quinta-feira, março 13, 2014

O novo diagnóstico

Pra quem percebeu o meu sumiço (de vez eu quando eu sumo pra reorganizar as idéias), voltei - então senta que lá vem estória! Pra falar a verdade, eu pensei um bocado se devia ou não publicar isso aqui mas como eu sou eu, já viu! Eu não tenho papas na língua.

Em novembro, como todo fim de ano, tive mais uma crise pesadíssima (comentei aqui). Dessa vez tive até de mudar de tratamento (terapia e medicamento) e desde então, tive duas longas conversas com o novo psiquiatra...que finalmente sacou o que os anteriores não sacaram. Tá sentado? O novo psiquiatra reveu meus diagnósticos anteriores de depressão e borderline e concluiu que sou um caso clássico de Bipolar II (ou seja, nada de borderline tá gente?) . Pra ser sincera, nem cheguei a ficar surpresa com o novo diagnóstico, porque sempre desconfiei disso (e subitamente a ficha caiu e muita coisa passou a fazer sentido). O problema é que eu mesma não tinha informação suficiente sobre a tal doença...então complicou, né?



Explicando para os leigos (e pra quem estiver interessado no assunto), existem dois tipos de bipolar: I e II. Bipolar I é o quadro clássico do maníaco-depressivo e se caracteriza por ciclos alternados de depressão e mania (e em casos mais graves, psicose). Geralmente a primeira crise ocorre lá pelos 18 anos e é tão grave que o paciente precisa ser hospitalizado. Eu conheço uma pessoa assim, e ela toma lítio há mais de 20 anos (e virou minha coach nesta nova fase de medicamento pois eu comecei a tomar lítio semana passada). Dito isso, Bipolar I é o tipo mais fácil de ser diagnosticado.

Bipolar II (meu "novo" diagnóstico), a pessoa sofre períodos de depressão grave com períodos de hipermania (irritabilidade, agitação mental e um certo grau de "entusiasmo" que não são graves o bastante para serem classificados como mania). O problema é que o paciente com Bipolar II geralmente só busca ajuda quando está deprimido - porque quando a pessoa está na fase animada está tudo bem e todo mundo está feliz, né? Infelizmente, no Bipolar II as crises de depressão são mais frequentes do que a hipomania. Outro aspecto que dificulta o diagnóstico é que alguns sintomas típicos - como falar ininterruptamente e aceleradamente ("metralhadora"), agitação mental, insônia, irritabilidade e impulsividade - muitas vezes são confundidos com ADHD (Attention Deficit Hyperactive Disorder)...o que diga-se de passagem, aconteceu inúmeras vezes comigo! Principalmente os holandeses, que valorizam o silencio e o temperamento introvertido e reservado. Se no Brasil o meu temperamento " extrovertido"  e " falante"  nem incomoda tanta gente assim (embora também incomode), aqui na Holanda eu incomodo muito. Eu simplesmente não me encaixo na cultura holandesa...
 
No meu caso, foi uma longa jornada até chegar a este diagnóstico. Os últimos dez anos tem sido uma jornada dolorosa com todo tipo de problemas, desde no campo profissional até nos relacionamentos e amizades (quem costuma ler este blog sabe disso). Acho que mais perdi do que fiz amigos aqui na Holanda nos últimos 20 anos (a grande vantagem é que só ficaram mesmo os amigos de verdade). Várias terapias, psicólogos, 3 ou 4 psiquiatras, 3 antidepressivos diferentes (Effexor, Prozac e Cymbalta sendo do que dos tres o que salvou a minha vida foi sem duvida o Prozac) .Fora isso, fiz dois tratamentos prolongados numa clínica daqui (no primeiro recebi o diagnóstico de depressão e no segundo o diagnóstico de borderline). E ano passado, depois que o terceiro antidepressivo deixou de ter efeito (uma situação horrível que só desejo ao meu pior inimigo), minha médica me encaminhou para outra clínica renomada aqui em Amsterdam e desde então estou sendo tratada por um novo psiquiatra. Com um novo medicamento, o velho e conhecido lítio, usado com sucesso no tratamento bipolar há mais de 50 anos.

Portanto, quando eu digo que a minha vida é cheia de altos e baixos, podem acreditar que não estou exagerando. E sabem de uma coisa? Quase ou tão ruim quanto esta doença é a ignorancia alheia. E foi por isso que decidi escrever este post. Quem sabe um dia as pessoas acordam.





8 comentários:

Anônimo disse...

Querida Beth,

Muito obrigada pelo post tão esclarecedor. Confesso não ter conhecimento da classificação Bipolar II, já que falamos geralmente em 'levemente' bipolar.
Como no caso do autismo, ou de qualquer outra diferença psicosocial, a falta de informação das pessoas induz ao preconceito.
Com a sua permissão, eu vou publicar o texto na minha página. Acho muito importante e fico feliz em ter uma amiga tão corajosa.
Beijos!
xx
Fatima

Anônimo disse...

Olá Beth,parabéns pelo blog e pela sua força em enfrentar tudo isso.
Você sabe mais ou menos a partir de que idade a borderline pode ser diagnosticada? Pergunto isso pois tive uma crise de depressão há mais ou menos um ano, e não fiz tratamento algum, apenas li muito sobre o assunto e por acaso cai num site sobre borderline e me identifiquei com TUDO.
Obrigado desde já.
João

alineaimee disse...

Querida, me consola ver que você não foge do tratamento. Tenho familiares próximos em situação semelhante que simplesmente se recusam a se tratar ou a entender o que têm.
Você está no caminho certo. Ninguém merece passar a vida sofrendo. Estou aqui torcendo por você e te desejando muita força! Tenho um amigo que toma lítio há anos. Você vai superar!

Beijo grande!

Eliana disse...

Sabe Beth, acho engraçado vc quase se desculpar por falar de uma situação pessoal! rs Vejo isso de uma forma tão natural como falar do tempo! Na verdade grande parte das pessoas não estão nem aí. Primeiro, acho que, ao mesmo tempo, que soa estranho tantos diagnósticos, é compreensível, afinal quem falaria, saberia disso nas época de nossos pais e avós? A pessoa era taxada de louca, isolada e a família escondia tudo. Acho muito melhor falar abertamente, esclarecer, comunicar.
Eu tenho uma amigo que deve ter o bipolar II também. Tem gente que me pergunta como eu tenho amizade com ele? Ele me enlouquece às vezes rs, porque ele mesmo não fala do problema, talvez por vergonha mesmo. Penso até que quando ele está naquela fase do tudo maravilhosamente indo bem (ele tb fica insuportável) ele para com os medicamentos e, nas crises bravas, lá está ele arrasado. Acho que ele próprio não se deu conta de verdade. São relacionamentos que não dão certo, emprego que ele perde...complicado.
Que bom que você tá aí, firme e forte e te desejo que o tratamento seja eficaz e que te traga equilíbrio, bem estar e qualidade de vida e é isso mesmo, quando tiver vontade, conta mesmo...nestas vai ajudar a muita gente! Um grande beijo.

Anônimo disse...

obrigada por compartilhar

Milena F. disse...

Li o texto quando você colocou mas acabei esquecendo de comentar.
Acho que eu já tinha escrito anteriormente que é muito comum pacientes serem diagnosticados durante anos como depressão e tomando medicamento errado, esse tipo de confusão é muito comum. Essa semana mesmo assisti a uma reportagem francesa sobre o transtorno Bipolar através dos pacientes, que contavam como é/era a vida deles. Nada disso me surpreendeu, inclusive o fato de que tinha no meio um artista plástico, uma decoradora de interiores, um apaixonado pela China que teve a sorte de viajar 20 anos nesse país, comprou tudo que podia e não podia lá, trabalha revendendo essas antiguidades e é reconhecido pelas suas fotos e um dos pioneiros no conhecimento desse povo. As pessoas que não tiveram opção e cairam em uma profissão "clássica", em uma empresa, com um chefe, etc, dificilmente conseguem se integrar.
O que me surpreendeu mesmo é que essas pessoas falavam que tinham recebido "eletrochoque" como tratamento, eu na minha ingenuidade achando que era algo quese completamente em desuso.
Mas no final das contas, seguindo o tratamento (o mais frequente com o lítio), podiam levar uma vida normal. O problema é que algumas pessoas não se contentavam com uma "vida normal".
Tenho uma cunhada que adoro e que sofre desse transtorno e fico muito triste com o quando a família (nem a dela nem a do marido) não entende, não aceita e ficam rindo dela, criticando cada comportamento que são sintomas da doença. Mas por outro lado ela não quer seguir o tratamento (teve experiência ruim com o único psiquiatra da região onde ela mora, no interior) e não quer ficar dependendo de medicamento para o resto da vida.
Ela deve passar alguns dias aqui em casa em junho e sem outras pessoas da familia vou tentar falar com ela mais profissionalmente sobre o caso dela.

Morena da Mata disse...

Olá, Beth!

Vim te visitar e, ao ler seu post mais atual, não pude deixar de ler esse aqui para entender o que se passava.

Eu te entendo um pouco, pois vivi uma depressão grave e, ao longo do tratamento, os médicos iam me passando remédios diversos tanto quanto me diagnosticando de tudo o que é forma, o que foi me adoecendo cada vez mais. Foram longos 5 anos em que perdi amizades, saí da função, não tive namorados... minha vida estacionou. Como eu estava ficando pior com os remédios (incluindo Prozac e Lítio), decidi largá-los por conta própria. No meu caso, foi a decisão mais correta. Ainda que eu tenha levado tempo para me recuperar (o que sinto que vem acontecendo nos últimos meses), eu percebo agora que eu PRECISAVA desse tempo. Eu estava deprimida não à toa, mas por sofrer muito no trabalho... estava solitária, com a imunidade baixa e sofrendo muita pressão da empresa. Acho que cair em depressão foi um jeito do meu organismo não ir direto para um ataque cardíaco fulminante (dizendo isso, parece que até que a depressão teve seu lado "bom"...).
Lamento que as pessoas sejam ignorantes... elas são mesmo. Você teve coragem de se expor e eu achei ótimo, pois eu não tive essa audácia, pra tentar me proteger um pouco de um batalhão de "julgamentos cruéis" que apenas poderiam piorar o meu quadro.

Com o tempo, tenho assumido que tive o problema com mais paz e força, mas não para todos. Ainda posso notar um certo olhar constrangido e um ar de peninha, mas aproveito para tentar educar as pessoas quanto à doença (se eu achar que vale a pena, pq se não, nem perco meu tempo).

Estive na Holanda há alguns dias e fui feliz (até arrumei um paquera - com o qual me decepcionei, mas valeu a experiência, enfim).

Ame e aproveite ao máximo aqueles que te amam... eles são peças fundamentais para nossa melhora. Sei que seu problema é diferente do meu, mas gostaria de te dizer que estamos juntas, viu?

Beijoooooooos!

http://caseicomomundo.blogspot.com.br

Beth Blue disse...

M.M., largar por contra própria não é opcão pra mim! Apesar de tudo, posso dizer que Prozac salvou a minha vida, tomei mais de 5 anos e quando parei "por conta própria" porque era verão, estava apaixonada e me sentia super bem...bem, parei e dois meses depois a depressao voltou mais forte do que nunca: eu só chorava...enfim, cada caso é um caso.

Quanto ao lítio, estou tomando há duas semanas e meu único arrependimento é "eles" não terem me receitado antes. Passei anos tomando antidepressivos quando talvez teria sido melhor tomar lítio...agora que o diagnóstico finalmente foi "acertado" vou mesmo é seguir o tratamento direitinho.

Podem me chamar de "junkie" mas só eu sei o quanto tenho sofrido com essas depressòes (pimenta nos olhos do outro é refresco, né?)

Tecnologia do Blogger.

O novo diagnóstico

Pra quem percebeu o meu sumiço (de vez eu quando eu sumo pra reorganizar as idéias), voltei - então senta que lá vem estória! Pra falar a verdade, eu pensei um bocado se devia ou não publicar isso aqui mas como eu sou eu, já viu! Eu não tenho papas na língua.

Em novembro, como todo fim de ano, tive mais uma crise pesadíssima (comentei aqui). Dessa vez tive até de mudar de tratamento (terapia e medicamento) e desde então, tive duas longas conversas com o novo psiquiatra...que finalmente sacou o que os anteriores não sacaram. Tá sentado? O novo psiquiatra reveu meus diagnósticos anteriores de depressão e borderline e concluiu que sou um caso clássico de Bipolar II (ou seja, nada de borderline tá gente?) . Pra ser sincera, nem cheguei a ficar surpresa com o novo diagnóstico, porque sempre desconfiei disso (e subitamente a ficha caiu e muita coisa passou a fazer sentido). O problema é que eu mesma não tinha informação suficiente sobre a tal doença...então complicou, né?



Explicando para os leigos (e pra quem estiver interessado no assunto), existem dois tipos de bipolar: I e II. Bipolar I é o quadro clássico do maníaco-depressivo e se caracteriza por ciclos alternados de depressão e mania (e em casos mais graves, psicose). Geralmente a primeira crise ocorre lá pelos 18 anos e é tão grave que o paciente precisa ser hospitalizado. Eu conheço uma pessoa assim, e ela toma lítio há mais de 20 anos (e virou minha coach nesta nova fase de medicamento pois eu comecei a tomar lítio semana passada). Dito isso, Bipolar I é o tipo mais fácil de ser diagnosticado.

Bipolar II (meu "novo" diagnóstico), a pessoa sofre períodos de depressão grave com períodos de hipermania (irritabilidade, agitação mental e um certo grau de "entusiasmo" que não são graves o bastante para serem classificados como mania). O problema é que o paciente com Bipolar II geralmente só busca ajuda quando está deprimido - porque quando a pessoa está na fase animada está tudo bem e todo mundo está feliz, né? Infelizmente, no Bipolar II as crises de depressão são mais frequentes do que a hipomania. Outro aspecto que dificulta o diagnóstico é que alguns sintomas típicos - como falar ininterruptamente e aceleradamente ("metralhadora"), agitação mental, insônia, irritabilidade e impulsividade - muitas vezes são confundidos com ADHD (Attention Deficit Hyperactive Disorder)...o que diga-se de passagem, aconteceu inúmeras vezes comigo! Principalmente os holandeses, que valorizam o silencio e o temperamento introvertido e reservado. Se no Brasil o meu temperamento " extrovertido"  e " falante"  nem incomoda tanta gente assim (embora também incomode), aqui na Holanda eu incomodo muito. Eu simplesmente não me encaixo na cultura holandesa...
 
No meu caso, foi uma longa jornada até chegar a este diagnóstico. Os últimos dez anos tem sido uma jornada dolorosa com todo tipo de problemas, desde no campo profissional até nos relacionamentos e amizades (quem costuma ler este blog sabe disso). Acho que mais perdi do que fiz amigos aqui na Holanda nos últimos 20 anos (a grande vantagem é que só ficaram mesmo os amigos de verdade). Várias terapias, psicólogos, 3 ou 4 psiquiatras, 3 antidepressivos diferentes (Effexor, Prozac e Cymbalta sendo do que dos tres o que salvou a minha vida foi sem duvida o Prozac) .Fora isso, fiz dois tratamentos prolongados numa clínica daqui (no primeiro recebi o diagnóstico de depressão e no segundo o diagnóstico de borderline). E ano passado, depois que o terceiro antidepressivo deixou de ter efeito (uma situação horrível que só desejo ao meu pior inimigo), minha médica me encaminhou para outra clínica renomada aqui em Amsterdam e desde então estou sendo tratada por um novo psiquiatra. Com um novo medicamento, o velho e conhecido lítio, usado com sucesso no tratamento bipolar há mais de 50 anos.

Portanto, quando eu digo que a minha vida é cheia de altos e baixos, podem acreditar que não estou exagerando. E sabem de uma coisa? Quase ou tão ruim quanto esta doença é a ignorancia alheia. E foi por isso que decidi escrever este post. Quem sabe um dia as pessoas acordam.





8 comentários:

Anônimo disse...

Querida Beth,

Muito obrigada pelo post tão esclarecedor. Confesso não ter conhecimento da classificação Bipolar II, já que falamos geralmente em 'levemente' bipolar.
Como no caso do autismo, ou de qualquer outra diferença psicosocial, a falta de informação das pessoas induz ao preconceito.
Com a sua permissão, eu vou publicar o texto na minha página. Acho muito importante e fico feliz em ter uma amiga tão corajosa.
Beijos!
xx
Fatima

Anônimo disse...

Olá Beth,parabéns pelo blog e pela sua força em enfrentar tudo isso.
Você sabe mais ou menos a partir de que idade a borderline pode ser diagnosticada? Pergunto isso pois tive uma crise de depressão há mais ou menos um ano, e não fiz tratamento algum, apenas li muito sobre o assunto e por acaso cai num site sobre borderline e me identifiquei com TUDO.
Obrigado desde já.
João

alineaimee disse...

Querida, me consola ver que você não foge do tratamento. Tenho familiares próximos em situação semelhante que simplesmente se recusam a se tratar ou a entender o que têm.
Você está no caminho certo. Ninguém merece passar a vida sofrendo. Estou aqui torcendo por você e te desejando muita força! Tenho um amigo que toma lítio há anos. Você vai superar!

Beijo grande!

Eliana disse...

Sabe Beth, acho engraçado vc quase se desculpar por falar de uma situação pessoal! rs Vejo isso de uma forma tão natural como falar do tempo! Na verdade grande parte das pessoas não estão nem aí. Primeiro, acho que, ao mesmo tempo, que soa estranho tantos diagnósticos, é compreensível, afinal quem falaria, saberia disso nas época de nossos pais e avós? A pessoa era taxada de louca, isolada e a família escondia tudo. Acho muito melhor falar abertamente, esclarecer, comunicar.
Eu tenho uma amigo que deve ter o bipolar II também. Tem gente que me pergunta como eu tenho amizade com ele? Ele me enlouquece às vezes rs, porque ele mesmo não fala do problema, talvez por vergonha mesmo. Penso até que quando ele está naquela fase do tudo maravilhosamente indo bem (ele tb fica insuportável) ele para com os medicamentos e, nas crises bravas, lá está ele arrasado. Acho que ele próprio não se deu conta de verdade. São relacionamentos que não dão certo, emprego que ele perde...complicado.
Que bom que você tá aí, firme e forte e te desejo que o tratamento seja eficaz e que te traga equilíbrio, bem estar e qualidade de vida e é isso mesmo, quando tiver vontade, conta mesmo...nestas vai ajudar a muita gente! Um grande beijo.

Anônimo disse...

obrigada por compartilhar

Milena F. disse...

Li o texto quando você colocou mas acabei esquecendo de comentar.
Acho que eu já tinha escrito anteriormente que é muito comum pacientes serem diagnosticados durante anos como depressão e tomando medicamento errado, esse tipo de confusão é muito comum. Essa semana mesmo assisti a uma reportagem francesa sobre o transtorno Bipolar através dos pacientes, que contavam como é/era a vida deles. Nada disso me surpreendeu, inclusive o fato de que tinha no meio um artista plástico, uma decoradora de interiores, um apaixonado pela China que teve a sorte de viajar 20 anos nesse país, comprou tudo que podia e não podia lá, trabalha revendendo essas antiguidades e é reconhecido pelas suas fotos e um dos pioneiros no conhecimento desse povo. As pessoas que não tiveram opção e cairam em uma profissão "clássica", em uma empresa, com um chefe, etc, dificilmente conseguem se integrar.
O que me surpreendeu mesmo é que essas pessoas falavam que tinham recebido "eletrochoque" como tratamento, eu na minha ingenuidade achando que era algo quese completamente em desuso.
Mas no final das contas, seguindo o tratamento (o mais frequente com o lítio), podiam levar uma vida normal. O problema é que algumas pessoas não se contentavam com uma "vida normal".
Tenho uma cunhada que adoro e que sofre desse transtorno e fico muito triste com o quando a família (nem a dela nem a do marido) não entende, não aceita e ficam rindo dela, criticando cada comportamento que são sintomas da doença. Mas por outro lado ela não quer seguir o tratamento (teve experiência ruim com o único psiquiatra da região onde ela mora, no interior) e não quer ficar dependendo de medicamento para o resto da vida.
Ela deve passar alguns dias aqui em casa em junho e sem outras pessoas da familia vou tentar falar com ela mais profissionalmente sobre o caso dela.

Morena da Mata disse...

Olá, Beth!

Vim te visitar e, ao ler seu post mais atual, não pude deixar de ler esse aqui para entender o que se passava.

Eu te entendo um pouco, pois vivi uma depressão grave e, ao longo do tratamento, os médicos iam me passando remédios diversos tanto quanto me diagnosticando de tudo o que é forma, o que foi me adoecendo cada vez mais. Foram longos 5 anos em que perdi amizades, saí da função, não tive namorados... minha vida estacionou. Como eu estava ficando pior com os remédios (incluindo Prozac e Lítio), decidi largá-los por conta própria. No meu caso, foi a decisão mais correta. Ainda que eu tenha levado tempo para me recuperar (o que sinto que vem acontecendo nos últimos meses), eu percebo agora que eu PRECISAVA desse tempo. Eu estava deprimida não à toa, mas por sofrer muito no trabalho... estava solitária, com a imunidade baixa e sofrendo muita pressão da empresa. Acho que cair em depressão foi um jeito do meu organismo não ir direto para um ataque cardíaco fulminante (dizendo isso, parece que até que a depressão teve seu lado "bom"...).
Lamento que as pessoas sejam ignorantes... elas são mesmo. Você teve coragem de se expor e eu achei ótimo, pois eu não tive essa audácia, pra tentar me proteger um pouco de um batalhão de "julgamentos cruéis" que apenas poderiam piorar o meu quadro.

Com o tempo, tenho assumido que tive o problema com mais paz e força, mas não para todos. Ainda posso notar um certo olhar constrangido e um ar de peninha, mas aproveito para tentar educar as pessoas quanto à doença (se eu achar que vale a pena, pq se não, nem perco meu tempo).

Estive na Holanda há alguns dias e fui feliz (até arrumei um paquera - com o qual me decepcionei, mas valeu a experiência, enfim).

Ame e aproveite ao máximo aqueles que te amam... eles são peças fundamentais para nossa melhora. Sei que seu problema é diferente do meu, mas gostaria de te dizer que estamos juntas, viu?

Beijoooooooos!

http://caseicomomundo.blogspot.com.br

Beth Blue disse...

M.M., largar por contra própria não é opcão pra mim! Apesar de tudo, posso dizer que Prozac salvou a minha vida, tomei mais de 5 anos e quando parei "por conta própria" porque era verão, estava apaixonada e me sentia super bem...bem, parei e dois meses depois a depressao voltou mais forte do que nunca: eu só chorava...enfim, cada caso é um caso.

Quanto ao lítio, estou tomando há duas semanas e meu único arrependimento é "eles" não terem me receitado antes. Passei anos tomando antidepressivos quando talvez teria sido melhor tomar lítio...agora que o diagnóstico finalmente foi "acertado" vou mesmo é seguir o tratamento direitinho.

Podem me chamar de "junkie" mas só eu sei o quanto tenho sofrido com essas depressòes (pimenta nos olhos do outro é refresco, né?)