quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Feminismo na Holanda

Depois da receita do bolo de banana, me inspirei no post sobre feminismo no blog de uma amiga - que como eu, também é mãe e estrangeira na Holanda - e decidi botar a boca no trombone, como de costume (mas não muito pra não assustar os desavisados).

Para início de conversa, quase não falei da Holanda neste blog porque em quase 13 anos vivendo aqui ainda há muitas coisas a decifrar. Verdade seja dita, a Holanda para mim ainda é uma charada: Decifra-me ou te devoro. Mas uma coisa ao menos é certa, aqui as aparências enganam e muito. Um exemplo é a idéia que temos de uma sociedade liberal onde as mulheres têm os mesmos direitos que os homens...Sim, elas têm liberdade sexual, podem se divorciar e fazer abortos em clínicas do governo, mas sabe de uma coisa? Acredito que o feminismo seja muito mais do que isso. Feminismo para mim é a mulher ter direitos iguais ao homem para poder se realizar como pessoa (e não apenas como mãe, o que pode até ser a maior realização para algumas mulheres). E neste ponto a Holanda deixa muito a desejar...

A Holanda é antes de mais nada, uma sociedade patriarcal (leia-se: quem manda aqui são os homens). Ou seja, a realidade é muito diferente do mito. As mulheres aqui não apenas pouco participam do mercado de trabalho como as que trabalham ainda recebem salários menores. E se compararmos a parcela de mulheres trabalhando nos países vizinhos (França, Alemanha e Inglaterra), a Holanda perde de longe...Sem falar que pouquíssimas ocupam cargos executivos, o que é comum na Inglaterra e no Brasil. Feminismo ou não, muitas holandesas optam por ficar em casa cuidando dos filhos enquanto o marido trabalha, não me perguntem por quê...

Eu sempre desconfiei dessa fama de feminista da mulher holandesa - ainda mais quando olho ao meu redor e o que vejo são donas-de-casa cuidando da casa e dos filhos, levando e buscando as crianças na escola de bicicleta (faça chuva ou faça sol), lavando e passando roupa, limpando a casa, etc. As que trabalham têm à sua espera uma jornada dupla de trabalho (casa e escritório) e volta e meia são rotuladas pela mídia local de super-mulheres (rótulo mais do que merecido, convenhamos). O estranho é que elas fazem tudo e ainda acham que não fizeram o bastante. Nunca entendi isso, talvez sejam resquícios de uma sociedade calvinista. Fica a pergunta: como assim, feminismo?

Tempos atrás, comentando com uma amiga, chegamos à conclusão de que feministas mesmo são as mulheres brasileiras! Não apenas elas não abandonam suas carreiras ao ter filhos (OK, nem sempre isso é uma escolha mas uma necessidade, estou ciente de que as condições econômicas nos dois países são outras) como muitas têm uma empregada pra cuidar da casa pra elas...e tempo livre pra ir ao cabelereiro, manicure, etc.

Moral da estória? Nem tudo é o que parece.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Bolo de banana


Dia de chuva, preguiça, bananas maduras...não deu outra: Bolo de Banana. Achei esta receita em um dos meus livros de muffins, só que como a preguiça é ingrediente desta receita, em vez de usar uma forma para muffins, eu despejo a massa numa forma de pão (retangular). O resultado é praticamente o mesmo...e aqui em casa adoramos!

Ingredientes:
1 xíc. farinha integral
1 xíc. farinha de trigo
1 xíc. açúcar mascavo
fermento em pó
3 bananas amassadas
125 ml leite
125 g manteiga (derretida)
2 ovos
canela e outras especiarias
nozes picadas (opcional)

Preparo:
1. Pegue duas tigelas (grande e média).
2. Coloque os ingredientes secos em uma tigela grande: farinhas, açúcar, fermento, especiarias e nozes picadas (há quem coloque ainda uma pitada de sal).
3. Coloque os ingredientes líquidos na tigela média: manteiga, ovos, banana e por último, leite.
4. Despeje os ingredientes líquidos na tigela grande. Não precisa mexer muito, só o suficiente para misturar todos os ingredientes.
5. Despeje tudo em uma forma de pão.
6. Asse por 40-45 minutos em um forno pré-aquecido (180 graus).

Et voilá, Bon Appettit! Além de saboroso, uma receita saudável com farinha integral, banana e nozes! Ideal para o lanche ou acompanhando um café.

domingo, fevereiro 25, 2007

Sessão de cinema: Little Children


Esta semana assisti Little Children (Pecados Íntimos no Brasil), um filme muito interessante do diretor Todd Field (trailer aqui). O filme foi premiado em alguns festivais importantes e com toda razão. Com roteiro impecável e ótimas atuações, ele mostra o que existe por trás da realidade da vida suburbana e lida com temas que nos fazem questionar alguns valores. Inevitavelmente, algumas cenas me fazem lembrar de filmes favoritos como Happiness e American Beauty. Já as cenas iniciais, como a das mães e suas crianças no playground (e a voz do narrador ao fundo) têm algo de Desperate Housewifes. Mas a chave do filme, pelo menos na minha opinião, é o questionamento (inquietação) dos dois protagonistas e, possivelmente, do público, que é confrontado com temas adultos como infidelidade, pedofilia e pornografia na Internet.

Um aspecto interessante é a forma como ele retrata o pedófilo no filme - não apenas um monstro (como a sociedade julga, e não sem razão) mas um ser humano doente e muito infeliz. Eu não diria que cheguei a sentir pena do personagem (mas quase), mas é digno de nota ver como o diretor nos mostra o outro lado da pedofilia - ou seja, o contexto do doente em questão. Cada um que tire suas próprias conclusões.

A protagonista é Sarah (numa atuação de cara lavada de Kate Winslet, que aliás concorre com este filme para o Oscar de Melhor Atriz), uma mãe e dona-de-casa nada típica, com algumas realizações acadêmicas e que agora dedica-se integralmente a cuidar da filha pequena. Sarah se sente um peixe fora d´água entre as outras mães do playground e sente falta de quem ela era antes da maternidade, o que é agravado pela rotina de um casamento infeliz (desnecessário dizer, me identifiquei muito com a personagem). Não é à toa que Madame Bovary é citada em uma cena do filme, quando Sarah discute o clássico de Flaubert em um grupo de leitura. Pensando bem, eu até arriscaria dizer que esta cena é crucial pra entender melhor a personagem.

Em suma, um filme para as mentes questionadoras...depois não digam que eu não avisei.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Scrapping time

Tarde de chuva em Amsterdam

Passei algumas horas hoje à tarde no meu primeiro scrapbook. E descobri que scrapbooking é mais do que um simples hobbie: é uma terapia! Pena que o material não seja lá muito barato - e o pior, um mais lindo do que o outro...Além dos dois livros que comprei sexta passada, hoje ainda tive de investir em umas ferramentas básicas e aproveitei pra comprar alguns papéis especiais. Ao menos com scrapbooking você pode ver o produto final. E uma coisa eu garanto: as fotos ficam show!

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Anjo da guarda


Um anjo deve trazer rosas
e partir... Anjos pairam e por
alguns poucos instantes deitam-se
nas gramas ou nas camas dos mortais.
(Christiane Tricerri)

Hoje completam-se 8 anos que minha mãe faleceu - mas ela continua muito presente na minha vida e do neto. Perdemos uma mãe e uma avó, ganhamos um anjo da guarda lá no céu. Estas rosas virtuais são para ela, que tanto amava rosas e fotografia, assim como todo tipo de arte. Mais tarde irei à florista comprar um buquê de verdade.


segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Viajar é preciso

Conversando hoje com uma amiga ao telefone, ela reclamou que a vida dela é muito pobre de acontecimentos e que não tem muito sobre o que escrever. Pois eu acho que é exatamente o contrário: ela tem uma vida muito rica - só que os acontecimentos ocorrem dentro dela, e não necessariamente fora (o que não deixa de ter seu valor). E digo isso porque tenho a mesma sensação.

Cada um viaja como pode, alguns pegam um avião, outros um trem, outros ainda decolam em suas cabeças e viajam kms e kms sem sair do lugar (literalmente)...e com alguma sorte conseguem chegar cada vez mais perto de si mesmos, apesar das eventuais turbulências e acidentes de trajeto. O destino final desses viajantes é o autoconhecimento, país pouco explorado por muitos. Conhece-te a ti mesmo, já dizia o sábio filósofo Sócrates.

Eu acho que existem dois tipos de viajantes: 1. o viajante propriamente dito, visto pelos aeroportos espalhados pelo mundo afora 2. o viajante cujo destino é ele mesmo, este viaja sem sair do lugar e no entanto, é capaz de cobrir distâncias extraordinárias no espaço de dias.

Quanto a mim, eu viajo...viajo muito mesmo (atualmente mais num sentido do que no outro, admito). Adoro viajar de verdade (no sentido literal da palavra), como já disse em um post recente. Mas desconfio que as maiores descobertas que fiz na minha vida não foram aquelas que fiz quando saí mundo afora e sim quando fiquei aqui mesmo, refletindo com meus botões.
O que de certa forma, é no mínimo um paradoxo vindo de alguém que pegou um avião e começou uma nova vida em outro continente, 13 anos atrás. O fato é que (noss)as viagens externas podem ou não desencadear grandes viagens interiores. Mas não basta ter olhos para ver, é preciso saber ver!

Descobrir novas paisagens é um grande privilégio - eu como sagitariana sei muito bem disso - mas tem aquelas pessoas que viajam por todo lado e não sabem dizer onde estiveram, nem de onde vêm, nem para onde vão...enfim, tudo na vida é relativo!

Assunto sério

AVISO AOS NAVEGANTES: Se você está aqui somente para se divertir, não leia este post.

Acabei de ler um livro muito interessante, uma espécie de diário de uma bipolar, publicado recentemente no Brasil pela Editora Nova Fronteira. A verdade é que desde que uma de minhas melhores amigas aqui na Holanda foi diagnosticada como bipolar (e somos muito parecidas), venho me interessando pelo assunto e tenho procurado ler mais...Como eterna estudante (e curiosa), eu já tinha lido alguns livros sobre depressão. Dentre eles, recomendo acima de tudo O Demônio do Meio-Dia, um livro esclarecedor e muito abrangente sobre um tema que ainda é tabu em pleno século XXI (e eu vivi isso na pele, acreditem).

Mas o que eu queria mesmo dizer é que, depois de ler quatro livros sobre bipolaridade, estou chegando à conclusão de que tive o diagnóstico errado! Explicando melhor, fui diagnosticada como tendo distimia, um tipo de depressão crônica mas branda (lembram do rabugento?) que infelizmente, pode levar a uma depressão maior (tive três e não desejo esta dor ao meu pior inimigo). Ainda mais quando descobri que é um erro comum bipolares do tipo 2 (mais episódios de depressão e menos de mania) serem diagnosticados como tendo depressão unipolar...foi o caso da autora deste livro e parece ser o meu. Verdade seja dita, não sou psiquiatra - nem tenho a intenção de ser - mas me identifiquei com várias partes do livro.

Pronto, contei o segredo que vem me atazanando a cabeça há tempos (não é à toa que o meu blog se chama Noites em claro). Pensando bem, chega de (auto)-censura, este blog afinal é meu!

In other words: enter at your own risk.

sábado, fevereiro 17, 2007

Sessão de cinema: Night at the Museum


Ontem fui com o Liam ao cinema assistir o filme Night at the Museum. E confesso que não sei quem se divertiu mais, se foi ele ou eu...soltei boas gargalhadas durante o filme, como não soltava há tempos no cinema. As cenas são simplesmente hilárias e a idéia do roteiro é fantástica.
Engraçado foi o Liam, como bom garoto de 6 anos apaixonado por dinossauros - e o T-Rex é uma das estrelas do filme - perguntando depois do filme se não existia um museu assim pra ele visitar! Criança diz cada uma (mas que seria uma experiência inesquecível, isso seria, hehehe).

Scrapbooking!

Não, não chega a ser novidade: scrapbooking é um hobbie que faz enorme sucesso há anos nos EUA e em muitos outros países, inclusive aqui na Holanda. Mas só agora fui acometida pelo vírus...inevitavelmente, me deixei inspirar pelos belíssimos projetos com fotografias e todos os tipos de embelezamentos possíveis e imagináveis disponíveis hoje para scrapbookers de plantão. Papéis de diversas cores, designs e texturas, stickers, tachinhas, fitas e botões, letras do alfabeto, pequenos adornos, etc. Como em todo hobbie que se preze: sua imaginação é o limite!

O que me conquistou de uma vez por todas, sem dúvida, foi o aspecto altamente pessoal deste hobbie: você trabalha com suas fotos e cria páginas no seu estilo, contando suas estórias! Uma das novas manias em Scrapbook land é o journaling - o que poderíamos comparar com passagens de um diário ou blog, usadas para dar um toque especial às páginas do scrapbook. Assim sendo, cada scrapbooker desenvolve com o tempo seu estilo próprio, o que é fascinante de observar nos diversos livros publicados sobre o assunto. Eu, como costumo me entusiasmar pelas coisas, acabei comprando ontem dois livros em promoção na American Book Center: Scrapbooking Projects e Scrapbooking Techniques.
Naturalmente, as fotografias são o principal material para o scrapbooking...e fuxicando aqui em casa, achei exatamente o que estava procurando: fotos da minha mãe, em pequenos álbuns de capa plástica, pedindo urgentemente melhor tratamento! De sobra, achei ainda umas fotos de um trekking que fiz na Bahia no carnaval de 1993, belíssimas por sinal! Ou seja, com estes achados, tenho material mais do que suficiente para começar a fazer meus próprios scrapbooks.
E pra quem não entendeu nada do que estou falando, aqui vai a dica de um link para um grupo do Flickr, minha maior fonte de inspirações nos últimos tempos:

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Falta sempre alguma coisa


Quando não falta tempo, falta dinheiro. Eu queria 36 horas num dia e 10 dias numa semana. E se me permitem a sinceridade, queria uma conta bancária bem gorda pra poder comprar todos os livros que tenho vontade de ler, todos os filmes que tenho vontade de ver e conhecer todos os lugares que sonho conhecer.

Eu queria - ao menos uma vez na vida - poder entrar numa livraria e comprar sem fazer as contas duas vezes, ir numa agência de viagens e comprar um pacote turístico completo sem refletir muito. Porque o que eu queria era viajar muito, muito mesmo. É verdade que meu currículo de viagens é pra lá de razoável, considerando-se minha humilde origem...mas ando carente de novos ares e de novas paisagens. Ando com saudades dos tempos em que trabalhava em Edinburgh ou Dublin. Saudades de Paris, Londres, Lisboa, Barcelona, Nice, Antibes e Cote d`Azur...Saudades das cidades que nunca conheci mas que um dia irei conhecer (se Deus quiser). Saudades das ruas por onde nunca andei, dos cafés onde ainda não me sentei, dos museus que ainda não visitei, das livrarias nas quais ainda não passei horas a fio sonhando...
Ando com uma vontade incontrolável de arrumar as malas, pegar um trem ou avião e partir rumo a terras desconhecidas...Febre de viagem, quando nasci devo ter sido picada por algum inseto (travel bug) porque desde que me conheço por gente, meu sonho sempre foi viajar.

Verdade seja dita, a gente nunca está satisfeito: falta sempre alguma coisa.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

2 x Michel Gondry

Aproveitando que citei Eternal Sunshine no post anterior, decidi falar de um dos diretores mais geniais da atualidade, o francês Michel Gondry. Seu filme Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004) é, sem dúvida, um dos roteiros mais originais dos últimos anos e o mais recente Science of Sleep (2006) não fica atrás.

Antes de fazer filmes, ele produziu inúmeros vídeos para algumas das melhores bandas do planeta, entre elas Massive Attack, Chemical Brothers e Bjork. Encantado com a originalidade do roteiro de Being John Malkovich escrito por Charlie Kaufman, Michel encomendou a ele um roteiro e assim produziu Human Nature (2001). Mas sua consagração veio mesmo com Eternal Sunshine, onde Kate Winslet e Jim Carrey contracenam em uma história de amor inusitada. A fotografia do filme é um dos principais elementos em um roteiro original.

Science of Sleep conta a estória de Stephanie, um jovem sensível e criativo que tem o (mau) hábito de confundir realidade e sonho. Após a morte de seu pai, ele retorna à Paris para juntar-se à sua mãe, que arruma para ele um emprego colando layouts para calendários...A insatisfação do rapaz com a rotina de um escritório é retratada em sonhos cada vez mais elaborados, uma fuga da realidade banal em que se encontra aprisionado. Para complicar ainda mais a vida do rapaz, ele se apaixona pela sua vizinha, uma francesinha bem representada pela atriz Charlotte Gainsbourg.

As cenas de sonhos compõem os principais elementos do filme, e mostram um diretor que é, antes de mais nada, um mestre das artes visuais. Ao retratar o clima de sonho, Michel Gondry faz uso de materiais como feltro, papelão, bolinhas de algodão e papel celofane na animação. O resultado não poderia ser melhor. O expectador é transportado para os sonhos de Stephanie, quase como se estivesse vivendo dentro deles. Cinema de sonhos.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

O romantismo de cada um

Tive algumas reações, de certa forma esperadas, sobre o filme Serendipity. O que basicamente prova duas coisas: 1. que Holywood sabe o que está fazendo 2. que eu fiquei ranzinza com o passar dos anos (e a perda de algumas ilusões). De qualquer forma, é fascinante observar como cada pessoa tem uma visão única do amor. Visão baseada, antes de mais nada, em sua idade, vivência pessoal e, last but not least, no momento atual da sua relação. Pensando bem, isso talvez explique porque todas as pessoas que encontrei até hoje têm uma interpretação pessoal de um filme como Closer, como bem observou uma amiga blogueira.

No meu caso, tive uma relação de 10 anos que passou por todas as fases possíveis e (in)imagináveis que um relacionamento poderia passar e, creio ainda, por mais crises que uma relação deveria passar. E posso dizer com um certo orgulho que não apenas sobrevivi como hoje somos amigos. O que, cá entre nós, não é o que acontece com a maioria dos casais que se separam. Só que não posso mais me dar ao luxo de acreditar que o amor não muda, que ele não acaba, etc etc etc...

Em suma, perdi a inocência dos 20 anos. Até porque, para acreditar neste mito do amor eterno tão bem retratado pelos poetas românticos e por Holywood, eu teria de apagar meu passado. O que inevitavelmente me faz lembrar de outro filme que adoro: Eternal Sunshine of the Spotless Mind (o roteiro e a direção são geniais, vale a pena conferir).
Tecnologia do Blogger.

Feminismo na Holanda

Depois da receita do bolo de banana, me inspirei no post sobre feminismo no blog de uma amiga - que como eu, também é mãe e estrangeira na Holanda - e decidi botar a boca no trombone, como de costume (mas não muito pra não assustar os desavisados).

Para início de conversa, quase não falei da Holanda neste blog porque em quase 13 anos vivendo aqui ainda há muitas coisas a decifrar. Verdade seja dita, a Holanda para mim ainda é uma charada: Decifra-me ou te devoro. Mas uma coisa ao menos é certa, aqui as aparências enganam e muito. Um exemplo é a idéia que temos de uma sociedade liberal onde as mulheres têm os mesmos direitos que os homens...Sim, elas têm liberdade sexual, podem se divorciar e fazer abortos em clínicas do governo, mas sabe de uma coisa? Acredito que o feminismo seja muito mais do que isso. Feminismo para mim é a mulher ter direitos iguais ao homem para poder se realizar como pessoa (e não apenas como mãe, o que pode até ser a maior realização para algumas mulheres). E neste ponto a Holanda deixa muito a desejar...

A Holanda é antes de mais nada, uma sociedade patriarcal (leia-se: quem manda aqui são os homens). Ou seja, a realidade é muito diferente do mito. As mulheres aqui não apenas pouco participam do mercado de trabalho como as que trabalham ainda recebem salários menores. E se compararmos a parcela de mulheres trabalhando nos países vizinhos (França, Alemanha e Inglaterra), a Holanda perde de longe...Sem falar que pouquíssimas ocupam cargos executivos, o que é comum na Inglaterra e no Brasil. Feminismo ou não, muitas holandesas optam por ficar em casa cuidando dos filhos enquanto o marido trabalha, não me perguntem por quê...

Eu sempre desconfiei dessa fama de feminista da mulher holandesa - ainda mais quando olho ao meu redor e o que vejo são donas-de-casa cuidando da casa e dos filhos, levando e buscando as crianças na escola de bicicleta (faça chuva ou faça sol), lavando e passando roupa, limpando a casa, etc. As que trabalham têm à sua espera uma jornada dupla de trabalho (casa e escritório) e volta e meia são rotuladas pela mídia local de super-mulheres (rótulo mais do que merecido, convenhamos). O estranho é que elas fazem tudo e ainda acham que não fizeram o bastante. Nunca entendi isso, talvez sejam resquícios de uma sociedade calvinista. Fica a pergunta: como assim, feminismo?

Tempos atrás, comentando com uma amiga, chegamos à conclusão de que feministas mesmo são as mulheres brasileiras! Não apenas elas não abandonam suas carreiras ao ter filhos (OK, nem sempre isso é uma escolha mas uma necessidade, estou ciente de que as condições econômicas nos dois países são outras) como muitas têm uma empregada pra cuidar da casa pra elas...e tempo livre pra ir ao cabelereiro, manicure, etc.

Moral da estória? Nem tudo é o que parece.

Bolo de banana


Dia de chuva, preguiça, bananas maduras...não deu outra: Bolo de Banana. Achei esta receita em um dos meus livros de muffins, só que como a preguiça é ingrediente desta receita, em vez de usar uma forma para muffins, eu despejo a massa numa forma de pão (retangular). O resultado é praticamente o mesmo...e aqui em casa adoramos!

Ingredientes:
1 xíc. farinha integral
1 xíc. farinha de trigo
1 xíc. açúcar mascavo
fermento em pó
3 bananas amassadas
125 ml leite
125 g manteiga (derretida)
2 ovos
canela e outras especiarias
nozes picadas (opcional)

Preparo:
1. Pegue duas tigelas (grande e média).
2. Coloque os ingredientes secos em uma tigela grande: farinhas, açúcar, fermento, especiarias e nozes picadas (há quem coloque ainda uma pitada de sal).
3. Coloque os ingredientes líquidos na tigela média: manteiga, ovos, banana e por último, leite.
4. Despeje os ingredientes líquidos na tigela grande. Não precisa mexer muito, só o suficiente para misturar todos os ingredientes.
5. Despeje tudo em uma forma de pão.
6. Asse por 40-45 minutos em um forno pré-aquecido (180 graus).

Et voilá, Bon Appettit! Além de saboroso, uma receita saudável com farinha integral, banana e nozes! Ideal para o lanche ou acompanhando um café.

Sessão de cinema: Little Children


Esta semana assisti Little Children (Pecados Íntimos no Brasil), um filme muito interessante do diretor Todd Field (trailer aqui). O filme foi premiado em alguns festivais importantes e com toda razão. Com roteiro impecável e ótimas atuações, ele mostra o que existe por trás da realidade da vida suburbana e lida com temas que nos fazem questionar alguns valores. Inevitavelmente, algumas cenas me fazem lembrar de filmes favoritos como Happiness e American Beauty. Já as cenas iniciais, como a das mães e suas crianças no playground (e a voz do narrador ao fundo) têm algo de Desperate Housewifes. Mas a chave do filme, pelo menos na minha opinião, é o questionamento (inquietação) dos dois protagonistas e, possivelmente, do público, que é confrontado com temas adultos como infidelidade, pedofilia e pornografia na Internet.

Um aspecto interessante é a forma como ele retrata o pedófilo no filme - não apenas um monstro (como a sociedade julga, e não sem razão) mas um ser humano doente e muito infeliz. Eu não diria que cheguei a sentir pena do personagem (mas quase), mas é digno de nota ver como o diretor nos mostra o outro lado da pedofilia - ou seja, o contexto do doente em questão. Cada um que tire suas próprias conclusões.

A protagonista é Sarah (numa atuação de cara lavada de Kate Winslet, que aliás concorre com este filme para o Oscar de Melhor Atriz), uma mãe e dona-de-casa nada típica, com algumas realizações acadêmicas e que agora dedica-se integralmente a cuidar da filha pequena. Sarah se sente um peixe fora d´água entre as outras mães do playground e sente falta de quem ela era antes da maternidade, o que é agravado pela rotina de um casamento infeliz (desnecessário dizer, me identifiquei muito com a personagem). Não é à toa que Madame Bovary é citada em uma cena do filme, quando Sarah discute o clássico de Flaubert em um grupo de leitura. Pensando bem, eu até arriscaria dizer que esta cena é crucial pra entender melhor a personagem.

Em suma, um filme para as mentes questionadoras...depois não digam que eu não avisei.

Scrapping time

Tarde de chuva em Amsterdam

Passei algumas horas hoje à tarde no meu primeiro scrapbook. E descobri que scrapbooking é mais do que um simples hobbie: é uma terapia! Pena que o material não seja lá muito barato - e o pior, um mais lindo do que o outro...Além dos dois livros que comprei sexta passada, hoje ainda tive de investir em umas ferramentas básicas e aproveitei pra comprar alguns papéis especiais. Ao menos com scrapbooking você pode ver o produto final. E uma coisa eu garanto: as fotos ficam show!

Anjo da guarda


Um anjo deve trazer rosas
e partir... Anjos pairam e por
alguns poucos instantes deitam-se
nas gramas ou nas camas dos mortais.
(Christiane Tricerri)

Hoje completam-se 8 anos que minha mãe faleceu - mas ela continua muito presente na minha vida e do neto. Perdemos uma mãe e uma avó, ganhamos um anjo da guarda lá no céu. Estas rosas virtuais são para ela, que tanto amava rosas e fotografia, assim como todo tipo de arte. Mais tarde irei à florista comprar um buquê de verdade.


Viajar é preciso

Conversando hoje com uma amiga ao telefone, ela reclamou que a vida dela é muito pobre de acontecimentos e que não tem muito sobre o que escrever. Pois eu acho que é exatamente o contrário: ela tem uma vida muito rica - só que os acontecimentos ocorrem dentro dela, e não necessariamente fora (o que não deixa de ter seu valor). E digo isso porque tenho a mesma sensação.


Cada um viaja como pode, alguns pegam um avião, outros um trem, outros ainda decolam em suas cabeças e viajam kms e kms sem sair do lugar (literalmente)...e com alguma sorte conseguem chegar cada vez mais perto de si mesmos, apesar das eventuais turbulências e acidentes de trajeto. O destino final desses viajantes é o autoconhecimento, país pouco explorado por muitos. Conhece-te a ti mesmo, já dizia o sábio filósofo Sócrates.

Eu acho que existem dois tipos de viajantes: 1. o viajante propriamente dito, visto pelos aeroportos espalhados pelo mundo afora 2. o viajante cujo destino é ele mesmo, este viaja sem sair do lugar e no entanto, é capaz de cobrir distâncias extraordinárias no espaço de dias.

Quanto a mim, eu viajo...viajo muito mesmo (atualmente mais num sentido do que no outro, admito). Adoro viajar de verdade (no sentido literal da palavra), como já disse em um post recente. Mas desconfio que as maiores descobertas que fiz na minha vida não foram aquelas que fiz quando saí mundo afora e sim quando fiquei aqui mesmo, refletindo com meus botões.
O que de certa forma, é no mínimo um paradoxo vindo de alguém que pegou um avião e começou uma nova vida em outro continente, 13 anos atrás. O fato é que (noss)as viagens externas podem ou não desencadear grandes viagens interiores. Mas não basta ter olhos para ver, é preciso saber ver!

Descobrir novas paisagens é um grande privilégio - eu como sagitariana sei muito bem disso - mas tem aquelas pessoas que viajam por todo lado e não sabem dizer onde estiveram, nem de onde vêm, nem para onde vão...enfim, tudo na vida é relativo!

Assunto sério

AVISO AOS NAVEGANTES: Se você está aqui somente para se divertir, não leia este post.

Acabei de ler um livro muito interessante, uma espécie de diário de uma bipolar, publicado recentemente no Brasil pela Editora Nova Fronteira. A verdade é que desde que uma de minhas melhores amigas aqui na Holanda foi diagnosticada como bipolar (e somos muito parecidas), venho me interessando pelo assunto e tenho procurado ler mais...Como eterna estudante (e curiosa), eu já tinha lido alguns livros sobre depressão. Dentre eles, recomendo acima de tudo O Demônio do Meio-Dia, um livro esclarecedor e muito abrangente sobre um tema que ainda é tabu em pleno século XXI (e eu vivi isso na pele, acreditem).

Mas o que eu queria mesmo dizer é que, depois de ler quatro livros sobre bipolaridade, estou chegando à conclusão de que tive o diagnóstico errado! Explicando melhor, fui diagnosticada como tendo distimia, um tipo de depressão crônica mas branda (lembram do rabugento?) que infelizmente, pode levar a uma depressão maior (tive três e não desejo esta dor ao meu pior inimigo). Ainda mais quando descobri que é um erro comum bipolares do tipo 2 (mais episódios de depressão e menos de mania) serem diagnosticados como tendo depressão unipolar...foi o caso da autora deste livro e parece ser o meu. Verdade seja dita, não sou psiquiatra - nem tenho a intenção de ser - mas me identifiquei com várias partes do livro.

Pronto, contei o segredo que vem me atazanando a cabeça há tempos (não é à toa que o meu blog se chama Noites em claro). Pensando bem, chega de (auto)-censura, este blog afinal é meu!

In other words: enter at your own risk.

Sessão de cinema: Night at the Museum


Ontem fui com o Liam ao cinema assistir o filme Night at the Museum. E confesso que não sei quem se divertiu mais, se foi ele ou eu...soltei boas gargalhadas durante o filme, como não soltava há tempos no cinema. As cenas são simplesmente hilárias e a idéia do roteiro é fantástica.
Engraçado foi o Liam, como bom garoto de 6 anos apaixonado por dinossauros - e o T-Rex é uma das estrelas do filme - perguntando depois do filme se não existia um museu assim pra ele visitar! Criança diz cada uma (mas que seria uma experiência inesquecível, isso seria, hehehe).

Scrapbooking!

Não, não chega a ser novidade: scrapbooking é um hobbie que faz enorme sucesso há anos nos EUA e em muitos outros países, inclusive aqui na Holanda. Mas só agora fui acometida pelo vírus...inevitavelmente, me deixei inspirar pelos belíssimos projetos com fotografias e todos os tipos de embelezamentos possíveis e imagináveis disponíveis hoje para scrapbookers de plantão. Papéis de diversas cores, designs e texturas, stickers, tachinhas, fitas e botões, letras do alfabeto, pequenos adornos, etc. Como em todo hobbie que se preze: sua imaginação é o limite!

O que me conquistou de uma vez por todas, sem dúvida, foi o aspecto altamente pessoal deste hobbie: você trabalha com suas fotos e cria páginas no seu estilo, contando suas estórias! Uma das novas manias em Scrapbook land é o journaling - o que poderíamos comparar com passagens de um diário ou blog, usadas para dar um toque especial às páginas do scrapbook. Assim sendo, cada scrapbooker desenvolve com o tempo seu estilo próprio, o que é fascinante de observar nos diversos livros publicados sobre o assunto. Eu, como costumo me entusiasmar pelas coisas, acabei comprando ontem dois livros em promoção na American Book Center: Scrapbooking Projects e Scrapbooking Techniques.
Naturalmente, as fotografias são o principal material para o scrapbooking...e fuxicando aqui em casa, achei exatamente o que estava procurando: fotos da minha mãe, em pequenos álbuns de capa plástica, pedindo urgentemente melhor tratamento! De sobra, achei ainda umas fotos de um trekking que fiz na Bahia no carnaval de 1993, belíssimas por sinal! Ou seja, com estes achados, tenho material mais do que suficiente para começar a fazer meus próprios scrapbooks.
E pra quem não entendeu nada do que estou falando, aqui vai a dica de um link para um grupo do Flickr, minha maior fonte de inspirações nos últimos tempos:

Falta sempre alguma coisa


Quando não falta tempo, falta dinheiro. Eu queria 36 horas num dia e 10 dias numa semana. E se me permitem a sinceridade, queria uma conta bancária bem gorda pra poder comprar todos os livros que tenho vontade de ler, todos os filmes que tenho vontade de ver e conhecer todos os lugares que sonho conhecer.

Eu queria - ao menos uma vez na vida - poder entrar numa livraria e comprar sem fazer as contas duas vezes, ir numa agência de viagens e comprar um pacote turístico completo sem refletir muito. Porque o que eu queria era viajar muito, muito mesmo. É verdade que meu currículo de viagens é pra lá de razoável, considerando-se minha humilde origem...mas ando carente de novos ares e de novas paisagens. Ando com saudades dos tempos em que trabalhava em Edinburgh ou Dublin. Saudades de Paris, Londres, Lisboa, Barcelona, Nice, Antibes e Cote d`Azur...Saudades das cidades que nunca conheci mas que um dia irei conhecer (se Deus quiser). Saudades das ruas por onde nunca andei, dos cafés onde ainda não me sentei, dos museus que ainda não visitei, das livrarias nas quais ainda não passei horas a fio sonhando...
Ando com uma vontade incontrolável de arrumar as malas, pegar um trem ou avião e partir rumo a terras desconhecidas...Febre de viagem, quando nasci devo ter sido picada por algum inseto (travel bug) porque desde que me conheço por gente, meu sonho sempre foi viajar.

Verdade seja dita, a gente nunca está satisfeito: falta sempre alguma coisa.

2 x Michel Gondry

Aproveitando que citei Eternal Sunshine no post anterior, decidi falar de um dos diretores mais geniais da atualidade, o francês Michel Gondry. Seu filme Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004) é, sem dúvida, um dos roteiros mais originais dos últimos anos e o mais recente Science of Sleep (2006) não fica atrás.

Antes de fazer filmes, ele produziu inúmeros vídeos para algumas das melhores bandas do planeta, entre elas Massive Attack, Chemical Brothers e Bjork. Encantado com a originalidade do roteiro de Being John Malkovich escrito por Charlie Kaufman, Michel encomendou a ele um roteiro e assim produziu Human Nature (2001). Mas sua consagração veio mesmo com Eternal Sunshine, onde Kate Winslet e Jim Carrey contracenam em uma história de amor inusitada. A fotografia do filme é um dos principais elementos em um roteiro original.

Science of Sleep conta a estória de Stephanie, um jovem sensível e criativo que tem o (mau) hábito de confundir realidade e sonho. Após a morte de seu pai, ele retorna à Paris para juntar-se à sua mãe, que arruma para ele um emprego colando layouts para calendários...A insatisfação do rapaz com a rotina de um escritório é retratada em sonhos cada vez mais elaborados, uma fuga da realidade banal em que se encontra aprisionado. Para complicar ainda mais a vida do rapaz, ele se apaixona pela sua vizinha, uma francesinha bem representada pela atriz Charlotte Gainsbourg.

As cenas de sonhos compõem os principais elementos do filme, e mostram um diretor que é, antes de mais nada, um mestre das artes visuais. Ao retratar o clima de sonho, Michel Gondry faz uso de materiais como feltro, papelão, bolinhas de algodão e papel celofane na animação. O resultado não poderia ser melhor. O expectador é transportado para os sonhos de Stephanie, quase como se estivesse vivendo dentro deles. Cinema de sonhos.

O romantismo de cada um

Tive algumas reações, de certa forma esperadas, sobre o filme Serendipity. O que basicamente prova duas coisas: 1. que Holywood sabe o que está fazendo 2. que eu fiquei ranzinza com o passar dos anos (e a perda de algumas ilusões). De qualquer forma, é fascinante observar como cada pessoa tem uma visão única do amor. Visão baseada, antes de mais nada, em sua idade, vivência pessoal e, last but not least, no momento atual da sua relação. Pensando bem, isso talvez explique porque todas as pessoas que encontrei até hoje têm uma interpretação pessoal de um filme como Closer, como bem observou uma amiga blogueira.

No meu caso, tive uma relação de 10 anos que passou por todas as fases possíveis e (in)imagináveis que um relacionamento poderia passar e, creio ainda, por mais crises que uma relação deveria passar. E posso dizer com um certo orgulho que não apenas sobrevivi como hoje somos amigos. O que, cá entre nós, não é o que acontece com a maioria dos casais que se separam. Só que não posso mais me dar ao luxo de acreditar que o amor não muda, que ele não acaba, etc etc etc...

Em suma, perdi a inocência dos 20 anos. Até porque, para acreditar neste mito do amor eterno tão bem retratado pelos poetas românticos e por Holywood, eu teria de apagar meu passado. O que inevitavelmente me faz lembrar de outro filme que adoro: Eternal Sunshine of the Spotless Mind (o roteiro e a direção são geniais, vale a pena conferir).