domingo, dezembro 11, 2011

Kevin, o (esperado) filme






Quarta-feira passada assisti o filme We Need to Talk about Kevin, baseado no bestseller da autora americana Lionel Schriver. Quem lê este blog sabe que sou fã dela, tendo comentado ainda em 2008 sobre o livro We Need toTalk About Kevin muito antes dele virar filme (leia aqui). Entre outras coisas, o livro traz à discussão um dos velhos debates sobre nurture x nature em uma estória instigante. É impossível não compartilharmos o sofrimento da mãe de Kevin ao conhecermos sua estória desde a decepção inicial logo ao tomar o bebê nos braços, até a depressão pós-parto e as dificuldades em criar laços afetivos com uma criança cada dia mais geniosa e que também não retribui seu afeto. Uma relação mãe-filho conturbada que nos faz questionar nossos próprios conceitos de amor materno e amor filial.

Voltando ao assunto do post, gostei muito do filme - como eu mesma esperava após ler recente entrevista com a escritora. Uma estória com alto teor dramático que poderia facilmente ter virado mais um melodrama holywoodiano como tantos outros mas que recebeu o tratamento adequado. Imagino o alívio da escritora após assistir o filme, que ela mesma considerou fiel à sua obra (na medida em que um filme pode ser fiel a um livro, claro). Eu desconfio que um dos fatores do sucesso na transcrição para o cinema tenha sido o fato dele ter sido dirigido por uma mulher, a inglesa Lynne Ramsay.

Um dos trunfos do filme é a precisão ao montar as imagens, nenhuma cena é demais. As palavras também são usadas com economia e, no final das contas, são as imagens que nos ajudarão a penetrar no pesadelo da mãe de Kevin. Outro aspecto essencial do filme é que em nenhum momento há qualquer tipo de julgamento por parte da diretora. Cabe ao expectador tirar suas próprias conclusões e "tomar lados" conforme achar necessário.

A atuação de Tilda Swinton é um dos destaques do filme. E a atuação do menino Kevin com seu olhar gélido e quase autista também é de arrepiar (no sentido literal da palavra, porque o nome desta criatura deveria ser Demian).  E de resto, o filme é um soco no estômago! Você dificilmente sairá do cinema a mesma pessoa que entrou...

Não vou contar mais sobre a estória porque já contei no outro post sobre o livro. E porque este é um daqueles filmes em que quanto menos informação você tiver, maior o impacto das imagens na tela. Assistam!


9 comentários:

Pri S. disse...

Louca pra ver o filme. Porque o livro é mesmo incrível! :-)

Anita disse...

Olha, quando estive no Brasil em 2009 eu encontrei uma blogueira de São Paulo que também é psicóloga. Enquanto estávamos numa livraria ela pegou esse livro e disse como era a estória e que queria lê-lo. Eu via capa e achei tão mas TÃo deprê (uma criança com uma máscara de monstro) que sugeri a ela não comprar e não lê-lo. Afinal, ela tinha dois filhos pequenos e estava numa ótima fase da vida. Para quê uma ficção amarga sobre a infância de um sociopata ??? Aliás esse Kevin me lmebra um pouco o Joran van der Sloot, que não sente compaixão por ninguém nem arrependimento de nada.
Ah, sei lá... a vida já tã tão pancada... e eu já li tanto a respeito de gente pervertida, cruel, sociopata... em qualquer página de jornal vc encontra diariamente gente que tortura animal, estupra e incendeia criança, sequestra e comercializa seres inocentes.
Já tive minha cota. Evito essas estórias deprê direto.

Beth Blue disse...

Pois é Ana, neste ponto discordamos...Eu acho que se eu pensasse como você, não teria lido grande parte dos livros que li. E certamente também não seria a pessoa que sou hoje.

Livro pra mim não é só prazer, é aprendizado. Eu gosto de livros que instigam a mente, livros que emocionam e fazem a gente pensar e rever conceitos. E se você for pensar bem, os grandes clássicos da literatura fazem exatamente isso. E não apenas Dostoievisk...

Sim, a vida já tem coisa ruim demais mas não é por isso que irei ler apenas Sidney Sheldon (que me desculpem os fãs) ou assistir apenas comédias toscas e filmes Bollywood (que eu até curto em um ou outro momento). Pensando bem, pra mim até comédia tem de ter um certo humor inteligente.

Acho que são justamente os livros e filmes que incomodam que nos fazem crescer e tem a capacidade de aumentar nossos horizontes. São eles que nos fazem pensar e nos sentir vivos.

Enfim, acho que a maioria dos leitores deste blog entende do que estou falando. Mas no final das contas, gosto não se discute né?

Michelle disse...

Quando lançaram esse livro eu vi a capa e pensei "estranha". E só. A estranheza me fez ignorar o livro sem ler a sinopse. Tempos depois, começo a ler vários comentários positivos sobre a história e agora, com o filme prestes a estrear, ando até evitando de ler resenhas e comentários para não estragar a surpresa. Como pude ignorar essa pérola? Preciso ler o livro logo, antes do filme...
bjo

Sharon Caleffi disse...

Oi Beth!

Também estou esperando o filme... adorei o livro e, pelo jeito foi bem dirigido, então tem que ser assistido! É obrigação!

Mas como assim, "quase autista"? Autistas podem até ser violentos, mas não planejam as coisas como o Kevin faz, é uma violência de reação... você quer dizer que ele tem um olhar vazio?

Eu acho muito assustador um olhar vazio quando a gente sabe que a pessoa NÃO é autista!

Bebete Indarte disse...

Beth, por suas dicas, eu comprei o livro, em holandês, acho que não é muito difícil, gosto de ler em holandês pra praticar cada vez mais. O filme não está passando em Leiden, mas vou querer assistir logo, logo que estiver em cartaz. Eu consigo me distanciar na ficção, como se fosse um outro eu que faz parte do universo do assunto, sem me deixar carregar pra baixo, principalmente quando estou passando por uma fase (como nos últimos 3 anos), super estável emocionalmente, mas meia doidinha como sempre...claro.

ana disse...

Olá! Estou gostando deste blog, cheguei aqui através do "Viver plenamente em paris". Acompanho o blog do Daniel Duclos " Ducs Amsterdan", e estou achando bom ter oportunidade de ver um outro olhar sobre o mesmo país.
Parabéns pelo blog.
Ana

Milena F. disse...

Perdi esse filme que estava em cartaz há pouco tempo, mas queria muito ver; o tema me interessa!
Agora é esperar encontrá-lo de outra forma...

Day disse...

Oi, Beth!
Acabei de conhecer seu blog e estou adorando.
Eu só poderei assistir ao filme qdo sair em vídeo, na verdade eu vi que estava em cartaz no cinema aqui onde moro (vivo em Hong Kong), mas qdo quis assisti-lo já tinham retirado e não consegui encontrá-lo em lugar nenhum; não sei o q aconteceu, o porquê de ter ficado tão pouco tempo em cartaz.
Eu tb li o livro primeiro, na verdade comprei sem saber nada sobre o enredo. Pelo título imaginei outra coisa totalmente diferente. Mas gostei, apesar de ser uma narrativa pesada, a leitura fluiu com rapidez e é o tipo de tema que faz pensar muito.
Eu nao sei se aconteceu com vc, mas algumas vezes eu tive vontade de bater no pai do Kevin... Ele foi permissivo demais pro meu gosto!
Abs

Tecnologia do Blogger.

Kevin, o (esperado) filme






Quarta-feira passada assisti o filme We Need to Talk about Kevin, baseado no bestseller da autora americana Lionel Schriver. Quem lê este blog sabe que sou fã dela, tendo comentado ainda em 2008 sobre o livro We Need toTalk About Kevin muito antes dele virar filme (leia aqui). Entre outras coisas, o livro traz à discussão um dos velhos debates sobre nurture x nature em uma estória instigante. É impossível não compartilharmos o sofrimento da mãe de Kevin ao conhecermos sua estória desde a decepção inicial logo ao tomar o bebê nos braços, até a depressão pós-parto e as dificuldades em criar laços afetivos com uma criança cada dia mais geniosa e que também não retribui seu afeto. Uma relação mãe-filho conturbada que nos faz questionar nossos próprios conceitos de amor materno e amor filial.

Voltando ao assunto do post, gostei muito do filme - como eu mesma esperava após ler recente entrevista com a escritora. Uma estória com alto teor dramático que poderia facilmente ter virado mais um melodrama holywoodiano como tantos outros mas que recebeu o tratamento adequado. Imagino o alívio da escritora após assistir o filme, que ela mesma considerou fiel à sua obra (na medida em que um filme pode ser fiel a um livro, claro). Eu desconfio que um dos fatores do sucesso na transcrição para o cinema tenha sido o fato dele ter sido dirigido por uma mulher, a inglesa Lynne Ramsay.

Um dos trunfos do filme é a precisão ao montar as imagens, nenhuma cena é demais. As palavras também são usadas com economia e, no final das contas, são as imagens que nos ajudarão a penetrar no pesadelo da mãe de Kevin. Outro aspecto essencial do filme é que em nenhum momento há qualquer tipo de julgamento por parte da diretora. Cabe ao expectador tirar suas próprias conclusões e "tomar lados" conforme achar necessário.

A atuação de Tilda Swinton é um dos destaques do filme. E a atuação do menino Kevin com seu olhar gélido e quase autista também é de arrepiar (no sentido literal da palavra, porque o nome desta criatura deveria ser Demian).  E de resto, o filme é um soco no estômago! Você dificilmente sairá do cinema a mesma pessoa que entrou...

Não vou contar mais sobre a estória porque já contei no outro post sobre o livro. E porque este é um daqueles filmes em que quanto menos informação você tiver, maior o impacto das imagens na tela. Assistam!


9 comentários:

Pri S. disse...

Louca pra ver o filme. Porque o livro é mesmo incrível! :-)

Anita disse...

Olha, quando estive no Brasil em 2009 eu encontrei uma blogueira de São Paulo que também é psicóloga. Enquanto estávamos numa livraria ela pegou esse livro e disse como era a estória e que queria lê-lo. Eu via capa e achei tão mas TÃo deprê (uma criança com uma máscara de monstro) que sugeri a ela não comprar e não lê-lo. Afinal, ela tinha dois filhos pequenos e estava numa ótima fase da vida. Para quê uma ficção amarga sobre a infância de um sociopata ??? Aliás esse Kevin me lmebra um pouco o Joran van der Sloot, que não sente compaixão por ninguém nem arrependimento de nada.
Ah, sei lá... a vida já tã tão pancada... e eu já li tanto a respeito de gente pervertida, cruel, sociopata... em qualquer página de jornal vc encontra diariamente gente que tortura animal, estupra e incendeia criança, sequestra e comercializa seres inocentes.
Já tive minha cota. Evito essas estórias deprê direto.

Beth Blue disse...

Pois é Ana, neste ponto discordamos...Eu acho que se eu pensasse como você, não teria lido grande parte dos livros que li. E certamente também não seria a pessoa que sou hoje.

Livro pra mim não é só prazer, é aprendizado. Eu gosto de livros que instigam a mente, livros que emocionam e fazem a gente pensar e rever conceitos. E se você for pensar bem, os grandes clássicos da literatura fazem exatamente isso. E não apenas Dostoievisk...

Sim, a vida já tem coisa ruim demais mas não é por isso que irei ler apenas Sidney Sheldon (que me desculpem os fãs) ou assistir apenas comédias toscas e filmes Bollywood (que eu até curto em um ou outro momento). Pensando bem, pra mim até comédia tem de ter um certo humor inteligente.

Acho que são justamente os livros e filmes que incomodam que nos fazem crescer e tem a capacidade de aumentar nossos horizontes. São eles que nos fazem pensar e nos sentir vivos.

Enfim, acho que a maioria dos leitores deste blog entende do que estou falando. Mas no final das contas, gosto não se discute né?

Michelle disse...

Quando lançaram esse livro eu vi a capa e pensei "estranha". E só. A estranheza me fez ignorar o livro sem ler a sinopse. Tempos depois, começo a ler vários comentários positivos sobre a história e agora, com o filme prestes a estrear, ando até evitando de ler resenhas e comentários para não estragar a surpresa. Como pude ignorar essa pérola? Preciso ler o livro logo, antes do filme...
bjo

Sharon Caleffi disse...

Oi Beth!

Também estou esperando o filme... adorei o livro e, pelo jeito foi bem dirigido, então tem que ser assistido! É obrigação!

Mas como assim, "quase autista"? Autistas podem até ser violentos, mas não planejam as coisas como o Kevin faz, é uma violência de reação... você quer dizer que ele tem um olhar vazio?

Eu acho muito assustador um olhar vazio quando a gente sabe que a pessoa NÃO é autista!

Bebete Indarte disse...

Beth, por suas dicas, eu comprei o livro, em holandês, acho que não é muito difícil, gosto de ler em holandês pra praticar cada vez mais. O filme não está passando em Leiden, mas vou querer assistir logo, logo que estiver em cartaz. Eu consigo me distanciar na ficção, como se fosse um outro eu que faz parte do universo do assunto, sem me deixar carregar pra baixo, principalmente quando estou passando por uma fase (como nos últimos 3 anos), super estável emocionalmente, mas meia doidinha como sempre...claro.

ana disse...

Olá! Estou gostando deste blog, cheguei aqui através do "Viver plenamente em paris". Acompanho o blog do Daniel Duclos " Ducs Amsterdan", e estou achando bom ter oportunidade de ver um outro olhar sobre o mesmo país.
Parabéns pelo blog.
Ana

Milena F. disse...

Perdi esse filme que estava em cartaz há pouco tempo, mas queria muito ver; o tema me interessa!
Agora é esperar encontrá-lo de outra forma...

Day disse...

Oi, Beth!
Acabei de conhecer seu blog e estou adorando.
Eu só poderei assistir ao filme qdo sair em vídeo, na verdade eu vi que estava em cartaz no cinema aqui onde moro (vivo em Hong Kong), mas qdo quis assisti-lo já tinham retirado e não consegui encontrá-lo em lugar nenhum; não sei o q aconteceu, o porquê de ter ficado tão pouco tempo em cartaz.
Eu tb li o livro primeiro, na verdade comprei sem saber nada sobre o enredo. Pelo título imaginei outra coisa totalmente diferente. Mas gostei, apesar de ser uma narrativa pesada, a leitura fluiu com rapidez e é o tipo de tema que faz pensar muito.
Eu nao sei se aconteceu com vc, mas algumas vezes eu tive vontade de bater no pai do Kevin... Ele foi permissivo demais pro meu gosto!
Abs