Tenho um filho que não fui eu que fiz, já veio pronto: meu enteado. Meu primeiro filho foi, portanto, o segundo. Feito quando quase acreditei que não daria mais tempo. Deu. Hoje sei que havia tempo de sobra. A gente nunca entende direito o tempo do tempo. Depois, fiz minha filha. Não há nada mais poderoso do que uma mulher com outra dentro. Costumo dizer que tenho, então, três filhos. Dois que saíram da barriga e um que entrou no coração. O que, no final, dá no mesmo. Tatuei seus nomes no verso do meu corpo. Publiquei o amor.
Brinco que quando se tem filhos a vida vira de ponta-cabeça. Interessante: de cabeça para baixo a gente enxerga as coisas de outro jeito, é só fazer um teste na sala de casa. Com filhos, nos despedimos do sono tranquilo, do umbigo próprio, da vida no singular. Damos ‘até logo’ para a carreira. Por outro lado, dizemos ‘olá’ aos novos personagens dos sonhos, às diferentes formas de trabalho, à vida no plural.
Fazer filhos é um processo artesanal. Sai um diferente do outro. Uma falhinha aqui, um defeitinho ali. É justamente esse o charme. Quando se decide fazê-los, não se sabe como eles virão. A vida não tira pedido. É tudo surpresa. Não há acasos, porém. Filhos são exatamente como precisamos que eles sejam, e vice-versa. Disso não se deve duvidar, muito menos reclamar. É bom repassar essa lição de vez em quando.
Gosto de ver meus filhos dormindo com o pai. Assim posso decorá-los com calma. Gosto de vê-los tomando banho. Gosto, sobretudo, de vê-los desenhar. Nessa hora eles recriam o que já esqueci. Gosto quando contam histórias sem sentido e fazem associações malucas. Gosto quando aprendem coisas novas; no fundo, estão é me lembrando que não tenho feito isso. Gosto quando cantam fora do tom, inventam notas e vão montando a trilha sonora das suas vidas. Gosto de reconhecê-los pelo cheiro e pelo gosto. Gostaria de carregá-los pelo cangote, como fazem as gatas. E gosto de ver o que não via antes deles.
Perguntaram se os filhos me abriram novos olhos para o mundo. Eu disse que não. Meus olhos são os mesmos de antes. Tudo que fiz foi mudar a direção do olhar.
5 comentários:
O texto me emocionou, muito bonito mesmo! Thanks Beth for sharing.
beijuuuuuuus,L
Beth, simplesmente me emocionei, lindo!
bjs
Lindo texto! Beijos
Pois é, a Silmara escreve muito bem mesmo. Muito bom o texto. Eu já havia lido lá, inclusive.
Beijão, Beth
Olá Beth, agradeço os seus comentários no meu blog.
realmente, emprego é uma coisa difícil em qualquer lugar, aqui ou no Brasil.
Meu marido ficou desempregado um ano no Brasil e encontrou emprego na Alemanha. Mas, o alemão é ele.
Eu conheço brasileiras que arrumaram emprego na Alemanha, como conheço quem ainda está procurando. Depende muito mesmo. Em todo caso, acho que fazer contatos e montar uma rede é o mais importante nessas horas. Estou tentando começar a minha e fazendo meus planos.
Espero que vc tenha sorte na escolha da sua nova profissão, como escreveu no seu perfil.
Mantenha contato!
Bjs!
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