terça-feira, fevereiro 25, 2014

Only Lovers Left Alive



Eu sou suspeita pra falar porque sou fã de Jim Jarmush desde Strangers than Paradise (1984), Coffee and Cigarettes (1986) e Down by Law (1986). No tempo em que ele era um garoto prodígio de 20 e poucos anos e seus filmes viravam cult no Festival de Cannes. E já se passaram 30 anos desde Strangers than Paradise, filme que me traz lembranças de tempos distantes...quando eu ainda morava no Brasil e frequentava assiduamente o Cineclube Estação Botafogo!

Mas voltando ao filme em questão: Only Lovers Left Alive é mais do que uma estória de vampiros - é uma ode à música, à literatura e à fotografia. O filme é um verdadeiro colírio para os olhos...belas imagens e uma trilha sonora que reflete a atmosfera do filme. O ritmo do filme é lento, propício à estória de vampiros que vivem uma eternidade através dos séculos e de diversos continentes (EUA-Europa-África).

Acima de tudo, temos aqui uma estória de vampiros diferente, quase sem sangue. Jarmush optou por aprofundar temas existenciais como a eternidade e o amor. A sabedoria que apenas pode ser obtida com o passar dos anos e com as experiências acumuladas. E quem vive neste planeta há mais de três séculos deve ter acumulado alguma sabedoria, né?

Os protagonistas são Eve (atuação impecável de Tilda Swanton) que vive em Tangers, Marrocos e Adam, punk rock star que vive em Detroit, EUA. Adam tem surtos de melancolia e uma relação problemática com os "mortais". Quando Eve percebe que ele está deprimido, ela não hesita e pega um avião em Tangers para Detroit. O reencontro dos dois acaba sendo perturbado pela visita inesperada da irmã caçula de Eve, que tem o hábito de deixar rastros por onde anda...

Embora Eve tenha vivido três longos séculos da história da humanidade e Adam "apenas" 500 anos, eles se complementam de forma harmoniosa. Ela vive para os livros, ele vive para a música. Dois vampiros conectados por um amor imortal.




quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Blogueiras em crise



O que eu gosto mesmo neste mundo dos blogs é ver que não estou sozinha. É ver que tem gente por este mundo afora que sente e pensa como eu. E assim eu não me sinto tão estranha e com a (eterna) sensação de estar sempre nadando contra a corrente. Porque blogueiro que se preza também tem suas crises. A começar pelo famoso writer´s block. Bloqueio de escrita não é só coisa pra escritor, sabiam? Porque se for pensar bem, toda blogueira tem um pouco de escritora. Toda blogueira precisa escrever, precisa das palavras para interagir com os outros (não necessariamente seus leitores mas já é um bom começo). E chega um dia que ela se questiona se vale a pena se expor, se o preço a ser pago vale a pena.

A gente passa a maior parte do tempo buscando o equilíbrio, tentando conciliar nossa necessidade de escrever com o grau inevitável de exposição (não se iludam, tudo na vida tem seu preço). Eu mesma já passei por todas as fases. No inicio do blog eu era aquela pessoa ingenua e escrevia como quem escreve um diário, pra mim mesma (bons tempos aqueles). Até que os seguidores começaram a chegar (embora eu ainda tenha relativamente poucos em comparação com algumas estrelas da blogosfera), a gente começa a pensar duas vezes antes de fazer mais aquele desabafo. A gente começa a pensar duas vezes antes de se expor para desconhecidos. A gente se questiona se vale mesmo a pena arriscar mais uma polêmica. Em outras palavras, a gente vira macaco velho...

E aí vem a famosa crise: desistir do blog? fechar o blog apenas para convidados? Eu passei por essa crise no ano passado, ainda passo em dias ruins. Até que leio um post do tipo desabafo de uma amiga blogueira. As duas últimas foram a minha querida Priscila do Devaneios e Metamorfoses (que escreveu este post que poderia ter sido escrito por mim, sem tirar nem por). E a minha blogueira nerd favorita, a Luana do Hunfs, que assim como muitos, cansou (aqui). E ambas estão cobertas de razão. E eu me sinto menos sozinha e grata a elas por terem compartilhado.

Quem lê este blog - são poucos mas são leitores fiéis - sabe que eu tenho uma relação de amor e ódio com uma certa rede social. Porque eu acho muito dificil ser genuíno quando existem regras rígidas de comportamento. Regras sobre o que pode e o que não pode ser dito. Como a regra implícita de que não se deve falar de problemas (afinal, todo mundo é feliz o tempo todo). Não se pode falar, não se pode desabafar, reclamar muito menos. E bola pra frente que atrás vem gente!

E é justamente aí que entra o papel dos blogs. Porque em um blog, quem faz a regra é o blogueiro que escreve. Se ele quer escrever um post pessoal, escreve e pronto! Se ele vai ou não arcar com as consequências, o problema é dele. Se ele quer postar fotos bonitinhas e textos inspiracionais, tá bom também. Tem público pra todo tipo de blog (e não apenas para os populares blogs de viagem). E é justamente isso que eu admiro na blogosfera: sua diversidade. Porque sinceramente, nem todo mundo curte ver todo santo dia fotos de pessoas sorrindo em suas viagens, ou grupos de pessoas se divertindo em uma festa ou restaurante, o novo carro ou o que fulano jantou ontem. Muitos de nós sabemos (e aceitamos) que a vida é muito mais do que isso. Nós queremos ir além e descobrir (desvendar) a realidade por trás destas paisagens. Mas há um preço a ser pago.

Moral da estória: ter blog pessoal não é para os fracos. Porque ser autêntico no mundo de hoje é uma das tarefas mais difíceis que uma pessoa irá (ou não) realizar em sua vida. Boa sorte para quem decidiu embarcar nesta viagem. E muita coragem pra continuar sendo quem você é, independentemente do que os outros acham ou deixam de achar!

Quanto a mim, só sei ser eu mesma.



quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Mixed Media: a primeira experiência



Sábado passado finalmente participei do esperado workshop de Mixed Media que havia reservado em dezembro. O curso é dado numa aconchegante lojinha de artesanatos em Amsterdam, onde são oferecidos vários tipos de workshop para pequenos grupos. E eu como ando "cismada" com Mixed Media (ainda mais agora com o Pinterest), não resisti e fui!

Verdade seja dita, achei 80 euros por cinco horas de aula (de 10 às 15hrs) um pouco caro...lanchinho incluído na hora do almoço mas poucas instruções. Claro que a idéia do workshop é 'orientar" a(o) aluna(o) na descoberta de sua criatividade, sem intervir no processo individual. Ou seja: o artista é você! Nada é obrigatório, tudo é permitido. Sem falar que em arte não há "errado" nem "certo" (ou melhor, até há mas isso é outra discussão). Mas eu senti falta de instruções mais específicas de como usar as tintas, por exemplo. Eu já mexo há tempos com papel e sei combinar cores e padrões sem problemas. Mas tinta é terreno novo pra mim. E foi pensando nisso que me inscrevi nesse worskshop.

Agora eu vou contar um segredo: o que eu aprendi lá no sábado eu poderia ter aprendido com o meu filho aqui em casa! Porque eu posso ser criativa mas Liam é o verdadeiro artista - até comentei isso lá. Ele desenha muito bem desde os seis anos de idade, já fez um ano e meio de atelier de pintura no zoológico da cidade (e como bom artista, diz que não aprendeu nada lá e eu acredito). Liam aprendeu a desenhar sozinho, aprendeu perspectiva sozinho, sombra e tudo mais. Acima de tudo, ele gosta de fazer sketching com lápis, quanto mais realista melhor. Aos oito anos desenhava dinossauros, depois foram baleias, golfinhos e tubarões, depois leões, girafas...mais tarde foi a vez dos tucanos, águias e outros pássaros. E tudo isso sozinho, por conta própria. Como todo artista que se preze!

Quanto a mim, tenho surtos de criatividade e muita vontade de aprender. Gostei da tela acima, do material escolhido (tecidos, pedacinhos de papel de parede com textura de bolinhas, letras cortadas de revistas, fitas, etc). Mas não fiquei safisteita na hora de pintar o tal café e a espuma (digamos que a minha idéia inicial era uma xícara de cappuccino). E acreditem se quiser, Liam mal viu a minha tela e logo achou o erro. Ele me deu uma verdadeira aula de técnica de pintura (perspectiva, profundidade), usando praticamente as mesmas palavras da professora lá no workshop! Filho artista é assim.

Moral da estória, da próxima vez que eu for mexer com tinta ou mixed media, foi aproveitar o artista que tenho aqui de casa pra me dar dicas! Sem brincadeira.

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

A primeira colagem



Eu ando expandindo a minha criatividade cada dia mais além dos cartões que tanto adoro fazer (e até vendi um bocado de cartões no natal passado). A verdade é que amo PAPEL e por isso meu primeiro interesse não podia ser outro senão o scrapbooking.

Só que pra mim, scrapbooking sempre foi muito mais do que páginas com fotos. Eu sempre preferi os mini-álbuns, por exemplo. E cartões, claro. Ou seja, eu emprego as técnicas que aprendi eu mesma e vou inventando uma novidade aqui e ali. Marcadores de livros, caderninhos de notas e por aí vai.

Ultimamente tenho me interessado muito por mixed media. Ando espiando no Pinterest, folheando livros e finalmente tomei a coragem de me matricular num workshop! O workshop é amanhã e não vejo a hora de colocar a mão na massa - literalmente. Pra quem não sabe, mixed media (como o própria nome sugere) é o uso combinado de vários materiais. Entre eles: vários tipos de tinta (aquarela. acrílico, óleo), gesso, papel, carimbos, pedaços de tecido, medalhas, moedas e tudo o mais que a imaginação permitir.

Uma das técnicas mais usadas é a colagem. A boa e velha colagem com a qual muitos de nós tem seu primeiro contato na escola maternal...pra nunca mais! Eu mesma me lembro vagamente de ter feito alguma colagem no atelier do colégio Bennett. Assim como fizemos aulas de pintura, papier marché, costura e até culinária! Na minha época era assim.

Mas voltando à colagem, em janeiro resolvi passar uma tarde chuvosa fazendo arte(terapia) com uma amiga brasileira que também mora aqui. E não sei porque cargas d'água me veio a idéia de tentar fazer umas colagens com papel de revista. Saímos picando um monte de revistas e a idéia foi se formando até que surgiu este sol aí encima - em pleno inverno holandês!

Pra ser sincera, fiquei bem satisfeita com o resultado da minha primeira colagem. Tão satisfeita que acabei engatando e fiz na mesma tarde uma outra colagem, desta vez de uma árvore. Só que a segunda colagem ficou, digamos assim, "inacabada" (ou esta é a sensação que tenho até hoje). Enquanto que o sol...ficou exatamente como a imagem que eu tinha na minha cabeça. Vai entender?




segunda-feira, fevereiro 03, 2014

The Buddha in the Attic



Como todo inverno, tenho lido muito este ano...em janeiro li 5 livros, sem falar em umas histórias em quadrinhos excelentes (entre elas, duas do Daniel Clowes: Mr. Wonderful e Wilson). Ontem acabei de ler um livro que estava na fila de espera há mais de ano.

O livro se chama The Buddha in the Attic (2011) e conta uma estória desconhecida por muitos...e por isso mesmo, uma estória comovente e que precisa ser contada. Trata-se da vida de imigrantes japonesas que foram para os EUA pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Elas eram apelidadas de "picture brides" e saíam em navios do Japão já casadas com japoneses que haviam emigrado para os EUA em busca de uma vida melhor (land of milk and honey blablabla). Ou seja, noivas de encomenda.

Esta estória me comoveu justamente por contar uma estória que não lemos nos livros de História...trata-se da estória dos perdedores, digamos assim. E todo mundo sabe que a História é escrita pelos vencedores. Nesse caso, vemos como essas mulheres japonesas são exploradas pelos próprios maridos (e pelos fazendeiros americanos), que as importam para trabalharem dia e noite nas plantações e ajudar nas colheitas anuais. Vemos como essas mesmas mulheres são maltratadas pelos maridos, que não as levam em consideração nem se preocupam com seu bem-estar (com raríssimas exceções). Homens que colocam a mulher pra trabalhar do lado deles nas plantações e à noite ainda esperam que ela faça a janta, dê banho nos filhos, passe as roupas, etc. A famosa "jornada dupla" (que muitas mulheres fazem até hoje, verdade seja dita). Mulheres passivas que vivem vidas miseráveis à sombra de seus maridos e filhos. E como se não bastasse, ainda são discriminadas pelos americanos por serem de outra raça.

Mais especificamente, a parte da estória que eu não sabia é sobre a população de japoneses nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Esses imigrantes trabalhadores passaram a ser vistos como inimigos da noite para o dia. Muitos foram levados para campos de trabalho forçado onde preparavam alimentos para as tropas americanas. Outros foram enviados de volta para o Japão sem aviso prévio, com direito a apenas uma mala e só. A grande maioria nem teve tempo de encerrar seus negócios ou se despedir de amigos. Enfim, um drama desconhecido de muitos mas que não deixa de ser um drama!

Eu confesso que amo romances de imigrantes (ïndia, Japão, China) porque eu mesma também levo uma vida de imigrante há 20 anos. Então sempre leio sagas de imigrantes e comento aqui no blog. Sem falar que ando apaixonada por escritores japoneses, desde meu favorito Murakami até Ruth Ozeki, a revelação do ano passado, que comentei aqui. Pois Julie Otsuka, como Ruth Ozeki, também é filha de japoneses. E assim como Ruth Ozeki, (sobre)vive entre duas culturas distintas, a japonesa e a americana.

Leitura altamente recomendada!


Tecnologia do Blogger.

Only Lovers Left Alive



Eu sou suspeita pra falar porque sou fã de Jim Jarmush desde Strangers than Paradise (1984), Coffee and Cigarettes (1986) e Down by Law (1986). No tempo em que ele era um garoto prodígio de 20 e poucos anos e seus filmes viravam cult no Festival de Cannes. E já se passaram 30 anos desde Strangers than Paradise, filme que me traz lembranças de tempos distantes...quando eu ainda morava no Brasil e frequentava assiduamente o Cineclube Estação Botafogo!

Mas voltando ao filme em questão: Only Lovers Left Alive é mais do que uma estória de vampiros - é uma ode à música, à literatura e à fotografia. O filme é um verdadeiro colírio para os olhos...belas imagens e uma trilha sonora que reflete a atmosfera do filme. O ritmo do filme é lento, propício à estória de vampiros que vivem uma eternidade através dos séculos e de diversos continentes (EUA-Europa-África).

Acima de tudo, temos aqui uma estória de vampiros diferente, quase sem sangue. Jarmush optou por aprofundar temas existenciais como a eternidade e o amor. A sabedoria que apenas pode ser obtida com o passar dos anos e com as experiências acumuladas. E quem vive neste planeta há mais de três séculos deve ter acumulado alguma sabedoria, né?

Os protagonistas são Eve (atuação impecável de Tilda Swanton) que vive em Tangers, Marrocos e Adam, punk rock star que vive em Detroit, EUA. Adam tem surtos de melancolia e uma relação problemática com os "mortais". Quando Eve percebe que ele está deprimido, ela não hesita e pega um avião em Tangers para Detroit. O reencontro dos dois acaba sendo perturbado pela visita inesperada da irmã caçula de Eve, que tem o hábito de deixar rastros por onde anda...

Embora Eve tenha vivido três longos séculos da história da humanidade e Adam "apenas" 500 anos, eles se complementam de forma harmoniosa. Ela vive para os livros, ele vive para a música. Dois vampiros conectados por um amor imortal.




Blogueiras em crise



O que eu gosto mesmo neste mundo dos blogs é ver que não estou sozinha. É ver que tem gente por este mundo afora que sente e pensa como eu. E assim eu não me sinto tão estranha e com a (eterna) sensação de estar sempre nadando contra a corrente. Porque blogueiro que se preza também tem suas crises. A começar pelo famoso writer´s block. Bloqueio de escrita não é só coisa pra escritor, sabiam? Porque se for pensar bem, toda blogueira tem um pouco de escritora. Toda blogueira precisa escrever, precisa das palavras para interagir com os outros (não necessariamente seus leitores mas já é um bom começo). E chega um dia que ela se questiona se vale a pena se expor, se o preço a ser pago vale a pena.

A gente passa a maior parte do tempo buscando o equilíbrio, tentando conciliar nossa necessidade de escrever com o grau inevitável de exposição (não se iludam, tudo na vida tem seu preço). Eu mesma já passei por todas as fases. No inicio do blog eu era aquela pessoa ingenua e escrevia como quem escreve um diário, pra mim mesma (bons tempos aqueles). Até que os seguidores começaram a chegar (embora eu ainda tenha relativamente poucos em comparação com algumas estrelas da blogosfera), a gente começa a pensar duas vezes antes de fazer mais aquele desabafo. A gente começa a pensar duas vezes antes de se expor para desconhecidos. A gente se questiona se vale mesmo a pena arriscar mais uma polêmica. Em outras palavras, a gente vira macaco velho...

E aí vem a famosa crise: desistir do blog? fechar o blog apenas para convidados? Eu passei por essa crise no ano passado, ainda passo em dias ruins. Até que leio um post do tipo desabafo de uma amiga blogueira. As duas últimas foram a minha querida Priscila do Devaneios e Metamorfoses (que escreveu este post que poderia ter sido escrito por mim, sem tirar nem por). E a minha blogueira nerd favorita, a Luana do Hunfs, que assim como muitos, cansou (aqui). E ambas estão cobertas de razão. E eu me sinto menos sozinha e grata a elas por terem compartilhado.

Quem lê este blog - são poucos mas são leitores fiéis - sabe que eu tenho uma relação de amor e ódio com uma certa rede social. Porque eu acho muito dificil ser genuíno quando existem regras rígidas de comportamento. Regras sobre o que pode e o que não pode ser dito. Como a regra implícita de que não se deve falar de problemas (afinal, todo mundo é feliz o tempo todo). Não se pode falar, não se pode desabafar, reclamar muito menos. E bola pra frente que atrás vem gente!

E é justamente aí que entra o papel dos blogs. Porque em um blog, quem faz a regra é o blogueiro que escreve. Se ele quer escrever um post pessoal, escreve e pronto! Se ele vai ou não arcar com as consequências, o problema é dele. Se ele quer postar fotos bonitinhas e textos inspiracionais, tá bom também. Tem público pra todo tipo de blog (e não apenas para os populares blogs de viagem). E é justamente isso que eu admiro na blogosfera: sua diversidade. Porque sinceramente, nem todo mundo curte ver todo santo dia fotos de pessoas sorrindo em suas viagens, ou grupos de pessoas se divertindo em uma festa ou restaurante, o novo carro ou o que fulano jantou ontem. Muitos de nós sabemos (e aceitamos) que a vida é muito mais do que isso. Nós queremos ir além e descobrir (desvendar) a realidade por trás destas paisagens. Mas há um preço a ser pago.

Moral da estória: ter blog pessoal não é para os fracos. Porque ser autêntico no mundo de hoje é uma das tarefas mais difíceis que uma pessoa irá (ou não) realizar em sua vida. Boa sorte para quem decidiu embarcar nesta viagem. E muita coragem pra continuar sendo quem você é, independentemente do que os outros acham ou deixam de achar!

Quanto a mim, só sei ser eu mesma.



Mixed Media: a primeira experiência



Sábado passado finalmente participei do esperado workshop de Mixed Media que havia reservado em dezembro. O curso é dado numa aconchegante lojinha de artesanatos em Amsterdam, onde são oferecidos vários tipos de workshop para pequenos grupos. E eu como ando "cismada" com Mixed Media (ainda mais agora com o Pinterest), não resisti e fui!

Verdade seja dita, achei 80 euros por cinco horas de aula (de 10 às 15hrs) um pouco caro...lanchinho incluído na hora do almoço mas poucas instruções. Claro que a idéia do workshop é 'orientar" a(o) aluna(o) na descoberta de sua criatividade, sem intervir no processo individual. Ou seja: o artista é você! Nada é obrigatório, tudo é permitido. Sem falar que em arte não há "errado" nem "certo" (ou melhor, até há mas isso é outra discussão). Mas eu senti falta de instruções mais específicas de como usar as tintas, por exemplo. Eu já mexo há tempos com papel e sei combinar cores e padrões sem problemas. Mas tinta é terreno novo pra mim. E foi pensando nisso que me inscrevi nesse worskshop.

Agora eu vou contar um segredo: o que eu aprendi lá no sábado eu poderia ter aprendido com o meu filho aqui em casa! Porque eu posso ser criativa mas Liam é o verdadeiro artista - até comentei isso lá. Ele desenha muito bem desde os seis anos de idade, já fez um ano e meio de atelier de pintura no zoológico da cidade (e como bom artista, diz que não aprendeu nada lá e eu acredito). Liam aprendeu a desenhar sozinho, aprendeu perspectiva sozinho, sombra e tudo mais. Acima de tudo, ele gosta de fazer sketching com lápis, quanto mais realista melhor. Aos oito anos desenhava dinossauros, depois foram baleias, golfinhos e tubarões, depois leões, girafas...mais tarde foi a vez dos tucanos, águias e outros pássaros. E tudo isso sozinho, por conta própria. Como todo artista que se preze!

Quanto a mim, tenho surtos de criatividade e muita vontade de aprender. Gostei da tela acima, do material escolhido (tecidos, pedacinhos de papel de parede com textura de bolinhas, letras cortadas de revistas, fitas, etc). Mas não fiquei safisteita na hora de pintar o tal café e a espuma (digamos que a minha idéia inicial era uma xícara de cappuccino). E acreditem se quiser, Liam mal viu a minha tela e logo achou o erro. Ele me deu uma verdadeira aula de técnica de pintura (perspectiva, profundidade), usando praticamente as mesmas palavras da professora lá no workshop! Filho artista é assim.

Moral da estória, da próxima vez que eu for mexer com tinta ou mixed media, foi aproveitar o artista que tenho aqui de casa pra me dar dicas! Sem brincadeira.

A primeira colagem



Eu ando expandindo a minha criatividade cada dia mais além dos cartões que tanto adoro fazer (e até vendi um bocado de cartões no natal passado). A verdade é que amo PAPEL e por isso meu primeiro interesse não podia ser outro senão o scrapbooking.

Só que pra mim, scrapbooking sempre foi muito mais do que páginas com fotos. Eu sempre preferi os mini-álbuns, por exemplo. E cartões, claro. Ou seja, eu emprego as técnicas que aprendi eu mesma e vou inventando uma novidade aqui e ali. Marcadores de livros, caderninhos de notas e por aí vai.

Ultimamente tenho me interessado muito por mixed media. Ando espiando no Pinterest, folheando livros e finalmente tomei a coragem de me matricular num workshop! O workshop é amanhã e não vejo a hora de colocar a mão na massa - literalmente. Pra quem não sabe, mixed media (como o própria nome sugere) é o uso combinado de vários materiais. Entre eles: vários tipos de tinta (aquarela. acrílico, óleo), gesso, papel, carimbos, pedaços de tecido, medalhas, moedas e tudo o mais que a imaginação permitir.

Uma das técnicas mais usadas é a colagem. A boa e velha colagem com a qual muitos de nós tem seu primeiro contato na escola maternal...pra nunca mais! Eu mesma me lembro vagamente de ter feito alguma colagem no atelier do colégio Bennett. Assim como fizemos aulas de pintura, papier marché, costura e até culinária! Na minha época era assim.

Mas voltando à colagem, em janeiro resolvi passar uma tarde chuvosa fazendo arte(terapia) com uma amiga brasileira que também mora aqui. E não sei porque cargas d'água me veio a idéia de tentar fazer umas colagens com papel de revista. Saímos picando um monte de revistas e a idéia foi se formando até que surgiu este sol aí encima - em pleno inverno holandês!

Pra ser sincera, fiquei bem satisfeita com o resultado da minha primeira colagem. Tão satisfeita que acabei engatando e fiz na mesma tarde uma outra colagem, desta vez de uma árvore. Só que a segunda colagem ficou, digamos assim, "inacabada" (ou esta é a sensação que tenho até hoje). Enquanto que o sol...ficou exatamente como a imagem que eu tinha na minha cabeça. Vai entender?




The Buddha in the Attic



Como todo inverno, tenho lido muito este ano...em janeiro li 5 livros, sem falar em umas histórias em quadrinhos excelentes (entre elas, duas do Daniel Clowes: Mr. Wonderful e Wilson). Ontem acabei de ler um livro que estava na fila de espera há mais de ano.

O livro se chama The Buddha in the Attic (2011) e conta uma estória desconhecida por muitos...e por isso mesmo, uma estória comovente e que precisa ser contada. Trata-se da vida de imigrantes japonesas que foram para os EUA pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Elas eram apelidadas de "picture brides" e saíam em navios do Japão já casadas com japoneses que haviam emigrado para os EUA em busca de uma vida melhor (land of milk and honey blablabla). Ou seja, noivas de encomenda.

Esta estória me comoveu justamente por contar uma estória que não lemos nos livros de História...trata-se da estória dos perdedores, digamos assim. E todo mundo sabe que a História é escrita pelos vencedores. Nesse caso, vemos como essas mulheres japonesas são exploradas pelos próprios maridos (e pelos fazendeiros americanos), que as importam para trabalharem dia e noite nas plantações e ajudar nas colheitas anuais. Vemos como essas mesmas mulheres são maltratadas pelos maridos, que não as levam em consideração nem se preocupam com seu bem-estar (com raríssimas exceções). Homens que colocam a mulher pra trabalhar do lado deles nas plantações e à noite ainda esperam que ela faça a janta, dê banho nos filhos, passe as roupas, etc. A famosa "jornada dupla" (que muitas mulheres fazem até hoje, verdade seja dita). Mulheres passivas que vivem vidas miseráveis à sombra de seus maridos e filhos. E como se não bastasse, ainda são discriminadas pelos americanos por serem de outra raça.

Mais especificamente, a parte da estória que eu não sabia é sobre a população de japoneses nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Esses imigrantes trabalhadores passaram a ser vistos como inimigos da noite para o dia. Muitos foram levados para campos de trabalho forçado onde preparavam alimentos para as tropas americanas. Outros foram enviados de volta para o Japão sem aviso prévio, com direito a apenas uma mala e só. A grande maioria nem teve tempo de encerrar seus negócios ou se despedir de amigos. Enfim, um drama desconhecido de muitos mas que não deixa de ser um drama!

Eu confesso que amo romances de imigrantes (ïndia, Japão, China) porque eu mesma também levo uma vida de imigrante há 20 anos. Então sempre leio sagas de imigrantes e comento aqui no blog. Sem falar que ando apaixonada por escritores japoneses, desde meu favorito Murakami até Ruth Ozeki, a revelação do ano passado, que comentei aqui. Pois Julie Otsuka, como Ruth Ozeki, também é filha de japoneses. E assim como Ruth Ozeki, (sobre)vive entre duas culturas distintas, a japonesa e a americana.

Leitura altamente recomendada!