domingo, abril 15, 2007

Cafeína

Confesso que peguei o hábito de fuxicar os blogs alheios...e outro dia me deparei com mais um blog interessante, o Cafeína. Pra variar, não resisti e decidi colocar um texto dele aqui. O melhor de tudo foi descobrir mais uma vez que, como ele, existem outros por aí assegurando a qualidade deste universo tão amplo e surpreendente que é o universo dos blogs (eu, que peguei o bonde andando e nem sabia que a coisa era tão séria). Agora confiram a ironia do rapaz (achei o texto muito perspicaz):

É tão bonito a gente ser feliz. Viver no escuro às vezes também não é má idéia. Pode se passar a vida inteira sem se ter noção das incapacidades, limitações e defeitos e, ainda assim e especialmente por isso, ser incondicionalmente feliz. Que fácil olhar para o outro e dizer "é culpa sua, agora te vira". Pronto. Mãos lavadinhas, alma tranqüila, sono bom. Dá até tempo de pensar na roupa esperando por ser estendida no varal, no bar aquele que você ainda não foi porque estava com a cabeça cheia de preocupações (que, obviamente, eram responsabilidade do outro e não sua, porque você não tem problemas), por que não?

Então tudo bem. Tudo são escolhas, simples assim. A pessoa que escolhe se envolver com um traste que lhe bate na cara, judia, tortura, estava procurando um pouco de drama na vida, uma justificativa para sair de vítima, ó, coitadinha. Que dó. Viu só? Até ela, com o roxão no olho e mancando de uma perna, se deu bem. Estão os amigos, família, vizinhos, prestando solidariedade e atenção à sua volta. "Tia, conta de novo do dia em que ele tentou te esgoelar, eu adoro aquela parte!" "Tá bom, mas depois desta você vai dormir, que já é tarde."

Ah, como a gente escolhe, né não? A gente escolhe se envolver quando tem vontade e, quando não tem, sai bem feliz com os amigos, bebe, brinca e come nos lugares da moda, vestindo a última. A gente só ouve música que os pobres mortais vão conhecer pela FM daqui a um ano, a gente já viu tudo, faz cara de blasé para tendências da hora, a gente não liga no dia seguinte, se assim nos apetecer, porque o problema está nos outros, esqueceu? A gente não tem tempo para a carência dos outros. A gente quer mesmo é academia 24 horas, porque pra ficar lindo não tem hora, e malhar com nossos ipod, porque quem ipod, pode. Pode tudo. Tríceps, bíceps, coxa e panturrilha. Ai, meus Nike Shox! Aquilo na sola não é amortecedor, minha gente, é a catapulta que vai nos arremessar além. 600 reais por um tênis-catapulta é uma barganha!

Que bom, leitor amigo, se você sabe das coisas. Fica tudo mais fácil. Sabe onde é o norte e onde é sul, não se perde nunca. A bússola é você. Os outros? Ah, sigam-me os bons, pros mais ou menos eu não tenho paciência. Porque saber mais ou menos não adianta, né? Aliás, fazer nada mais ou menos adianta. A gente recicla (latinhas, plástico, papel), assiste documentários nos espaços culturais, toma café com publicitários, advogados, jornalistas, pula de pára-quedas. A gente, nós modernos, os filhos da nova república, com nossos segundos cadernos, não estamos aí para brincadeira. Somos de esquerda, mesmo a esquerda sendo direita. A gente lê Maiakovski e assiste ao Big Brother. Em pay-per-view, que a gente pode!

Mas, um belo dia, resolvem acender a luz e a gente vê quê. Daí não tem mais volta.
Tecnologia do Blogger.

Cafeína

Confesso que peguei o hábito de fuxicar os blogs alheios...e outro dia me deparei com mais um blog interessante, o Cafeína. Pra variar, não resisti e decidi colocar um texto dele aqui. O melhor de tudo foi descobrir mais uma vez que, como ele, existem outros por aí assegurando a qualidade deste universo tão amplo e surpreendente que é o universo dos blogs (eu, que peguei o bonde andando e nem sabia que a coisa era tão séria). Agora confiram a ironia do rapaz (achei o texto muito perspicaz):

É tão bonito a gente ser feliz. Viver no escuro às vezes também não é má idéia. Pode se passar a vida inteira sem se ter noção das incapacidades, limitações e defeitos e, ainda assim e especialmente por isso, ser incondicionalmente feliz. Que fácil olhar para o outro e dizer "é culpa sua, agora te vira". Pronto. Mãos lavadinhas, alma tranqüila, sono bom. Dá até tempo de pensar na roupa esperando por ser estendida no varal, no bar aquele que você ainda não foi porque estava com a cabeça cheia de preocupações (que, obviamente, eram responsabilidade do outro e não sua, porque você não tem problemas), por que não?

Então tudo bem. Tudo são escolhas, simples assim. A pessoa que escolhe se envolver com um traste que lhe bate na cara, judia, tortura, estava procurando um pouco de drama na vida, uma justificativa para sair de vítima, ó, coitadinha. Que dó. Viu só? Até ela, com o roxão no olho e mancando de uma perna, se deu bem. Estão os amigos, família, vizinhos, prestando solidariedade e atenção à sua volta. "Tia, conta de novo do dia em que ele tentou te esgoelar, eu adoro aquela parte!" "Tá bom, mas depois desta você vai dormir, que já é tarde."

Ah, como a gente escolhe, né não? A gente escolhe se envolver quando tem vontade e, quando não tem, sai bem feliz com os amigos, bebe, brinca e come nos lugares da moda, vestindo a última. A gente só ouve música que os pobres mortais vão conhecer pela FM daqui a um ano, a gente já viu tudo, faz cara de blasé para tendências da hora, a gente não liga no dia seguinte, se assim nos apetecer, porque o problema está nos outros, esqueceu? A gente não tem tempo para a carência dos outros. A gente quer mesmo é academia 24 horas, porque pra ficar lindo não tem hora, e malhar com nossos ipod, porque quem ipod, pode. Pode tudo. Tríceps, bíceps, coxa e panturrilha. Ai, meus Nike Shox! Aquilo na sola não é amortecedor, minha gente, é a catapulta que vai nos arremessar além. 600 reais por um tênis-catapulta é uma barganha!

Que bom, leitor amigo, se você sabe das coisas. Fica tudo mais fácil. Sabe onde é o norte e onde é sul, não se perde nunca. A bússola é você. Os outros? Ah, sigam-me os bons, pros mais ou menos eu não tenho paciência. Porque saber mais ou menos não adianta, né? Aliás, fazer nada mais ou menos adianta. A gente recicla (latinhas, plástico, papel), assiste documentários nos espaços culturais, toma café com publicitários, advogados, jornalistas, pula de pára-quedas. A gente, nós modernos, os filhos da nova república, com nossos segundos cadernos, não estamos aí para brincadeira. Somos de esquerda, mesmo a esquerda sendo direita. A gente lê Maiakovski e assiste ao Big Brother. Em pay-per-view, que a gente pode!

Mas, um belo dia, resolvem acender a luz e a gente vê quê. Daí não tem mais volta.