quarta-feira, setembro 12, 2007

Parabéns, blogueiros (Ivan Lessa)

Não fui eu quem disse. Deu no jornal. Num artigo de Scott Rosenberg. Saiu no The Guardian. Scott é co-fundador do prestigiadíssimo sítio Salon, autor do livro Sonhando em Código e blogueia em wordyard.com.


O autor e blogueiro começa seu artigo dizendo que, neste impagável ano da graça de 2007, o ato de bloguear está completando 10 anos de vida.


Em seguida, põe o fato em dúvida: argumenta que é o que dizem. Que o apagar de velinhas merece ser posto em dúvida. Portanto, logo de início, o jornalista, autor, sitiante e blogueiro põe na mesa as credenciais.


Faz o que toda gente dessa estirpe deve fazer: levantar dúvidas. Como bom blogueiro. Dúvidas quanto ao aniversário. Verdade que a cara dele foi livrada pelo próprio, uma vez que optou pela solução Gutemberg.


Fosse no blogue dele, lá estariam os habituais 81 comentários: xingando, duvidando, dando dados, subtraindo informações. O de sempre, enfim.


Tudo bem. Bloguear é sobre os amadores passarem a bola por entre as pernas dos profissionais e deixá-los caídos de bunda no meio do campo.


Parafraseio um trecho de Rosenberg, que insiste no fato de não haver uma data precisa para a comemoração. O Wall Street Journal, que não é bem uma publicação de se jogar fora, afirmou em artigo recente que o “primeiro blogueiro” (atenção para as aspas) foi um cavalheiro por nome Jorn Barger, com um – para dar o nome de batismo completo – weblog intitulado Robot Wisdom, ou seja, sabedoria robô.


Besteira do Journal: choveram reclamações, blogueou-se adoidado por este mundo afora, todos blogueadores gozando e reafirmando o fato de que não tem jeito mesmo, jornal e jornalismo nunca irão publicar as coisas direitinhas como eles são, foram ou deixaram de ser.


Mais um confronto entre papel e eletrônica. Esta última, ao que parece, ganhando de lavagem, ao menos em números.


Certos fatos (ou factos)

Em primeiro lugar, toda a graça dos blogues é que não há fatos. Há suposições, há versões, há interpretações. O mundo é muito pessoal e só pessoalmente há como entendê-lo e interpretá-lo.


Mais: o mundo começa em casa, diante do computador e o longo e, por vezes, doloroso processo de pesquisar as coisas que vai se bloguear.


Ainda mais: o blogue é, em sua essência, um ato de generosidade. Não se está ganhando dinheiro quando se denuncia o verdureiro da esquina cobrando mais caro pelo jiló ou se critica a política externa do Irã ou dos Estados Unidos.


Ou ainda se posta (post?) um clipe da Ava Gardner ou do Errol Garner tocando Laura no piano. É a pura vontade de se botar para fora, em ordem e pensado, o que se passou e passa pela cabeça do indivíduo. E o que a ele dá prazer ou alegria.


Eu, cá entre nós, sou chegado aos blogues que lidam com as coisas que me falam mais de perto aos meus interesses: música popular de qualidade, cinema, passadismos.


Política me deixa gelado. Meu negócio é papo. Não entra na fila dos comentários por pura timidez. Embora já tenha entrado, dados meus pontapés e dito minhas besteiras.


Sem livro, please

Os blogues já foram reunidos e publicados em livro. Em muitas línguas. Principalmente em inglês, que é a língua da Net. Até agora. Já teve livro inclusive em nosso português.


Antes, claro, da reforma ortográfica que vem aí. No que aproveito para dar – não usarei o termo “pauta” – uma deixa: blogueiem com fúria essa reforma. Com fervor: por favor.


Mas eu dizia que blogue em livro não funciona. Mesmo. Vira velho de terno e gravata de pé em frente à praia com a mão direita no bolso urubuservando as mocinhas que passam. Há uma certa obscenidade no blogue em formato de livro.


Blogue, essa a verdade, é o maior buteco do mundo. Buteco, sim, senhor. Com U. O que só se pode discutir em blogue. Outro que também merece uma lenha: é blog ou blogue? É site ou sítio? Eu prefiro sítio. Porque me lembra o Picapau Amarelo. Eu prefiro blogue. Talvez porque tenha uma pinta assim de blague.


Senta aí, companheiro. Puxe uma cadeira. Vai querer o quê? Uma cerveja estupidamente gelada? No problemo, como dizem os Bart Simpson da vida. Diga lá. Vamos.

5 comentários:

. disse...

Beth, parabéns!!!

Sabe ando afastada do blog, mas para não perder o contato não deletei o meu.
Ando lendo muito.
Encontrei cada coisa boa. rs
Beijos,
Carla.

Andrea Drewanz disse...

Taí, gostei. Blogue é realmente o maior buteco do mundo!
Adorei.
Bjs.

Ricardo Soares disse...

poxa... dez anos os blogs ??? como cheguei atrasado na festa ... será que ainda dá tempo de participar ??? parabens pelo seu...bj
ricardo

Unknown disse...

Você está sabendo da campanha que o Estadão está fazendo contra os blogs? Imagine só, o Estadão preocupado com a repercussão dos blogs!
Pelo menos num Brasil onde até os meios de comunicação são comprometidos com a política, cancelei minhas assinaturas e ando me informando pela internet mesmo. E quando entrei de vez na blogosfera,deparei com muita porcaria, é verdade, mas com muita coisa boa também.Como o seu blog, por exemplo...

Labelle® Paz disse...

Também estou atrasada, mas nunca é tarde!

Tecnologia do Blogger.

Parabéns, blogueiros (Ivan Lessa)

Não fui eu quem disse. Deu no jornal. Num artigo de Scott Rosenberg. Saiu no The Guardian. Scott é co-fundador do prestigiadíssimo sítio Salon, autor do livro Sonhando em Código e blogueia em wordyard.com.


O autor e blogueiro começa seu artigo dizendo que, neste impagável ano da graça de 2007, o ato de bloguear está completando 10 anos de vida.


Em seguida, põe o fato em dúvida: argumenta que é o que dizem. Que o apagar de velinhas merece ser posto em dúvida. Portanto, logo de início, o jornalista, autor, sitiante e blogueiro põe na mesa as credenciais.


Faz o que toda gente dessa estirpe deve fazer: levantar dúvidas. Como bom blogueiro. Dúvidas quanto ao aniversário. Verdade que a cara dele foi livrada pelo próprio, uma vez que optou pela solução Gutemberg.


Fosse no blogue dele, lá estariam os habituais 81 comentários: xingando, duvidando, dando dados, subtraindo informações. O de sempre, enfim.


Tudo bem. Bloguear é sobre os amadores passarem a bola por entre as pernas dos profissionais e deixá-los caídos de bunda no meio do campo.


Parafraseio um trecho de Rosenberg, que insiste no fato de não haver uma data precisa para a comemoração. O Wall Street Journal, que não é bem uma publicação de se jogar fora, afirmou em artigo recente que o “primeiro blogueiro” (atenção para as aspas) foi um cavalheiro por nome Jorn Barger, com um – para dar o nome de batismo completo – weblog intitulado Robot Wisdom, ou seja, sabedoria robô.


Besteira do Journal: choveram reclamações, blogueou-se adoidado por este mundo afora, todos blogueadores gozando e reafirmando o fato de que não tem jeito mesmo, jornal e jornalismo nunca irão publicar as coisas direitinhas como eles são, foram ou deixaram de ser.


Mais um confronto entre papel e eletrônica. Esta última, ao que parece, ganhando de lavagem, ao menos em números.


Certos fatos (ou factos)

Em primeiro lugar, toda a graça dos blogues é que não há fatos. Há suposições, há versões, há interpretações. O mundo é muito pessoal e só pessoalmente há como entendê-lo e interpretá-lo.


Mais: o mundo começa em casa, diante do computador e o longo e, por vezes, doloroso processo de pesquisar as coisas que vai se bloguear.


Ainda mais: o blogue é, em sua essência, um ato de generosidade. Não se está ganhando dinheiro quando se denuncia o verdureiro da esquina cobrando mais caro pelo jiló ou se critica a política externa do Irã ou dos Estados Unidos.


Ou ainda se posta (post?) um clipe da Ava Gardner ou do Errol Garner tocando Laura no piano. É a pura vontade de se botar para fora, em ordem e pensado, o que se passou e passa pela cabeça do indivíduo. E o que a ele dá prazer ou alegria.


Eu, cá entre nós, sou chegado aos blogues que lidam com as coisas que me falam mais de perto aos meus interesses: música popular de qualidade, cinema, passadismos.


Política me deixa gelado. Meu negócio é papo. Não entra na fila dos comentários por pura timidez. Embora já tenha entrado, dados meus pontapés e dito minhas besteiras.


Sem livro, please

Os blogues já foram reunidos e publicados em livro. Em muitas línguas. Principalmente em inglês, que é a língua da Net. Até agora. Já teve livro inclusive em nosso português.


Antes, claro, da reforma ortográfica que vem aí. No que aproveito para dar – não usarei o termo “pauta” – uma deixa: blogueiem com fúria essa reforma. Com fervor: por favor.


Mas eu dizia que blogue em livro não funciona. Mesmo. Vira velho de terno e gravata de pé em frente à praia com a mão direita no bolso urubuservando as mocinhas que passam. Há uma certa obscenidade no blogue em formato de livro.


Blogue, essa a verdade, é o maior buteco do mundo. Buteco, sim, senhor. Com U. O que só se pode discutir em blogue. Outro que também merece uma lenha: é blog ou blogue? É site ou sítio? Eu prefiro sítio. Porque me lembra o Picapau Amarelo. Eu prefiro blogue. Talvez porque tenha uma pinta assim de blague.


Senta aí, companheiro. Puxe uma cadeira. Vai querer o quê? Uma cerveja estupidamente gelada? No problemo, como dizem os Bart Simpson da vida. Diga lá. Vamos.

5 comentários:

. disse...

Beth, parabéns!!!

Sabe ando afastada do blog, mas para não perder o contato não deletei o meu.
Ando lendo muito.
Encontrei cada coisa boa. rs
Beijos,
Carla.

Andrea Drewanz disse...

Taí, gostei. Blogue é realmente o maior buteco do mundo!
Adorei.
Bjs.

Ricardo Soares disse...

poxa... dez anos os blogs ??? como cheguei atrasado na festa ... será que ainda dá tempo de participar ??? parabens pelo seu...bj
ricardo

Unknown disse...

Você está sabendo da campanha que o Estadão está fazendo contra os blogs? Imagine só, o Estadão preocupado com a repercussão dos blogs!
Pelo menos num Brasil onde até os meios de comunicação são comprometidos com a política, cancelei minhas assinaturas e ando me informando pela internet mesmo. E quando entrei de vez na blogosfera,deparei com muita porcaria, é verdade, mas com muita coisa boa também.Como o seu blog, por exemplo...

Labelle® Paz disse...

Também estou atrasada, mas nunca é tarde!