quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Feminismo na Holanda

Depois da receita do bolo de banana, me inspirei no post sobre feminismo no blog de uma amiga - que como eu, também é mãe e estrangeira na Holanda - e decidi botar a boca no trombone, como de costume (mas não muito pra não assustar os desavisados).

Para início de conversa, quase não falei da Holanda neste blog porque em quase 13 anos vivendo aqui ainda há muitas coisas a decifrar. Verdade seja dita, a Holanda para mim ainda é uma charada: Decifra-me ou te devoro. Mas uma coisa ao menos é certa, aqui as aparências enganam e muito. Um exemplo é a idéia que temos de uma sociedade liberal onde as mulheres têm os mesmos direitos que os homens...Sim, elas têm liberdade sexual, podem se divorciar e fazer abortos em clínicas do governo, mas sabe de uma coisa? Acredito que o feminismo seja muito mais do que isso. Feminismo para mim é a mulher ter direitos iguais ao homem para poder se realizar como pessoa (e não apenas como mãe, o que pode até ser a maior realização para algumas mulheres). E neste ponto a Holanda deixa muito a desejar...

A Holanda é antes de mais nada, uma sociedade patriarcal (leia-se: quem manda aqui são os homens). Ou seja, a realidade é muito diferente do mito. As mulheres aqui não apenas pouco participam do mercado de trabalho como as que trabalham ainda recebem salários menores. E se compararmos a parcela de mulheres trabalhando nos países vizinhos (França, Alemanha e Inglaterra), a Holanda perde de longe...Sem falar que pouquíssimas ocupam cargos executivos, o que é comum na Inglaterra e no Brasil. Feminismo ou não, muitas holandesas optam por ficar em casa cuidando dos filhos enquanto o marido trabalha, não me perguntem por quê...

Eu sempre desconfiei dessa fama de feminista da mulher holandesa - ainda mais quando olho ao meu redor e o que vejo são donas-de-casa cuidando da casa e dos filhos, levando e buscando as crianças na escola de bicicleta (faça chuva ou faça sol), lavando e passando roupa, limpando a casa, etc. As que trabalham têm à sua espera uma jornada dupla de trabalho (casa e escritório) e volta e meia são rotuladas pela mídia local de super-mulheres (rótulo mais do que merecido, convenhamos). O estranho é que elas fazem tudo e ainda acham que não fizeram o bastante. Nunca entendi isso, talvez sejam resquícios de uma sociedade calvinista. Fica a pergunta: como assim, feminismo?

Tempos atrás, comentando com uma amiga, chegamos à conclusão de que feministas mesmo são as mulheres brasileiras! Não apenas elas não abandonam suas carreiras ao ter filhos (OK, nem sempre isso é uma escolha mas uma necessidade, estou ciente de que as condições econômicas nos dois países são outras) como muitas têm uma empregada pra cuidar da casa pra elas...e tempo livre pra ir ao cabelereiro, manicure, etc.

Moral da estória? Nem tudo é o que parece.

7 comentários:

Bebete Indarte disse...

Certamente, a Holanda me surpreende a cada dia também, nada é o que parece.
E por parte a mentalidade calvinista é o responsável, e também porque na política - quando aparece uma mulher por lá - o pessoal adora colocar defeito, não há representantes, só um monte de homem feio, fora o Wouter Bos (hehehe).
O sistema de crechês aqui é parco, caro. No Brasil, sempre tem alguém pra ficar com seu filho, tem mais material humano, pelas regras e leis trabalhistas, parace todo mundo vagabundo por aqui, tá fora da regra, é marginal.

O calvinista moderno é preguiçoso, e tem ambições materiais praticamente inexistentes, porque quanto mais dinheiro, mais imposto pra pagar, e a condição feminina que sofre com isso, o salário dela é melhor, ela fica em casa, ou trabalha menos, uma bola de neve.

Se existe o sonho americano, aqui existe uma vida de sonhos, com as asas amputadas. Argh!

Labelle® Paz disse...

Obrigada pela informação a respeito do texto que eu havia copiado lá no meu blog. Me mandaram dizendo que era do Mario Quintana. Que mico.

Com relação à Holanda, me aguarde que tudo indica que nesse ano ainda eu passarei por aí!!!!!

Anônimo disse...

Aqui, lá e acolá é complicado...!! Claro que, desde o cone Sul, a vidinha parece mais fácil lá nas Europas... Num sentido, é: de fato, poder fazer abortos em hospitais públicos ou, nao sei na Holanda, mas na Noruega, que a licenca maternidade de um ano possa ser dividida com o pai, resolve alguns dos problemas das inequidades de genero. Mas o problema central, acho, nao é de políticas públicas e sim de uma bastante difundida "cultura" patriarcal, bastante mais globalizada do que nos gostaria admitir... A mulher brasileira pode arrumar tempo para o cabelereiro, ter empregada ou pedir pra alguém da família (sempre outra mulher!) cuidar das criancas. Mas a responsabilidade doméstica continua a ser dela. Na Holanda as mulheres ganham menos e tem menos lugares de lideranca (será que no Br é diferente??). Acho que o problema comeca quando nao há possibilidade de escolha: e é isso o que as políticas públicas deveriam garantir. Se uma mulher escolhe viver pra casa, o marido e os filhos, ótimo. Mas se ela quer outra coisa, o Estado deve (por meio das leis) garantir isso: e isso inclui iguais direitos trabalhistas e igualdade de oportunidades.

Acho q escrevi meu próprio blog no teu!!!!
beijao

Anônimo disse...

Beth,
Eu sempre fui dessa opinião. As mulheres aqui já entenderam há tempos que há uma longa pausa entre prática e discurso.
Algumas mulheres que estão fora do mercado de trabalho por outros motivos além da maternidade, porém costumam se identificar com o papel da mãe e dona de casa, sobretudo através do marido holandês, que além de trabalhar, lava, passa, cozinha e dá de mamar:-)) Para estas mulheres, está tudo ótimo: o que não conseguem alcançar, o provedor certamente alcançará. Minha avó vivia assim.
Como eu nunca me iludi com lugar algum, nem mesmo com esta Disney dos maiores de 18 anos - encaro tudo com "muita calma nessa hora". Vai ver que é porque nunca li autores fundamentalistas cristãos, nem receitadores de felicidade alheia.
Até!

Anônimo disse...

Meu irmão Antonio Carlos me falou do seu blog, achei bem legal!

Anônimo disse...

Concordo Beth, e até comentei sobre isso em outro blog. Por um lado aqui os homens estão dispostos s arregaçar as mangas e ajudar nos cuidados da casa, filhos etc, por outro há essas mulheres sem ambição, que acham lindo ficar lambendo as crias, mesmo sendo capazes de terem bons empregos. Eu morreria de tédio total se tivesse uma vida assim. A Holanda é o único lugar onde supermercado lota durante o dia, e quando vou perto do horário de fechar, está às moscas. Ah sim Bebete, O Wouter Bos é mesmo um fofo!!Vamos ver se como político também é bom. Abs, Marcia

Anônimo disse...

Oi Bethânia, olha eu aqui! Já que vc me deu um toque pra ler não posso ir sem deixar meu rastro, hehehehe...

Nunca ouvi dizer que holandesas especificamente são feministas. As "nórdicas" em geral (norte europeu e Escandinávia) têm famas de serem liberadas, liberais e no papel têm direitos muito mais próximos do ideal de emancipação d o que talvez em outros países.

Mas nunca tive a idéia de que holandesas fossem ou queiram ser feministas....por isso não me surpreendo.

A famosa pergunta "você trabalha parttime?" acho que só eh feita aqui....Segundo uma pesquisazinha particular mulher na Bélgica, Inglaterra, Alemanha trabalha fulltime ou não trabalha.

De onde vem isso? Cultura, eu diria....

Tecnologia do Blogger.

Feminismo na Holanda

Depois da receita do bolo de banana, me inspirei no post sobre feminismo no blog de uma amiga - que como eu, também é mãe e estrangeira na Holanda - e decidi botar a boca no trombone, como de costume (mas não muito pra não assustar os desavisados).

Para início de conversa, quase não falei da Holanda neste blog porque em quase 13 anos vivendo aqui ainda há muitas coisas a decifrar. Verdade seja dita, a Holanda para mim ainda é uma charada: Decifra-me ou te devoro. Mas uma coisa ao menos é certa, aqui as aparências enganam e muito. Um exemplo é a idéia que temos de uma sociedade liberal onde as mulheres têm os mesmos direitos que os homens...Sim, elas têm liberdade sexual, podem se divorciar e fazer abortos em clínicas do governo, mas sabe de uma coisa? Acredito que o feminismo seja muito mais do que isso. Feminismo para mim é a mulher ter direitos iguais ao homem para poder se realizar como pessoa (e não apenas como mãe, o que pode até ser a maior realização para algumas mulheres). E neste ponto a Holanda deixa muito a desejar...

A Holanda é antes de mais nada, uma sociedade patriarcal (leia-se: quem manda aqui são os homens). Ou seja, a realidade é muito diferente do mito. As mulheres aqui não apenas pouco participam do mercado de trabalho como as que trabalham ainda recebem salários menores. E se compararmos a parcela de mulheres trabalhando nos países vizinhos (França, Alemanha e Inglaterra), a Holanda perde de longe...Sem falar que pouquíssimas ocupam cargos executivos, o que é comum na Inglaterra e no Brasil. Feminismo ou não, muitas holandesas optam por ficar em casa cuidando dos filhos enquanto o marido trabalha, não me perguntem por quê...

Eu sempre desconfiei dessa fama de feminista da mulher holandesa - ainda mais quando olho ao meu redor e o que vejo são donas-de-casa cuidando da casa e dos filhos, levando e buscando as crianças na escola de bicicleta (faça chuva ou faça sol), lavando e passando roupa, limpando a casa, etc. As que trabalham têm à sua espera uma jornada dupla de trabalho (casa e escritório) e volta e meia são rotuladas pela mídia local de super-mulheres (rótulo mais do que merecido, convenhamos). O estranho é que elas fazem tudo e ainda acham que não fizeram o bastante. Nunca entendi isso, talvez sejam resquícios de uma sociedade calvinista. Fica a pergunta: como assim, feminismo?

Tempos atrás, comentando com uma amiga, chegamos à conclusão de que feministas mesmo são as mulheres brasileiras! Não apenas elas não abandonam suas carreiras ao ter filhos (OK, nem sempre isso é uma escolha mas uma necessidade, estou ciente de que as condições econômicas nos dois países são outras) como muitas têm uma empregada pra cuidar da casa pra elas...e tempo livre pra ir ao cabelereiro, manicure, etc.

Moral da estória? Nem tudo é o que parece.

7 comentários:

Bebete Indarte disse...

Certamente, a Holanda me surpreende a cada dia também, nada é o que parece.
E por parte a mentalidade calvinista é o responsável, e também porque na política - quando aparece uma mulher por lá - o pessoal adora colocar defeito, não há representantes, só um monte de homem feio, fora o Wouter Bos (hehehe).
O sistema de crechês aqui é parco, caro. No Brasil, sempre tem alguém pra ficar com seu filho, tem mais material humano, pelas regras e leis trabalhistas, parace todo mundo vagabundo por aqui, tá fora da regra, é marginal.

O calvinista moderno é preguiçoso, e tem ambições materiais praticamente inexistentes, porque quanto mais dinheiro, mais imposto pra pagar, e a condição feminina que sofre com isso, o salário dela é melhor, ela fica em casa, ou trabalha menos, uma bola de neve.

Se existe o sonho americano, aqui existe uma vida de sonhos, com as asas amputadas. Argh!

Labelle® Paz disse...

Obrigada pela informação a respeito do texto que eu havia copiado lá no meu blog. Me mandaram dizendo que era do Mario Quintana. Que mico.

Com relação à Holanda, me aguarde que tudo indica que nesse ano ainda eu passarei por aí!!!!!

Anônimo disse...

Aqui, lá e acolá é complicado...!! Claro que, desde o cone Sul, a vidinha parece mais fácil lá nas Europas... Num sentido, é: de fato, poder fazer abortos em hospitais públicos ou, nao sei na Holanda, mas na Noruega, que a licenca maternidade de um ano possa ser dividida com o pai, resolve alguns dos problemas das inequidades de genero. Mas o problema central, acho, nao é de políticas públicas e sim de uma bastante difundida "cultura" patriarcal, bastante mais globalizada do que nos gostaria admitir... A mulher brasileira pode arrumar tempo para o cabelereiro, ter empregada ou pedir pra alguém da família (sempre outra mulher!) cuidar das criancas. Mas a responsabilidade doméstica continua a ser dela. Na Holanda as mulheres ganham menos e tem menos lugares de lideranca (será que no Br é diferente??). Acho que o problema comeca quando nao há possibilidade de escolha: e é isso o que as políticas públicas deveriam garantir. Se uma mulher escolhe viver pra casa, o marido e os filhos, ótimo. Mas se ela quer outra coisa, o Estado deve (por meio das leis) garantir isso: e isso inclui iguais direitos trabalhistas e igualdade de oportunidades.

Acho q escrevi meu próprio blog no teu!!!!
beijao

Anônimo disse...

Beth,
Eu sempre fui dessa opinião. As mulheres aqui já entenderam há tempos que há uma longa pausa entre prática e discurso.
Algumas mulheres que estão fora do mercado de trabalho por outros motivos além da maternidade, porém costumam se identificar com o papel da mãe e dona de casa, sobretudo através do marido holandês, que além de trabalhar, lava, passa, cozinha e dá de mamar:-)) Para estas mulheres, está tudo ótimo: o que não conseguem alcançar, o provedor certamente alcançará. Minha avó vivia assim.
Como eu nunca me iludi com lugar algum, nem mesmo com esta Disney dos maiores de 18 anos - encaro tudo com "muita calma nessa hora". Vai ver que é porque nunca li autores fundamentalistas cristãos, nem receitadores de felicidade alheia.
Até!

Anônimo disse...

Meu irmão Antonio Carlos me falou do seu blog, achei bem legal!

Anônimo disse...

Concordo Beth, e até comentei sobre isso em outro blog. Por um lado aqui os homens estão dispostos s arregaçar as mangas e ajudar nos cuidados da casa, filhos etc, por outro há essas mulheres sem ambição, que acham lindo ficar lambendo as crias, mesmo sendo capazes de terem bons empregos. Eu morreria de tédio total se tivesse uma vida assim. A Holanda é o único lugar onde supermercado lota durante o dia, e quando vou perto do horário de fechar, está às moscas. Ah sim Bebete, O Wouter Bos é mesmo um fofo!!Vamos ver se como político também é bom. Abs, Marcia

Anônimo disse...

Oi Bethânia, olha eu aqui! Já que vc me deu um toque pra ler não posso ir sem deixar meu rastro, hehehehe...

Nunca ouvi dizer que holandesas especificamente são feministas. As "nórdicas" em geral (norte europeu e Escandinávia) têm famas de serem liberadas, liberais e no papel têm direitos muito mais próximos do ideal de emancipação d o que talvez em outros países.

Mas nunca tive a idéia de que holandesas fossem ou queiram ser feministas....por isso não me surpreendo.

A famosa pergunta "você trabalha parttime?" acho que só eh feita aqui....Segundo uma pesquisazinha particular mulher na Bélgica, Inglaterra, Alemanha trabalha fulltime ou não trabalha.

De onde vem isso? Cultura, eu diria....