segunda-feira, abril 19, 2010

Gente que escreve bem

O texto abaixo é da blogueira paulista Silmara Franco e foi tirado daqui. Porque tem muita gente escrevendo muita coisa por esta blogosfera mas pouca gente escrevendo tão bem! E sim, suas palavras vestiram como uma luva para mim que nunca fui lá muito certinha. Parafraseando a autora: Levante a mão quem um dia quer ser assim.


Certinho

Há algo de enfadonho e perigoso nas pessoas muito certinhas. Naquelas cuja fala não tem graves nem agudos, só médios. Nas que nunca desafinam, e ficam sem saber dos acordes interessantes que podem existir entre uma dissonância e outra.

Pessoas retas demais, dessas que parecem ter quatro lados idênticos, não encaram uma curva do meio do caminho. Mas também jamais derrapam. O que poderia, de vez em quando, levá-las a lugares inesperadamente bons.

É preciso cuidado com pessoas que nunca gritam. Que jamais arriscam um palavrão. Um bom palavrão na hora certa é bálsamo para o coração em ebulição. Levante a mão quem já foi assim.

Pessoas exageradamente arrumadas são viciadas no ton sur ton. Estão sempre a salvo, protegidas do erro. Contam com a aprovação do bando, mas acabam por se mesclar com qualquer fundo, qualquer estampa. Ficam invisíveis. E como geralmente não lembram onde puseram suas cabeças, precisam de alguém que as ajude a encontrá-las depois.

Dá vontade de suspirar ver sapato combinando com cinto. De desanimar de vez, se bolsa ou gravata entram no arranjo. Quem faz isso destoa é do mundo, incerto e múltiplo por definição.

Não existe graça alguma em quem não quis, ao menos uma vez na vida, morrer de amor. E não pode haver verdade em alguém que nunca contou uma mentirinha sequer.

Deve-se desconfiar de quem tem sala de estar igualzinha à da revista de decoração. De quem não tem pelo menos um armário bagunçado. De quem tem criança e não tem brinquedo espalhado pela casa. De quem faz tudo certo no trabalho. Quem é assim, levante a mão. Se for capaz.

Divertido mesmo é quem divide, provoca, bota pra quebrar. Quem não vibra no uníssono do bom senso comum. Quem ama alto e chora mais alto ainda. Quem faz, todos os dias, alguma coisa de um jeito diferente.

Para ficar mais interessante (desde que não comprometa saúde, segurança ou sentimento dos outros), gente precisa ter, vez por outra, um quê de desatino, uma pitada de desequilíbrio, um desejo de contravenção, uma certa dose de malandragem. Senão, lá na frente, não terá valido a pena.

Agora, vamos lá. Levante a mão quem um dia quer ser assim.



PS. A imagem é pra matar as saudades das bonecas Blythe que há tempos não aparecem por aqui...

5 comentários:

Anônimo disse...

Amei o texto e faço minhasminhas a spalavras da Silmara.Viver sempre politicamente correto é um porre.Viver sem correr riscos, se anular, só p/ parecer bonitinho e agradar a todos aos seu redor, bem... nem vou comentaar. Prefiro cometer minahs loucuras de vez em qdo, desde que claro que não prejudique ninguem nem a mim.. e tem tanta loucura boa, saudavel, n é mesmo??? beijão

1:46 PM

Pri S. disse...

A Silmara é uma ótima cronista! E concordo total com a idéia deste texto específico. Adoro essa sua idéia de apresentar pessoas interessantes pra que se conheça gente que vale a pena ler. Bjos e boa semana!

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Beth!

Muito interessante o texto, muito bom mesmo. Bem, ser certinho demais é chato! Acredito que a gente precisa ser maleável, procurar fazer o "certo", mas, também aproveitar o tudo. Aproveitar as coisas simples que fazem diferença, prá fazer valer a pena.

Adoro tua iniciativa de aprensentar outros blogs!
bjs

Anônimo disse...

Bethinha, aproveito o assunto sobre " gente que escreve bem" pra dizer que no meu ultimo texto do blog( postado hoje) tem uma pequena homenagem a vc. Vai la conferir!!( ps: leia o texto até o fim, pq a homenagem está no final do texto). beijão

Lilly disse...

Acho que eu passei minha vida toda querendo ser certinha sem conseguir ser... desculpe, mas existem dessas coisas... rs
beijos

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Gente que escreve bem

O texto abaixo é da blogueira paulista Silmara Franco e foi tirado daqui. Porque tem muita gente escrevendo muita coisa por esta blogosfera mas pouca gente escrevendo tão bem! E sim, suas palavras vestiram como uma luva para mim que nunca fui lá muito certinha. Parafraseando a autora: Levante a mão quem um dia quer ser assim.


Certinho

Há algo de enfadonho e perigoso nas pessoas muito certinhas. Naquelas cuja fala não tem graves nem agudos, só médios. Nas que nunca desafinam, e ficam sem saber dos acordes interessantes que podem existir entre uma dissonância e outra.

Pessoas retas demais, dessas que parecem ter quatro lados idênticos, não encaram uma curva do meio do caminho. Mas também jamais derrapam. O que poderia, de vez em quando, levá-las a lugares inesperadamente bons.

É preciso cuidado com pessoas que nunca gritam. Que jamais arriscam um palavrão. Um bom palavrão na hora certa é bálsamo para o coração em ebulição. Levante a mão quem já foi assim.

Pessoas exageradamente arrumadas são viciadas no ton sur ton. Estão sempre a salvo, protegidas do erro. Contam com a aprovação do bando, mas acabam por se mesclar com qualquer fundo, qualquer estampa. Ficam invisíveis. E como geralmente não lembram onde puseram suas cabeças, precisam de alguém que as ajude a encontrá-las depois.

Dá vontade de suspirar ver sapato combinando com cinto. De desanimar de vez, se bolsa ou gravata entram no arranjo. Quem faz isso destoa é do mundo, incerto e múltiplo por definição.

Não existe graça alguma em quem não quis, ao menos uma vez na vida, morrer de amor. E não pode haver verdade em alguém que nunca contou uma mentirinha sequer.

Deve-se desconfiar de quem tem sala de estar igualzinha à da revista de decoração. De quem não tem pelo menos um armário bagunçado. De quem tem criança e não tem brinquedo espalhado pela casa. De quem faz tudo certo no trabalho. Quem é assim, levante a mão. Se for capaz.

Divertido mesmo é quem divide, provoca, bota pra quebrar. Quem não vibra no uníssono do bom senso comum. Quem ama alto e chora mais alto ainda. Quem faz, todos os dias, alguma coisa de um jeito diferente.

Para ficar mais interessante (desde que não comprometa saúde, segurança ou sentimento dos outros), gente precisa ter, vez por outra, um quê de desatino, uma pitada de desequilíbrio, um desejo de contravenção, uma certa dose de malandragem. Senão, lá na frente, não terá valido a pena.

Agora, vamos lá. Levante a mão quem um dia quer ser assim.



PS. A imagem é pra matar as saudades das bonecas Blythe que há tempos não aparecem por aqui...

5 comentários:

Anônimo disse...

Amei o texto e faço minhasminhas a spalavras da Silmara.Viver sempre politicamente correto é um porre.Viver sem correr riscos, se anular, só p/ parecer bonitinho e agradar a todos aos seu redor, bem... nem vou comentaar. Prefiro cometer minahs loucuras de vez em qdo, desde que claro que não prejudique ninguem nem a mim.. e tem tanta loucura boa, saudavel, n é mesmo??? beijão

1:46 PM

Pri S. disse...

A Silmara é uma ótima cronista! E concordo total com a idéia deste texto específico. Adoro essa sua idéia de apresentar pessoas interessantes pra que se conheça gente que vale a pena ler. Bjos e boa semana!

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Beth!

Muito interessante o texto, muito bom mesmo. Bem, ser certinho demais é chato! Acredito que a gente precisa ser maleável, procurar fazer o "certo", mas, também aproveitar o tudo. Aproveitar as coisas simples que fazem diferença, prá fazer valer a pena.

Adoro tua iniciativa de aprensentar outros blogs!
bjs

Anônimo disse...

Bethinha, aproveito o assunto sobre " gente que escreve bem" pra dizer que no meu ultimo texto do blog( postado hoje) tem uma pequena homenagem a vc. Vai la conferir!!( ps: leia o texto até o fim, pq a homenagem está no final do texto). beijão

Lilly disse...

Acho que eu passei minha vida toda querendo ser certinha sem conseguir ser... desculpe, mas existem dessas coisas... rs
beijos