quarta-feira, março 24, 2010

Vida de imigrante, parte II

Decidi esticar este tema (que por si já dá muito pano pra manga) por causa de um comentário no post anterior que me fez pensar...e depois de muito pensar, voltei pra compartilhar minhas divagações com vocês. É que a leitora Márcia fez um comentário que inevitavelmente me fez lembrar a minha mãe. Ela disse que embora não more no exterior, mora em uma cidade diferente daquela em que nasceu e foi criada e vez ou outra até saudade do cafezinho do interior sente...e então me dei conta de que num país do tamanho de um continente como o Brasil, com diferentes regiões e enorme diversidade cultural, a gente pode se sentir imigrante sem sair das fronteiras do próprio país!

Minha mãe viveu isso na pele (e eu fui testemunha disso, querendo ou não). Ela viveu grande parte de sua vida no Rio Grande do Sul e mudou-se para a cidade maravilhosa depois dos 40 anos, quando eu já tinha 5 anos. E ela sempre foi uma espécie de imigrante sem ter saído do país. Sempre se sentiu exilada, de uma forma ou de outra. Ela era diferente, tinha outro sotaque (se recusava a puxar o sssssssss como os cariocas e insistia em falar tu em vez de você) e vivia reclamando dos hábitos cariocas...Tinha saudades do sul, do galpão de tradições gaúchas, dos pratos regionais (ela tomava chimarrão, fazia arroz de carreteiro quando batia saudade...ah, e comíamos pinhão também).

Enfim, uma vida marcada pelas saudades de uma família distante e de seus conterrâneos gaúchos. O que prova que tudo na vida é relativo pois o Rio nunca foi pra minha mãe a cidade maravilhosa aclamada por tantos. Muito pelo contrário, a vida dela no Rio foi marcada pela solidão. Ela nunca se adaptou ao estilo de vida carioca (com ou sem praia). Num país com as dimensões do Brasil, mudar de região muitas vezes equivale a mudar de país...Interessante isso.

4 comentários:

Lilly disse...

Isso é verdade. Quando eu vim para SP, me correspondia com uma amiga que tinha ido para os EUA e algumas das nossas aflições eram parecidas. Eu fiz um caminho inverso ao da sua mãe, creio eu. E acabei me encontrando melhor aqui. O despojamento excessivo e o narcisismo exacerbado que podemos cultivar no Rio, não me agradava. Agora me aflige o barulho e a velocidade das coisas em SP. É sobre o que venho refletindo diariamente.

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Beth, fiquei muito feliz em ver que meu comentário te levou a reflexões e ainda te ajudou na criação de "Vida de imigrante, parte II".
Gostei demais desse também, e entendo sua mãe completamente.

Lembro que eu morava no interior, e você deve saber como é casa de interior: enorme! Sala, corredor comprido, três quartos, sala de janta, cozinha, banheiro, área de serviço (o puxadim), o banheiro, e ainda um quintal com pé-de-côco kkkk
De repente a gente precisa mudar, e vem morar aqui em João Pessoa, Capital, em um apartamento que é um cubículo, sala, cozinha (pequeno corredor + área de serviço), dois quartos e banheiro, simplesmente quase que minha mãe morre. Passou diaaaaaaaaaas chorando, chorando mesmo, ela dizia que se sentia numa gaiola, sem conhecer ninguém e tal.

Realmente vida de imigrante, dentrou ou fora do país não é fácil!
bjs e ótima semana!

tania disse...

Ah, eu que o diga, Beth! Ando numa crise pessoal danada, me sentindo tão estrangeira em Natal como no primeiro dia em que cheguei. Há coisas com as quais a gente nunca acostuma. Os hábitos mentais, a visão de mundo. E isso é muito mais complicado do que bom X mau, feio X bonito, porque, veja só, eu gosto da cidade, gosto mesmo, e, por outro lado, nem gosto tanto assim do Rio de Janeiro, de onde vim. Pelo contrário, não tenho vontade de voltar a morar lá. Mas, em momentos de crise, o fato de não "estar em casa" faz toda a diferença. Eu sinto que a única estranha, a única desconfortável com certas situações que se repetem aqui no meu trabalho sou eu. E isso já chegou num ponto que acho que só mudando outra vez. Já estou me mexendo pra isso, inclusive. Acho que daqui a pouco serei imigrante em outro lugar. Se não acabar voltando pro Rio mesmo...
Beijão

Elaine Cardoso disse...

Oi Beth, acabei de descobrir seu seu Blog e ja o devorei inteiro! Fiquei impressionada com seus textos, muito bem escritos! Tambem sou expatriada,e moro na Holanda. Mas "acabei" de chegar - 1 ano e meio de ventolandia - e ainda estou desvendando esse pais! Criei um blog bem mais pessoal, para estreitar meu contato com minha familia e amigos, mais para deixa-los informados e mostrar um pouquinho do meu dia-a-dia! Enfim..Ja virei seguidora! Esta e a primeira de muitas visitas, beijinhos!

Tecnologia do Blogger.

Vida de imigrante, parte II

Decidi esticar este tema (que por si já dá muito pano pra manga) por causa de um comentário no post anterior que me fez pensar...e depois de muito pensar, voltei pra compartilhar minhas divagações com vocês. É que a leitora Márcia fez um comentário que inevitavelmente me fez lembrar a minha mãe. Ela disse que embora não more no exterior, mora em uma cidade diferente daquela em que nasceu e foi criada e vez ou outra até saudade do cafezinho do interior sente...e então me dei conta de que num país do tamanho de um continente como o Brasil, com diferentes regiões e enorme diversidade cultural, a gente pode se sentir imigrante sem sair das fronteiras do próprio país!

Minha mãe viveu isso na pele (e eu fui testemunha disso, querendo ou não). Ela viveu grande parte de sua vida no Rio Grande do Sul e mudou-se para a cidade maravilhosa depois dos 40 anos, quando eu já tinha 5 anos. E ela sempre foi uma espécie de imigrante sem ter saído do país. Sempre se sentiu exilada, de uma forma ou de outra. Ela era diferente, tinha outro sotaque (se recusava a puxar o sssssssss como os cariocas e insistia em falar tu em vez de você) e vivia reclamando dos hábitos cariocas...Tinha saudades do sul, do galpão de tradições gaúchas, dos pratos regionais (ela tomava chimarrão, fazia arroz de carreteiro quando batia saudade...ah, e comíamos pinhão também).

Enfim, uma vida marcada pelas saudades de uma família distante e de seus conterrâneos gaúchos. O que prova que tudo na vida é relativo pois o Rio nunca foi pra minha mãe a cidade maravilhosa aclamada por tantos. Muito pelo contrário, a vida dela no Rio foi marcada pela solidão. Ela nunca se adaptou ao estilo de vida carioca (com ou sem praia). Num país com as dimensões do Brasil, mudar de região muitas vezes equivale a mudar de país...Interessante isso.

4 comentários:

Lilly disse...

Isso é verdade. Quando eu vim para SP, me correspondia com uma amiga que tinha ido para os EUA e algumas das nossas aflições eram parecidas. Eu fiz um caminho inverso ao da sua mãe, creio eu. E acabei me encontrando melhor aqui. O despojamento excessivo e o narcisismo exacerbado que podemos cultivar no Rio, não me agradava. Agora me aflige o barulho e a velocidade das coisas em SP. É sobre o que venho refletindo diariamente.

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Beth, fiquei muito feliz em ver que meu comentário te levou a reflexões e ainda te ajudou na criação de "Vida de imigrante, parte II".
Gostei demais desse também, e entendo sua mãe completamente.

Lembro que eu morava no interior, e você deve saber como é casa de interior: enorme! Sala, corredor comprido, três quartos, sala de janta, cozinha, banheiro, área de serviço (o puxadim), o banheiro, e ainda um quintal com pé-de-côco kkkk
De repente a gente precisa mudar, e vem morar aqui em João Pessoa, Capital, em um apartamento que é um cubículo, sala, cozinha (pequeno corredor + área de serviço), dois quartos e banheiro, simplesmente quase que minha mãe morre. Passou diaaaaaaaaaas chorando, chorando mesmo, ela dizia que se sentia numa gaiola, sem conhecer ninguém e tal.

Realmente vida de imigrante, dentrou ou fora do país não é fácil!
bjs e ótima semana!

tania disse...

Ah, eu que o diga, Beth! Ando numa crise pessoal danada, me sentindo tão estrangeira em Natal como no primeiro dia em que cheguei. Há coisas com as quais a gente nunca acostuma. Os hábitos mentais, a visão de mundo. E isso é muito mais complicado do que bom X mau, feio X bonito, porque, veja só, eu gosto da cidade, gosto mesmo, e, por outro lado, nem gosto tanto assim do Rio de Janeiro, de onde vim. Pelo contrário, não tenho vontade de voltar a morar lá. Mas, em momentos de crise, o fato de não "estar em casa" faz toda a diferença. Eu sinto que a única estranha, a única desconfortável com certas situações que se repetem aqui no meu trabalho sou eu. E isso já chegou num ponto que acho que só mudando outra vez. Já estou me mexendo pra isso, inclusive. Acho que daqui a pouco serei imigrante em outro lugar. Se não acabar voltando pro Rio mesmo...
Beijão

Elaine Cardoso disse...

Oi Beth, acabei de descobrir seu seu Blog e ja o devorei inteiro! Fiquei impressionada com seus textos, muito bem escritos! Tambem sou expatriada,e moro na Holanda. Mas "acabei" de chegar - 1 ano e meio de ventolandia - e ainda estou desvendando esse pais! Criei um blog bem mais pessoal, para estreitar meu contato com minha familia e amigos, mais para deixa-los informados e mostrar um pouquinho do meu dia-a-dia! Enfim..Ja virei seguidora! Esta e a primeira de muitas visitas, beijinhos!