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Dentro de mim tenho o dia e a noite. Aqui dentro convivem sol e lua, nem sempre pacificamente. Dias de mar manso, dias de tempestade em alto-mar. Dias nublados e carregados de nuvens ameaçadoras, noites de céu estrelado. Dias de expansão e exuberante alegria e dias de recolhimento e tristeza com ou sem motivo aparente.
É bem verdade que nos últimos tempos a alegria tem se saído vitoriosa (também já era tempo). Mas vez ou outra sou pega de surpresa por um velho conhecido: o
mau humor. Ele vem chegando de mansinho e quando percebo, já se instalou sorrateiramente na minha mente e no meu dia. É quando páro e tento reverter a maré, páro e tento refletir sobre o porquê (quanto mais a gente vive, mais a vida nos surpreende). E chego à conclusão de que 90% do meu mau-humor está relacionado a coisas que não posso mudar...na verdade é uma
impotência disfarçada de mau-humor, deixemos isso bem claro. Impotência diante de alguns fatos da vida que sei que não posso (mais) mudar. Impotência diante de escolhas mal-feitas e de ilusões perdidas. Porque se eu soubesse há 10 anos o que eu sei hoje, teria feito algumas escolhas diferentes. E se eu soubesse há 20 anos o que eu sei hoje, minha vida hoje seria totalmente diferente. Pensando bem, é assim pra todo mundo e esta é a grande ironia da vida. Quando temos a juventude e o tempo a nosso favor, falta-nos a
sabedoria. Quando temos a
sabedoria, falta-nos o frescor da juventude e o tempo já nem sempre está a nosso favor...
E foi assim que descobri que é mais difícil perdoar a si mesmo do que perdoar aos outros. Que é mais difícil perdoar seus próprios erros do que os erros dos outros. Porque nossos erros são apenas nossos. E mais cedo ou mais tarde, somos confrontados com eles. Depois dos 40 anos, admito que não tenho mais ilusões nesta vida. Pra início de conversa, foram-se as grandes ilusões: morar no exterior, casar e ter filhos...já realizei tudo isso, com algumas consequências desastrosas e outras nem tanto (e não, não me arrependo de tudo mas pago até hoje por algumas dessas escolhas).
O que assusta mesmo é chegar aos 40 anos e ver nitidamente as consequências das escolhas que fizemos aos 30 (
atenção amigas de 30, fica dado o recado). Porque aos 40 não dá mais pra tapar o sol com a peneira e empurrar com a barriga, aos 40 somos confrontados quase que diariamente com nossas escolhas. Aos 40 entendemos finalmente que
a vida que vivemos hoje nada mais é do que a soma das escolhas que fizemos no passado. Nem mais, nem menos. E pra não dizer que estou sendo fatalista (eu avisei do mau-humor), também acredito que o
futuro depende das escolhas que fazemos hoje. Ou seja, nem tudo está perdido e algumas coisas ainda podem (e devem) ser mudadas. Ufa, que alívio...
Confrontadas as ilusões com a realidade diária, posso dizer que não sobrou nada do meu mundo de antes. Hoje sou uma pessoa sem maiores sonhos e ilusões, talvez justamente por isso mais sábia. Sabe-se lá, viver é muito esquisito. E se a vida é cheia de mistérios...eu sou uma pergunta eternamente em busca de resposta(s).