que realmente são importantes para mim.

Para quem enxerga “nobreza na embriaguez” e “perda de autonomia” com a medicação, eu continuo minha via crucis, aquela da coragem, para dizer “você não sabe nada, meu caro”. E nem por isso eu sinto rancor de você e de tantas outras pessoas que, ao ouvirem de minha boca "sou bipolar e não vivo sem medicação”, franzem a testa. Escrever bem é uma arte. Controlar o que é aparentemente incontrolável é uma luta constante que, ao final, vale muito a pena. Posso dizer que entre mortos e feridos, cá estou.

Fim do texto. E não se fala mais nisso.

sábado, abril 14, 2007

Sensação de alívio

Depois de muito cogitar, hoje finalmente saí do Orkut. Como em tudo na vida, eu demoro a tomar uma decisão, mas depois que decido, raramente mudo de idéia. Não costumo tomar decisões precipitadas, embora elas até possam parecer precipitadas pra quem está de fora. Minhas decisões costumam ser reflexo de muito pensar.

É que o orkut já deu o que tinha que dar há tempos...fiz amizades maravilhosas por ali e sei que algumas delas irão me acompanhar por muitos anos. Porque cá entre nós, amizades verdadeiras independem de orkut pra sobreviver. Independem do tempo que passa e da distância que separa dois amigos. E as amizades que não sobreviverem o orkut, não eram amizades pra início de conversa. Meus amigos sabem onde me encontrar (inclusive aqui neste blog). No mais, meu telefone e e-mail continuam os mesmos.

Acredito que este processo começou no exato momento em que decidi me separar e ser feliz. Quando prometi a mim mesma não aceitar mais NADA que me faça infeliz. Finalmente estou aprendendo a me desfazer de coisas e pessoas que me fazem infeliz. Estou aprendendo o desapego. E a verdade é que o orkut não estava colaborando em nada para a minha felicidade. Não estava me acrescentando nada. Muita fofoca, intriga e disse-me-disse, como comentei em um post recente. E eu não preciso deste tipo de energia na minha vida.

Hoje me despeço de mais uma parte do meu passado que perdeu sua função...A vida muda e precisamos mudar com ela, deixá-la fluir. Nos últimos tempos me desfiz de um casamento infeliz e aproveitei para fazer uma faxina nas amizades...agora é a vez do orkut.

Só tenho uma coisa a dizer: que enorme sensação de alívio! No mais, é primavera, hoje é um lindo dia de sol e daqui a pouco sairei pra tomar umas cervejas com amigos. Viva a primavera, viva as 4 estações do ano. Que venham as mudanças, estar vivo é isso!

quarta-feira, abril 11, 2007

Cidadã do mundo

Sou paulistana da gema,
Gema preciosa
Essência multicor
Por onde flutuam
Pensamentos, palavras e sentimentos
Em línguas várias
Sou brasileira tupiniquim
Latina viviendo sin fronteras
Auslander/Foreigner/Estrangeira
Cidadã do mundo que gosta de ouvir
MPB, funk e jazz
Swissgrove Radio pela internete
De dançar ao som de bangra, raï,
Eletrônica and drum'n'bass
Ojos de Brujo, Femi Kuti
Amina, Cheb Mami
Home is where the heart is
So they say
Mas meu coração errante
Il est partout
São Paulo, Curitiba,
New York, Berkeley,
Salvador, Paris,
Berlim, Amsterdam
Quem sabe um dia
Dakar e Dehli.
Alma cigana que sonha em visitar o Mali,
Bamako de Salif Keita e Boubacar Traore
Mas que nem por isso se esquece de Caetano,
Chico, Gil, Milton, Lo Borges, Lenine
E de tantos mais.
Minha boca se enche d'água
Quando sinto o cheiro de samosas,
Naan e mango lassi,
Tandoori chicken, Sushi,
Pad-Thai, chiles rellenos,
Hummus, baba ganush,
Pita bread, pão de queijo
Moqueca de peixe, farofa,
Tutu de feijão, virado de couve,
Mandioca, escarola, agrião,
Doce de leite, beijinho,
Suco de maracujá, jabuticaba,
É fruta que não se acaba.
Minha certidão de nascimento diz
Que a minha cor é branca
Eu sempre achei isso muito mal contado
O lado português,
Tão vangloriado pelo meu pai,
Nunca enganou a minha avó materna:
Cara de índio, nariz chato,
Pele morena, cabelo assanhado.
Aqui renasço enquanto
"Person of color."
Já limpei casa com piscina
Cuidei de filho alheio,
Fiz coisas que
Faculdade nenhuma ensina
Camaleoa que sou
Vou me adaptando pela vida afora
Dependendo de onde estou.
Com filhos que são americanos,
Mas que também são brasileiros e alemães
Marido afro-deustch
Alemão com cara de brasileiro
Whatever that means
Filhos com sotaque de gringo
Para quem Saci, Maus,
Caipora e Nikolaus
Habitam o mesmo universo de
Dr. Seus, Tin Tin e Asterix
Minha vida é marcada
Por uma sucessão de adeuses:
Aeroportos e passaportes,
Abraços ao vento.
Mas também de boas-vindas:
Janelas abertas,
Portas por abrir,
Good wishes.
Saudade que nunca se finda.
Ainda assim
É em sendo estrangeira
Que adoto uma pátria
Onde cabe a humanidade inteira.
Uma pátria sem fronteiras
Onde cada um festeja
As cores de suas bandeiras
O resto são fragmentos da memória
Cheiros, sons, paisagens
Mais lã no novelo da minha história.
por Regina Camargo.

Adoraria ter sido a autora de palavras tão inspiradas...porque também sou cidadã do mundo e me identifiquei profundamente com quase tudo que ela soube resumir tão bem nesses versos. Moro há 13 anos na Holanda (mas já morei nos EUA, Irlanda e Escócia), fui casada com um inglês, meu filho tem dupla nacionalidade (brasileiro e britânico - embora nascido aqui em Amsterdam), falo duas ou três línguas diariamente, na minha cozinha tenho ingredientes holandeses, italianos e brasileiros (entre outros mais), sinto falta de guaraná, mas bebo cerveja belga e vinho italiano...sem falar que vez ou outra vou num Take Away e levo pra casa comida chinesa, indiana ou mesmo um roti do Suriname, dependendo do humor do dia...Last but not least, meu coração errante também está por toda parte: Rio de Janeiro, Amsterdam, Dublin, Paris e por aí vai.

Mothern

Ou as incríveis aventuras de 2 garotas que já pariram, como elas mesmo se descrevem. A descrição pode soar esquisita, mas o blog Mothern é uma grata surpresa - pelo menos pra mim que moro fora do Brasil, pois essas 2 mães modernas já viraram celebridade e têm até livro publicado e seriado de tv! Confiram o texto:

É difícil, sim. Cansa, sim. Dá trabalho, sim. Mas existem centenas de motivos para, ainda assim, valer a pena ser mothern. Aí vão alguns deles:

. para ser a pessoa mais importante na vida de uma criança;
. para ver seu corpo mudar de forma e gerar outra pessoa;
. para ficar horas na seção infantil da C&A;
. para ficar horas e horas na seção infantil da Zara;
. para deixar de ser criança;
. para descobrir que a sua capacidade de amar é muito maior do que você imagina;
. para entender melhor a sua mãe;
. para ouvir alguém te chamar de mãe;
. para ver de perto uma criança crescendo;
. para ficar mais generosa;
. para ter um motivo pra escorregar no toboágua;
. para o seu casamento passar por uma prova de fogo;
. para mudar de prioridades;
. para comprar o enxoval;
. para escolher o nome;
. para ver alguém bem parecido com você;
. para descobrir seus dotes de cantora, atriz e fotógrafa;
. para alterar completamente seu relógio biológico;
. para não passar o domingo vendo televisão;
. para pagar menos no seguro do carro;
. para parar de se preocupar com a arrumação da casa;
. para ver seu peito dar leite;
. para viver a experiência de quem pôs silicone, sem passar pelo bisturi;
. para encher a casa;
. para parar de encher a cara;
. para catar piolho;
. para ir ao zoológico;
. para aprender o que é molusco e exantema súbito;
. para entender de futebol;
. para voltar a brincar de boneca;
. para se interessar por pedagogia;
. para fazer novos amigos;
. para entender melhor este blog;
. para conhecer a pessoa mais linda que você já viu no mundo;
. para aumentar o número de pessoas fofas no mundo.


PS. A foto que ilustra este post é da fotógrafa americana Julie Blackmon.

terça-feira, abril 10, 2007

Guia politicamente correto para as mães

Não poderemos mais chamar uma criança de bicho-do-mato? o que acontecerá se falarmos que um neném é feio? conheça o glossário PC para mães modernas.

Parece que está na moda falar mal das atitudes e termos politicamente corretos. Achamos que temos que ser corretas, sim, em algumas coisas. Do tipo: não dá pra ficar falando mal de mulher, de negro, de pobre, de gordo, de deficiente ou de anão assim, gratuitamente, como se essas pessoas não fossem pessoas. Ou como se fossem piores do que a gente. Ou como se todo mundo pudesse escolher o que quer ser. Mas concordamos que a tal da correção política às vezes passa dos limites. Vamos supor que a vida da mãe moderna tenha que ser sempre politicamente correta e alguns termos mudem. Para isso, segue uma amostra do que seria um “Pequeno Dicionário Politiquês Mothern”. Esta lista também pode ser lida como um manual para não ofender mães corujas (ou melhor, mulheres com exagerado orgulho e sensibilidade maternal):

Neném feio: recém-nascido de atributos físicos discutíveis
Birra: manifestação infantil nos limites do controle
Menino babão: rebento salivantemente ativo
Menina bicho-do-mato: criança de sociabilidade particular
Criança pentelha: indivíduo com precoces habilidades irritativas
Mãe superprotetora: mulher de acurado zelo com a prole
Mãe ausente: mulher de interesses externos múltiplos
Criança enjoada: criança com especificidades alimentares
Sogra mala: agregada conjugal com tendência à hiperinterferência
Capeta: criança com impulsos semiterroristas
Filme de apresentadora debilóide: produto audiovisual de qualidade questionável para o público infantil
Aprendiz de peruinha: criança do sexo feminino com vaidade exacerbada
Bagunça: ambiente pleno de vida infantil saudável

por Juliana Sampaio e Laura Guimarães, publicado aqui.

Livro aberto?

Não, obrigada. Fuçando blogs alheios, descobri que minha vida não é um livro tão aberto assim...e que algumas páginas certamente estão coladas e assim permanecerão, rsrsrsrs. Me dei conta de que, a essas alturas do campeonato - não sou mais uma adolescente - não quero mesmo que a minha vida seja um livro aberto. Eu costumava falar e desfalar o que me viesse pela cabeça. E considerava isso uma grande qualidade, a franqueza era um dos meus maiores trunfos. E enquanto a grande maioria se ocupava em falar da vida dos outros, eu falava era da minha vida mesmo!

Mas chega uma hora que a gente cresce e perde a ilusão de que pode falar o que bem entende. Ou a gente aprende a viver com as consequências de falar o que bem entende. Porque o mundo está repleto de pessoas e suas interpretações (que muitas vezes não correspondem em nada com o que foi dito ou escrito). E porque quanto mais a gente explica, menos os outros entendem. E finalmente, porque a gente não precisa se explicar para os amigos pois eles sabem muito bem como somos (e felizmente nos aceitam assim mesmo).

Acima de tudo, não devemos falar de nossos problemas. Porque sempre que falei dos meus problemas, não apenas não resolvi nada como afastei pessoas. Porque problemas sempre afastam as pessoas, disso vocês podem ter certeza! Pode-se falar de tudo (principalmente da vida dos outros). Pode-se até falar o tempo todo, desde que se fale de amenidades e de coisas agradáveis - problemas, não. Porque problemas não são interessantes, apesar de todos terem problemas (ou justamente por isso).

Não obstante, noto que os blogs se tornaram uma espécie de confessionário do séc. XXI. Muitas pessoas ainda têm a ilusão (eu perdi a minha) de que o blog é um espaço pessoal e todo seu...mas isso não existe em se tratando de espaços públicos como a Internet. E eu confesso que nunca mais serei a mesma pessoa depois do orkut. Porque no orkut aprendi - a duras penas - que não se pode falar o que se pensa. E entendi o que é um espaço público. The end of innocence.

De resto, desisti de tentar me explicar para as pessoas, mas fica a eterna necessidade de me explicar para mim mesma...e é por isso que escrevo.

segunda-feira, abril 09, 2007

Mais uma pérola do mundo dos blogs

Eu juro que nem desconfiava da imensidão que é o mundo dos blogs, novata que sou neste universo de iniciados. E volta e meia me surpreendo com textos excelentes, de qualidade acima da média. Emoções à flor da pele, divagações, muitas perguntas e algumas respostas. Dúvidas, questionamentos, dores de crescimento, dores simplesmente. Esta moça aqui debaixo começou postando suas aventuras e confissões em um blog em 2002 e já lançou uns dois livros. Muito, mas muito legal mesmo.

eu sei.
eu sei que não era para eu ser assim.
eu sei que eu devia estar tomando as doses nas horas certas.
eu sei que eu devia estar dormindo boas noites de sono
e que eu devia fumar menos e escovar os dentes com pasta para gengivas sensíveis
e beber menos
e amar menos
e esperar menos
e me jogar menos quando alguém me abre os braços
e falar menos,
eu sei que eu devia falar menos
e perambular menos na rua sozinha depois que todo mundo já foi embora
e parar de falar sozinha enquanto chuto alguma coisa no chão
e parar de cantar aquela música também
parar, eu devia parar
e pensar menos
menos, menos, menos
menos.
mas eu não consigo.
eu já tentei
mas eu não sei viver
menos.

by Clarah Averbuck

sexta-feira, abril 06, 2007

O que me faz feliz

O sol, a lua cheia, o mar. A primavera, canteiros floridos. Ler um bom livro, dormir até tarde, ficar à toa. Um chalé na montanha, cheiro de mato, cheiro de chuva. Deitar debaixo das cobertas e ouvir as gotas de chuva no telhado. Ler e reler meus poetas favoritos num dia de chuva. Matar as saudades de um amigo que não via há tempos. Um bate-papo descontraído com alguém especial, um dia no zoológico ou uma matiné com meu filho. Uma caminhada pelos canais de Amsterdã, esquecer o tempo em uma livraria, ouvir música. Tomar chocolate quente no inverno, beber vinho rosé no verão. Um cappucino acompanhado de torta de maçã em um dos muitos cafés da cidade. A Fantástica Fábrica de Chocolate e O Mágico de Oz, assistir filmes infantis e voltar a ser criança. Um certo seriado de tv. Um bom filme que me faça rir e chorar ao mesmo tempo. Viajar para bem longe ou para bem perto, de trem, avião ou navio - viajar simplesmente.

Assistir desenho animado, brincar de LEGO e Playmobil com meu filho. Sorvete de pistachio e pipoca caseira. Rir até chorar...ou chorar até passar a vontade pra então sorrir com o coração mais leve. Fotografias, álbuns de fotos. Lugares, pessoas, lembranças especiais. Mas se eu tivesse de escolher uma coisa neste mundo que me faz feliz? Meu filho, sem dúvida. Sem ele, a minha vida não teria a menor graça. Porque a minha felicidade tem nome - ela se chama Liam.

quinta-feira, abril 05, 2007

Para quem gosta de fotografia





Adoro fotografia de um modo geral, e fotografia artística em particular. Outro dia descobri o site de uma fotógrafa americana maravilhosa, com um estilo próprio e visão muito especial. A série entitulada Domestic Vacations tem um quê de Desperate Housewifes e é muito, muito interessante. Retratos da vida cotidiana, com toda sua poesia e loucura. Quem quiser conferir, está aqui.

Tarde de sol no Nieuwmarkt


Ontem passei uma tarde agradável com um casal de amigos mineiros aqui em Amsterdam. São amigos muito queridos e a casa deles é praticamente a minha segunda casa! Aproveitamos a tarde ensolarada de primavera para degustarmos umas cervejas belgas: Trappist e La Chouffe. E eu, como de costume (sou uma pessoa de hábitos), sugeri um dos cafés do Nieuwmarkt, um dos bairros mais antigos e animados da cidade. Nieuwmarkt é o nome da praça repleta de cafés e muito frequentada por locais e turistas, logo atrás do famoso bairro das prostitutas, o Red Light District (que sinceramente nunca achei grande coisa...). Após alguma espera, conseguimos uma mesa ao sol no café In De Waag (fotos acima). Para os desavisados, não se trata de um castelo e sim de um dos monumentos mais antigos da cidade, construído em 1488 (quando o Brasil ainda nem havia sido descoberto). Era ali que os mercantilistas holandeses pesavam (waag significa balança) e vendiam suas mercadorias trazidas das Índias (seda, especiarias, etc).

Pra terminar, e porque logo ali atrás também fica o bairro Chinatown, acabamos jantando num dos inúmeros restaurantes chineses da Zeedijk. Comida boa e barata (sai mais em conta do que cozinhar em casa). Ainda voltamos pra casa dela pra conversar mais um pouco. E eu fui pra casa feliz e decidida a gastar minha energia apenas com os amigos e as pessoas importantes na minha vida. Porque é primavera. E porque a vida é curta!

segunda-feira, abril 02, 2007

Less is More

Estou em estado de choque. Não devia mas estou. Estou impressionada com as intrigas, barracos e disse-me-disse do orkut (sorte de quem nunca presenciou um). Eu sempre achei que o orkut era um instrumento para se conhecer pessoas, aumentar o círculo de amizades. Mas nos meus dois anos de orkut, o que mais vi foi exatamente o contrário. Cada vez mais pessoas se estranham, se incomodam e saem do orkut pra nunca mais voltar. Conheço algumas dessas estórias (e não são poucas). O que deveria ser um instrumento de comunicação entre as pessoas acabou se tornando um instrumento de intrigas e desentendimentos. E novamente, o homem demonstra não saber fazer bom uso de um instrumento.

Eu acho tudo uma pena...porque não era isso que eu queria, não era isso que nenhum de nós queria. E pior, com o passar do tempo o orkut não apenas não amplia sua rede de contatos como pode até restringi-la (um dia talvez você entenda o que eu quero dizer). Aproveito para contar a minha experiência, que muitos talvez tenham vivido na pele. Você se desentende com A e perde não um amigo, mas 3 ou 4 amigos. Porque B, C e D são amigos de A e portanto não podem mais ser seus amigos. Sim, existe um código de conduta no orkut (esdrúxulo mas existe). Falando assim parece brincadeira mas juro que não é. As pessoas tomam partido, e ninguém quer saber o que realmente aconteceu, o que conta é o interminável disse-me-disse...E um desentendimento que era pra ser entre fulano e ciclano acaba tomando proporções inimagináveis (e não, não estou delirando). O ser humano é isso. E conversando outro dia com uma amiga, chegamos à conclusão de que o orkut cansa. Porque intriga cansa. Maledicência cansa.

Mas aprendi uma lição importante nessa estória toda: quem era meu amigo mesmo continua sendo, porque estas pessoas me conhecem e sabem distinguir perfeitamente entre a verdade e o disse-me-disse. Quem não era meu amigo, nunca será (e no final das contas, não faz diferença).

E agora é tocar pra frente e deixar as mágoas de lado. Com o consolo de que meus amigos sempre souberam quem eu sou. Só que eu paguei o preço por não jogar conforme as regras. Porque não sei ser falsa, não sei me fingir de morta, não sei sair de fininho sem bater a porta...Se eu fosse mais diplomática, hoje estaria cheia de amigos no orkut. Não é o caso. E sabem de uma coisa? Prefiro assim: LESS IS MORE.

domingo, abril 01, 2007

Mensagem de Chico Xavier



Nasceste no lar que precisavas,
Vestiste o corpo físico que merecias,
Moras onde melhor Deus te proporcionou,
De acordo com teu adiantamento.
Possuis os recursos financeiros coerentes
Com as tuas necessidades, nem mais,
nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas.
Teu ambiente de trabalho é o que elegeste
espontaneamente para a tua realização.
Teus parentes e amigos são as almas que atraíste,
com tua própria afinidade.
Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle.
Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais,
buscas, expulsas, modificas tudo aquilo
que te rodeia a existência.
Teus pensamentos e vontade são a chave de teus atos e atitudes...
São as fontes de atração e repulsão na tua jornada vivência.
Não reclames nem te faças de vítima.
Antes de tudo, analisa e observa.
A mudança está em tuas mãos.
Reprograma tua meta,
Busca o bem e viverás melhor.
Embora ninguém possa voltar atrás e
fazer um novo começo,
Qualquer um pode começar agora
e fazer um novo fim.


Foto: Castlerigg Stone Circle, Cumbria, UK. Conheci este belo sítio arqueológico quando acampei alguns dias no Lake District. A região toda é encantadora, um dos lugares mágicos da Inglaterra e da Europa.
Tecnologia do Blogger.

Happy Birthday Liam

Ontem foi aniversário da pessoa mais importante da minha vida: o Liam! Ele completou 7 anos num lindo dia de primavera. Aproveitamos os dias maravilhosos que têm feito por aqui para comemorar ao ar livre, num parque perto da casa do pai dele (que mora no mesmo bairro que eu aqui em Amsterdam). A festa até que começou na casa do pai, mas com 8 meninos bagunceiros correndo pra lá e pra cá, logo fomos pro parque brincar...

A foto aqui do lado foi tirada exatamente há 1 ano por um grande amigo em Paris (Liam comemorou seus 6 anos na Torre Eiffel!). Escolhi essa foto porque ela retrata muito bem o temperamento sapeca do Liam: um menino alegre, falante (pra não dizer tagarela) e cheio de caras e bocas! O aniversário pode até ser dele - mas o maior presente quem ganhou neste dia fui eu!

Coisas de Holanda

Ando pensando, lendo jornais, e pensando mais um pouco. E cheguei à conclusão que no dia em que começar a escrever sobre o que realmente acontece aqui na Holanda, não vou parar de escrever nunca mais! Ou vou escrever tanto, mas tanto, que vou acabar criando outro blog: Coisas de Holanda (não deixa de ser uma idéia). É que vivo em um país de contradições cada vez maiores e cuja imagem lá fora pouco ou nada corresponde à realidade daqueles que vivem aqui. Inevitavelmente, têm dias em que eu acordo e penso: hora de desmistificar o país - depois de 13 anos morando aqui, a gente adquire um pouco este direito.

Pra começar, queria deixar bem claro que a Holanda não é o paraíso (embora também não seja o pior lugar do mundo pra se viver). E se alguém por aí tiver descoberto onde o paraíso fica, favor me avisar!!! Moro na Holanda há 13 anos mas já morei nos EUA, Irlanda, Escócia, fui casada com inglês e carrego em mim um pouco de 3 culturas: a brasileira, a inglesa (tempos atrás uma amiga até me apelidou de Dona Inglesa, rsrsrs) e a holandesa. Nem mais, nem menos. Uma posição de certa forma privilegiada, porque tenho o distanciamento necessário para ver os problemas do Brasil (por não estar mais inserida naquela luta diária). E ao mesmo tempo uma posição bastante delicada, porque sempre continuarei sendo estrangeira...aqui sou a brasileira e na minha última visita ao Brasil há 8 anos - nem ouso imaginar como seria agora - meus amigos disseram que eu estava virando européia (e com certeza virei mesmo, em alguns aspectos). Em suma, quem mora fora sabe muito bem do que estou falando.

Só sei dizer que desde que moro na Holanda as coisas mudaram...e muito. E com as mudanças, foram-se grande parte das ilusões que eu tinha quando cheguei por aqui. Claro que não vou cometer o erro de querer comparar os problemas daqui com os do Brasil - teria de ser muito tola (ou burra) para isso! Mas bem ou mal, não deixam de ser problemas, e eles estão cada vez mais fora de controle dos líderes governamentais. Tanto na Holanda, como em países vizinhos como Alemanha e França. E você não precisa ser muito inteligente pra ver que um dia a bomba explode...não, não estou falando do terrorismo (assunto número 1 nos EUA) e sim do maior problema que a Comunidade Européia é obrigada a enfrentar todos os dias em suas cidades. Estou falando da questão da imigração, que já rendeu (e ainda irá render) inúmeros livros, teses e filmes (entre eles, Babel).

Um assunto complexo mas, por mais irônico que possa parecer, quem começou essa estória foram os próprios europeus, que não pensaram duas vezes ao importar mão-de-obra barata (e analfabeta) da Turquia e do Marrocos nos anos 60 e 70. Esses imigrantes (chamados de gastarbeiders aqui na Holanda) foram fundamentais na reconstrução dos países após a Segunda Guerra Mundial e mais tarde, na indústria pesada. Mas a idéia original (santa ingenuidade) do governo holandês (francês, alemão) era que retornassem a seus países para continuar vivendo suas vidas miseráveis...Lêdo engano: três gerações e mais de 40 anos depois, a Europa ainda está lidando com as consequências dessa escolha. A cada dia, em cada centro urbano.

Uma das consequências imediatas é o aumento da xenofobia (principalmente depois de 9-11, needless to say). A Holanda, que era um dos países com leis de imigração mais liberais na Europa hoje tem algumas das legislações mais rígidas. E um partido de extrema-direita que não fica devendo nada a partidos como o Front Nationale (França) e o Vlaams Belang, antigo Vlaams Blok (Bélgica). Um dos primores dessa nova legislação é que, quem quiser vir morar aqui deverá antes passar em um exame da língua holandesa no seu país de origem. Ou seja, nada de chegar aqui sem falar holandês (e olha que a língua não é das mais fáceis).

Mas o ser humano é assim e no final das contas, alguém tem de levar a culpa pelos problemas socioeconômicos do país. E a história mostrou várias vezes (basta lembrar do Holocausto) que o bode expiatório sempre foi e continuará sendo o mais fraco - neste caso, os imigrantes em particular e os estrangeiros em geral. Mas eu continuo o assunto em outro post porque só de pensar fiquei cansada! Aguardem cenas dos próximos capítulos...

Que mais há a dizer?



Dizes-me: tu és mais alguma coisa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas:
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra»,
Digo da planta, «é uma planta»,
Digo de mim «sou eu».
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
(Alberto Caeiro)

PS. Vista de Buttermere, Lake District...amo este lugar de paixão!

Mais bicharada!

Sei que isso aqui está ficando meio repetitivo, mas não tenho culpa se tenho em casa um menino de 6 anos fissurado em bichos! Sábado fomos eu e Liam pela primeira vez ao Dierenpark Amersfoort, um zoológico muito bacana a cerca de 45 minutos de trem de Amsterdam. O parque é maior do que eu imaginava e com animais que não estamos acostumados a ver aqui no Artis, como os ursos e as (antipáticas) hienas. Muitos espaços abertos e cercado por bosques, áreas de recreação enormes e até uma área devotada à Antiguidade (com direito a ruínas e arena romana). E um trenzinho irresistível que faz a alegria da garotada em um tour de 5 minutos por uma parte do parque...Liam foi duas vezes e ainda queria ir de novo (como se não bastasse ter ido e voltado de trem, hehehe).

Liam amou o passeio e já estamos planejando voltar lá em junho para a abertura do Dinobos (Bosque dos Dinossauros). O bosque terá mais de 40 réplicas enormes e promete levar o público de volta à Era Jurássica, para delírio da criançada - delírio mesmo, acreditem! Quanto a mim, confesso que um passeio como estes num lindo dia de primavera - temperaturas de acordo com a estação, cerca de 18 graus e muito sol - melhora o humor de qualquer um.

Pena que um programa deste tipo costuma custar caro...mas que vale a pena, isso vale! O jeito é economizar, né? Até porque, estou planejando uma visita ao Dolfinarium, que sonho conhecer desde antes de ter tido meu filho...Uma das atrações mais caras da Holanda, mas como EU sou apaixonada por golfinhos vou dar um jeito de visitá-los (ainda) neste verão. E como filho de peixe peixinho é, Liam também gosta de golfinhos - embora a grande paixão dele sejam as baleias e os tubarões!

Columbine, mais uma vez...

Mais uma vez, os EUA foram ontem manchete dos principais jornais em todo o mundo. Foi o maior massacre ocorrido dentro de uma instituição de ensino americana, com o total de mortos chegando a 33, entre estudantes e professores (incluindo o rapaz que atirou várias vezes e depois se matou). Até o momento, pouco se sabe sobre os motivos do rapaz de origem asiática (Coréia do Sul) que havia se mudado para os EUA com 8 anos de idade. Tinha 23 anos e cursava Inglês na faculdade, um rapaz calado e reservado, de quem pouco se sabia...Não obstante, alguns professores de redação já haviam comentado sobre os textos nebulosos do estudante e haviam até mesmo aconselhado atendimento psicológico. Atendimento psicológico ou não, um dia o rapaz compra uma arma de fogo - nos EUA existem mais lojas vendendo armas do que postos de gasolina - e sabe-se lá porque cargas d´água, decide sair atirando no campus de uma universidade - desta vez a Virginia Tech, no estado de Washington.

O que inevitavelmente nos remete a filmes recentes como Bowling for Columbine (Michael Moore, 2002) e Elephant (Gus van Sant, 2003). Pensando bem, em um país que não apenas autoriza como incentiva a posse de armas - e consequentemente a justiça pelas próprias mãos - não chega a surpreender quando o feitiço vira contra o feiticeiro. Aconteceu uma vez, duas vezes e ontem mais uma vez. Como bem disse uma amiga no blog dela: pára o mundo que eu quero descer!

Bicharada

Dessa vez vou falar dos filmes do meu filho. Como filho de cinéfila que é, do alto de seus quase 7 anos Liam já assistiu uma quantidade razoável de filmes infantis. E eu aproveitei pra rever alguns favoritos da minha infância, a começar pelos Clássicos da Disney - parada obrigatória ao apresentar uma criança ao mundo do cinema (o guri sabia o nome de todos os personagens quando fomos ano passado à Disneyland). Juntos assistimos também praticamente todos os filmes da Pixar como Monster and Co., Toy Story 1 e 2, Finding Nemo e o mais recente e favorito, Cars. Outros que fizeram um sucesso estrondoso aqui em casa foram Madagascar, Over the Edge e Ice Age 1 e 2 - filmes que, diga-se de passagem, são diversão garantida para crianças e adultos. No cinema ainda: Brother Bear, Chicken Little, The Wild, Flushed Away, Happy Feet e seus adoráveis pinguins dançantes.

E isso que nem falei dos filmes de aventura que assistimos repetidas vezes em casa, como Beethoven (o cão São Bernardo mais família que já apareceu nas telas do cinema), The Incredible Journey (com dois cachorros e a gata Sissi) e Free Willy (Liam ama baleias e desnecessário dizer, adora este filme). E só não assistimos Lassie porque eu não deixei: chorava aos baldes quando criança ao assistir as aventuras e desventuras da pobre cadelinha...Haja coração!

Em suma: é bicharada que não acaba mais! O que não chega a surpreender se juntarmos minha paixão pelo cinema e a paixão do menino pelos bichos! Mas fala sério...tem coisa melhor do que um bom filme infantil? Só mesmo um bom filme infantil com um balde de pipoca caseira, feita na hora!

PS. As mamães do Brasil me desculpem mas não tenho a menor idéia de como traduziram os títulos destes filmes por aí...Juro que não é esnobismo, é ignorância mesmo!

Lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

por Clarice Lispector

Cidade maravilhosa

Não, não estou falando do Rio de Janeiro, me desculpem os cariocas! Mas Amsterdam se transforma em uma das cidades mais belas da Europa em um dia de sol como hoje - juro que não fica devendo quase nada a Paris (e olha que eu amo Paris). Se ontem fomos agraciados com 25 graus, hoje as temperaturas na cidade chegaram a 30 graus - mais verão do que primavera, diga-se de passagem.

É claro que quem mora no Brasil não faz idéia do que um dia como o de hoje faz com as pessoas. Movimento nas ruas e canais da cidade, Mercado das Flores repleto de flores e mais ainda de turistas - acima de tudo franceses, ingleses e espanhóis. Ciclovias entupidas, canais lotados de barcos lotados de gente. Muita cerveja e refrigerantes servidos ininterruptamente em terraços ao ar livre. Filas de gente nas principais sorveterias da cidade: Haagen Dazs, Ben&Jerry e Australian Ice Cream sem dúvida tiveram recordes de vendas hoje à tarde - confesso que eu mesma não resisti à tentação gelada!

Muita mini-saia, vestidos leves, shorts e camisetas de alça fininha. Sandálias, chinelos de dedo - nossas Havaianas reinando soberanas nas calçadas ensolaradas. Sol, calor e a cidade se transforma diante dos seus olhos. Seres antes taciturnos e introvertidos se transmutam em seres solares e extrovertidos, deixando de lado a timidez que os acompanhou nos meses de inverno e sorriem subitamente na rua. Deus pode até ser brasileiro...mas hoje ele abençoou os holandeses!

PS. Segundo as previsões meteorológicas para a semana, as temperaturas caem nos próximos dias...De qualquer forma, a primavera está no ar e o verão promete!

Cafeína

Confesso que peguei o hábito de fuxicar os blogs alheios...e outro dia me deparei com mais um blog interessante, o Cafeína. Pra variar, não resisti e decidi colocar um texto dele aqui. O melhor de tudo foi descobrir mais uma vez que, como ele, existem outros por aí assegurando a qualidade deste universo tão amplo e surpreendente que é o universo dos blogs (eu, que peguei o bonde andando e nem sabia que a coisa era tão séria). Agora confiram a ironia do rapaz (achei o texto muito perspicaz):

É tão bonito a gente ser feliz. Viver no escuro às vezes também não é má idéia. Pode se passar a vida inteira sem se ter noção das incapacidades, limitações e defeitos e, ainda assim e especialmente por isso, ser incondicionalmente feliz. Que fácil olhar para o outro e dizer "é culpa sua, agora te vira". Pronto. Mãos lavadinhas, alma tranqüila, sono bom. Dá até tempo de pensar na roupa esperando por ser estendida no varal, no bar aquele que você ainda não foi porque estava com a cabeça cheia de preocupações (que, obviamente, eram responsabilidade do outro e não sua, porque você não tem problemas), por que não?

Então tudo bem. Tudo são escolhas, simples assim. A pessoa que escolhe se envolver com um traste que lhe bate na cara, judia, tortura, estava procurando um pouco de drama na vida, uma justificativa para sair de vítima, ó, coitadinha. Que dó. Viu só? Até ela, com o roxão no olho e mancando de uma perna, se deu bem. Estão os amigos, família, vizinhos, prestando solidariedade e atenção à sua volta. "Tia, conta de novo do dia em que ele tentou te esgoelar, eu adoro aquela parte!" "Tá bom, mas depois desta você vai dormir, que já é tarde."

Ah, como a gente escolhe, né não? A gente escolhe se envolver quando tem vontade e, quando não tem, sai bem feliz com os amigos, bebe, brinca e come nos lugares da moda, vestindo a última. A gente só ouve música que os pobres mortais vão conhecer pela FM daqui a um ano, a gente já viu tudo, faz cara de blasé para tendências da hora, a gente não liga no dia seguinte, se assim nos apetecer, porque o problema está nos outros, esqueceu? A gente não tem tempo para a carência dos outros. A gente quer mesmo é academia 24 horas, porque pra ficar lindo não tem hora, e malhar com nossos ipod, porque quem ipod, pode. Pode tudo. Tríceps, bíceps, coxa e panturrilha. Ai, meus Nike Shox! Aquilo na sola não é amortecedor, minha gente, é a catapulta que vai nos arremessar além. 600 reais por um tênis-catapulta é uma barganha!

Que bom, leitor amigo, se você sabe das coisas. Fica tudo mais fácil. Sabe onde é o norte e onde é sul, não se perde nunca. A bússola é você. Os outros? Ah, sigam-me os bons, pros mais ou menos eu não tenho paciência. Porque saber mais ou menos não adianta, né? Aliás, fazer nada mais ou menos adianta. A gente recicla (latinhas, plástico, papel), assiste documentários nos espaços culturais, toma café com publicitários, advogados, jornalistas, pula de pára-quedas. A gente, nós modernos, os filhos da nova república, com nossos segundos cadernos, não estamos aí para brincadeira. Somos de esquerda, mesmo a esquerda sendo direita. A gente lê Maiakovski e assiste ao Big Brother. Em pay-per-view, que a gente pode!

Mas, um belo dia, resolvem acender a luz e a gente vê quê. Daí não tem mais volta.

E não se fala mais nisso

O texto a seguir - que achei em andança recente pelo universo dos blogs - descreve muito bem a bipolaridade, uma das doenças mais faladas da atualidade e que infelizmente virou moda em alguns círculos (como se a bipolaridade fosse opção ou estilo de vida pessoal e não herança genética). Dito isso, quem não quiser ler este post, é só sair! Blog afinal é isso: a gente escreve, lê quem quer. Segue o texto da menina:


Decidi, algum tempo atrás, que evitaria escrever sobre o transtorno afetivo bipolar (TAB, a.k.a. psicose maníaco-depressiva), sobre as crises alternadas de depressão e euforia, efeitos colaterais do tratamento, yada yada yada.

Porém, o comentário de um leitor sobre meu post que trata de sobrevivência (sem nenhum cunho sociológico ou pretensões variadas), me fez pensar que seria necessário esclarecer alguns aspectos do tal transtorno. Reproduzo, a seguir, o trecho do comentário de 03.03.2007 que deu origem a este post.

"(...) Gosto da sua coragem de admitir seu transtorno bipolar, embora acredite que mais coragem é viver sem medicação, afinal se todo mundo vivesse chapado nunca teríamos Faulkner, Hemingway(tudo bem que eles bebiam bastante, mas existe uma certa nobreza na embriaguez, na medicação apenas um indivíduo abrindo mão da sua autonomia, mas esse papo fica para uma outra oportunidade) (...)."

Vamos lá. O transtorno bipolar é uma doença que, como qualquer outra, precisa ser corretamente diagnosticada e tratada com medicamentos. É uma doença mental? É. O cérebro produz de forma atípica alguns neurotransmissores fundamentais para nossa saúde mental. O motivo? Ainda não se sabe com precisão. É genético? Os estudiosos entendem que sim. Pode incapacitar a pessoa de exercer suas atividades rotineiras? Quem sofre de TAB é retardado? Não.

Mas o pior de tudo é: não há cura para o TAB, apenas controle. Tal qual uma diabete, que precisa ser controlada com injeções de insulina.

Existe ainda um grande preconceito ou uma total ignorância sobre o que é o TAB e seus efeitos e sintomas, que podem ser devastadores. O paciente de TAB, se mal diagnosticado ou submetido a tratamentos incorretos, pode torrar todo o seu patrimônio em incríveis três semanas, trabalhar por 48 horas seguidas sem se cansar, emprestar as cuecas para o pior dos amigos ou, no outro extremo, ficar impossibilitado de trabalhar, parar de comer por dias e dias, não tomar banho por semanas, não falar com absolutamente ninguém, chorar até cansar e, falando um português bem claro, o paciente de TAB pode cometer suicídio.

Dito isso tudo aí em cima, posso dizer que eu sofro de um tipo de transtorno bipolar mais ou menos incomum: sou TAB com ciclagens ultra rápidas (ou seja, meu humor oscila muito mais vezes em um certo intervalo de tempo, se comparado ao humor dos bipolares “clássicos”). Isso quer dizer que o tratamento convencional, à base de lítio, não funcionou comigo. Tentei algumas combinações de medicamentos, fiquei internada dois meses em uma clínica psiquiátrica, fui submetida a várias sessões de ECT (eletroconvulsoterapia - eletrochoques, para ser mais clara), tudo para evitar o tratamento mais indicado para o meu tipo de TAB. Por quê? Apesar de eficaz, possui muitos efeitos colaterais.

O resultado disso tudo é que tenho que fazer hemogramas mensais, dormir pelo menos 9 horas por dia e controlar o apetite, já que engordei uns 20 quilos (ainda bem que eu era magérrima antes de iniciar o tratamento). Sem falar na grana que gasto todo mês com remédios (caríssimos) e sessões de terapia.

Então... o meu leitor sugere em seu comentário que: (a) dependo dos remédios, (b) falta-me coragem para viver sem eles, (c) eu vivo chapada por conta do tratamento. Sem falar da sugestão de que o mundo não teria mais Faulkners ou Hemingways se todos os talentos resolvessem viver “chapados” com medicamentos indicados para os mais variados tipos de transtornos da mente.

Pois esclareço, e perdoem-me os leitores pelo o que será um desabafo, que o comentário transcrito acima foi inadequado, típico das pessoas que desconhecem, infelizmente, o que é o TAB, a depressão crônica, a esquizofrenia, a síndrome do pânico, TOC – transtorno obsessivo compulsivo ou que enxergam uma certa beleza na afirmação de que "viver é sofrer", de Arthur Schopenhauer.

Eu busquei coragem para admitir que tinha um problema mental e precisava de ajuda médica. O segundo passo da via crucis em “busca da minha coragem” (isso poderia ser título de um filme melodramático, não?) foi não desistir de procurar um médico decente que me diagnosticasse de modo preciso e correto. Isto levou uns 4 anos, já que fui tratada por quatro (!) psiquiatras diferentes e todos erraram no diagnóstico. O terceiro passo foi aceitar a internação numa clínica psiquiátrica, monitorada 24 horas por uma acompanhante (eufemismo para enfermeira fiscal), sem falar nas sessões ECT no Hospital da Clínicas. O quarto passo foi encarar meu tratamento atual, mesmo com todos os efeitos colaterais. E continuo aqui. Matando um leão por dia, porque é FODA tomar clozapina, sentir-se cansada e gorda, fazer terapia, bancar tudo isso que custa tão caro, não ter a compreensão de vários amigos e familiares que acham que o transtorno bipolar inexiste, que o TAB não passa de mera frescura ou um capricho meu.

É FODA também sentir a solidão diária de quem precisa acordar forte todos os dias, porque uma crise pode me tirar o emprego. É FODA o desalento de perceber que só eu, e mais ninguém, realmente sabe o que é uma crise de depressão severa, quando a dor de um corte profundo não é nada comparada ao desespero de querer sair daquela crise, da desesperança e da vontade de pular do 10º andar.

Será isso tudo condição para escrever como Faulkners, Hemingways, sem falar de Virginia Woolf, Tolstoy, Graham Greene, Ana Cristina Cesar? Não, definitivamente não. Todos eles e gênios como Van Gogh e Mozart sofriam de TAB. Não é necessário sentir uma profunda angústia por estar vivo para escrever sobre as dores de viver. Não é absolutamente necessário viver escrava das minhas oscilações bruscas de humor ou da minha estranha produção de neurotransmissores, para ver beleza no que é incerto e querer, sempre, dias mais densos.

Prefiro escrever posts medíocres e não publicar um conto genial ou um romance digno de nota. Prefiro não perder minha identidade recém recuperada, prefiro tomar mais aulas de otimismo. Prefiro trabalhar no que eu gosto com a regularidade que o mercado exige. Prefiro sim, ser parte do establishment. Prefiro, mil vezes, amar as pessoas sem chocá-las com idas ao pronto socorro, com palavras mordazes e injustas típicas da fase maníaca. Prefiro não morrer como Faulkner (morreu bêbado) ou Hemingway (cometeu suicídio). Prefiro escrever tudo isso aqui, saudável, em casa, na companhia de minhas duas golden retrievers. Prefiro ter capacidade de cuidar de minhas duas golden retrievers e de todas as pessoas que realmente são importantes para mim.

Para quem enxerga “nobreza na embriaguez” e “perda de autonomia” com a medicação, eu continuo minha via crucis, aquela da coragem, para dizer “você não sabe nada, meu caro”. E nem por isso eu sinto rancor de você e de tantas outras pessoas que, ao ouvirem de minha boca "sou bipolar e não vivo sem medicação”, franzem a testa. Escrever bem é uma arte. Controlar o que é aparentemente incontrolável é uma luta constante que, ao final, vale muito a pena. Posso dizer que entre mortos e feridos, cá estou.

Fim do texto. E não se fala mais nisso.

Sensação de alívio

Depois de muito cogitar, hoje finalmente saí do Orkut. Como em tudo na vida, eu demoro a tomar uma decisão, mas depois que decido, raramente mudo de idéia. Não costumo tomar decisões precipitadas, embora elas até possam parecer precipitadas pra quem está de fora. Minhas decisões costumam ser reflexo de muito pensar.

É que o orkut já deu o que tinha que dar há tempos...fiz amizades maravilhosas por ali e sei que algumas delas irão me acompanhar por muitos anos. Porque cá entre nós, amizades verdadeiras independem de orkut pra sobreviver. Independem do tempo que passa e da distância que separa dois amigos. E as amizades que não sobreviverem o orkut, não eram amizades pra início de conversa. Meus amigos sabem onde me encontrar (inclusive aqui neste blog). No mais, meu telefone e e-mail continuam os mesmos.

Acredito que este processo começou no exato momento em que decidi me separar e ser feliz. Quando prometi a mim mesma não aceitar mais NADA que me faça infeliz. Finalmente estou aprendendo a me desfazer de coisas e pessoas que me fazem infeliz. Estou aprendendo o desapego. E a verdade é que o orkut não estava colaborando em nada para a minha felicidade. Não estava me acrescentando nada. Muita fofoca, intriga e disse-me-disse, como comentei em um post recente. E eu não preciso deste tipo de energia na minha vida.

Hoje me despeço de mais uma parte do meu passado que perdeu sua função...A vida muda e precisamos mudar com ela, deixá-la fluir. Nos últimos tempos me desfiz de um casamento infeliz e aproveitei para fazer uma faxina nas amizades...agora é a vez do orkut.

Só tenho uma coisa a dizer: que enorme sensação de alívio! No mais, é primavera, hoje é um lindo dia de sol e daqui a pouco sairei pra tomar umas cervejas com amigos. Viva a primavera, viva as 4 estações do ano. Que venham as mudanças, estar vivo é isso!

Cidadã do mundo

Sou paulistana da gema,
Gema preciosa
Essência multicor
Por onde flutuam
Pensamentos, palavras e sentimentos
Em línguas várias
Sou brasileira tupiniquim
Latina viviendo sin fronteras
Auslander/Foreigner/Estrangeira
Cidadã do mundo que gosta de ouvir
MPB, funk e jazz
Swissgrove Radio pela internete
De dançar ao som de bangra, raï,
Eletrônica and drum'n'bass
Ojos de Brujo, Femi Kuti
Amina, Cheb Mami
Home is where the heart is
So they say
Mas meu coração errante
Il est partout
São Paulo, Curitiba,
New York, Berkeley,
Salvador, Paris,
Berlim, Amsterdam
Quem sabe um dia
Dakar e Dehli.
Alma cigana que sonha em visitar o Mali,
Bamako de Salif Keita e Boubacar Traore
Mas que nem por isso se esquece de Caetano,
Chico, Gil, Milton, Lo Borges, Lenine
E de tantos mais.
Minha boca se enche d'água
Quando sinto o cheiro de samosas,
Naan e mango lassi,
Tandoori chicken, Sushi,
Pad-Thai, chiles rellenos,
Hummus, baba ganush,
Pita bread, pão de queijo
Moqueca de peixe, farofa,
Tutu de feijão, virado de couve,
Mandioca, escarola, agrião,
Doce de leite, beijinho,
Suco de maracujá, jabuticaba,
É fruta que não se acaba.
Minha certidão de nascimento diz
Que a minha cor é branca
Eu sempre achei isso muito mal contado
O lado português,
Tão vangloriado pelo meu pai,
Nunca enganou a minha avó materna:
Cara de índio, nariz chato,
Pele morena, cabelo assanhado.
Aqui renasço enquanto
"Person of color."
Já limpei casa com piscina
Cuidei de filho alheio,
Fiz coisas que
Faculdade nenhuma ensina
Camaleoa que sou
Vou me adaptando pela vida afora
Dependendo de onde estou.
Com filhos que são americanos,
Mas que também são brasileiros e alemães
Marido afro-deustch
Alemão com cara de brasileiro
Whatever that means
Filhos com sotaque de gringo
Para quem Saci, Maus,
Caipora e Nikolaus
Habitam o mesmo universo de
Dr. Seus, Tin Tin e Asterix
Minha vida é marcada
Por uma sucessão de adeuses:
Aeroportos e passaportes,
Abraços ao vento.
Mas também de boas-vindas:
Janelas abertas,
Portas por abrir,
Good wishes.
Saudade que nunca se finda.
Ainda assim
É em sendo estrangeira
Que adoto uma pátria
Onde cabe a humanidade inteira.
Uma pátria sem fronteiras
Onde cada um festeja
As cores de suas bandeiras
O resto são fragmentos da memória
Cheiros, sons, paisagens
Mais lã no novelo da minha história.
por Regina Camargo.

Adoraria ter sido a autora de palavras tão inspiradas...porque também sou cidadã do mundo e me identifiquei profundamente com quase tudo que ela soube resumir tão bem nesses versos. Moro há 13 anos na Holanda (mas já morei nos EUA, Irlanda e Escócia), fui casada com um inglês, meu filho tem dupla nacionalidade (brasileiro e britânico - embora nascido aqui em Amsterdam), falo duas ou três línguas diariamente, na minha cozinha tenho ingredientes holandeses, italianos e brasileiros (entre outros mais), sinto falta de guaraná, mas bebo cerveja belga e vinho italiano...sem falar que vez ou outra vou num Take Away e levo pra casa comida chinesa, indiana ou mesmo um roti do Suriname, dependendo do humor do dia...Last but not least, meu coração errante também está por toda parte: Rio de Janeiro, Amsterdam, Dublin, Paris e por aí vai.

Mothern

Ou as incríveis aventuras de 2 garotas que já pariram, como elas mesmo se descrevem. A descrição pode soar esquisita, mas o blog Mothern é uma grata surpresa - pelo menos pra mim que moro fora do Brasil, pois essas 2 mães modernas já viraram celebridade e têm até livro publicado e seriado de tv! Confiram o texto:

É difícil, sim. Cansa, sim. Dá trabalho, sim. Mas existem centenas de motivos para, ainda assim, valer a pena ser mothern. Aí vão alguns deles:

. para ser a pessoa mais importante na vida de uma criança;
. para ver seu corpo mudar de forma e gerar outra pessoa;
. para ficar horas na seção infantil da C&A;
. para ficar horas e horas na seção infantil da Zara;
. para deixar de ser criança;
. para descobrir que a sua capacidade de amar é muito maior do que você imagina;
. para entender melhor a sua mãe;
. para ouvir alguém te chamar de mãe;
. para ver de perto uma criança crescendo;
. para ficar mais generosa;
. para ter um motivo pra escorregar no toboágua;
. para o seu casamento passar por uma prova de fogo;
. para mudar de prioridades;
. para comprar o enxoval;
. para escolher o nome;
. para ver alguém bem parecido com você;
. para descobrir seus dotes de cantora, atriz e fotógrafa;
. para alterar completamente seu relógio biológico;
. para não passar o domingo vendo televisão;
. para pagar menos no seguro do carro;
. para parar de se preocupar com a arrumação da casa;
. para ver seu peito dar leite;
. para viver a experiência de quem pôs silicone, sem passar pelo bisturi;
. para encher a casa;
. para parar de encher a cara;
. para catar piolho;
. para ir ao zoológico;
. para aprender o que é molusco e exantema súbito;
. para entender de futebol;
. para voltar a brincar de boneca;
. para se interessar por pedagogia;
. para fazer novos amigos;
. para entender melhor este blog;
. para conhecer a pessoa mais linda que você já viu no mundo;
. para aumentar o número de pessoas fofas no mundo.


PS. A foto que ilustra este post é da fotógrafa americana Julie Blackmon.

Guia politicamente correto para as mães

Não poderemos mais chamar uma criança de bicho-do-mato? o que acontecerá se falarmos que um neném é feio? conheça o glossário PC para mães modernas.

Parece que está na moda falar mal das atitudes e termos politicamente corretos. Achamos que temos que ser corretas, sim, em algumas coisas. Do tipo: não dá pra ficar falando mal de mulher, de negro, de pobre, de gordo, de deficiente ou de anão assim, gratuitamente, como se essas pessoas não fossem pessoas. Ou como se fossem piores do que a gente. Ou como se todo mundo pudesse escolher o que quer ser. Mas concordamos que a tal da correção política às vezes passa dos limites. Vamos supor que a vida da mãe moderna tenha que ser sempre politicamente correta e alguns termos mudem. Para isso, segue uma amostra do que seria um “Pequeno Dicionário Politiquês Mothern”. Esta lista também pode ser lida como um manual para não ofender mães corujas (ou melhor, mulheres com exagerado orgulho e sensibilidade maternal):

Neném feio: recém-nascido de atributos físicos discutíveis
Birra: manifestação infantil nos limites do controle
Menino babão: rebento salivantemente ativo
Menina bicho-do-mato: criança de sociabilidade particular
Criança pentelha: indivíduo com precoces habilidades irritativas
Mãe superprotetora: mulher de acurado zelo com a prole
Mãe ausente: mulher de interesses externos múltiplos
Criança enjoada: criança com especificidades alimentares
Sogra mala: agregada conjugal com tendência à hiperinterferência
Capeta: criança com impulsos semiterroristas
Filme de apresentadora debilóide: produto audiovisual de qualidade questionável para o público infantil
Aprendiz de peruinha: criança do sexo feminino com vaidade exacerbada
Bagunça: ambiente pleno de vida infantil saudável

por Juliana Sampaio e Laura Guimarães, publicado aqui.

Livro aberto?

Não, obrigada. Fuçando blogs alheios, descobri que minha vida não é um livro tão aberto assim...e que algumas páginas certamente estão coladas e assim permanecerão, rsrsrsrs. Me dei conta de que, a essas alturas do campeonato - não sou mais uma adolescente - não quero mesmo que a minha vida seja um livro aberto. Eu costumava falar e desfalar o que me viesse pela cabeça. E considerava isso uma grande qualidade, a franqueza era um dos meus maiores trunfos. E enquanto a grande maioria se ocupava em falar da vida dos outros, eu falava era da minha vida mesmo!

Mas chega uma hora que a gente cresce e perde a ilusão de que pode falar o que bem entende. Ou a gente aprende a viver com as consequências de falar o que bem entende. Porque o mundo está repleto de pessoas e suas interpretações (que muitas vezes não correspondem em nada com o que foi dito ou escrito). E porque quanto mais a gente explica, menos os outros entendem. E finalmente, porque a gente não precisa se explicar para os amigos pois eles sabem muito bem como somos (e felizmente nos aceitam assim mesmo).

Acima de tudo, não devemos falar de nossos problemas. Porque sempre que falei dos meus problemas, não apenas não resolvi nada como afastei pessoas. Porque problemas sempre afastam as pessoas, disso vocês podem ter certeza! Pode-se falar de tudo (principalmente da vida dos outros). Pode-se até falar o tempo todo, desde que se fale de amenidades e de coisas agradáveis - problemas, não. Porque problemas não são interessantes, apesar de todos terem problemas (ou justamente por isso).

Não obstante, noto que os blogs se tornaram uma espécie de confessionário do séc. XXI. Muitas pessoas ainda têm a ilusão (eu perdi a minha) de que o blog é um espaço pessoal e todo seu...mas isso não existe em se tratando de espaços públicos como a Internet. E eu confesso que nunca mais serei a mesma pessoa depois do orkut. Porque no orkut aprendi - a duras penas - que não se pode falar o que se pensa. E entendi o que é um espaço público. The end of innocence.

De resto, desisti de tentar me explicar para as pessoas, mas fica a eterna necessidade de me explicar para mim mesma...e é por isso que escrevo.

Mais uma pérola do mundo dos blogs

Eu juro que nem desconfiava da imensidão que é o mundo dos blogs, novata que sou neste universo de iniciados. E volta e meia me surpreendo com textos excelentes, de qualidade acima da média. Emoções à flor da pele, divagações, muitas perguntas e algumas respostas. Dúvidas, questionamentos, dores de crescimento, dores simplesmente. Esta moça aqui debaixo começou postando suas aventuras e confissões em um blog em 2002 e já lançou uns dois livros. Muito, mas muito legal mesmo.

eu sei.
eu sei que não era para eu ser assim.
eu sei que eu devia estar tomando as doses nas horas certas.
eu sei que eu devia estar dormindo boas noites de sono
e que eu devia fumar menos e escovar os dentes com pasta para gengivas sensíveis
e beber menos
e amar menos
e esperar menos
e me jogar menos quando alguém me abre os braços
e falar menos,
eu sei que eu devia falar menos
e perambular menos na rua sozinha depois que todo mundo já foi embora
e parar de falar sozinha enquanto chuto alguma coisa no chão
e parar de cantar aquela música também
parar, eu devia parar
e pensar menos
menos, menos, menos
menos.
mas eu não consigo.
eu já tentei
mas eu não sei viver
menos.

by Clarah Averbuck

O que me faz feliz

O sol, a lua cheia, o mar. A primavera, canteiros floridos. Ler um bom livro, dormir até tarde, ficar à toa. Um chalé na montanha, cheiro de mato, cheiro de chuva. Deitar debaixo das cobertas e ouvir as gotas de chuva no telhado. Ler e reler meus poetas favoritos num dia de chuva. Matar as saudades de um amigo que não via há tempos. Um bate-papo descontraído com alguém especial, um dia no zoológico ou uma matiné com meu filho. Uma caminhada pelos canais de Amsterdã, esquecer o tempo em uma livraria, ouvir música. Tomar chocolate quente no inverno, beber vinho rosé no verão. Um cappucino acompanhado de torta de maçã em um dos muitos cafés da cidade. A Fantástica Fábrica de Chocolate e O Mágico de Oz, assistir filmes infantis e voltar a ser criança. Um certo seriado de tv. Um bom filme que me faça rir e chorar ao mesmo tempo. Viajar para bem longe ou para bem perto, de trem, avião ou navio - viajar simplesmente.

Assistir desenho animado, brincar de LEGO e Playmobil com meu filho. Sorvete de pistachio e pipoca caseira. Rir até chorar...ou chorar até passar a vontade pra então sorrir com o coração mais leve. Fotografias, álbuns de fotos. Lugares, pessoas, lembranças especiais. Mas se eu tivesse de escolher uma coisa neste mundo que me faz feliz? Meu filho, sem dúvida. Sem ele, a minha vida não teria a menor graça. Porque a minha felicidade tem nome - ela se chama Liam.

Para quem gosta de fotografia





Adoro fotografia de um modo geral, e fotografia artística em particular. Outro dia descobri o site de uma fotógrafa americana maravilhosa, com um estilo próprio e visão muito especial. A série entitulada Domestic Vacations tem um quê de Desperate Housewifes e é muito, muito interessante. Retratos da vida cotidiana, com toda sua poesia e loucura. Quem quiser conferir, está aqui.

Tarde de sol no Nieuwmarkt


Ontem passei uma tarde agradável com um casal de amigos mineiros aqui em Amsterdam. São amigos muito queridos e a casa deles é praticamente a minha segunda casa! Aproveitamos a tarde ensolarada de primavera para degustarmos umas cervejas belgas: Trappist e La Chouffe. E eu, como de costume (sou uma pessoa de hábitos), sugeri um dos cafés do Nieuwmarkt, um dos bairros mais antigos e animados da cidade. Nieuwmarkt é o nome da praça repleta de cafés e muito frequentada por locais e turistas, logo atrás do famoso bairro das prostitutas, o Red Light District (que sinceramente nunca achei grande coisa...). Após alguma espera, conseguimos uma mesa ao sol no café In De Waag (fotos acima). Para os desavisados, não se trata de um castelo e sim de um dos monumentos mais antigos da cidade, construído em 1488 (quando o Brasil ainda nem havia sido descoberto). Era ali que os mercantilistas holandeses pesavam (waag significa balança) e vendiam suas mercadorias trazidas das Índias (seda, especiarias, etc).

Pra terminar, e porque logo ali atrás também fica o bairro Chinatown, acabamos jantando num dos inúmeros restaurantes chineses da Zeedijk. Comida boa e barata (sai mais em conta do que cozinhar em casa). Ainda voltamos pra casa dela pra conversar mais um pouco. E eu fui pra casa feliz e decidida a gastar minha energia apenas com os amigos e as pessoas importantes na minha vida. Porque é primavera. E porque a vida é curta!

Less is More

Estou em estado de choque. Não devia mas estou. Estou impressionada com as intrigas, barracos e disse-me-disse do orkut (sorte de quem nunca presenciou um). Eu sempre achei que o orkut era um instrumento para se conhecer pessoas, aumentar o círculo de amizades. Mas nos meus dois anos de orkut, o que mais vi foi exatamente o contrário. Cada vez mais pessoas se estranham, se incomodam e saem do orkut pra nunca mais voltar. Conheço algumas dessas estórias (e não são poucas). O que deveria ser um instrumento de comunicação entre as pessoas acabou se tornando um instrumento de intrigas e desentendimentos. E novamente, o homem demonstra não saber fazer bom uso de um instrumento.

Eu acho tudo uma pena...porque não era isso que eu queria, não era isso que nenhum de nós queria. E pior, com o passar do tempo o orkut não apenas não amplia sua rede de contatos como pode até restringi-la (um dia talvez você entenda o que eu quero dizer). Aproveito para contar a minha experiência, que muitos talvez tenham vivido na pele. Você se desentende com A e perde não um amigo, mas 3 ou 4 amigos. Porque B, C e D são amigos de A e portanto não podem mais ser seus amigos. Sim, existe um código de conduta no orkut (esdrúxulo mas existe). Falando assim parece brincadeira mas juro que não é. As pessoas tomam partido, e ninguém quer saber o que realmente aconteceu, o que conta é o interminável disse-me-disse...E um desentendimento que era pra ser entre fulano e ciclano acaba tomando proporções inimagináveis (e não, não estou delirando). O ser humano é isso. E conversando outro dia com uma amiga, chegamos à conclusão de que o orkut cansa. Porque intriga cansa. Maledicência cansa.

Mas aprendi uma lição importante nessa estória toda: quem era meu amigo mesmo continua sendo, porque estas pessoas me conhecem e sabem distinguir perfeitamente entre a verdade e o disse-me-disse. Quem não era meu amigo, nunca será (e no final das contas, não faz diferença).

E agora é tocar pra frente e deixar as mágoas de lado. Com o consolo de que meus amigos sempre souberam quem eu sou. Só que eu paguei o preço por não jogar conforme as regras. Porque não sei ser falsa, não sei me fingir de morta, não sei sair de fininho sem bater a porta...Se eu fosse mais diplomática, hoje estaria cheia de amigos no orkut. Não é o caso. E sabem de uma coisa? Prefiro assim: LESS IS MORE.

Mensagem de Chico Xavier



Nasceste no lar que precisavas,
Vestiste o corpo físico que merecias,
Moras onde melhor Deus te proporcionou,
De acordo com teu adiantamento.
Possuis os recursos financeiros coerentes
Com as tuas necessidades, nem mais,
nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas.
Teu ambiente de trabalho é o que elegeste
espontaneamente para a tua realização.
Teus parentes e amigos são as almas que atraíste,
com tua própria afinidade.
Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle.
Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais,
buscas, expulsas, modificas tudo aquilo
que te rodeia a existência.
Teus pensamentos e vontade são a chave de teus atos e atitudes...
São as fontes de atração e repulsão na tua jornada vivência.
Não reclames nem te faças de vítima.
Antes de tudo, analisa e observa.
A mudança está em tuas mãos.
Reprograma tua meta,
Busca o bem e viverás melhor.
Embora ninguém possa voltar atrás e
fazer um novo começo,
Qualquer um pode começar agora
e fazer um novo fim.


Foto: Castlerigg Stone Circle, Cumbria, UK. Conheci este belo sítio arqueológico quando acampei alguns dias no Lake District. A região toda é encantadora, um dos lugares mágicos da Inglaterra e da Europa.