domingo, janeiro 08, 2012

Das Alices deslumbradas e das aposentadas





Eu gostei tanto deste post do blog da Eve, brasileira que mora em Berlim, que decidi responder aqui e não lá. Mas admito que o que me fez escrever este post foi um comentário de outra brasileira no mesmo post. Ela me deixou pensativa e só não digo que a carapuça serviu totalmente, porque as aparências enganam. E ninguém me conhece de verdade pra saber o que passei ou passo nesta vida.

Eve comentou sobre as Alices deslumbradas que mudaram-se recentemente pro lado de cá (e não são poucas). Engraçado como apesar das dificuldades que a comunidade européia vem passando, a Europa ainda tem seu poder de atração...Ou isso ou o CUPIDO que faz as pessoas mudarem o rumo de suas vidas da noite pro dia. Sim, porque muitas vem pra cá atrás de seus amores. E quem nunca fez isso, que atire a primeira pedra.

E ai vem uma menina comentando que mais chatas que as Alices deslumbradas são as Alices aposentadas! O que por motivos óbvios, me deixou grilada...e (quase) ofendida. Ela se referia às Alices que moram há muito tempo por aqui (como eu) e que, nas palavras dela, não deixam as deslumbradas descobrirem sozinhas suas próprias experiências nem aprender com elas.

Pois li este comentário e me senti uma velha...E fiquei triste (não devia mas fiquei) porque embora eu tenha passado e continue passando por muita coisa (afinal, são 17 anos de Holanda), nunca quis interferir na experiência de ninguém. Nunca quis dar lição de moral ou coisa parecida. Nem nunca foi a minha intenção "jogar um balde de água fria" em quem acaba de chegar cheio de pique e vontade de começar de novo (viu Eve?). No máximo - e este provavelmente foi o meu maior erro - tentei dar conselhos e enfatizar a importância das escolhas que fazemos. E dicas pra evitar que elas caissem nos mesmos erros que caí. Mas é a velha estória: se conselho fosse bom, se vendia né?

Como já comentei aqui no blog algumas vezes, foi aqui na Holanda que vivi os melhores e piores momentos da minha vida. Fui morar junto, casei, perdi minha mãe no Brasil da qual nem pude me despedir, engravidei no mesmo ano, tive meu filho e junto uma depressão pós-parto, minha vida conjugal e profissional foi pro espaço, me divorciei, fiquei sem dinheiro pra pagar as contas do mês e me vi obrigada a pedir ajuda do governo holandês (que nunca quis porque sou orgulhosa demais pra pedir ajuda e sempre fui independente financeiramente). A boa notícia é que o que não me mata, me fortalece. E com o sofrimento sempre vem alguma sabedoria.

Mas cada caso é um caso e eu não desejo as minhas experiências pra ninguém. Até porque, cada um deve ter suas próprias experiências, cada um a seu tempo. E talvez o mais importante: cada um vai lidar com seus problemas da sua maneira. O assunto é tão complexo que já seria outro post. Mas sim, tem a ver com saúde mental, pra início de conversa. Porque nem todo mundo nasce otimista por natureza, e para muitos ser feliz é uma arte a ser aperfeiçoada ao longo de todo uma vida. Este é o meu caminho. Um caminho tortuoso, difícil mas é o meu caminho. Eu posso até mudar algumas coisas (e estou fazendo exatamente isso mas Deus sabe como é difícil). Outras coisas tenho que aceitar como sendo parte de quem eu sou, e me policiar para que elas não acabem tomando espaço demais.

Talvez por eu ser como sou (eu não fujo dos tabus) e por precisar escrever para digerir melhor os acontecimentos da minha vida, as pessoas às vezes achem que estou dando lição de moral. Mas não é nada disso. Estou é falando com meus próprios botões. Tentando colocar ordem no caos à minha maneira. Eu escrevo não porque gosto mas porque preciso. Eu não escrevo pra agradar os outros e nem falo apenas de assuntos agradáveis por aqui.  E isso incomoda muita gente. Principalmente aquelas pessoas que não me conhecem (e algumas que me conhecem também, rsrsrs).

Pra finalizar, quero dedicar este posto às novas Alices que chegaram aqui com tanta disposição e vontade de dar certo (eu também um dia fui assim). Que cada uma delas encontre sua felicidade, à sua maneira. Alices deslumbradas ou aposentadas, estamos todas no mesmo barco!

6 comentários:

Eliana disse...

Oi Beth, apesar de ser uma novatinha perto de vc, vou pro meu sétimo ano de Holanda, já passei por poucas e boa, já li vários dos seus coments e sempre os achei muito pé no chão e realista. Às vezes isso dói pra outras pessoas que, por vezes, pensam que vc não tentou ou se acomodou, ou como vc disse: jogando um balde de agua fria. O que ninguém tem que se meter, porque ninguém paga as suas contas, se é pra falar o português claro. Fato é que o tempo passa e cada um vai tendo as sua experiências. Uma boas, outras ruins, outras maravilhosas e outras péssimas...e assim seria em qualquer lugar do mundo. O que eu deixei de coment lá na Eve tb, deixo aqui: um pouco de respeito é o que deveria prevalecer entre os lados...com isso já seria meio caminho andado pra todo mundo. Até mais.

Eve disse...

Engraçado, Beth, que eu não vi o comentário da menina assim, como uma indireta pra vc, principalmente.
Primeiro, porque eu acho que ela não te lê. Segundo, que ela mora na Noruega, e pelo comentário dela, parecia que ela se referia a pessoas com quem ela tem contato direto.
Terceiro, no seu comentário lá no post, vc deixou claro que, apesar de ser "alice aposentada", ainda valorizava as pequenas alegrias diárias, que, dependendo do ponto de vista, ainda é um jeito "Alice de ser".
E quando eu concordei com o comentário dela, foi como um adendo ao que eu tinha escrito. Se você ler o comentário que a Eliana publicou agora, depois do seu último, vc vai atender.
Existe, sim, algumas meninas que minimizam as experiências de outras. Nunca tive experiência pessoal nesse quesito.
Quando eu cheguei, ou mesmo, antes mesmo de chegar, recebi muitos conselhos de meninas que já estavam aqui. Eu os busquei também. E muitas me procuram (por email ou pelo blog) para os mesmos fins. Não acho que dar conselho, que o que vc faz, seja dar "banho de água fria". O que acho é que entre das conselhos e jogar um balde de água fria há uma diferença muito grande, como minimizar ou ridicularizar as experiências das novatas.
E isso, querida, você não faz de jeito nenhum.
Não precisa se sentir ofendida. :D
Além disso, o post era mais pra falar das loucuras que enfrentamos conscientemente, sendo Alice ou não, do que sobre as diferenças entre as que ainda sao Alice e as que deixaram de ser.

Bjs!

Bebete Indarte disse...

Putz, não dá bola pra essas Alices, seu nome é Beth. Beijos xxx

Anita disse...

Pois eu cheguei já sabendo que holandês caga pra sul americano (e pra um montão de outros allochtonen também). Estou aqui desde 1999 e meu blog me ajuda a ver um lado bonito da Holanda.

S. W disse...

Beth eu sou super nova aqui (vou pro meu terceiro ano), mas olha o que eu recebo contato de brasileiro desesperado tentando vir pra Europa... a primeira coisa que eu pergunto é: e a crise? Inclusive arrumei problema com uma outro dia. Vou contar rapidinho. A menina já rodou essa Europa ilegal em vários países, sempre se fazendo de coitada, que tudo dava errado, mas que no Brasil ela só conseguia empregos ruins, tinha que morar com a mãe e que pelo menos aqui com pouco ela se virava. Eu realmente ficava sentida com tanto sofrimento. A uns 3 meses atrás ela escreveu contando que fazia uma semana estava conversando com um holandês e que o rapaz estava disposto a pedir o visto dela para morar na Holanda (sentiu a pegada? 1 semana na internet), ela disse que gostaria de vir e que se não rolasse nada com o rapaz, ela pelo menos teria o visto e poderia tentar algum emprego de limpeza de escritórios ou camareira. Eu expliquei que não funciona assim, primeiro ela teria que comprovar um relacionamento e que depois se eles se separasse o rapaz poderia solicitar o cancelamento do visto dela. Ok. 1 mês depois a moiçoila me aparece dizendo que em um curso conhece um novo holandês, esse pessoalmente, estavam namorando a menos de 1 mês e ela queria saber qual o processo mais rapido para conseguir o visto. Nessa hora eu fiquei p*** da vida, perguntei se eu tinha cara de IND, e se o rapaz estava assim tao interessado em traze-la que ele poderia ir o próprio procurar informacoes sobre o visto. Perguntei também se ela lia sobre a crise na Europa, o cerco aos imigrantes... o que ela fez? Me chamou de mal amada, que eu deveria ficar feliz em morar aqui, mas que eu era uma infeliz e mais um monte de outras coisas. Tá ai, logo mais um futura Alice aqui na Neverlandia.

beijos

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Beth!

Mudar, sair no nosso lugar de origem e buscar algo novo em outro lugar é sempre um risco. Sonhos? temos muitos, mas, só o tempo vai nos mostrar o quanto todas as apostas valeram a pena. bjssss

Tecnologia do Blogger.

Das Alices deslumbradas e das aposentadas





Eu gostei tanto deste post do blog da Eve, brasileira que mora em Berlim, que decidi responder aqui e não lá. Mas admito que o que me fez escrever este post foi um comentário de outra brasileira no mesmo post. Ela me deixou pensativa e só não digo que a carapuça serviu totalmente, porque as aparências enganam. E ninguém me conhece de verdade pra saber o que passei ou passo nesta vida.

Eve comentou sobre as Alices deslumbradas que mudaram-se recentemente pro lado de cá (e não são poucas). Engraçado como apesar das dificuldades que a comunidade européia vem passando, a Europa ainda tem seu poder de atração...Ou isso ou o CUPIDO que faz as pessoas mudarem o rumo de suas vidas da noite pro dia. Sim, porque muitas vem pra cá atrás de seus amores. E quem nunca fez isso, que atire a primeira pedra.

E ai vem uma menina comentando que mais chatas que as Alices deslumbradas são as Alices aposentadas! O que por motivos óbvios, me deixou grilada...e (quase) ofendida. Ela se referia às Alices que moram há muito tempo por aqui (como eu) e que, nas palavras dela, não deixam as deslumbradas descobrirem sozinhas suas próprias experiências nem aprender com elas.

Pois li este comentário e me senti uma velha...E fiquei triste (não devia mas fiquei) porque embora eu tenha passado e continue passando por muita coisa (afinal, são 17 anos de Holanda), nunca quis interferir na experiência de ninguém. Nunca quis dar lição de moral ou coisa parecida. Nem nunca foi a minha intenção "jogar um balde de água fria" em quem acaba de chegar cheio de pique e vontade de começar de novo (viu Eve?). No máximo - e este provavelmente foi o meu maior erro - tentei dar conselhos e enfatizar a importância das escolhas que fazemos. E dicas pra evitar que elas caissem nos mesmos erros que caí. Mas é a velha estória: se conselho fosse bom, se vendia né?

Como já comentei aqui no blog algumas vezes, foi aqui na Holanda que vivi os melhores e piores momentos da minha vida. Fui morar junto, casei, perdi minha mãe no Brasil da qual nem pude me despedir, engravidei no mesmo ano, tive meu filho e junto uma depressão pós-parto, minha vida conjugal e profissional foi pro espaço, me divorciei, fiquei sem dinheiro pra pagar as contas do mês e me vi obrigada a pedir ajuda do governo holandês (que nunca quis porque sou orgulhosa demais pra pedir ajuda e sempre fui independente financeiramente). A boa notícia é que o que não me mata, me fortalece. E com o sofrimento sempre vem alguma sabedoria.

Mas cada caso é um caso e eu não desejo as minhas experiências pra ninguém. Até porque, cada um deve ter suas próprias experiências, cada um a seu tempo. E talvez o mais importante: cada um vai lidar com seus problemas da sua maneira. O assunto é tão complexo que já seria outro post. Mas sim, tem a ver com saúde mental, pra início de conversa. Porque nem todo mundo nasce otimista por natureza, e para muitos ser feliz é uma arte a ser aperfeiçoada ao longo de todo uma vida. Este é o meu caminho. Um caminho tortuoso, difícil mas é o meu caminho. Eu posso até mudar algumas coisas (e estou fazendo exatamente isso mas Deus sabe como é difícil). Outras coisas tenho que aceitar como sendo parte de quem eu sou, e me policiar para que elas não acabem tomando espaço demais.

Talvez por eu ser como sou (eu não fujo dos tabus) e por precisar escrever para digerir melhor os acontecimentos da minha vida, as pessoas às vezes achem que estou dando lição de moral. Mas não é nada disso. Estou é falando com meus próprios botões. Tentando colocar ordem no caos à minha maneira. Eu escrevo não porque gosto mas porque preciso. Eu não escrevo pra agradar os outros e nem falo apenas de assuntos agradáveis por aqui.  E isso incomoda muita gente. Principalmente aquelas pessoas que não me conhecem (e algumas que me conhecem também, rsrsrs).

Pra finalizar, quero dedicar este posto às novas Alices que chegaram aqui com tanta disposição e vontade de dar certo (eu também um dia fui assim). Que cada uma delas encontre sua felicidade, à sua maneira. Alices deslumbradas ou aposentadas, estamos todas no mesmo barco!

6 comentários:

Eliana disse...

Oi Beth, apesar de ser uma novatinha perto de vc, vou pro meu sétimo ano de Holanda, já passei por poucas e boa, já li vários dos seus coments e sempre os achei muito pé no chão e realista. Às vezes isso dói pra outras pessoas que, por vezes, pensam que vc não tentou ou se acomodou, ou como vc disse: jogando um balde de agua fria. O que ninguém tem que se meter, porque ninguém paga as suas contas, se é pra falar o português claro. Fato é que o tempo passa e cada um vai tendo as sua experiências. Uma boas, outras ruins, outras maravilhosas e outras péssimas...e assim seria em qualquer lugar do mundo. O que eu deixei de coment lá na Eve tb, deixo aqui: um pouco de respeito é o que deveria prevalecer entre os lados...com isso já seria meio caminho andado pra todo mundo. Até mais.

Eve disse...

Engraçado, Beth, que eu não vi o comentário da menina assim, como uma indireta pra vc, principalmente.
Primeiro, porque eu acho que ela não te lê. Segundo, que ela mora na Noruega, e pelo comentário dela, parecia que ela se referia a pessoas com quem ela tem contato direto.
Terceiro, no seu comentário lá no post, vc deixou claro que, apesar de ser "alice aposentada", ainda valorizava as pequenas alegrias diárias, que, dependendo do ponto de vista, ainda é um jeito "Alice de ser".
E quando eu concordei com o comentário dela, foi como um adendo ao que eu tinha escrito. Se você ler o comentário que a Eliana publicou agora, depois do seu último, vc vai atender.
Existe, sim, algumas meninas que minimizam as experiências de outras. Nunca tive experiência pessoal nesse quesito.
Quando eu cheguei, ou mesmo, antes mesmo de chegar, recebi muitos conselhos de meninas que já estavam aqui. Eu os busquei também. E muitas me procuram (por email ou pelo blog) para os mesmos fins. Não acho que dar conselho, que o que vc faz, seja dar "banho de água fria". O que acho é que entre das conselhos e jogar um balde de água fria há uma diferença muito grande, como minimizar ou ridicularizar as experiências das novatas.
E isso, querida, você não faz de jeito nenhum.
Não precisa se sentir ofendida. :D
Além disso, o post era mais pra falar das loucuras que enfrentamos conscientemente, sendo Alice ou não, do que sobre as diferenças entre as que ainda sao Alice e as que deixaram de ser.

Bjs!

Bebete Indarte disse...

Putz, não dá bola pra essas Alices, seu nome é Beth. Beijos xxx

Anita disse...

Pois eu cheguei já sabendo que holandês caga pra sul americano (e pra um montão de outros allochtonen também). Estou aqui desde 1999 e meu blog me ajuda a ver um lado bonito da Holanda.

S. W disse...

Beth eu sou super nova aqui (vou pro meu terceiro ano), mas olha o que eu recebo contato de brasileiro desesperado tentando vir pra Europa... a primeira coisa que eu pergunto é: e a crise? Inclusive arrumei problema com uma outro dia. Vou contar rapidinho. A menina já rodou essa Europa ilegal em vários países, sempre se fazendo de coitada, que tudo dava errado, mas que no Brasil ela só conseguia empregos ruins, tinha que morar com a mãe e que pelo menos aqui com pouco ela se virava. Eu realmente ficava sentida com tanto sofrimento. A uns 3 meses atrás ela escreveu contando que fazia uma semana estava conversando com um holandês e que o rapaz estava disposto a pedir o visto dela para morar na Holanda (sentiu a pegada? 1 semana na internet), ela disse que gostaria de vir e que se não rolasse nada com o rapaz, ela pelo menos teria o visto e poderia tentar algum emprego de limpeza de escritórios ou camareira. Eu expliquei que não funciona assim, primeiro ela teria que comprovar um relacionamento e que depois se eles se separasse o rapaz poderia solicitar o cancelamento do visto dela. Ok. 1 mês depois a moiçoila me aparece dizendo que em um curso conhece um novo holandês, esse pessoalmente, estavam namorando a menos de 1 mês e ela queria saber qual o processo mais rapido para conseguir o visto. Nessa hora eu fiquei p*** da vida, perguntei se eu tinha cara de IND, e se o rapaz estava assim tao interessado em traze-la que ele poderia ir o próprio procurar informacoes sobre o visto. Perguntei também se ela lia sobre a crise na Europa, o cerco aos imigrantes... o que ela fez? Me chamou de mal amada, que eu deveria ficar feliz em morar aqui, mas que eu era uma infeliz e mais um monte de outras coisas. Tá ai, logo mais um futura Alice aqui na Neverlandia.

beijos

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Beth!

Mudar, sair no nosso lugar de origem e buscar algo novo em outro lugar é sempre um risco. Sonhos? temos muitos, mas, só o tempo vai nos mostrar o quanto todas as apostas valeram a pena. bjssss