Estou lendo um livro de deixar de cabelos arrepiados qualquer mulher que se preze. Principalmente aquelas que forem mães, como eu. O livro em questão se chama
We need to talk about Kevin e é um relato horripilante do que pode dar errado. Não recomendo a pessoas facilmente impressionáveis, nem muito menos aquelas mulheres que em algum momento de suas vidas questionaram o mito do amor materno.
O livro relata a estória de Kevin, que aos 13 anos de idade mata a sangue frio sete alunos e dois funcionários de sua escola, entre eles um professor. Ele cumpre sua pena em uma penitenciária juvenil, onde é visitado duas vezes por mês por sua mãe (e também narradora da estória). Kevin recebe entre outros, o apelido de Columbine Boy - referência a um dos maiores massacres em escolas americanas nos últimos anos (que rendeu inclusive o excelente
Bowling for Columbine de Michael Moore). Outro filme que lida com o mesmo assunto e que também vale a pena assistir é
Elephant (Gus van Sant). Certo é que massacres deste tipo já são mais realidade do que ficção nos EUA.
O livro, que ganhou o Orange Prize em 2005, é um dos relatos mais provocantes e polêmicos da última década (
leia e confira você mesmo). A começar porque desde o primeiro capítulo, a mãe de Kevin assume sua parte de culpa no desenrolar do drama. Assim como também deixa bem claro que a culpa é sua, mas em partes. Porque a verdade é que quando as coisas dão errado, nossa sociedade culpa logo a criação dos pais. O que é parcialmente verdade, pois nem todos os atos podem ser explicados exclusivamente pela forma como uma pessoa foi criada. É o velho debate
nature x nurture. Em bom português: a eterna questão sobre o que pesaria mais, a natureza (temperamento inato) ou a criação (comportamento aprendido) de uma pessoa. Ou ainda, se o ser humano já nasce com uma predisposição para o bem ou o mal, ou se o seu caráter é moldado com base em suas experiências e no ambiente em que cresce.
Outro tema que permeia a estória - e que ainda hoje é um dos maiores tabus da nossa sociedade - é o (velho) mito do amor materno. A mãe de Kevin logo se deu conta, quando o filho ainda estava na barriga, que não queria aquele bebê...mas era tarde demais para mudar de idéia. O nascimento do bebê, que deveria ser um momento de felicidade inigualável, foi um dos momentos mais decepcionantes de sua vida. Contrário a todas as expectativas, ela não sentiu absolutamente nada. Muito menos aquela felicidade tão comentada pelas outras mães. Só uma sensação de vazio e mais nada.
O livro é escrito na forma de cartas que a mãe de Kevin escreve ao pai do garoto. E são essas cartas que fornecem uma espécie de mapa para tentarmos entender o que aconteceu. Á medida em que avança na leitura, o leitor vai sendo confrontado com verdades que preferiria não saber (
ignorance is bliss). Coisas que as pessoas preferem não falar por medo de serem consideradas monstros (como a mãe-madrasta de Kevin).
Em suma, um livro para pessoas inteligentes e questionadoras.
Read at your own risk.